Pacientes com varíola dos macacos relatam feridas pelo corpo: 'Nem conseguia levantar'


Sintomas similares aos de covid e ISTs também têm confundido médicos e atrasado diagnósticos

Por João Ker

Pacientes infectados pela varíola dos macacos e moradores de São Paulo têm relatado dificuldades ao diagnosticar a doença e informações desencontradas pela própria equipe médica que os atendeu. Como publicado pelo Estadão, a doença tem seguido por aqui um padrão já observado em outros países e atingido principalmente homens gays e bissexuais da capital. Três deles foram ouvidos pela reportagem e relatam sintomas fortes, dores pelo corpo e feridas que demoram para cicatrizar.

"Os dez primeiros dias foram muito dolorosos. Eu não conseguia sentar ou levantar da cama. Tive que tomar remédio de pós-operatório porque a dor era insuportável. Foi o que me salvou", conta Alexandre (nome fictício), arquiteto de 31 anos e morador de Santa Cecília. Ele sentiu os primeiros sintomas da doença no sábado, 18 de junho, um dia após ter ido a uma festa de aniversário.

O combo de febre, dor de cabeça e corpo cansado foram confundidos por ele com uma ressaca mais pesada que o normal. No dia seguinte, apareceu a primeira ferida na região perineal, que também foi confundida com uma acne. A história de confusão dos sintomas se repete de uma forma ou de outra entre todos os pacientes ouvidos.

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No domingo à noite, o que Alexandre achava ser uma espinha já tinha crescido e então começou a doer. Duas glândulas também se desenvolveram na virilha como ínguas e, então, ele decidiu procurar um amigo médico de confiança. "Eu e ele achamos que era herpes genital", diz.

Alexandre foi se automedicando com dipirona para a febre ("Tive esperança de acordar melhor nos dias seguintes"), mas a dor atingiu um nível insuportável na terça-feira seguinte, altura em que a "espinha" também tinha surgido no braço e no pescoço. Ele resolveu então ir a um hospital de referência em São Paulo. 

"Nem os médicos sabiam o que eu tinha. Também achavam que eu estava com herpes genital, mas tomei o remédio e não melhorou", lembra. A amostra colhida no hospital revelou o diagnóstico positivo para varíola dos macacos na sexta-feira seguinte, uma semana desde que os sintomas começaram. Hoje, ele conta que continua tendo erupções pelo corpo, mas que elas não coçam nem doem mais e secam em dois dias.

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Fernando (nome fictício) começou a sentir os primeiros sintomas da varíola na sexta-feira, 17, um dia antes de Alexandre. "Foi tipo uma gripe com dor de cabeça e, nos dois dias seguintes, tive febre. Pensei que era covid, mas deu negativo", conta o empresário de 36 anos. 

Na foto, homem é vacinado contra a varíola dos macacos em Nova York; governo brasileiro ainda não tem previsão de quando terá doses disponíveis por aqui Foto: REUTERS/Gavino Garay - 28/06/2022

A primeira ferida apareceu no domingo e também foi confundida com uma espinha, mas causou estranhamento por ter brotado no polegar da mão direita. Na segunda-feira, 20, Fernando foi ao hospital após passar três dias com febre e dor. "O plantonista me dispensou e disse que não tinha como ser (varíola dos macacos) porque eu não fui para a Espanha nem tive contato com ninguém que tenha ido", conta. 

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Por recomendação de um amigo, Fernando desmarcou a viagem daquela semana para o Rio Grande do Sul e insistiu em um novo diagnóstico. A "espinha" já havia se duplicado no corpo e ele procurou um novo hospital, onde a primeira hipótese levantada foi sífilis, cujo teste deu negativo. O diagnóstico positivo para a varíola dos macacos só veio na sexta-feira, uma semana depois de os sintomas terem começado. 

"Sarei um pouco mais rápido que a média. Mas a transmissão comunitária está em São Paulo muito antes do que disseram", defende Fernando. Pelas suas contas, ele contraiu a doença entre nos dias 11 ou 12 de junho. Com a demora dos sintomas e diagnósticos, ele conta que foi para uma festa na semana seguinte, onde já descobriu ter infectado um dos rapazes com quem ficou naquela noite. 

