Ozempic, Wegovy e Mounjaro: quem está na corrida dos remédios para emagrecer?


Farmacêuticas investem em novas pesquisas para encontrar produto contra obesidade, enquanto medicamentos para diabete viram opção improvisada de pacientes

Por Roberta Jansen
Atualização:

Uma injeção ou comprimido que resulte na perda de peso é o sonho de consumo de médicos ou pacientes. Pelo que se fala na mídia e nas redes sociais, dá para notar que a corrida por um remédio contra a obesidade acelerou. De um lado, as farmacêuticas têm anunciado resultados promissores de testes preliminares. Por outro, há uso crescente de medicamentos de diabete (como o Ozempic) na busca pela magreza, embora esses produtos não sejam recomendados para perda de peso pelas autoridades técnicas nem pela fabricante.

Esse avanço da indústria no desenvolvimento do remédio vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome. Para os especialistas, o potencial das novas drogas é significativo. Não é a toa que, no rastro do caminho aberto pela Novo Nordisk, outras farmacêuticas também buscam moléculas semelhantes e novas combinações que sejam ainda mais eficientes. A corrida se justifica.

Segundo alguns dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, trata-se de um mercado que pode chegar a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) até 2030. A Federação Mundial de Obesidade diz que 38% da população mundial está acima do peso, em 2035, a taxa deve superar 50%.

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A obesidade já é entendida pela grande maioria dos médicos como doença crônica e, em boa parte dos casos, não pode ser resolvida apenas com exercícios físicos e reeducação alimentar. Em casos mais graves, por exemplo, os remédios seriam uma alternativa a cirurgias bariátricas. A obesidade está ligada a risco maior de diabete, problemas cardíacos e AVC, além de vários tipos de câncer.

“A nova geração de medicamentos é uma revolução no tratamento da obesidade por três motivos. Primeiro: até que enfim temos tratamento que pode ser de uso contínuo, já que os remédios são seguros tanto do ponto de vista cardiovascular quanto psiquiátrico”, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, principal investigador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp.

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Fabricante e entidades médicas não indicam o Ozempic para tratar obesidade Foto: George Frey/REUTERS

“Outra coisa: enquanto os antigos remédios promoviam de 5% a 7% de perda de peso corporal, agora falamos de dois dígitos; os mais novos já chegam a 20%. Por fim, esses remédios provavelmente trarão benefícios também na redução de problemas cardíacos”, diz.

Diretor da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Fábio Trujilho concorda. “A chegada da nova geração de medicamentos com alta eficácia e segurança será útil e impactará de forma revolucionária o tratamento da obesidade”, diz.

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“Porém, diante da complexidade da doença não vejo as novas drogas como solução única, mas ferramentas importantes quando usadas adequadamente para ajudar no enfrentamento deste problema”, completa o endocrinologista.

Embora especialistas busquem uma droga eficaz para a perda de peso há quase um século, a nova e mais promissora geração foi descoberta quase por acaso. Na verdade, os remédios foram originalmente desenvolvidos para melhorar a regulação da glicose em diabéticos, que sofrem com excesso de açúcar na corrente sanguínea. As drogas usam pequenas cadeias de aminoácidos para produzir hormônios normalmente fabricados pelo organismo após a refeição, mas que diabéticos fabricam em volumes insuficientes.

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A semaglutida (vendida sob os nomes comerciais de Ozempic e Rybelsus para tratar diabete) imitam a ação de hormônios gastrointestinais capazes de aumentar a produção de insulina (que transporta o açúcar na corrente sanguínea para o interior das células) e reduz a produção de glucagon (que libera açúcar na corrente sanguínea a partir do fígado). Essa substância também é a base para outros remédios em pesquisas, como Wegovy (já vendido nos EUA; deve chegar em breve ao Brasil) e Danuglipron (ainda em testes) e a tirzepatide (vendida nos EUA como Mounjaro).

As drogas também retardam o tempo que o estômago leva para ser esvaziado depois da refeição, prolongando a sensação de saciedade e reduzindo o apetite. Além disso, induzem a troca do tecido adiposo branco por tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético em repouso. Esses efeitos não só ajudam os diabéticos, mas acabam promovendo a perda de peso.

