Pacientes bariátricos são mais suscetíveis ao consumo excessivo de álcool? Especialistas avaliam


Alterações metabólicas e hormonais podem explicar essa relação; acompanhamento profissional próximo, com orientação adequada, pode minimizar problema

Por Victória Ribeiro

Com o aumento da obesidade e das cirurgias bariátricas no Brasil, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) alertou sobre uma preocupação crescente, mas ainda pouco discutida: pessoas que realizam cirurgias bariátricas mostram-se mais suscetíveis ao consumo excessivo de álcool, especialmente quando não recebem orientação e acompanhamento adequados.

Dados recentes apontam que mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso e que um em cada quatro brasileiros convive com a obesidade. Paralelamente, o número de cirurgias bariátricas realizadas mais que dobrou em um período de 11 anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

“Quanto maior a frequência e a quantidade de ingestão de álcool antes da cirurgia, maior a chance de consumo prejudicial após o procedimento. Porém, mesmo pacientes sem histórico de abuso ou dependência de álcool no pré-operatório podem desenvolver problemas após a realização da bariátrica”, destaca o psiquiatra Arthur Guerra, presidente executivo do CISA.

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Pessoas que realizam cirurgia bariátrica têm maior risco de apresentar consumo excessivo de álcool, alertam especialistas Foto: JustLife/Adobe Stock

Um estudo realizado em 2017 pela Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, indica que os problemas relacionados ao álcool nem sempre surgem imediatamente após a cirurgia, mas podem se manifestar ao longo do tempo. A pesquisa, que envolveu mais de 2 mil indivíduos, revelou que a prevalência de transtorno por uso de álcool aumentou de 7% antes da cirurgia para 16% até sete anos após o procedimento.

De acordo com Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do CISA, o aumento dos problemas com álcool após procedimento bariátrico pode estar relacionado:

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  • à absorção mais rápida da bebida alcoólica;
  • ao uso do álcool como um mecanismo de substituição para os alimentos ou como meio de enfrentamento aos possíveis sentimentos negativos após a cirurgia;
  • ao aumento da socialização após realização do procedimento, o qe pode envolver maior consumo de bebidas;
  • às alterações metabólicas e hormonais.

Mais estudos são necessários

Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, de fato há uma ligação entre a cirurgia bariátrica e o aumento do consumo de álcool. Inclusive, durante sua prática clínica, pacientes já relataram enfrentar o problema, especialmente entre o primeiro e o segundo ano após a realização do procedimento.

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No entanto, ainda há mais perguntas do que respostas, pois a falta de estudos randomizados, que comparem pacientes submetidos à bariátrica com aqueles que não tenham realizado a cirurgia, impede uma análise conclusiva e que confirme quais são as causas exatas do problema.

“Existe a necessidade de um estudo comparativo e que acompanhe as pessoas analisadas após a pesquisa. Somente assim poderemos afirmar se o aumento do consumo está relacionado ao hábito prévio de ingestão excessiva, à uma maior absorção de álcool após a cirurgia ou a questões de ressocialização. Atualmente, estamos às cegas. As causas são apenas hipóteses”, avalia Cohen.

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Contudo, uma explicação plausível, na visão do especialista, é de que o aumento do consumo de álcool após a cirurgia bariátrica pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos desencadeados por esse procedimento. Afinal, as intervenções bariátricas modificam os padrões de fome e saciedade no corpo, resultando em uma redução do apetite e uma sensação aumentada de satisfação entre os pacientes operados. Essa transformação é, de acordo com Cohen, o resultado da influência da cirurgia sobre o sistema nervoso central, especialmente no hipotálamo, a região do cérebro responsável pelo controle do apetite e pela ingestão de alimentos.

“Essa maior saciedade induzida pela cirurgia pode interferir em circuitos cerebrais complexos nos pacientes, especialmente nos que já tinham um histórico de consumo de álcool antes da cirurgia. Esses circuitos neuronais podem, então, levar o indivíduo a buscar o álcool como uma forma de compensação ou conforto, embora os mecanismos precisos desse processo ainda não estejam totalmente compreendidos”, especula Cohen.

Orientação honesta é caminho para minimizar o problema

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Diante dessa associação, o especialista enfatiza a importância de informar os pacientes sobre essa questão tanto antes quanto após o procedimento cirúrgico. Além disso, uma prática comum para lidar com pacientes que demonstram uma inclinação ao aumento do consumo de álcool, seja no pré ou pós-operatório, é encaminhá-los para avaliação e tratamento psicológico.