Foi nessa mesma festa da sexta-feira anterior à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo que Roberto (nome fictício), administrador de 26 anos, acredita ter contraído a doença. Os sintomas surgiram na semana seguinte à balada. "Notei umas feridas como se fossem pelo encravado começando a sair na pele. Elas pareciam espinhas, mas começaram a crescer e agora estão relativamente abertas", conta.

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As feridas de Roberto foram predominantemente na região genital e perineal, seguindo um padrão já descrito por médicos ouvidos pela reportagem e que tem dificultado o diagnóstico pela semelhança com outras ISTs. "Busquei logo um centro de referência e, na coleta dos resultados, viram que não era sífilis. Dois dias depois, o resultado deu positivo para varíola dos macacos."

Depois do diagnóstico recebido no último dia 30, Roberto está isolado em casa, onde mora sozinho e trabalha de home office. As lesões na pele, entretanto, continuam incomodando. "Sinto um desconforto porque as feridas estão abertas e, às vezes, gruda um pouco do pus na cueca e dói na hora que puxa. Mas no início estava doendo bem mais. Senti tanta dor que não conseguia dormir." 

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Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não deu uma data para quando as vacinas já existentes contra a varíola dos macacos devem chegar ao Brasil. A pasta informou que segue em tratativas com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  

"É importante ressaltar que a vacinação universal não é preconizada pela OMS em países não endêmicos da doença, como o Brasil. A recomendação da vacinação, até o momento, é para profissionais de saúde e contatos de casos confirmados", disse a pasta, em nota. 

Na última quarta-feira, 5, a OMS emitiu um novo boletim em relação à varíola dos macacos. Até a data, a doença deixou três mortos pelos 59 países em que foi confirmada. No documento, a organização frisa que a transmissão continua "afetando principalmente homens que se relacionam com homens, pelo menos por enquanto". 

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Apesar de não recomendar a vacinação em massa, a OMS afirma que "encorajou fortemente" os países a "revisarem as evidências e desenvolverem recomendações de políticas para o uso de vacinas como relevantes para o contexto nacional".

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não foi feito nenhum pedido de registro para vacina contra a varíola dos macacos no Brasil e que os imunizantes originais (de primeira geração) "não estão mais disponíveis para o público geral".

"Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos", diz a Anvisa, frisando que a responsabilidade da vacinação no País cabe ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ao Ministério da Saúde.

O balanço mais recente do governo federal, divulgado nesta sexta, aponta que o Brasil tem 173 casos confirmados da varíola dos macacos. Destes, 121 estão localizados em São Paulo. O total nacional mais que dobrou em relação à última terça-feira, quando havia apenas 80 pacientes diagnosticados com a doença no País.

A tendência também é observada no balanço feito pelo governo de São Paulo. De acordo com secretaria estadual da Saúde, já são 145 casos de varíola dos macacos confirmados no Estado, dos quais 128 estão na capital. Na terça, esses totais eram de 77 e 69, respectivamente.

Pacientes infectados pela varíola dos macacos e moradores de São Paulo têm relatado dificuldades ao diagnosticar a doença e informações desencontradas pela própria equipe médica que os atendeu. Como publicado pelo Estadão, a doença tem seguido por aqui um padrão já observado em outros países e atingido principalmente homens gays e bissexuais da capital. Três deles foram ouvidos pela reportagem e relatam sintomas fortes, dores pelo corpo e feridas que demoram para cicatrizar.

"Os dez primeiros dias foram muito dolorosos. Eu não conseguia sentar ou levantar da cama. Tive que tomar remédio de pós-operatório porque a dor era insuportável. Foi o que me salvou", conta Alexandre (nome fictício), arquiteto de 31 anos e morador de Santa Cecília. Ele sentiu os primeiros sintomas da doença no sábado, 18 de junho, um dia após ter ido a uma festa de aniversário.

O combo de febre, dor de cabeça e corpo cansado foram confundidos por ele com uma ressaca mais pesada que o normal. No dia seguinte, apareceu a primeira ferida na região perineal, que também foi confundida com uma acne. A história de confusão dos sintomas se repete de uma forma ou de outra entre todos os pacientes ouvidos.

No domingo à noite, o que Alexandre achava ser uma espinha já tinha crescido e então começou a doer. Duas glândulas também se desenvolveram na virilha como ínguas e, então, ele decidiu procurar um amigo médico de confiança. "Eu e ele achamos que era herpes genital", diz.