Mounjaro ainda não é vendido no Brasil; medicamento imita molécula sintética que reproduz funções de hormônio secretado no intestino Foto: George Frey/ REUTERS
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Enquanto Ozempic, Rybelsus, Danuglipron e Wegovy simulam a ação de apenas um hormônio, o GLP-1, o Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino.

Segundo a farmacêutica Lilly, produtora do Mounjaro, “em modelos pré-clínicos, o GIP é responsável por dois terços do efeito incretina (liberação de hormônios no intestino após a alimentação) e, além de contribuir para a secreção de insulina, contribuiu para a redução da ingestão de alimentos e para o aumento do gasto energético”.

Várias outras combinações já são estudadas pelas farmacêuticas - sinal de que medicamentos ainda mais eficazes devem surgir em breve. “São vários hormônios liberados no intestino que cumprem esse papel. E há vários sendo desenvolvidos de forma sintética”, diz a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora-médica da Novo Nordisk no Brasil. “O GLP-1 foi o primeiro e mais conhecido de uma série de outros hormônios que estão sendo desenvolvidos com eficácia cada vez maior.”

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Avanço da indústria no desenvolvimento de remédios vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome Foto: REUTERS/Lucas Jackson

A Pfizer é a responsável pelo Danuglipron, ainda em fase 2 nas pesquisas, mas visto com otimismo pelos analistas. “A diferença é que se trata de molécula oral, o que faz com que o paciente tenha aderência maior ao tratamento”, afirma a diretora-médica da farmacêutica americana no Brasil, Adriana Polycarpo Ribeiro.

A segurança dos remédios é preocupação constante, mas os efeitos colaterais mais comuns, como náusea e vômitos, são considerados pouco graves por especialistas e cessam imediatamente com a interrupção do uso. Há um risco raro de desenvolvimento de pancreatite com o uso prolongado e há temores não comprovados de que os remédios possam elevar o risco de tumores na tireóide.

Outro problema é o preço: em geral muito elevado. Weagovy e Mounjaro que ainda não são vendidas por aqui, são comercializadas nos EUA por valores que começam em US$ 1.000,00 (cerca de R$ 5 mil).

No Brasil, as medicações disponíveis são usadas off label para emagrecimento, geralmente para quem tem índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, ou para quem apresenta sobrepeso com problemas de saúde ligados à obesidade. Mas, como a compra dos remédios não exige retenção de receita médica, muitas pessoas fora dessas indicações usam os produtos.

O Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino Foto: Mounjaro

Para Geloneze, da Unicamp, o uso abusivo do remédio preocupa, mas o fato de um quarto da população brasileira estar obesa é um desafio maior. “Um quarto da população adulta brasileira é obesa; ou seja, são 40 milhões de pessoas elegíveis para o tratamento.”

Na opinião dele, ainda há muito preconceito contra a obesidade mesmo por parte de médicos. “Quem controla a temperatura corporal é o cérebro, quem controla os batimentos cardíacos é o cérebro; todo mundo aceita isso”, diz. “Mas há dificuldade de aceitar que também é o cérebro que controla a sensação de fome e de saciedade. Existem organismos não muito propensos a exercícios, com gasto energético baixo, que sentem muita fome e pouca saciedade”, afirma.

“Em pessoas que são obesas há muito tempo, inclusive, já foi constatada a morte de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade. Parte da sociedade pensa que ser obeso é falha de caráter. É uma doença. Essas drogas não são para substituir dieta e exercício, mas para viabilizá-los”, completa o endocrinologista.

Potenciais benefícios das novas drogas vão além do uso: sobre o que as pesquisas de medicamentos revelam. Ao desvendar os mecanismos moleculares capazes de sabotar as tentativas de emagrecer, os remédios deixam claro que perder peso não é questão de “força de vontade” ou “falta de vergonha na cara” – e isso pode ser importante para reduzir o estigma comumente ligado à obesidade. Para os gestores, fica claro que muito mais precisa ser feito para encorajar estilos de vida saudáveis.

Para Fábio Trujilho, da Abeso, há muitos estigmas em relação à obesidade que atrapalham o enfrentamento do problema. “Muitos não enxergam a obesidade como doença e isso, no mínimo, atrasa o início do tratamento”, afirma. “Há preconceito na prescrição de remédios para obesidade que não vemos para outras doenças crônicas, como diabete, hipertensão, colesterol alto.”