“Esse problema não deve ser considerado como uma contraindicação para a cirurgia bariátrica, pois esta é uma intervenção especialmente destinada a tratar a obesidade, um problema de saúde igualmente sério. Levantar esse assunto é importante, na verdade, para destacar que o sucesso da bariátrica depende da adesão dos pacientes ao acompanhamento pré e pós-operatório, assim como da orientação honesta e cuidadosa dos especialistas”, declara Cohen.

Reuniões

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Como resposta ao problema, desde agosto de 2023, o Alcoólicos Anônimos (A.A), comunidade com carácter voluntário que reúne pessoas que buscam alcançar e manter a sobriedade, realiza reuniões específicas para mulheres que passaram a ter problemas com álcool após a realização da bariátrica. A iniciativa é do grupo de mulheres Colcha de Retalhos, que são participantes do A.A e têm construído junto à iniciativa um fortalecimento para a recuperação.

As reuniões ocorrem de forma virtual, todas as sextas-feiras às 20h, e quinzenalmente às segundas-feiras, no mesmo horário. Para saber mais, clique aqui.

Com o aumento da obesidade e das cirurgias bariátricas no Brasil, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) alertou sobre uma preocupação crescente, mas ainda pouco discutida: pessoas que realizam cirurgias bariátricas mostram-se mais suscetíveis ao consumo excessivo de álcool, especialmente quando não recebem orientação e acompanhamento adequados.

Dados recentes apontam que mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso e que um em cada quatro brasileiros convive com a obesidade. Paralelamente, o número de cirurgias bariátricas realizadas mais que dobrou em um período de 11 anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

“Quanto maior a frequência e a quantidade de ingestão de álcool antes da cirurgia, maior a chance de consumo prejudicial após o procedimento. Porém, mesmo pacientes sem histórico de abuso ou dependência de álcool no pré-operatório podem desenvolver problemas após a realização da bariátrica”, destaca o psiquiatra Arthur Guerra, presidente executivo do CISA.

Pessoas que realizam cirurgia bariátrica têm maior risco de apresentar consumo excessivo de álcool, alertam especialistas Foto: JustLife/Adobe Stock

Um estudo realizado em 2017 pela Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, indica que os problemas relacionados ao álcool nem sempre surgem imediatamente após a cirurgia, mas podem se manifestar ao longo do tempo. A pesquisa, que envolveu mais de 2 mil indivíduos, revelou que a prevalência de transtorno por uso de álcool aumentou de 7% antes da cirurgia para 16% até sete anos após o procedimento.

De acordo com Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do CISA, o aumento dos problemas com álcool após procedimento bariátrico pode estar relacionado:

  • à absorção mais rápida da bebida alcoólica;
  • ao uso do álcool como um mecanismo de substituição para os alimentos ou como meio de enfrentamento aos possíveis sentimentos negativos após a cirurgia;
  • ao aumento da socialização após realização do procedimento, o qe pode envolver maior consumo de bebidas;
  • às alterações metabólicas e hormonais.

Mais estudos são necessários

Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, de fato há uma ligação entre a cirurgia bariátrica e o aumento do consumo de álcool. Inclusive, durante sua prática clínica, pacientes já relataram enfrentar o problema, especialmente entre o primeiro e o segundo ano após a realização do procedimento.

No entanto, ainda há mais perguntas do que respostas, pois a falta de estudos randomizados, que comparem pacientes submetidos à bariátrica com aqueles que não tenham realizado a cirurgia, impede uma análise conclusiva e que confirme quais são as causas exatas do problema.

“Existe a necessidade de um estudo comparativo e que acompanhe as pessoas analisadas após a pesquisa. Somente assim poderemos afirmar se o aumento do consumo está relacionado ao hábito prévio de ingestão excessiva, à uma maior absorção de álcool após a cirurgia ou a questões de ressocialização. Atualmente, estamos às cegas. As causas são apenas hipóteses”, avalia Cohen.