Alexandre foi se automedicando com dipirona para a febre ("Tive esperança de acordar melhor nos dias seguintes"), mas a dor atingiu um nível insuportável na terça-feira seguinte, altura em que a "espinha" também tinha surgido no braço e no pescoço. Ele resolveu então ir a um hospital de referência em São Paulo. 

"Nem os médicos sabiam o que eu tinha. Também achavam que eu estava com herpes genital, mas tomei o remédio e não melhorou", lembra. A amostra colhida no hospital revelou o diagnóstico positivo para varíola dos macacos na sexta-feira seguinte, uma semana desde que os sintomas começaram. Hoje, ele conta que continua tendo erupções pelo corpo, mas que elas não coçam nem doem mais e secam em dois dias.

Fernando (nome fictício) começou a sentir os primeiros sintomas da varíola na sexta-feira, 17, um dia antes de Alexandre. "Foi tipo uma gripe com dor de cabeça e, nos dois dias seguintes, tive febre. Pensei que era covid, mas deu negativo", conta o empresário de 36 anos. 

Na foto, homem é vacinado contra a varíola dos macacos em Nova York; governo brasileiro ainda não tem previsão de quando terá doses disponíveis por aqui Foto: REUTERS/Gavino Garay - 28/06/2022

A primeira ferida apareceu no domingo e também foi confundida com uma espinha, mas causou estranhamento por ter brotado no polegar da mão direita. Na segunda-feira, 20, Fernando foi ao hospital após passar três dias com febre e dor. "O plantonista me dispensou e disse que não tinha como ser (varíola dos macacos) porque eu não fui para a Espanha nem tive contato com ninguém que tenha ido", conta. 

Por recomendação de um amigo, Fernando desmarcou a viagem daquela semana para o Rio Grande do Sul e insistiu em um novo diagnóstico. A "espinha" já havia se duplicado no corpo e ele procurou um novo hospital, onde a primeira hipótese levantada foi sífilis, cujo teste deu negativo. O diagnóstico positivo para a varíola dos macacos só veio na sexta-feira, uma semana depois de os sintomas terem começado. 

"Sarei um pouco mais rápido que a média. Mas a transmissão comunitária está em São Paulo muito antes do que disseram", defende Fernando. Pelas suas contas, ele contraiu a doença entre nos dias 11 ou 12 de junho. Com a demora dos sintomas e diagnósticos, ele conta que foi para uma festa na semana seguinte, onde já descobriu ter infectado um dos rapazes com quem ficou naquela noite. 

Foi nessa mesma festa da sexta-feira anterior à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo que Roberto (nome fictício), administrador de 26 anos, acredita ter contraído a doença. Os sintomas surgiram na semana seguinte à balada. "Notei umas feridas como se fossem pelo encravado começando a sair na pele. Elas pareciam espinhas, mas começaram a crescer e agora estão relativamente abertas", conta.

As feridas de Roberto foram predominantemente na região genital e perineal, seguindo um padrão já descrito por médicos ouvidos pela reportagem e que tem dificultado o diagnóstico pela semelhança com outras ISTs. "Busquei logo um centro de referência e, na coleta dos resultados, viram que não era sífilis. Dois dias depois, o resultado deu positivo para varíola dos macacos."

Depois do diagnóstico recebido no último dia 30, Roberto está isolado em casa, onde mora sozinho e trabalha de home office. As lesões na pele, entretanto, continuam incomodando. "Sinto um desconforto porque as feridas estão abertas e, às vezes, gruda um pouco do pus na cueca e dói na hora que puxa. Mas no início estava doendo bem mais. Senti tanta dor que não conseguia dormir." 

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não deu uma data para quando as vacinas já existentes contra a varíola dos macacos devem chegar ao Brasil. A pasta informou que segue em tratativas com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  

"É importante ressaltar que a vacinação universal não é preconizada pela OMS em países não endêmicos da doença, como o Brasil. A recomendação da vacinação, até o momento, é para profissionais de saúde e contatos de casos confirmados", disse a pasta, em nota. 

