A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou na noite desta quarta-feira, 22, que monitora a alta de casos de uma pneumonia sem causa definida que atinge principalmente crianças na China. Em nota, a entidade disse que “fez um pedido oficial à China por informações detalhadas sobre o aumento de doenças respiratórias e relatos de ‘clusters’ (agrupamentos) de pneumonia em crianças”.
De acordo com a OMS, autoridades sanitárias chinesas haviam relatado, em uma coletiva para jornalistas realizada no último dia 13, um aumento da incidência de doenças respiratórias no país asiático. Justificaram que esse crescimento era causado pelo relaxamento das restrições relacionadas à covid-19 e ao aumento da circulação de patógenos conhecidos como influenza (causador da gripe), mycoplasma pneumoniae (uma infecção bacteriana comum que afeta principalmente crianças mais jovens), vírus sincicial respiratório (RSV), que costuma causar bronquiolite também em crianças menores, e o próprio SARS-CoV-2.
No entanto, entre esta terça, 21, e quarta-feira, 22, a imprensa e uma rede internacional de vigilância de doenças, a ProMED (Programa de Monitoramento de Doenças Emergentes, em tradução livre), passaram a relatar casos de grupos de pacientes internados com um tipo de pneumonia desconhecida no norte da China. A maioria dos doentes são crianças. Não há ainda informações sobre número de infectados e se há óbitos.
“Não está claro se esses casos estão associados ao aumento geral de infecções respiratórias anteriormente relatado pelas autoridades chinesas ou se são eventos separados”, destacou a OMS, na nota divulgada nesta noite.
Um dos relatos inseridos no sistema do ProMED traz informações do veículo de imprensa chinês FTVNews, que relata hospitais lotados de crianças com febre - algumas apresentam nódulos pulmonares. A reportagem diz que algumas escolas suspenderam as aulas e que há casos de professores também infectados. O veículo relata sobrecarga em hospitais de Pequim e Liaoning. Embora ambas cidades estejam na porção norte do território chinês, elas estão distantes cerca de 800 quilômetros uma da outra, o que mostra que as infecções não estão concentradas somente em uma província.
Especialistas não descartam que os surtos possam ser de patógenos já conhecidos e que crianças estejam se infectando com maior facilidade pelo fato de ser o primeiro outono/inverno chinês sem nenhuma restrição relacionada à covid-19 (o país asiático suspendeu a política rígida de controle da pandemia em janeiro deste ano).
No Brasil e em outros países, surtos fora de época de doenças como a bronquiolite ocorreram após o fim do isolamento social. A explicação é que, como as crianças ficaram fora da escola ou as mais novas nem sequer chegaram a frequentá-la durante a pandemia, patógenos voltaram a circular e encontraram indivíduos sem imunidade prévia ou recente.
Após os relatos da imprensa e no sistema ProMED, a OMS diz ter solicitado informações adicionais às autoridades chinesas, tanto epidemiológicas quanto clínicas, além de resultados laboratoriais desses grupos de pacientes. “Também solicitamos mais informações sobre as tendências recentes na circulação de patógenos conhecidos, incluindo influenza, SARS-CoV-2, RSV e mycoplasma pneumoniae, e a atual carga sobre o sistemas de saúde chinês”, disse a entidade.
A OMS diz que também está em contato com médicos e cientistas por meio de redes e parcerias técnicas que mantém no país asiático. A organização afirmou a região norte vive um aumento de doenças semelhantes à gripe desde meados de outubro.
“A China possui sistemas para capturar informações sobre tendências em influenza, doenças semelhantes à influenza, RSV e SARS-CoV-2, e reporta a plataformas como o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza”, esclarece a OMS.
A entidade ressalta que, enquanto busca informações adicionais sobre o novo surto de doenças respiratórias, a recomendação é que as pessoas que estejam na China busquem medidas para reduzir o risco de contaminação, o que inclui tomar as vacinas recomendadas (como as contra a covid-19 e influenza), ficar em isolamento em caso de sintomas respiratórios, manter distância de pessoas doentes, fazer testes diagnósticos e buscar assistência médica quando necessário.
Usar máscaras, lavar as mãos regularmente e garantir ventilação dos ambientes também são recomendados. A OMS disse que seguirá fornecendo atualizações sobre o cenário epidemiológico na China. O Estadão procurou o Ministério da Saúde na noite desta quarta, 22, para saber se a pasta tem alguma informação sobre a situação na China ou se faz algum monitoramento, mas ainda não recebeu retorno.