Os testes cognitivos são úteis para avaliar a memória? A resposta vai surpreender você


Entenda o que lapsos de esquecimento podem significar e como lidar com eles

Por Steven Petrow

Vinte anos atrás, numa época particularmente estressante dos meus 40 e poucos, achei que estava perdendo a cabeça – ou pelo menos a memória. Eu às vezes tinha dificuldade de encontrar as palavras: de início, só esquecia nomes, depois comecei a me confundir com expressões simples (como dizer “acordar com os animais”, em vez do proverbial “acordar com as galinhas”). Cada erro me deixava mais aflito, o que piorava meus problemas de memória. Dando ouvidos ao hipocondríaco que vive dentro de mim, eu me convenci de que tinha um tumor cerebral. E fui consultar minha médica.

Ela me fez uma série de perguntas. “Em que ano estamos? Que dia é hoje? Quem é o presidente?” Eu estava acertando tudo até que ela me pediu para soletrar a palavra “m-u-n-d-o” de trás para frente. Foi aí que congelei. Meu coração começou a acelerar. “Você consegue contar de 100 até zero, pulando de sete em sete?”, ela me perguntou. Cheguei ao 93, mas não consegui ir além. Então comecei a chorar, convencido de que estava certo sobre meu diagnóstico.

Testes cognitivos, também chamados de testes de memória, podem ajudar a identificar deficiências cognitivas e revelar alterações que podem melhorar com tratamento. Foto: Gregory Miller/Adobe Stock
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“Você não tem tumor cerebral nem déficit cognitivo, mas tem transtorno de ansiedade”, ela me disse, sabendo do estresse que eu vinha sofrendo. Ela receitou medicamentos para a ansiedade e sugeriu que eu começasse a praticar meditação.

Não sou a única pessoa do mundo que se preocupa com cognição ou saúde cerebral. De acordo com um estudo de 2020, dois terços dos americanos apresentam algum nível de declínio cognitivo até os 70 anos de idade. O risco de demência ao longo da vida para as mulheres é de 37% (para os homens, 24%). É o tipo de estatística que liga um alerta em você.

Há diferenças importantes entre as populações. O ensino superior e o aprendizado contínuo parecem criar uma “reserva cognitiva” que ajuda a evitar os sintomas. Os grupos desfavorecidos apresentam idade de início mais baixa, maior risco ao longo da vida e mais anos de comprometimento cognitivo do que os mais favorecidos. Raça e etnia também parecem contar: as mulheres brancas têm em média seis anos de vida cognitivamente prejudicada, em comparação com 12 e 13 anos entre as mulheres negras e latinas.

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Sem que eu soubesse, minha médica tinha usado uma das ferramentas de avaliação cognitiva (também conhecidas como testes de memória) mais comuns, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Ele é considerado altamente eficaz na identificação de deficiências cognitivas e na revelação de alterações que podem melhorar com tratamento.

Mas, se você estiver pensando em fazer o teste para aliviar a ansiedade ou só para saber mais sobre você, saiba que as avaliações cognitivas não dizem tudo. Ronald Petersen, neurologista da Clínica Mayo especializado nas mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento, observa que “elas nos dão uma ideia aproximada de como alguém está em termos cognitivos, mas não são diagnósticos”.

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Ele não diz para um paciente parar de dirigir com base nos resultados, por exemplo, e não pode usar essas avaliações para fazer um diagnóstico da doença de Alzheimer. Esses testes não revelam por que pode haver comprometimento cognitivo, em que parte do cérebro está o problema nem qual doença pode estar gerando os sintomas.

Petersen explica que esses testes são como leituras de pressão arterial: fornecem “uma métrica, um número que podemos atribuir à função cognitiva e que nos ajuda a avaliar onde a pessoa está agora e, mais importante, para onde ela está indo, se fizermos os testes regularmente”.

É por isso que o psicólogo Stephen Rao, que dirige o centro de neuroimagem cognitiva da Cleveland Clinic, recomenda avaliações anuais para pessoas com mais de 65 anos. Todos os pacientes de sua unidade fazem uma bateria de testes durante as consultas anuais de bem-estar para medir e acompanhar a função cognitiva (orientação, registro, atenção/cálculo, recordação e linguagem).