Na última quarta-feira, 5, a OMS emitiu um novo boletim em relação à varíola dos macacos. Até a data, a doença deixou três mortos pelos 59 países em que foi confirmada. No documento, a organização frisa que a transmissão continua "afetando principalmente homens que se relacionam com homens, pelo menos por enquanto". 

Apesar de não recomendar a vacinação em massa, a OMS afirma que "encorajou fortemente" os países a "revisarem as evidências e desenvolverem recomendações de políticas para o uso de vacinas como relevantes para o contexto nacional".

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não foi feito nenhum pedido de registro para vacina contra a varíola dos macacos no Brasil e que os imunizantes originais (de primeira geração) "não estão mais disponíveis para o público geral".

"Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos", diz a Anvisa, frisando que a responsabilidade da vacinação no País cabe ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ao Ministério da Saúde.

O balanço mais recente do governo federal, divulgado nesta sexta, aponta que o Brasil tem 173 casos confirmados da varíola dos macacos. Destes, 121 estão localizados em São Paulo. O total nacional mais que dobrou em relação à última terça-feira, quando havia apenas 80 pacientes diagnosticados com a doença no País.

A tendência também é observada no balanço feito pelo governo de São Paulo. De acordo com secretaria estadual da Saúde, já são 145 casos de varíola dos macacos confirmados no Estado, dos quais 128 estão na capital. Na terça, esses totais eram de 77 e 69, respectivamente.

Pacientes infectados pela varíola dos macacos e moradores de São Paulo têm relatado dificuldades ao diagnosticar a doença e informações desencontradas pela própria equipe médica que os atendeu. Como publicado pelo Estadão, a doença tem seguido por aqui um padrão já observado em outros países e atingido principalmente homens gays e bissexuais da capital. Três deles foram ouvidos pela reportagem e relatam sintomas fortes, dores pelo corpo e feridas que demoram para cicatrizar.

"Os dez primeiros dias foram muito dolorosos. Eu não conseguia sentar ou levantar da cama. Tive que tomar remédio de pós-operatório porque a dor era insuportável. Foi o que me salvou", conta Alexandre (nome fictício), arquiteto de 31 anos e morador de Santa Cecília. Ele sentiu os primeiros sintomas da doença no sábado, 18 de junho, um dia após ter ido a uma festa de aniversário.

O combo de febre, dor de cabeça e corpo cansado foram confundidos por ele com uma ressaca mais pesada que o normal. No dia seguinte, apareceu a primeira ferida na região perineal, que também foi confundida com uma acne. A história de confusão dos sintomas se repete de uma forma ou de outra entre todos os pacientes ouvidos.

No domingo à noite, o que Alexandre achava ser uma espinha já tinha crescido e então começou a doer. Duas glândulas também se desenvolveram na virilha como ínguas e, então, ele decidiu procurar um amigo médico de confiança. "Eu e ele achamos que era herpes genital", diz.

Alexandre foi se automedicando com dipirona para a febre ("Tive esperança de acordar melhor nos dias seguintes"), mas a dor atingiu um nível insuportável na terça-feira seguinte, altura em que a "espinha" também tinha surgido no braço e no pescoço. Ele resolveu então ir a um hospital de referência em São Paulo. 

"Nem os médicos sabiam o que eu tinha. Também achavam que eu estava com herpes genital, mas tomei o remédio e não melhorou", lembra. A amostra colhida no hospital revelou o diagnóstico positivo para varíola dos macacos na sexta-feira seguinte, uma semana desde que os sintomas começaram. Hoje, ele conta que continua tendo erupções pelo corpo, mas que elas não coçam nem doem mais e secam em dois dias.

Fernando (nome fictício) começou a sentir os primeiros sintomas da varíola na sexta-feira, 17, um dia antes de Alexandre. "Foi tipo uma gripe com dor de cabeça e, nos dois dias seguintes, tive febre. Pensei que era covid, mas deu negativo", conta o empresário de 36 anos. 

Na foto, homem é vacinado contra a varíola dos macacos em Nova York; governo brasileiro ainda não tem previsão de quando terá doses disponíveis por aqui Foto: REUTERS/Gavino Garay - 28/06/2022

A primeira ferida apareceu no domingo e também foi confundida com uma espinha, mas causou estranhamento por ter brotado no polegar da mão direita. Na segunda-feira, 20, Fernando foi ao hospital após passar três dias com febre e dor. "O plantonista me dispensou e disse que não tinha como ser (varíola dos macacos) porque eu não fui para a Espanha nem tive contato com ninguém que tenha ido", conta. 