Contudo, uma explicação plausível, na visão do especialista, é de que o aumento do consumo de álcool após a cirurgia bariátrica pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos desencadeados por esse procedimento. Afinal, as intervenções bariátricas modificam os padrões de fome e saciedade no corpo, resultando em uma redução do apetite e uma sensação aumentada de satisfação entre os pacientes operados. Essa transformação é, de acordo com Cohen, o resultado da influência da cirurgia sobre o sistema nervoso central, especialmente no hipotálamo, a região do cérebro responsável pelo controle do apetite e pela ingestão de alimentos.

“Essa maior saciedade induzida pela cirurgia pode interferir em circuitos cerebrais complexos nos pacientes, especialmente nos que já tinham um histórico de consumo de álcool antes da cirurgia. Esses circuitos neuronais podem, então, levar o indivíduo a buscar o álcool como uma forma de compensação ou conforto, embora os mecanismos precisos desse processo ainda não estejam totalmente compreendidos”, especula Cohen.

Orientação honesta é caminho para minimizar o problema

Diante dessa associação, o especialista enfatiza a importância de informar os pacientes sobre essa questão tanto antes quanto após o procedimento cirúrgico. Além disso, uma prática comum para lidar com pacientes que demonstram uma inclinação ao aumento do consumo de álcool, seja no pré ou pós-operatório, é encaminhá-los para avaliação e tratamento psicológico.

“Esse problema não deve ser considerado como uma contraindicação para a cirurgia bariátrica, pois esta é uma intervenção especialmente destinada a tratar a obesidade, um problema de saúde igualmente sério. Levantar esse assunto é importante, na verdade, para destacar que o sucesso da bariátrica depende da adesão dos pacientes ao acompanhamento pré e pós-operatório, assim como da orientação honesta e cuidadosa dos especialistas”, declara Cohen.

Reuniões

Como resposta ao problema, desde agosto de 2023, o Alcoólicos Anônimos (A.A), comunidade com carácter voluntário que reúne pessoas que buscam alcançar e manter a sobriedade, realiza reuniões específicas para mulheres que passaram a ter problemas com álcool após a realização da bariátrica. A iniciativa é do grupo de mulheres Colcha de Retalhos, que são participantes do A.A e têm construído junto à iniciativa um fortalecimento para a recuperação.

As reuniões ocorrem de forma virtual, todas as sextas-feiras às 20h, e quinzenalmente às segundas-feiras, no mesmo horário. Para saber mais, clique aqui.

Com o aumento da obesidade e das cirurgias bariátricas no Brasil, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) alertou sobre uma preocupação crescente, mas ainda pouco discutida: pessoas que realizam cirurgias bariátricas mostram-se mais suscetíveis ao consumo excessivo de álcool, especialmente quando não recebem orientação e acompanhamento adequados.

Dados recentes apontam que mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso e que um em cada quatro brasileiros convive com a obesidade. Paralelamente, o número de cirurgias bariátricas realizadas mais que dobrou em um período de 11 anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

“Quanto maior a frequência e a quantidade de ingestão de álcool antes da cirurgia, maior a chance de consumo prejudicial após o procedimento. Porém, mesmo pacientes sem histórico de abuso ou dependência de álcool no pré-operatório podem desenvolver problemas após a realização da bariátrica”, destaca o psiquiatra Arthur Guerra, presidente executivo do CISA.

Pessoas que realizam cirurgia bariátrica têm maior risco de apresentar consumo excessivo de álcool, alertam especialistas Foto: JustLife/Adobe Stock

Um estudo realizado em 2017 pela Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, indica que os problemas relacionados ao álcool nem sempre surgem imediatamente após a cirurgia, mas podem se manifestar ao longo do tempo. A pesquisa, que envolveu mais de 2 mil indivíduos, revelou que a prevalência de transtorno por uso de álcool aumentou de 7% antes da cirurgia para 16% até sete anos após o procedimento.

De acordo com Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do CISA, o aumento dos problemas com álcool após procedimento bariátrico pode estar relacionado:

  • à absorção mais rápida da bebida alcoólica;
  • ao uso do álcool como um mecanismo de substituição para os alimentos ou como meio de enfrentamento aos possíveis sentimentos negativos após a cirurgia;
  • ao aumento da socialização após realização do procedimento, o qe pode envolver maior consumo de bebidas;
  • às alterações metabólicas e hormonais.

Mais estudos são necessários

Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, de fato há uma ligação entre a cirurgia bariátrica e o aumento do consumo de álcool. Inclusive, durante sua prática clínica, pacientes já relataram enfrentar o problema, especialmente entre o primeiro e o segundo ano após a realização do procedimento.