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Se as descobertas sugerem uma mudança perceptível ou alguma anormalidade, Rao recomenda exames mais sofisticados, como tomografia ou ressonância magnética, punção lombar para examinar o líquido cefalorraquidiano (que pode ajudar a diagnosticar o Alzheimer) e testes de biomarcadores sanguíneos, vistos como uma nova opção para detectar o acúmulo anormal de proteínas que pode ser um sinal precoce da doença de Alzheimer.

Petersen diz que muitos médicos de atenção primária não se sentem à vontade para aplicar as avaliações cognitivas. Eles não sabem quais testes usar – alguns são simples como o que minha médica fez, mas outros podem levar até 25 minutos. E também não sabem como interpretar os resultados e o que fazer com achados anormais. Uma pesquisa recente mostrou que 80% dos idosos sentem os benefícios das avaliações, sendo que 60% dizem que gostariam que seus provedores de serviços de saúde as oferecessem. Ao mesmo tempo, 80% não fizeram esse tipo de exame no último ano e 59% afirmam nunca o ter feito.

É importante diferenciar as mudanças esperadas durante o envelhecimento do comprometimento cognitivo de fato. “Não é preto no branco”, diz Petersen, acrescentando que faz parte do envelhecimento normal esquecer ocasionalmente o nome de conhecidos, deixar passar um pagamento mensal, ter dificuldade para encontrar a palavra certa e perder coisas.

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Esquecer nomes de familiares próximos, não conseguir encontrar coisas com alguma frequência, ter problemas contínuos para administrar as contas ou sentir dificuldade para manter uma conversa já são sinais mais preocupantes. Se você estiver fazendo a mesma pergunta repetidas vezes, sentindo dificuldade para seguir receitas ou se perdendo em lugares que conhece bem, talvez esteja na hora de fazer um teste cognitivo.

Algumas pessoas hesitam em fazer uma avaliação cognitiva porque têm preocupações com privacidade, porque temem o que podem descobrir ou porque presumem incorretamente que nada pode ser feito com os resultados. Mas Rao diz que cerca de 40% dos casos de demência “podem ser revertidos ou desacelerados quando os detectamos precocemente”.

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Ele também enfatizou que os testes podem alertar os médicos para procurarem outros problemas tratáveis que possam causar declínio cognitivo. Segundo os médicos, problemas de memória podem ser causados por coágulos sanguíneos, mas também por alguns medicamentos, traumatismo craniano, uso abusivo de álcool ou drogas, sono insuficiente e baixos níveis de nutrientes essenciais (como a vitamina B12). A depressão e o estresse também podem afetar a memória.

A boa notícia, diz Petersen, é que os problemas de memória podem desaparecer quando tratamos o problema subjacente.

É por isso que, no mês que vem, quando for fazer minha consulta anual de bem-estar, vou pedir uma avaliação cognitiva. Aprendi uns truques desde meu último teste: é muito mais fácil fazer o exercício de contagem regressiva de sete em sete se você subtrair 10 e depois adicionar 3 de volta. Além disso, não é difícil memorizar como se escreve “m-u-n-d-o” de trás para frente. Se minha médica não me der uma palavra diferente, acho que vou me sair bem. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Vinte anos atrás, numa época particularmente estressante dos meus 40 e poucos, achei que estava perdendo a cabeça – ou pelo menos a memória. Eu às vezes tinha dificuldade de encontrar as palavras: de início, só esquecia nomes, depois comecei a me confundir com expressões simples (como dizer “acordar com os animais”, em vez do proverbial “acordar com as galinhas”). Cada erro me deixava mais aflito, o que piorava meus problemas de memória. Dando ouvidos ao hipocondríaco que vive dentro de mim, eu me convenci de que tinha um tumor cerebral. E fui consultar minha médica.

Ela me fez uma série de perguntas. “Em que ano estamos? Que dia é hoje? Quem é o presidente?” Eu estava acertando tudo até que ela me pediu para soletrar a palavra “m-u-n-d-o” de trás para frente. Foi aí que congelei. Meu coração começou a acelerar. “Você consegue contar de 100 até zero, pulando de sete em sete?”, ela me perguntou. Cheguei ao 93, mas não consegui ir além. Então comecei a chorar, convencido de que estava certo sobre meu diagnóstico.