Uma injeção ou comprimido que resulte na perda de peso é o sonho de consumo de médicos ou pacientes. Pelo que se fala na mídia e nas redes sociais, dá para notar que a corrida por um remédio contra a obesidade acelerou. De um lado, as farmacêuticas têm anunciado resultados promissores de testes preliminares. Por outro, há uso crescente de medicamentos de diabete (como o Ozempic) na busca pela magreza, embora esses produtos não sejam recomendados para perda de peso pelas autoridades técnicas nem pela fabricante.

Esse avanço da indústria no desenvolvimento do remédio vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome. Para os especialistas, o potencial das novas drogas é significativo. Não é a toa que, no rastro do caminho aberto pela Novo Nordisk, outras farmacêuticas também buscam moléculas semelhantes e novas combinações que sejam ainda mais eficientes. A corrida se justifica.

Segundo alguns dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, trata-se de um mercado que pode chegar a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) até 2030. A Federação Mundial de Obesidade diz que 38% da população mundial está acima do peso, em 2035, a taxa deve superar 50%.

A obesidade já é entendida pela grande maioria dos médicos como doença crônica e, em boa parte dos casos, não pode ser resolvida apenas com exercícios físicos e reeducação alimentar. Em casos mais graves, por exemplo, os remédios seriam uma alternativa a cirurgias bariátricas. A obesidade está ligada a risco maior de diabete, problemas cardíacos e AVC, além de vários tipos de câncer.

“A nova geração de medicamentos é uma revolução no tratamento da obesidade por três motivos. Primeiro: até que enfim temos tratamento que pode ser de uso contínuo, já que os remédios são seguros tanto do ponto de vista cardiovascular quanto psiquiátrico”, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, principal investigador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp.

Fabricante e entidades médicas não indicam o Ozempic para tratar obesidade Foto: George Frey/REUTERS

“Outra coisa: enquanto os antigos remédios promoviam de 5% a 7% de perda de peso corporal, agora falamos de dois dígitos; os mais novos já chegam a 20%. Por fim, esses remédios provavelmente trarão benefícios também na redução de problemas cardíacos”, diz.

Diretor da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Fábio Trujilho concorda. “A chegada da nova geração de medicamentos com alta eficácia e segurança será útil e impactará de forma revolucionária o tratamento da obesidade”, diz.

“Porém, diante da complexidade da doença não vejo as novas drogas como solução única, mas ferramentas importantes quando usadas adequadamente para ajudar no enfrentamento deste problema”, completa o endocrinologista.

Embora especialistas busquem uma droga eficaz para a perda de peso há quase um século, a nova e mais promissora geração foi descoberta quase por acaso. Na verdade, os remédios foram originalmente desenvolvidos para melhorar a regulação da glicose em diabéticos, que sofrem com excesso de açúcar na corrente sanguínea. As drogas usam pequenas cadeias de aminoácidos para produzir hormônios normalmente fabricados pelo organismo após a refeição, mas que diabéticos fabricam em volumes insuficientes.

A semaglutida (vendida sob os nomes comerciais de Ozempic e Rybelsus para tratar diabete) imitam a ação de hormônios gastrointestinais capazes de aumentar a produção de insulina (que transporta o açúcar na corrente sanguínea para o interior das células) e reduz a produção de glucagon (que libera açúcar na corrente sanguínea a partir do fígado). Essa substância também é a base para outros remédios em pesquisas, como Wegovy (já vendido nos EUA; deve chegar em breve ao Brasil) e Danuglipron (ainda em testes) e a tirzepatide (vendida nos EUA como Mounjaro).

As drogas também retardam o tempo que o estômago leva para ser esvaziado depois da refeição, prolongando a sensação de saciedade e reduzindo o apetite. Além disso, induzem a troca do tecido adiposo branco por tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético em repouso. Esses efeitos não só ajudam os diabéticos, mas acabam promovendo a perda de peso.