No entanto, ainda há mais perguntas do que respostas, pois a falta de estudos randomizados, que comparem pacientes submetidos à bariátrica com aqueles que não tenham realizado a cirurgia, impede uma análise conclusiva e que confirme quais são as causas exatas do problema.

“Existe a necessidade de um estudo comparativo e que acompanhe as pessoas analisadas após a pesquisa. Somente assim poderemos afirmar se o aumento do consumo está relacionado ao hábito prévio de ingestão excessiva, à uma maior absorção de álcool após a cirurgia ou a questões de ressocialização. Atualmente, estamos às cegas. As causas são apenas hipóteses”, avalia Cohen.

Contudo, uma explicação plausível, na visão do especialista, é de que o aumento do consumo de álcool após a cirurgia bariátrica pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos desencadeados por esse procedimento. Afinal, as intervenções bariátricas modificam os padrões de fome e saciedade no corpo, resultando em uma redução do apetite e uma sensação aumentada de satisfação entre os pacientes operados. Essa transformação é, de acordo com Cohen, o resultado da influência da cirurgia sobre o sistema nervoso central, especialmente no hipotálamo, a região do cérebro responsável pelo controle do apetite e pela ingestão de alimentos.

“Essa maior saciedade induzida pela cirurgia pode interferir em circuitos cerebrais complexos nos pacientes, especialmente nos que já tinham um histórico de consumo de álcool antes da cirurgia. Esses circuitos neuronais podem, então, levar o indivíduo a buscar o álcool como uma forma de compensação ou conforto, embora os mecanismos precisos desse processo ainda não estejam totalmente compreendidos”, especula Cohen.

Orientação honesta é caminho para minimizar o problema

Diante dessa associação, o especialista enfatiza a importância de informar os pacientes sobre essa questão tanto antes quanto após o procedimento cirúrgico. Além disso, uma prática comum para lidar com pacientes que demonstram uma inclinação ao aumento do consumo de álcool, seja no pré ou pós-operatório, é encaminhá-los para avaliação e tratamento psicológico.

“Esse problema não deve ser considerado como uma contraindicação para a cirurgia bariátrica, pois esta é uma intervenção especialmente destinada a tratar a obesidade, um problema de saúde igualmente sério. Levantar esse assunto é importante, na verdade, para destacar que o sucesso da bariátrica depende da adesão dos pacientes ao acompanhamento pré e pós-operatório, assim como da orientação honesta e cuidadosa dos especialistas”, declara Cohen.

Reuniões

Como resposta ao problema, desde agosto de 2023, o Alcoólicos Anônimos (A.A), comunidade com carácter voluntário que reúne pessoas que buscam alcançar e manter a sobriedade, realiza reuniões específicas para mulheres que passaram a ter problemas com álcool após a realização da bariátrica. A iniciativa é do grupo de mulheres Colcha de Retalhos, que são participantes do A.A e têm construído junto à iniciativa um fortalecimento para a recuperação.

As reuniões ocorrem de forma virtual, todas as sextas-feiras às 20h, e quinzenalmente às segundas-feiras, no mesmo horário. Para saber mais, clique aqui.

Com o aumento da obesidade e das cirurgias bariátricas no Brasil, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) alertou sobre uma preocupação crescente, mas ainda pouco discutida: pessoas que realizam cirurgias bariátricas mostram-se mais suscetíveis ao consumo excessivo de álcool, especialmente quando não recebem orientação e acompanhamento adequados.

Dados recentes apontam que mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso e que um em cada quatro brasileiros convive com a obesidade. Paralelamente, o número de cirurgias bariátricas realizadas mais que dobrou em um período de 11 anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

“Quanto maior a frequência e a quantidade de ingestão de álcool antes da cirurgia, maior a chance de consumo prejudicial após o procedimento. Porém, mesmo pacientes sem histórico de abuso ou dependência de álcool no pré-operatório podem desenvolver problemas após a realização da bariátrica”, destaca o psiquiatra Arthur Guerra, presidente executivo do CISA.