Testes cognitivos, também chamados de testes de memória, podem ajudar a identificar deficiências cognitivas e revelar alterações que podem melhorar com tratamento. Foto: Gregory Miller/Adobe Stock

“Você não tem tumor cerebral nem déficit cognitivo, mas tem transtorno de ansiedade”, ela me disse, sabendo do estresse que eu vinha sofrendo. Ela receitou medicamentos para a ansiedade e sugeriu que eu começasse a praticar meditação.

Não sou a única pessoa do mundo que se preocupa com cognição ou saúde cerebral. De acordo com um estudo de 2020, dois terços dos americanos apresentam algum nível de declínio cognitivo até os 70 anos de idade. O risco de demência ao longo da vida para as mulheres é de 37% (para os homens, 24%). É o tipo de estatística que liga um alerta em você.

Há diferenças importantes entre as populações. O ensino superior e o aprendizado contínuo parecem criar uma “reserva cognitiva” que ajuda a evitar os sintomas. Os grupos desfavorecidos apresentam idade de início mais baixa, maior risco ao longo da vida e mais anos de comprometimento cognitivo do que os mais favorecidos. Raça e etnia também parecem contar: as mulheres brancas têm em média seis anos de vida cognitivamente prejudicada, em comparação com 12 e 13 anos entre as mulheres negras e latinas.

Sem que eu soubesse, minha médica tinha usado uma das ferramentas de avaliação cognitiva (também conhecidas como testes de memória) mais comuns, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Ele é considerado altamente eficaz na identificação de deficiências cognitivas e na revelação de alterações que podem melhorar com tratamento.

Mas, se você estiver pensando em fazer o teste para aliviar a ansiedade ou só para saber mais sobre você, saiba que as avaliações cognitivas não dizem tudo. Ronald Petersen, neurologista da Clínica Mayo especializado nas mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento, observa que “elas nos dão uma ideia aproximada de como alguém está em termos cognitivos, mas não são diagnósticos”.

Ele não diz para um paciente parar de dirigir com base nos resultados, por exemplo, e não pode usar essas avaliações para fazer um diagnóstico da doença de Alzheimer. Esses testes não revelam por que pode haver comprometimento cognitivo, em que parte do cérebro está o problema nem qual doença pode estar gerando os sintomas.

Petersen explica que esses testes são como leituras de pressão arterial: fornecem “uma métrica, um número que podemos atribuir à função cognitiva e que nos ajuda a avaliar onde a pessoa está agora e, mais importante, para onde ela está indo, se fizermos os testes regularmente”.

É por isso que o psicólogo Stephen Rao, que dirige o centro de neuroimagem cognitiva da Cleveland Clinic, recomenda avaliações anuais para pessoas com mais de 65 anos. Todos os pacientes de sua unidade fazem uma bateria de testes durante as consultas anuais de bem-estar para medir e acompanhar a função cognitiva (orientação, registro, atenção/cálculo, recordação e linguagem).

Se as descobertas sugerem uma mudança perceptível ou alguma anormalidade, Rao recomenda exames mais sofisticados, como tomografia ou ressonância magnética, punção lombar para examinar o líquido cefalorraquidiano (que pode ajudar a diagnosticar o Alzheimer) e testes de biomarcadores sanguíneos, vistos como uma nova opção para detectar o acúmulo anormal de proteínas que pode ser um sinal precoce da doença de Alzheimer.

Petersen diz que muitos médicos de atenção primária não se sentem à vontade para aplicar as avaliações cognitivas. Eles não sabem quais testes usar – alguns são simples como o que minha médica fez, mas outros podem levar até 25 minutos. E também não sabem como interpretar os resultados e o que fazer com achados anormais. Uma pesquisa recente mostrou que 80% dos idosos sentem os benefícios das avaliações, sendo que 60% dizem que gostariam que seus provedores de serviços de saúde as oferecessem. Ao mesmo tempo, 80% não fizeram esse tipo de exame no último ano e 59% afirmam nunca o ter feito.