Por recomendação de um amigo, Fernando desmarcou a viagem daquela semana para o Rio Grande do Sul e insistiu em um novo diagnóstico. A "espinha" já havia se duplicado no corpo e ele procurou um novo hospital, onde a primeira hipótese levantada foi sífilis, cujo teste deu negativo. O diagnóstico positivo para a varíola dos macacos só veio na sexta-feira, uma semana depois de os sintomas terem começado. 

"Sarei um pouco mais rápido que a média. Mas a transmissão comunitária está em São Paulo muito antes do que disseram", defende Fernando. Pelas suas contas, ele contraiu a doença entre nos dias 11 ou 12 de junho. Com a demora dos sintomas e diagnósticos, ele conta que foi para uma festa na semana seguinte, onde já descobriu ter infectado um dos rapazes com quem ficou naquela noite. 

Foi nessa mesma festa da sexta-feira anterior à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo que Roberto (nome fictício), administrador de 26 anos, acredita ter contraído a doença. Os sintomas surgiram na semana seguinte à balada. "Notei umas feridas como se fossem pelo encravado começando a sair na pele. Elas pareciam espinhas, mas começaram a crescer e agora estão relativamente abertas", conta.

As feridas de Roberto foram predominantemente na região genital e perineal, seguindo um padrão já descrito por médicos ouvidos pela reportagem e que tem dificultado o diagnóstico pela semelhança com outras ISTs. "Busquei logo um centro de referência e, na coleta dos resultados, viram que não era sífilis. Dois dias depois, o resultado deu positivo para varíola dos macacos."

Depois do diagnóstico recebido no último dia 30, Roberto está isolado em casa, onde mora sozinho e trabalha de home office. As lesões na pele, entretanto, continuam incomodando. "Sinto um desconforto porque as feridas estão abertas e, às vezes, gruda um pouco do pus na cueca e dói na hora que puxa. Mas no início estava doendo bem mais. Senti tanta dor que não conseguia dormir." 

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não deu uma data para quando as vacinas já existentes contra a varíola dos macacos devem chegar ao Brasil. A pasta informou que segue em tratativas com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  

"É importante ressaltar que a vacinação universal não é preconizada pela OMS em países não endêmicos da doença, como o Brasil. A recomendação da vacinação, até o momento, é para profissionais de saúde e contatos de casos confirmados", disse a pasta, em nota. 

Na última quarta-feira, 5, a OMS emitiu um novo boletim em relação à varíola dos macacos. Até a data, a doença deixou três mortos pelos 59 países em que foi confirmada. No documento, a organização frisa que a transmissão continua "afetando principalmente homens que se relacionam com homens, pelo menos por enquanto". 

Apesar de não recomendar a vacinação em massa, a OMS afirma que "encorajou fortemente" os países a "revisarem as evidências e desenvolverem recomendações de políticas para o uso de vacinas como relevantes para o contexto nacional".

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não foi feito nenhum pedido de registro para vacina contra a varíola dos macacos no Brasil e que os imunizantes originais (de primeira geração) "não estão mais disponíveis para o público geral".

"Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos", diz a Anvisa, frisando que a responsabilidade da vacinação no País cabe ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ao Ministério da Saúde.

O balanço mais recente do governo federal, divulgado nesta sexta, aponta que o Brasil tem 173 casos confirmados da varíola dos macacos. Destes, 121 estão localizados em São Paulo. O total nacional mais que dobrou em relação à última terça-feira, quando havia apenas 80 pacientes diagnosticados com a doença no País.

A tendência também é observada no balanço feito pelo governo de São Paulo. De acordo com secretaria estadual da Saúde, já são 145 casos de varíola dos macacos confirmados no Estado, dos quais 128 estão na capital. Na terça, esses totais eram de 77 e 69, respectivamente.

Pacientes infectados pela varíola dos macacos e moradores de São Paulo têm relatado dificuldades ao diagnosticar a doença e informações desencontradas pela própria equipe médica que os atendeu. Como publicado pelo Estadão, a doença tem seguido por aqui um padrão já observado em outros países e atingido principalmente homens gays e bissexuais da capital. Três deles foram ouvidos pela reportagem e relatam sintomas fortes, dores pelo corpo e feridas que demoram para cicatrizar.