Mounjaro ainda não é vendido no Brasil; medicamento imita molécula sintética que reproduz funções de hormônio secretado no intestino Foto: George Frey/ REUTERS

Enquanto Ozempic, Rybelsus, Danuglipron e Wegovy simulam a ação de apenas um hormônio, o GLP-1, o Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino.

Segundo a farmacêutica Lilly, produtora do Mounjaro, “em modelos pré-clínicos, o GIP é responsável por dois terços do efeito incretina (liberação de hormônios no intestino após a alimentação) e, além de contribuir para a secreção de insulina, contribuiu para a redução da ingestão de alimentos e para o aumento do gasto energético”.

Várias outras combinações já são estudadas pelas farmacêuticas - sinal de que medicamentos ainda mais eficazes devem surgir em breve. “São vários hormônios liberados no intestino que cumprem esse papel. E há vários sendo desenvolvidos de forma sintética”, diz a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora-médica da Novo Nordisk no Brasil. “O GLP-1 foi o primeiro e mais conhecido de uma série de outros hormônios que estão sendo desenvolvidos com eficácia cada vez maior.”

Avanço da indústria no desenvolvimento de remédios vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome Foto: REUTERS/Lucas Jackson

A Pfizer é a responsável pelo Danuglipron, ainda em fase 2 nas pesquisas, mas visto com otimismo pelos analistas. “A diferença é que se trata de molécula oral, o que faz com que o paciente tenha aderência maior ao tratamento”, afirma a diretora-médica da farmacêutica americana no Brasil, Adriana Polycarpo Ribeiro.

A segurança dos remédios é preocupação constante, mas os efeitos colaterais mais comuns, como náusea e vômitos, são considerados pouco graves por especialistas e cessam imediatamente com a interrupção do uso. Há um risco raro de desenvolvimento de pancreatite com o uso prolongado e há temores não comprovados de que os remédios possam elevar o risco de tumores na tireóide.

Outro problema é o preço: em geral muito elevado. Weagovy e Mounjaro que ainda não são vendidas por aqui, são comercializadas nos EUA por valores que começam em US$ 1.000,00 (cerca de R$ 5 mil).

No Brasil, as medicações disponíveis são usadas off label para emagrecimento, geralmente para quem tem índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, ou para quem apresenta sobrepeso com problemas de saúde ligados à obesidade. Mas, como a compra dos remédios não exige retenção de receita médica, muitas pessoas fora dessas indicações usam os produtos.

O Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino Foto: Mounjaro

Para Geloneze, da Unicamp, o uso abusivo do remédio preocupa, mas o fato de um quarto da população brasileira estar obesa é um desafio maior. “Um quarto da população adulta brasileira é obesa; ou seja, são 40 milhões de pessoas elegíveis para o tratamento.”

Na opinião dele, ainda há muito preconceito contra a obesidade mesmo por parte de médicos. “Quem controla a temperatura corporal é o cérebro, quem controla os batimentos cardíacos é o cérebro; todo mundo aceita isso”, diz. “Mas há dificuldade de aceitar que também é o cérebro que controla a sensação de fome e de saciedade. Existem organismos não muito propensos a exercícios, com gasto energético baixo, que sentem muita fome e pouca saciedade”, afirma.

“Em pessoas que são obesas há muito tempo, inclusive, já foi constatada a morte de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade. Parte da sociedade pensa que ser obeso é falha de caráter. É uma doença. Essas drogas não são para substituir dieta e exercício, mas para viabilizá-los”, completa o endocrinologista.

Potenciais benefícios das novas drogas vão além do uso: sobre o que as pesquisas de medicamentos revelam. Ao desvendar os mecanismos moleculares capazes de sabotar as tentativas de emagrecer, os remédios deixam claro que perder peso não é questão de “força de vontade” ou “falta de vergonha na cara” – e isso pode ser importante para reduzir o estigma comumente ligado à obesidade. Para os gestores, fica claro que muito mais precisa ser feito para encorajar estilos de vida saudáveis.

Para Fábio Trujilho, da Abeso, há muitos estigmas em relação à obesidade que atrapalham o enfrentamento do problema. “Muitos não enxergam a obesidade como doença e isso, no mínimo, atrasa o início do tratamento”, afirma. “Há preconceito na prescrição de remédios para obesidade que não vemos para outras doenças crônicas, como diabete, hipertensão, colesterol alto.”