É importante diferenciar as mudanças esperadas durante o envelhecimento do comprometimento cognitivo de fato. “Não é preto no branco”, diz Petersen, acrescentando que faz parte do envelhecimento normal esquecer ocasionalmente o nome de conhecidos, deixar passar um pagamento mensal, ter dificuldade para encontrar a palavra certa e perder coisas.

Esquecer nomes de familiares próximos, não conseguir encontrar coisas com alguma frequência, ter problemas contínuos para administrar as contas ou sentir dificuldade para manter uma conversa já são sinais mais preocupantes. Se você estiver fazendo a mesma pergunta repetidas vezes, sentindo dificuldade para seguir receitas ou se perdendo em lugares que conhece bem, talvez esteja na hora de fazer um teste cognitivo.

Algumas pessoas hesitam em fazer uma avaliação cognitiva porque têm preocupações com privacidade, porque temem o que podem descobrir ou porque presumem incorretamente que nada pode ser feito com os resultados. Mas Rao diz que cerca de 40% dos casos de demência “podem ser revertidos ou desacelerados quando os detectamos precocemente”.

Ele também enfatizou que os testes podem alertar os médicos para procurarem outros problemas tratáveis que possam causar declínio cognitivo. Segundo os médicos, problemas de memória podem ser causados por coágulos sanguíneos, mas também por alguns medicamentos, traumatismo craniano, uso abusivo de álcool ou drogas, sono insuficiente e baixos níveis de nutrientes essenciais (como a vitamina B12). A depressão e o estresse também podem afetar a memória.

A boa notícia, diz Petersen, é que os problemas de memória podem desaparecer quando tratamos o problema subjacente.

É por isso que, no mês que vem, quando for fazer minha consulta anual de bem-estar, vou pedir uma avaliação cognitiva. Aprendi uns truques desde meu último teste: é muito mais fácil fazer o exercício de contagem regressiva de sete em sete se você subtrair 10 e depois adicionar 3 de volta. Além disso, não é difícil memorizar como se escreve “m-u-n-d-o” de trás para frente. Se minha médica não me der uma palavra diferente, acho que vou me sair bem. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Vinte anos atrás, numa época particularmente estressante dos meus 40 e poucos, achei que estava perdendo a cabeça – ou pelo menos a memória. Eu às vezes tinha dificuldade de encontrar as palavras: de início, só esquecia nomes, depois comecei a me confundir com expressões simples (como dizer “acordar com os animais”, em vez do proverbial “acordar com as galinhas”). Cada erro me deixava mais aflito, o que piorava meus problemas de memória. Dando ouvidos ao hipocondríaco que vive dentro de mim, eu me convenci de que tinha um tumor cerebral. E fui consultar minha médica.

Ela me fez uma série de perguntas. “Em que ano estamos? Que dia é hoje? Quem é o presidente?” Eu estava acertando tudo até que ela me pediu para soletrar a palavra “m-u-n-d-o” de trás para frente. Foi aí que congelei. Meu coração começou a acelerar. “Você consegue contar de 100 até zero, pulando de sete em sete?”, ela me perguntou. Cheguei ao 93, mas não consegui ir além. Então comecei a chorar, convencido de que estava certo sobre meu diagnóstico.

Testes cognitivos, também chamados de testes de memória, podem ajudar a identificar deficiências cognitivas e revelar alterações que podem melhorar com tratamento. Foto: Gregory Miller/Adobe Stock

“Você não tem tumor cerebral nem déficit cognitivo, mas tem transtorno de ansiedade”, ela me disse, sabendo do estresse que eu vinha sofrendo. Ela receitou medicamentos para a ansiedade e sugeriu que eu começasse a praticar meditação.

Não sou a única pessoa do mundo que se preocupa com cognição ou saúde cerebral. De acordo com um estudo de 2020, dois terços dos americanos apresentam algum nível de declínio cognitivo até os 70 anos de idade. O risco de demência ao longo da vida para as mulheres é de 37% (para os homens, 24%). É o tipo de estatística que liga um alerta em você.