"Os dez primeiros dias foram muito dolorosos. Eu não conseguia sentar ou levantar da cama. Tive que tomar remédio de pós-operatório porque a dor era insuportável. Foi o que me salvou", conta Alexandre (nome fictício), arquiteto de 31 anos e morador de Santa Cecília. Ele sentiu os primeiros sintomas da doença no sábado, 18 de junho, um dia após ter ido a uma festa de aniversário.

O combo de febre, dor de cabeça e corpo cansado foram confundidos por ele com uma ressaca mais pesada que o normal. No dia seguinte, apareceu a primeira ferida na região perineal, que também foi confundida com uma acne. A história de confusão dos sintomas se repete de uma forma ou de outra entre todos os pacientes ouvidos.

No domingo à noite, o que Alexandre achava ser uma espinha já tinha crescido e então começou a doer. Duas glândulas também se desenvolveram na virilha como ínguas e, então, ele decidiu procurar um amigo médico de confiança. "Eu e ele achamos que era herpes genital", diz.

Alexandre foi se automedicando com dipirona para a febre ("Tive esperança de acordar melhor nos dias seguintes"), mas a dor atingiu um nível insuportável na terça-feira seguinte, altura em que a "espinha" também tinha surgido no braço e no pescoço. Ele resolveu então ir a um hospital de referência em São Paulo. 

"Nem os médicos sabiam o que eu tinha. Também achavam que eu estava com herpes genital, mas tomei o remédio e não melhorou", lembra. A amostra colhida no hospital revelou o diagnóstico positivo para varíola dos macacos na sexta-feira seguinte, uma semana desde que os sintomas começaram. Hoje, ele conta que continua tendo erupções pelo corpo, mas que elas não coçam nem doem mais e secam em dois dias.

Fernando (nome fictício) começou a sentir os primeiros sintomas da varíola na sexta-feira, 17, um dia antes de Alexandre. "Foi tipo uma gripe com dor de cabeça e, nos dois dias seguintes, tive febre. Pensei que era covid, mas deu negativo", conta o empresário de 36 anos. 

Na foto, homem é vacinado contra a varíola dos macacos em Nova York; governo brasileiro ainda não tem previsão de quando terá doses disponíveis por aqui Foto: REUTERS/Gavino Garay - 28/06/2022

A primeira ferida apareceu no domingo e também foi confundida com uma espinha, mas causou estranhamento por ter brotado no polegar da mão direita. Na segunda-feira, 20, Fernando foi ao hospital após passar três dias com febre e dor. "O plantonista me dispensou e disse que não tinha como ser (varíola dos macacos) porque eu não fui para a Espanha nem tive contato com ninguém que tenha ido", conta. 

Por recomendação de um amigo, Fernando desmarcou a viagem daquela semana para o Rio Grande do Sul e insistiu em um novo diagnóstico. A "espinha" já havia se duplicado no corpo e ele procurou um novo hospital, onde a primeira hipótese levantada foi sífilis, cujo teste deu negativo. O diagnóstico positivo para a varíola dos macacos só veio na sexta-feira, uma semana depois de os sintomas terem começado. 

"Sarei um pouco mais rápido que a média. Mas a transmissão comunitária está em São Paulo muito antes do que disseram", defende Fernando. Pelas suas contas, ele contraiu a doença entre nos dias 11 ou 12 de junho. Com a demora dos sintomas e diagnósticos, ele conta que foi para uma festa na semana seguinte, onde já descobriu ter infectado um dos rapazes com quem ficou naquela noite. 

Foi nessa mesma festa da sexta-feira anterior à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo que Roberto (nome fictício), administrador de 26 anos, acredita ter contraído a doença. Os sintomas surgiram na semana seguinte à balada. "Notei umas feridas como se fossem pelo encravado começando a sair na pele. Elas pareciam espinhas, mas começaram a crescer e agora estão relativamente abertas", conta.

As feridas de Roberto foram predominantemente na região genital e perineal, seguindo um padrão já descrito por médicos ouvidos pela reportagem e que tem dificultado o diagnóstico pela semelhança com outras ISTs. "Busquei logo um centro de referência e, na coleta dos resultados, viram que não era sífilis. Dois dias depois, o resultado deu positivo para varíola dos macacos."

