A síndrome do olho seco é caracterizada pela diminuição na produção ou piora na qualidade de lágrimas do paciente. Trata-se de um quadro comum, que afeta mais de 344 milhões de pessoas no mundo, com destaque para mulheres com mais de 50 anos, e pessoas com ascendência oriental, de acordo com a Sociedade da Superfície Lacrimal e Filme Ocular (TFOS, na sigla em inglês).
Na maior parte dos casos, a situação não é grave, mas pode causar prejuízos importantes para a qualidade de vida dos pacientes, de acordo com o hematologista Elíseo Sekiya, presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa IEP-Hemomed. “Isso acontece porque as lágrimas são fundamentais para a lubrificação, limpeza e proteção dos olhos”, explica. A falta de lágrimas, segundo ele, pode provocar desde vermelhidão e sensação de ardência nos olhos até úlceras na córnea (camada protetora do olho) e cegueira, nos quadros mais graves.
Há diversos possíveis motivos por trás dessa síndrome, segundo Sekiya. “Ela pode ser provocada por doenças autoimunes, como síndrome de Sjogren, artrite reumatoide ou hipertiroidismo, pelo uso de medicamentos, devido à exposição prolongada a telas, entre outras razões”, exemplifica.
O tratamento para a síndrome do olho seco varia de acordo com a gravidade da doença, informa o hematologista. “Na maioria das vezes, são usados meios mais tradicionais, como colírios sintéticos, medicação ou lentes de contato especiais. Quando esses recursos não funcionam, contudo, o médico pode indicar o uso de um colírio de soro autólogo”, diz.
O que é o colírio de soro autólogo
O colírio de soro autólogo é um tipo de colírio fabricado a partir do sangue do próprio paciente. Ele é produzido com base em componentes biológicos coletados de amostras de sangue do indivíduo.
Essa tecnologia foi reconhecida como eficaz pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2017 e, no ano seguinte, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota com recomendações para o seu uso.
No Brasil, o Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em conjunto com o Hemocentro São Lucas (HSL) têm produzido um colírio autólogo, chamado de “Sorotears”.
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De acordo com Sekiya, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia, o “Sorotears” tem particularidades importantes em relação aos colírios sintéticos. “Ele tem os mesmos componentes das lágrimas e conta ainda com fatores curativos que ajudam a cicatrizar lesões”, comenta.
Apesar dos benefícios, a produção e a conservação desse tipo de colírio são complexas, segundo o hematologista.
“Primeiro, é preciso ter a indicação de um médico. Em seguida, o paciente deve comparecer ao hemocentro para ver se está apto para realizar o processo, assim como acontece com a doação de sangue. Em caso positivo, as amostras de sangue serão coletadas e, em dez dias, serão produzidos cerca de 12 tubos do soro. A quantidade é suficiente, via de regra, para três meses de tratamento”, descreve. Ele completa ainda que esse produção tem um custo médio de R$ 1 500.
Além da produção ser personalizada e realizada em etapas, a conservação do colírio de soro autólogo requer cuidados específicos. “É preciso mantê-lo congelado na maior parte do tempo”, destaca o especialista.
Por esses motivos, de acordo com o hematologista, trata-se de um tratamento indicado apenas nos casos mais graves, em que os outros métodos não produziram resultados significativos.