Uma injeção ou comprimido que resulte na perda de peso é o sonho de consumo de médicos ou pacientes. Pelo que se fala na mídia e nas redes sociais, dá para notar que a corrida por um remédio contra a obesidade acelerou. De um lado, as farmacêuticas têm anunciado resultados promissores de testes preliminares. Por outro, há uso crescente de medicamentos de diabete (como o Ozempic) na busca pela magreza, embora esses produtos não sejam recomendados para perda de peso pelas autoridades técnicas nem pela fabricante.

Esse avanço da indústria no desenvolvimento do remédio vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome. Para os especialistas, o potencial das novas drogas é significativo. Não é a toa que, no rastro do caminho aberto pela Novo Nordisk, outras farmacêuticas também buscam moléculas semelhantes e novas combinações que sejam ainda mais eficientes. A corrida se justifica.

Segundo alguns dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, trata-se de um mercado que pode chegar a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) até 2030. A Federação Mundial de Obesidade diz que 38% da população mundial está acima do peso, em 2035, a taxa deve superar 50%.

A obesidade já é entendida pela grande maioria dos médicos como doença crônica e, em boa parte dos casos, não pode ser resolvida apenas com exercícios físicos e reeducação alimentar. Em casos mais graves, por exemplo, os remédios seriam uma alternativa a cirurgias bariátricas. A obesidade está ligada a risco maior de diabete, problemas cardíacos e AVC, além de vários tipos de câncer.

“A nova geração de medicamentos é uma revolução no tratamento da obesidade por três motivos. Primeiro: até que enfim temos tratamento que pode ser de uso contínuo, já que os remédios são seguros tanto do ponto de vista cardiovascular quanto psiquiátrico”, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, principal investigador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp.

Fabricante e entidades médicas não indicam o Ozempic para tratar obesidade Foto: George Frey/REUTERS

“Outra coisa: enquanto os antigos remédios promoviam de 5% a 7% de perda de peso corporal, agora falamos de dois dígitos; os mais novos já chegam a 20%. Por fim, esses remédios provavelmente trarão benefícios também na redução de problemas cardíacos”, diz.

Diretor da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Fábio Trujilho concorda. “A chegada da nova geração de medicamentos com alta eficácia e segurança será útil e impactará de forma revolucionária o tratamento da obesidade”, diz.

“Porém, diante da complexidade da doença não vejo as novas drogas como solução única, mas ferramentas importantes quando usadas adequadamente para ajudar no enfrentamento deste problema”, completa o endocrinologista.

Embora especialistas busquem uma droga eficaz para a perda de peso há quase um século, a nova e mais promissora geração foi descoberta quase por acaso. Na verdade, os remédios foram originalmente desenvolvidos para melhorar a regulação da glicose em diabéticos, que sofrem com excesso de açúcar na corrente sanguínea. As drogas usam pequenas cadeias de aminoácidos para produzir hormônios normalmente fabricados pelo organismo após a refeição, mas que diabéticos fabricam em volumes insuficientes.

A semaglutida (vendida sob os nomes comerciais de Ozempic e Rybelsus para tratar diabete) imitam a ação de hormônios gastrointestinais capazes de aumentar a produção de insulina (que transporta o açúcar na corrente sanguínea para o interior das células) e reduz a produção de glucagon (que libera açúcar na corrente sanguínea a partir do fígado). Essa substância também é a base para outros remédios em pesquisas, como Wegovy (já vendido nos EUA; deve chegar em breve ao Brasil) e Danuglipron (ainda em testes) e a tirzepatide (vendida nos EUA como Mounjaro).

As drogas também retardam o tempo que o estômago leva para ser esvaziado depois da refeição, prolongando a sensação de saciedade e reduzindo o apetite. Além disso, induzem a troca do tecido adiposo branco por tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético em repouso. Esses efeitos não só ajudam os diabéticos, mas acabam promovendo a perda de peso.

Mounjaro ainda não é vendido no Brasil; medicamento imita molécula sintética que reproduz funções de hormônio secretado no intestino Foto: George Frey/ REUTERS

Enquanto Ozempic, Rybelsus, Danuglipron e Wegovy simulam a ação de apenas um hormônio, o GLP-1, o Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino.