Há diferenças importantes entre as populações. O ensino superior e o aprendizado contínuo parecem criar uma “reserva cognitiva” que ajuda a evitar os sintomas. Os grupos desfavorecidos apresentam idade de início mais baixa, maior risco ao longo da vida e mais anos de comprometimento cognitivo do que os mais favorecidos. Raça e etnia também parecem contar: as mulheres brancas têm em média seis anos de vida cognitivamente prejudicada, em comparação com 12 e 13 anos entre as mulheres negras e latinas.

Sem que eu soubesse, minha médica tinha usado uma das ferramentas de avaliação cognitiva (também conhecidas como testes de memória) mais comuns, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Ele é considerado altamente eficaz na identificação de deficiências cognitivas e na revelação de alterações que podem melhorar com tratamento.

Mas, se você estiver pensando em fazer o teste para aliviar a ansiedade ou só para saber mais sobre você, saiba que as avaliações cognitivas não dizem tudo. Ronald Petersen, neurologista da Clínica Mayo especializado nas mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento, observa que “elas nos dão uma ideia aproximada de como alguém está em termos cognitivos, mas não são diagnósticos”.

Ele não diz para um paciente parar de dirigir com base nos resultados, por exemplo, e não pode usar essas avaliações para fazer um diagnóstico da doença de Alzheimer. Esses testes não revelam por que pode haver comprometimento cognitivo, em que parte do cérebro está o problema nem qual doença pode estar gerando os sintomas.

Petersen explica que esses testes são como leituras de pressão arterial: fornecem “uma métrica, um número que podemos atribuir à função cognitiva e que nos ajuda a avaliar onde a pessoa está agora e, mais importante, para onde ela está indo, se fizermos os testes regularmente”.

É por isso que o psicólogo Stephen Rao, que dirige o centro de neuroimagem cognitiva da Cleveland Clinic, recomenda avaliações anuais para pessoas com mais de 65 anos. Todos os pacientes de sua unidade fazem uma bateria de testes durante as consultas anuais de bem-estar para medir e acompanhar a função cognitiva (orientação, registro, atenção/cálculo, recordação e linguagem).

Se as descobertas sugerem uma mudança perceptível ou alguma anormalidade, Rao recomenda exames mais sofisticados, como tomografia ou ressonância magnética, punção lombar para examinar o líquido cefalorraquidiano (que pode ajudar a diagnosticar o Alzheimer) e testes de biomarcadores sanguíneos, vistos como uma nova opção para detectar o acúmulo anormal de proteínas que pode ser um sinal precoce da doença de Alzheimer.

Petersen diz que muitos médicos de atenção primária não se sentem à vontade para aplicar as avaliações cognitivas. Eles não sabem quais testes usar – alguns são simples como o que minha médica fez, mas outros podem levar até 25 minutos. E também não sabem como interpretar os resultados e o que fazer com achados anormais. Uma pesquisa recente mostrou que 80% dos idosos sentem os benefícios das avaliações, sendo que 60% dizem que gostariam que seus provedores de serviços de saúde as oferecessem. Ao mesmo tempo, 80% não fizeram esse tipo de exame no último ano e 59% afirmam nunca o ter feito.

É importante diferenciar as mudanças esperadas durante o envelhecimento do comprometimento cognitivo de fato. “Não é preto no branco”, diz Petersen, acrescentando que faz parte do envelhecimento normal esquecer ocasionalmente o nome de conhecidos, deixar passar um pagamento mensal, ter dificuldade para encontrar a palavra certa e perder coisas.

Esquecer nomes de familiares próximos, não conseguir encontrar coisas com alguma frequência, ter problemas contínuos para administrar as contas ou sentir dificuldade para manter uma conversa já são sinais mais preocupantes. Se você estiver fazendo a mesma pergunta repetidas vezes, sentindo dificuldade para seguir receitas ou se perdendo em lugares que conhece bem, talvez esteja na hora de fazer um teste cognitivo.

Algumas pessoas hesitam em fazer uma avaliação cognitiva porque têm preocupações com privacidade, porque temem o que podem descobrir ou porque presumem incorretamente que nada pode ser feito com os resultados. Mas Rao diz que cerca de 40% dos casos de demência “podem ser revertidos ou desacelerados quando os detectamos precocemente”.