Depois do diagnóstico recebido no último dia 30, Roberto está isolado em casa, onde mora sozinho e trabalha de home office. As lesões na pele, entretanto, continuam incomodando. "Sinto um desconforto porque as feridas estão abertas e, às vezes, gruda um pouco do pus na cueca e dói na hora que puxa. Mas no início estava doendo bem mais. Senti tanta dor que não conseguia dormir." 

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não deu uma data para quando as vacinas já existentes contra a varíola dos macacos devem chegar ao Brasil. A pasta informou que segue em tratativas com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  

"É importante ressaltar que a vacinação universal não é preconizada pela OMS em países não endêmicos da doença, como o Brasil. A recomendação da vacinação, até o momento, é para profissionais de saúde e contatos de casos confirmados", disse a pasta, em nota. 

Na última quarta-feira, 5, a OMS emitiu um novo boletim em relação à varíola dos macacos. Até a data, a doença deixou três mortos pelos 59 países em que foi confirmada. No documento, a organização frisa que a transmissão continua "afetando principalmente homens que se relacionam com homens, pelo menos por enquanto". 

Apesar de não recomendar a vacinação em massa, a OMS afirma que "encorajou fortemente" os países a "revisarem as evidências e desenvolverem recomendações de políticas para o uso de vacinas como relevantes para o contexto nacional".

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não foi feito nenhum pedido de registro para vacina contra a varíola dos macacos no Brasil e que os imunizantes originais (de primeira geração) "não estão mais disponíveis para o público geral".

"Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos", diz a Anvisa, frisando que a responsabilidade da vacinação no País cabe ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ao Ministério da Saúde.

O balanço mais recente do governo federal, divulgado nesta sexta, aponta que o Brasil tem 173 casos confirmados da varíola dos macacos. Destes, 121 estão localizados em São Paulo. O total nacional mais que dobrou em relação à última terça-feira, quando havia apenas 80 pacientes diagnosticados com a doença no País.

A tendência também é observada no balanço feito pelo governo de São Paulo. De acordo com secretaria estadual da Saúde, já são 145 casos de varíola dos macacos confirmados no Estado, dos quais 128 estão na capital. Na terça, esses totais eram de 77 e 69, respectivamente.

Pacientes infectados pela varíola dos macacos e moradores de São Paulo têm relatado dificuldades ao diagnosticar a doença e informações desencontradas pela própria equipe médica que os atendeu. Como publicado pelo Estadão, a doença tem seguido por aqui um padrão já observado em outros países e atingido principalmente homens gays e bissexuais da capital. Três deles foram ouvidos pela reportagem e relatam sintomas fortes, dores pelo corpo e feridas que demoram para cicatrizar.

"Os dez primeiros dias foram muito dolorosos. Eu não conseguia sentar ou levantar da cama. Tive que tomar remédio de pós-operatório porque a dor era insuportável. Foi o que me salvou", conta Alexandre (nome fictício), arquiteto de 31 anos e morador de Santa Cecília. Ele sentiu os primeiros sintomas da doença no sábado, 18 de junho, um dia após ter ido a uma festa de aniversário.

O combo de febre, dor de cabeça e corpo cansado foram confundidos por ele com uma ressaca mais pesada que o normal. No dia seguinte, apareceu a primeira ferida na região perineal, que também foi confundida com uma acne. A história de confusão dos sintomas se repete de uma forma ou de outra entre todos os pacientes ouvidos.

No domingo à noite, o que Alexandre achava ser uma espinha já tinha crescido e então começou a doer. Duas glândulas também se desenvolveram na virilha como ínguas e, então, ele decidiu procurar um amigo médico de confiança. "Eu e ele achamos que era herpes genital", diz.

Alexandre foi se automedicando com dipirona para a febre ("Tive esperança de acordar melhor nos dias seguintes"), mas a dor atingiu um nível insuportável na terça-feira seguinte, altura em que a "espinha" também tinha surgido no braço e no pescoço. Ele resolveu então ir a um hospital de referência em São Paulo. 