Segundo a farmacêutica Lilly, produtora do Mounjaro, “em modelos pré-clínicos, o GIP é responsável por dois terços do efeito incretina (liberação de hormônios no intestino após a alimentação) e, além de contribuir para a secreção de insulina, contribuiu para a redução da ingestão de alimentos e para o aumento do gasto energético”.

Várias outras combinações já são estudadas pelas farmacêuticas - sinal de que medicamentos ainda mais eficazes devem surgir em breve. “São vários hormônios liberados no intestino que cumprem esse papel. E há vários sendo desenvolvidos de forma sintética”, diz a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora-médica da Novo Nordisk no Brasil. “O GLP-1 foi o primeiro e mais conhecido de uma série de outros hormônios que estão sendo desenvolvidos com eficácia cada vez maior.”

Avanço da indústria no desenvolvimento de remédios vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome Foto: REUTERS/Lucas Jackson

A Pfizer é a responsável pelo Danuglipron, ainda em fase 2 nas pesquisas, mas visto com otimismo pelos analistas. “A diferença é que se trata de molécula oral, o que faz com que o paciente tenha aderência maior ao tratamento”, afirma a diretora-médica da farmacêutica americana no Brasil, Adriana Polycarpo Ribeiro.

A segurança dos remédios é preocupação constante, mas os efeitos colaterais mais comuns, como náusea e vômitos, são considerados pouco graves por especialistas e cessam imediatamente com a interrupção do uso. Há um risco raro de desenvolvimento de pancreatite com o uso prolongado e há temores não comprovados de que os remédios possam elevar o risco de tumores na tireóide.

Outro problema é o preço: em geral muito elevado. Weagovy e Mounjaro que ainda não são vendidas por aqui, são comercializadas nos EUA por valores que começam em US$ 1.000,00 (cerca de R$ 5 mil).

No Brasil, as medicações disponíveis são usadas off label para emagrecimento, geralmente para quem tem índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, ou para quem apresenta sobrepeso com problemas de saúde ligados à obesidade. Mas, como a compra dos remédios não exige retenção de receita médica, muitas pessoas fora dessas indicações usam os produtos.

O Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino Foto: Mounjaro

Para Geloneze, da Unicamp, o uso abusivo do remédio preocupa, mas o fato de um quarto da população brasileira estar obesa é um desafio maior. “Um quarto da população adulta brasileira é obesa; ou seja, são 40 milhões de pessoas elegíveis para o tratamento.”

Na opinião dele, ainda há muito preconceito contra a obesidade mesmo por parte de médicos. “Quem controla a temperatura corporal é o cérebro, quem controla os batimentos cardíacos é o cérebro; todo mundo aceita isso”, diz. “Mas há dificuldade de aceitar que também é o cérebro que controla a sensação de fome e de saciedade. Existem organismos não muito propensos a exercícios, com gasto energético baixo, que sentem muita fome e pouca saciedade”, afirma.

“Em pessoas que são obesas há muito tempo, inclusive, já foi constatada a morte de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade. Parte da sociedade pensa que ser obeso é falha de caráter. É uma doença. Essas drogas não são para substituir dieta e exercício, mas para viabilizá-los”, completa o endocrinologista.

Potenciais benefícios das novas drogas vão além do uso: sobre o que as pesquisas de medicamentos revelam. Ao desvendar os mecanismos moleculares capazes de sabotar as tentativas de emagrecer, os remédios deixam claro que perder peso não é questão de “força de vontade” ou “falta de vergonha na cara” – e isso pode ser importante para reduzir o estigma comumente ligado à obesidade. Para os gestores, fica claro que muito mais precisa ser feito para encorajar estilos de vida saudáveis.

Para Fábio Trujilho, da Abeso, há muitos estigmas em relação à obesidade que atrapalham o enfrentamento do problema. “Muitos não enxergam a obesidade como doença e isso, no mínimo, atrasa o início do tratamento”, afirma. “Há preconceito na prescrição de remédios para obesidade que não vemos para outras doenças crônicas, como diabete, hipertensão, colesterol alto.”