Ele também enfatizou que os testes podem alertar os médicos para procurarem outros problemas tratáveis que possam causar declínio cognitivo. Segundo os médicos, problemas de memória podem ser causados por coágulos sanguíneos, mas também por alguns medicamentos, traumatismo craniano, uso abusivo de álcool ou drogas, sono insuficiente e baixos níveis de nutrientes essenciais (como a vitamina B12). A depressão e o estresse também podem afetar a memória.

A boa notícia, diz Petersen, é que os problemas de memória podem desaparecer quando tratamos o problema subjacente.

É por isso que, no mês que vem, quando for fazer minha consulta anual de bem-estar, vou pedir uma avaliação cognitiva. Aprendi uns truques desde meu último teste: é muito mais fácil fazer o exercício de contagem regressiva de sete em sete se você subtrair 10 e depois adicionar 3 de volta. Além disso, não é difícil memorizar como se escreve “m-u-n-d-o” de trás para frente. Se minha médica não me der uma palavra diferente, acho que vou me sair bem. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Vinte anos atrás, numa época particularmente estressante dos meus 40 e poucos, achei que estava perdendo a cabeça – ou pelo menos a memória. Eu às vezes tinha dificuldade de encontrar as palavras: de início, só esquecia nomes, depois comecei a me confundir com expressões simples (como dizer “acordar com os animais”, em vez do proverbial “acordar com as galinhas”). Cada erro me deixava mais aflito, o que piorava meus problemas de memória. Dando ouvidos ao hipocondríaco que vive dentro de mim, eu me convenci de que tinha um tumor cerebral. E fui consultar minha médica.

Ela me fez uma série de perguntas. “Em que ano estamos? Que dia é hoje? Quem é o presidente?” Eu estava acertando tudo até que ela me pediu para soletrar a palavra “m-u-n-d-o” de trás para frente. Foi aí que congelei. Meu coração começou a acelerar. “Você consegue contar de 100 até zero, pulando de sete em sete?”, ela me perguntou. Cheguei ao 93, mas não consegui ir além. Então comecei a chorar, convencido de que estava certo sobre meu diagnóstico.

Testes cognitivos, também chamados de testes de memória, podem ajudar a identificar deficiências cognitivas e revelar alterações que podem melhorar com tratamento. Foto: Gregory Miller/Adobe Stock

“Você não tem tumor cerebral nem déficit cognitivo, mas tem transtorno de ansiedade”, ela me disse, sabendo do estresse que eu vinha sofrendo. Ela receitou medicamentos para a ansiedade e sugeriu que eu começasse a praticar meditação.

Não sou a única pessoa do mundo que se preocupa com cognição ou saúde cerebral. De acordo com um estudo de 2020, dois terços dos americanos apresentam algum nível de declínio cognitivo até os 70 anos de idade. O risco de demência ao longo da vida para as mulheres é de 37% (para os homens, 24%). É o tipo de estatística que liga um alerta em você.

Há diferenças importantes entre as populações. O ensino superior e o aprendizado contínuo parecem criar uma “reserva cognitiva” que ajuda a evitar os sintomas. Os grupos desfavorecidos apresentam idade de início mais baixa, maior risco ao longo da vida e mais anos de comprometimento cognitivo do que os mais favorecidos. Raça e etnia também parecem contar: as mulheres brancas têm em média seis anos de vida cognitivamente prejudicada, em comparação com 12 e 13 anos entre as mulheres negras e latinas.

Sem que eu soubesse, minha médica tinha usado uma das ferramentas de avaliação cognitiva (também conhecidas como testes de memória) mais comuns, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Ele é considerado altamente eficaz na identificação de deficiências cognitivas e na revelação de alterações que podem melhorar com tratamento.

Mas, se você estiver pensando em fazer o teste para aliviar a ansiedade ou só para saber mais sobre você, saiba que as avaliações cognitivas não dizem tudo. Ronald Petersen, neurologista da Clínica Mayo especializado nas mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento, observa que “elas nos dão uma ideia aproximada de como alguém está em termos cognitivos, mas não são diagnósticos”.