Pessoas que realizam cirurgia bariátrica têm maior risco de apresentar consumo excessivo de álcool, alertam especialistas Foto: JustLife/Adobe Stock

Um estudo realizado em 2017 pela Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, indica que os problemas relacionados ao álcool nem sempre surgem imediatamente após a cirurgia, mas podem se manifestar ao longo do tempo. A pesquisa, que envolveu mais de 2 mil indivíduos, revelou que a prevalência de transtorno por uso de álcool aumentou de 7% antes da cirurgia para 16% até sete anos após o procedimento.

De acordo com Olivia Pozzolo, psiquiatra e pesquisadora do CISA, o aumento dos problemas com álcool após procedimento bariátrico pode estar relacionado:

  • à absorção mais rápida da bebida alcoólica;
  • ao uso do álcool como um mecanismo de substituição para os alimentos ou como meio de enfrentamento aos possíveis sentimentos negativos após a cirurgia;
  • ao aumento da socialização após realização do procedimento, o qe pode envolver maior consumo de bebidas;
  • às alterações metabólicas e hormonais.

Mais estudos são necessários

Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, de fato há uma ligação entre a cirurgia bariátrica e o aumento do consumo de álcool. Inclusive, durante sua prática clínica, pacientes já relataram enfrentar o problema, especialmente entre o primeiro e o segundo ano após a realização do procedimento.

No entanto, ainda há mais perguntas do que respostas, pois a falta de estudos randomizados, que comparem pacientes submetidos à bariátrica com aqueles que não tenham realizado a cirurgia, impede uma análise conclusiva e que confirme quais são as causas exatas do problema.

“Existe a necessidade de um estudo comparativo e que acompanhe as pessoas analisadas após a pesquisa. Somente assim poderemos afirmar se o aumento do consumo está relacionado ao hábito prévio de ingestão excessiva, à uma maior absorção de álcool após a cirurgia ou a questões de ressocialização. Atualmente, estamos às cegas. As causas são apenas hipóteses”, avalia Cohen.

Contudo, uma explicação plausível, na visão do especialista, é de que o aumento do consumo de álcool após a cirurgia bariátrica pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos desencadeados por esse procedimento. Afinal, as intervenções bariátricas modificam os padrões de fome e saciedade no corpo, resultando em uma redução do apetite e uma sensação aumentada de satisfação entre os pacientes operados. Essa transformação é, de acordo com Cohen, o resultado da influência da cirurgia sobre o sistema nervoso central, especialmente no hipotálamo, a região do cérebro responsável pelo controle do apetite e pela ingestão de alimentos.

“Essa maior saciedade induzida pela cirurgia pode interferir em circuitos cerebrais complexos nos pacientes, especialmente nos que já tinham um histórico de consumo de álcool antes da cirurgia. Esses circuitos neuronais podem, então, levar o indivíduo a buscar o álcool como uma forma de compensação ou conforto, embora os mecanismos precisos desse processo ainda não estejam totalmente compreendidos”, especula Cohen.

Orientação honesta é caminho para minimizar o problema

Diante dessa associação, o especialista enfatiza a importância de informar os pacientes sobre essa questão tanto antes quanto após o procedimento cirúrgico. Além disso, uma prática comum para lidar com pacientes que demonstram uma inclinação ao aumento do consumo de álcool, seja no pré ou pós-operatório, é encaminhá-los para avaliação e tratamento psicológico.

“Esse problema não deve ser considerado como uma contraindicação para a cirurgia bariátrica, pois esta é uma intervenção especialmente destinada a tratar a obesidade, um problema de saúde igualmente sério. Levantar esse assunto é importante, na verdade, para destacar que o sucesso da bariátrica depende da adesão dos pacientes ao acompanhamento pré e pós-operatório, assim como da orientação honesta e cuidadosa dos especialistas”, declara Cohen.

Reuniões

Como resposta ao problema, desde agosto de 2023, o Alcoólicos Anônimos (A.A), comunidade com carácter voluntário que reúne pessoas que buscam alcançar e manter a sobriedade, realiza reuniões específicas para mulheres que passaram a ter problemas com álcool após a realização da bariátrica. A iniciativa é do grupo de mulheres Colcha de Retalhos, que são participantes do A.A e têm construído junto à iniciativa um fortalecimento para a recuperação.

As reuniões ocorrem de forma virtual, todas as sextas-feiras às 20h, e quinzenalmente às segundas-feiras, no mesmo horário. Para saber mais, clique aqui.

Entrevista por Victória Ribeiro

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