Uma injeção ou comprimido que resulte na perda de peso é o sonho de consumo de médicos ou pacientes. Pelo que se fala na mídia e nas redes sociais, dá para notar que a corrida por um remédio contra a obesidade acelerou. De um lado, as farmacêuticas têm anunciado resultados promissores de testes preliminares. Por outro, há uso crescente de medicamentos de diabete (como o Ozempic) na busca pela magreza, embora esses produtos não sejam recomendados para perda de peso pelas autoridades técnicas nem pela fabricante.

Esse avanço da indústria no desenvolvimento do remédio vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome. Para os especialistas, o potencial das novas drogas é significativo. Não é a toa que, no rastro do caminho aberto pela Novo Nordisk, outras farmacêuticas também buscam moléculas semelhantes e novas combinações que sejam ainda mais eficientes. A corrida se justifica.

Segundo alguns dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, trata-se de um mercado que pode chegar a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) até 2030. A Federação Mundial de Obesidade diz que 38% da população mundial está acima do peso, em 2035, a taxa deve superar 50%.

A obesidade já é entendida pela grande maioria dos médicos como doença crônica e, em boa parte dos casos, não pode ser resolvida apenas com exercícios físicos e reeducação alimentar. Em casos mais graves, por exemplo, os remédios seriam uma alternativa a cirurgias bariátricas. A obesidade está ligada a risco maior de diabete, problemas cardíacos e AVC, além de vários tipos de câncer.

“A nova geração de medicamentos é uma revolução no tratamento da obesidade por três motivos. Primeiro: até que enfim temos tratamento que pode ser de uso contínuo, já que os remédios são seguros tanto do ponto de vista cardiovascular quanto psiquiátrico”, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, principal investigador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp.

Fabricante e entidades médicas não indicam o Ozempic para tratar obesidade Foto: George Frey/REUTERS

“Outra coisa: enquanto os antigos remédios promoviam de 5% a 7% de perda de peso corporal, agora falamos de dois dígitos; os mais novos já chegam a 20%. Por fim, esses remédios provavelmente trarão benefícios também na redução de problemas cardíacos”, diz.

Diretor da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Fábio Trujilho concorda. “A chegada da nova geração de medicamentos com alta eficácia e segurança será útil e impactará de forma revolucionária o tratamento da obesidade”, diz.

“Porém, diante da complexidade da doença não vejo as novas drogas como solução única, mas ferramentas importantes quando usadas adequadamente para ajudar no enfrentamento deste problema”, completa o endocrinologista.

Embora especialistas busquem uma droga eficaz para a perda de peso há quase um século, a nova e mais promissora geração foi descoberta quase por acaso. Na verdade, os remédios foram originalmente desenvolvidos para melhorar a regulação da glicose em diabéticos, que sofrem com excesso de açúcar na corrente sanguínea. As drogas usam pequenas cadeias de aminoácidos para produzir hormônios normalmente fabricados pelo organismo após a refeição, mas que diabéticos fabricam em volumes insuficientes.

A semaglutida (vendida sob os nomes comerciais de Ozempic e Rybelsus para tratar diabete) imitam a ação de hormônios gastrointestinais capazes de aumentar a produção de insulina (que transporta o açúcar na corrente sanguínea para o interior das células) e reduz a produção de glucagon (que libera açúcar na corrente sanguínea a partir do fígado). Essa substância também é a base para outros remédios em pesquisas, como Wegovy (já vendido nos EUA; deve chegar em breve ao Brasil) e Danuglipron (ainda em testes) e a tirzepatide (vendida nos EUA como Mounjaro).

As drogas também retardam o tempo que o estômago leva para ser esvaziado depois da refeição, prolongando a sensação de saciedade e reduzindo o apetite. Além disso, induzem a troca do tecido adiposo branco por tecido adiposo marrom, aumentando o gasto energético em repouso. Esses efeitos não só ajudam os diabéticos, mas acabam promovendo a perda de peso.

Mounjaro ainda não é vendido no Brasil; medicamento imita molécula sintética que reproduz funções de hormônio secretado no intestino Foto: George Frey/ REUTERS

Enquanto Ozempic, Rybelsus, Danuglipron e Wegovy simulam a ação de apenas um hormônio, o GLP-1, o Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino.