Ele não diz para um paciente parar de dirigir com base nos resultados, por exemplo, e não pode usar essas avaliações para fazer um diagnóstico da doença de Alzheimer. Esses testes não revelam por que pode haver comprometimento cognitivo, em que parte do cérebro está o problema nem qual doença pode estar gerando os sintomas.

Petersen explica que esses testes são como leituras de pressão arterial: fornecem “uma métrica, um número que podemos atribuir à função cognitiva e que nos ajuda a avaliar onde a pessoa está agora e, mais importante, para onde ela está indo, se fizermos os testes regularmente”.

É por isso que o psicólogo Stephen Rao, que dirige o centro de neuroimagem cognitiva da Cleveland Clinic, recomenda avaliações anuais para pessoas com mais de 65 anos. Todos os pacientes de sua unidade fazem uma bateria de testes durante as consultas anuais de bem-estar para medir e acompanhar a função cognitiva (orientação, registro, atenção/cálculo, recordação e linguagem).

Se as descobertas sugerem uma mudança perceptível ou alguma anormalidade, Rao recomenda exames mais sofisticados, como tomografia ou ressonância magnética, punção lombar para examinar o líquido cefalorraquidiano (que pode ajudar a diagnosticar o Alzheimer) e testes de biomarcadores sanguíneos, vistos como uma nova opção para detectar o acúmulo anormal de proteínas que pode ser um sinal precoce da doença de Alzheimer.

Petersen diz que muitos médicos de atenção primária não se sentem à vontade para aplicar as avaliações cognitivas. Eles não sabem quais testes usar – alguns são simples como o que minha médica fez, mas outros podem levar até 25 minutos. E também não sabem como interpretar os resultados e o que fazer com achados anormais. Uma pesquisa recente mostrou que 80% dos idosos sentem os benefícios das avaliações, sendo que 60% dizem que gostariam que seus provedores de serviços de saúde as oferecessem. Ao mesmo tempo, 80% não fizeram esse tipo de exame no último ano e 59% afirmam nunca o ter feito.

É importante diferenciar as mudanças esperadas durante o envelhecimento do comprometimento cognitivo de fato. “Não é preto no branco”, diz Petersen, acrescentando que faz parte do envelhecimento normal esquecer ocasionalmente o nome de conhecidos, deixar passar um pagamento mensal, ter dificuldade para encontrar a palavra certa e perder coisas.

Esquecer nomes de familiares próximos, não conseguir encontrar coisas com alguma frequência, ter problemas contínuos para administrar as contas ou sentir dificuldade para manter uma conversa já são sinais mais preocupantes. Se você estiver fazendo a mesma pergunta repetidas vezes, sentindo dificuldade para seguir receitas ou se perdendo em lugares que conhece bem, talvez esteja na hora de fazer um teste cognitivo.

Algumas pessoas hesitam em fazer uma avaliação cognitiva porque têm preocupações com privacidade, porque temem o que podem descobrir ou porque presumem incorretamente que nada pode ser feito com os resultados. Mas Rao diz que cerca de 40% dos casos de demência “podem ser revertidos ou desacelerados quando os detectamos precocemente”.

Ele também enfatizou que os testes podem alertar os médicos para procurarem outros problemas tratáveis que possam causar declínio cognitivo. Segundo os médicos, problemas de memória podem ser causados por coágulos sanguíneos, mas também por alguns medicamentos, traumatismo craniano, uso abusivo de álcool ou drogas, sono insuficiente e baixos níveis de nutrientes essenciais (como a vitamina B12). A depressão e o estresse também podem afetar a memória.

A boa notícia, diz Petersen, é que os problemas de memória podem desaparecer quando tratamos o problema subjacente.

É por isso que, no mês que vem, quando for fazer minha consulta anual de bem-estar, vou pedir uma avaliação cognitiva. Aprendi uns truques desde meu último teste: é muito mais fácil fazer o exercício de contagem regressiva de sete em sete se você subtrair 10 e depois adicionar 3 de volta. Além disso, não é difícil memorizar como se escreve “m-u-n-d-o” de trás para frente. Se minha médica não me der uma palavra diferente, acho que vou me sair bem. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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