O espalhamento da variante Ômicron põe autoridades e médicos em alerta, diante dos indícios de que a cepa do coronavírus é mais contagiosa. Quem pretendia viajar no fim de ano ou nas férias, principalmente para o exterior, também adaptou os planos. Reduzir visitas com risco de aglomeração ou priorizar destinos domésticos estão entre as estratégias - além de reforçar o estoque de máscaras na bagagem.
O receio da covid-19 fez Antônio Rodrigues, 39 anos, e Paola Rodrigues, 35 anos, adiarem, novamente, a viagem dos sonhos. Passar duas semanas em Portugal e na Espanha estava nos planos do casal desde 2019. Na época, fizeram cotações e pesquisas em sites de hospedagem, mas a primeira onda da pandemia interrompeu qualquer possibilidade de ida para o exterior.
Agora, perto do final de 2021, eles se sentiram mais seguros para tocar o projeto Europa. Com passagens aéreas compradas e hotel quase fechados, a dupla foi assombrada justamente por um nome grego: Ômicron.
"Acredito na ciência e decidimos adiar a viagem. Tem uma frustração, prejuízos financeiros que estamos contornando, mas a saúde vem em primeiro lugar. Estamos pensando em ter filhos, essa viagem seria um marco nessa história", conta Antônio, que é professor de Educação Física e dono de academia.
Os quinze dias de Europa se transformaram em quatro dias em Natal, no Rio Grande do Norte. "Escolhemos um lugar em que a vacinação está bastante avançada. Além disso, vamos evitar aglomerações. A Europa, quem sabe, fica para a primavera", acrescenta. Diante das incertezas da Ômicron, infectologistas disseram ao Estadão para evitar viagens para fora do Brasil.
O advogado Enzo Megozzi, 45 anos, estava de malas prontas para ir a Portugal em 23 de dezembro, mas o avanço da variante colocou freio em seus planos. "Estou vacinado, mas ainda não tomei a 3ª dose, de reforço. Não podemos baixar a guarda neste momento", diz. "Além disso, Portugal começou a fechar muitas coisas nas últimas semanas. Você não faz uma viagem dessa para ficar trancado no hotel." Megozzi conta que um amigo que planejava ficar um mês inteiro em Portugal acabou voltando em 10 dias. "Ele me contou que o código de barra do passaporte da vacina não estava funcionando em vários lugares. Achou melhor voltar antes", completa.
Já a família da designer de interiores Valéria Pereira, de 53 anos, decidiu manter o roteiro de 15 dias na terra do flamenco e das touradas. Ela, o marido e os dois filhos vão percorrer, de carro, as cidades de Sevilha, Córdoba, Granada e Valência.
Além de economia, o trajeto de automóvel também aumenta a segurança sanitária. "Já tínhamos a característica de não viajar de excursão e usar grupos de city tour. Como normalmente vamos em quatro pessoas, compensa financeiramente pegar carro no lugar de pacotes separados. Com a pandemia, a partir do momento que fazemos a viagem sozinhos, temos menos contato com pessoas”, conta ela.
Outra estratégia da família é priorizar passeios a pé nas cidades, para não usar transporte público e ter contato com mais pessoas. “Quando tivemos a ideia de organizar essa viagem, a gente não tinha ideia que surgiria essa nova variante”, afirma Valéria, que também destaca os cuidados com máscaras e o seguro de saúde internacional.
Rio, Floripa e Nordeste têm alta procura
Com a variante e o dólar em alta, destinos nacionais têm sido mais buscados pelos brasileiros. Conforme a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), enquanto as viagens internacionais ainda estão em processo de retomada (50% na comparação com dois anos atrás), a procura pelo turismo doméstico já está próxima das taxas do pré-pandemia. "Para as festividades de Natal e ano-novo dentro do País, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo estão entre os destinos mais procurados", informa a entidade.
"No momento, tenho muita procura dentro do Brasil”, relata Renata Chulam Spinola, diretora-geral da FXD Agência de Viagens. “Muita procura para o Nordeste, principalmente Maceió e Natal, e hotéis-fazendas no interior de São Paulo. Pelo menos o meu público - classes média e alta - ainda está receoso em viajar para o exterior”, diz ela, que faz acompanhamento diário sobre novas restrições e cobranças de passaporte de vacina.
A Abav diz ainda que já há procura para o carnaval, "a maioria buscando cidades do Nordeste”. A realização de festas públicas, porém, ainda está condicionada à melhora da situação epidemiológica. Cidades como Salvador e São Paulo ainda não bateram o martelo, enquanto mais de 70 municípios paulistas já desistiram de liberar a folia em 2022.
Veja dicas sobre cancelamento e reembolso de viagens
Segundo Marco Antonio de Araújo Jr., especialista em Direito do Consumidor, há chance de reembolso se o cancelamento for pela companhia aérea até 31 de dezembro, data-limite para a lei aprovada durante a pandemia. O governo federal ainda não informou se vai renovar as regras por mais um período.
Se houver cancelamento pela companhia, ela tem 12 meses para devolver o valor pago ao consumidor, a partir da data do voo cancelado, com correção do INPC. Se há prejuízo material - voo cancelado até 24 horas antes ou já no aeroporto -, a companhia precisa bancar hospedagem e transporte para a pessoa voltar para casa.
Hospedagem tem outra regra. “Não há previsão de devolução de valores e depende da tarifa paga na contratação, se teve remarcação incluída. Depende também da negociação do consumidor com o hotel ou plataforma. Geralmente, em situações como a pandemia, hotéis têm reajustado a reserva para outra data, desde que haja certa antecedência no cancelamento. Quando é de última hora, a empresa não consegue usar o quarto. Nesse momento, vale negociação direta”, orienta Araújo Jr.
“Agências de viagem variam de caso para caso. Se o local de destino está recebendo turistas e não está fechado pela pandemia, em regra, a pessoa arca com os custos, salvo se houver negociação. Se for insegurança do consumidor, a responsabilidade é dele. Se tiver lockdown, aplica-se o direito do consumidor sem penalização porque ele não teve culpa. Nesse caso, ele pode pedir a remarcação e negociar para que ocorra sem multa”, complementa o advogado.
"Compras efetuadas agora respeitam as regras de cancelamento da companhia aérea ou do hotel”, afirma Renata Chulam Spinola, diretora-geral da FXD Agência de Viagens.
A recomendação geral é priorizar a antecedência nos cancelamentos para dar margem a negociações mais benéficas. São comuns, diz Araújo Jr., prazos de cancelamentos até 30 dias antes sem pagamento de penalidade.