Segundo a farmacêutica Lilly, produtora do Mounjaro, “em modelos pré-clínicos, o GIP é responsável por dois terços do efeito incretina (liberação de hormônios no intestino após a alimentação) e, além de contribuir para a secreção de insulina, contribuiu para a redução da ingestão de alimentos e para o aumento do gasto energético”.

Várias outras combinações já são estudadas pelas farmacêuticas - sinal de que medicamentos ainda mais eficazes devem surgir em breve. “São vários hormônios liberados no intestino que cumprem esse papel. E há vários sendo desenvolvidos de forma sintética”, diz a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora-médica da Novo Nordisk no Brasil. “O GLP-1 foi o primeiro e mais conhecido de uma série de outros hormônios que estão sendo desenvolvidos com eficácia cada vez maior.”

Avanço da indústria no desenvolvimento de remédios vem após a descoberta de hormônio secretados no intestino que regulam a liberação de insulina e a sensação de fome Foto: REUTERS/Lucas Jackson

A Pfizer é a responsável pelo Danuglipron, ainda em fase 2 nas pesquisas, mas visto com otimismo pelos analistas. “A diferença é que se trata de molécula oral, o que faz com que o paciente tenha aderência maior ao tratamento”, afirma a diretora-médica da farmacêutica americana no Brasil, Adriana Polycarpo Ribeiro.

A segurança dos remédios é preocupação constante, mas os efeitos colaterais mais comuns, como náusea e vômitos, são considerados pouco graves por especialistas e cessam imediatamente com a interrupção do uso. Há um risco raro de desenvolvimento de pancreatite com o uso prolongado e há temores não comprovados de que os remédios possam elevar o risco de tumores na tireóide.

Outro problema é o preço: em geral muito elevado. Weagovy e Mounjaro que ainda não são vendidas por aqui, são comercializadas nos EUA por valores que começam em US$ 1.000,00 (cerca de R$ 5 mil).

No Brasil, as medicações disponíveis são usadas off label para emagrecimento, geralmente para quem tem índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, ou para quem apresenta sobrepeso com problemas de saúde ligados à obesidade. Mas, como a compra dos remédios não exige retenção de receita médica, muitas pessoas fora dessas indicações usam os produtos.

O Mounjaro imita também os mecanismos do GIP - uma molécula sintética que reproduz as funções de um outro hormônio secretado no intestino Foto: Mounjaro

Para Geloneze, da Unicamp, o uso abusivo do remédio preocupa, mas o fato de um quarto da população brasileira estar obesa é um desafio maior. “Um quarto da população adulta brasileira é obesa; ou seja, são 40 milhões de pessoas elegíveis para o tratamento.”

Na opinião dele, ainda há muito preconceito contra a obesidade mesmo por parte de médicos. “Quem controla a temperatura corporal é o cérebro, quem controla os batimentos cardíacos é o cérebro; todo mundo aceita isso”, diz. “Mas há dificuldade de aceitar que também é o cérebro que controla a sensação de fome e de saciedade. Existem organismos não muito propensos a exercícios, com gasto energético baixo, que sentem muita fome e pouca saciedade”, afirma.

“Em pessoas que são obesas há muito tempo, inclusive, já foi constatada a morte de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade. Parte da sociedade pensa que ser obeso é falha de caráter. É uma doença. Essas drogas não são para substituir dieta e exercício, mas para viabilizá-los”, completa o endocrinologista.

Potenciais benefícios das novas drogas vão além do uso: sobre o que as pesquisas de medicamentos revelam. Ao desvendar os mecanismos moleculares capazes de sabotar as tentativas de emagrecer, os remédios deixam claro que perder peso não é questão de “força de vontade” ou “falta de vergonha na cara” – e isso pode ser importante para reduzir o estigma comumente ligado à obesidade. Para os gestores, fica claro que muito mais precisa ser feito para encorajar estilos de vida saudáveis.

Para Fábio Trujilho, da Abeso, há muitos estigmas em relação à obesidade que atrapalham o enfrentamento do problema. “Muitos não enxergam a obesidade como doença e isso, no mínimo, atrasa o início do tratamento”, afirma. “Há preconceito na prescrição de remédios para obesidade que não vemos para outras doenças crônicas, como diabete, hipertensão, colesterol alto.”

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