"Nem os médicos sabiam o que eu tinha. Também achavam que eu estava com herpes genital, mas tomei o remédio e não melhorou", lembra. A amostra colhida no hospital revelou o diagnóstico positivo para varíola dos macacos na sexta-feira seguinte, uma semana desde que os sintomas começaram. Hoje, ele conta que continua tendo erupções pelo corpo, mas que elas não coçam nem doem mais e secam em dois dias.

Fernando (nome fictício) começou a sentir os primeiros sintomas da varíola na sexta-feira, 17, um dia antes de Alexandre. "Foi tipo uma gripe com dor de cabeça e, nos dois dias seguintes, tive febre. Pensei que era covid, mas deu negativo", conta o empresário de 36 anos. 

Na foto, homem é vacinado contra a varíola dos macacos em Nova York; governo brasileiro ainda não tem previsão de quando terá doses disponíveis por aqui Foto: REUTERS/Gavino Garay - 28/06/2022

A primeira ferida apareceu no domingo e também foi confundida com uma espinha, mas causou estranhamento por ter brotado no polegar da mão direita. Na segunda-feira, 20, Fernando foi ao hospital após passar três dias com febre e dor. "O plantonista me dispensou e disse que não tinha como ser (varíola dos macacos) porque eu não fui para a Espanha nem tive contato com ninguém que tenha ido", conta. 

Por recomendação de um amigo, Fernando desmarcou a viagem daquela semana para o Rio Grande do Sul e insistiu em um novo diagnóstico. A "espinha" já havia se duplicado no corpo e ele procurou um novo hospital, onde a primeira hipótese levantada foi sífilis, cujo teste deu negativo. O diagnóstico positivo para a varíola dos macacos só veio na sexta-feira, uma semana depois de os sintomas terem começado. 

"Sarei um pouco mais rápido que a média. Mas a transmissão comunitária está em São Paulo muito antes do que disseram", defende Fernando. Pelas suas contas, ele contraiu a doença entre nos dias 11 ou 12 de junho. Com a demora dos sintomas e diagnósticos, ele conta que foi para uma festa na semana seguinte, onde já descobriu ter infectado um dos rapazes com quem ficou naquela noite. 

Foi nessa mesma festa da sexta-feira anterior à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo que Roberto (nome fictício), administrador de 26 anos, acredita ter contraído a doença. Os sintomas surgiram na semana seguinte à balada. "Notei umas feridas como se fossem pelo encravado começando a sair na pele. Elas pareciam espinhas, mas começaram a crescer e agora estão relativamente abertas", conta.

As feridas de Roberto foram predominantemente na região genital e perineal, seguindo um padrão já descrito por médicos ouvidos pela reportagem e que tem dificultado o diagnóstico pela semelhança com outras ISTs. "Busquei logo um centro de referência e, na coleta dos resultados, viram que não era sífilis. Dois dias depois, o resultado deu positivo para varíola dos macacos."

Depois do diagnóstico recebido no último dia 30, Roberto está isolado em casa, onde mora sozinho e trabalha de home office. As lesões na pele, entretanto, continuam incomodando. "Sinto um desconforto porque as feridas estão abertas e, às vezes, gruda um pouco do pus na cueca e dói na hora que puxa. Mas no início estava doendo bem mais. Senti tanta dor que não conseguia dormir." 

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não deu uma data para quando as vacinas já existentes contra a varíola dos macacos devem chegar ao Brasil. A pasta informou que segue em tratativas com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  

"É importante ressaltar que a vacinação universal não é preconizada pela OMS em países não endêmicos da doença, como o Brasil. A recomendação da vacinação, até o momento, é para profissionais de saúde e contatos de casos confirmados", disse a pasta, em nota. 

Na última quarta-feira, 5, a OMS emitiu um novo boletim em relação à varíola dos macacos. Até a data, a doença deixou três mortos pelos 59 países em que foi confirmada. No documento, a organização frisa que a transmissão continua "afetando principalmente homens que se relacionam com homens, pelo menos por enquanto". 

Apesar de não recomendar a vacinação em massa, a OMS afirma que "encorajou fortemente" os países a "revisarem as evidências e desenvolverem recomendações de políticas para o uso de vacinas como relevantes para o contexto nacional".

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não foi feito nenhum pedido de registro para vacina contra a varíola dos macacos no Brasil e que os imunizantes originais (de primeira geração) "não estão mais disponíveis para o público geral".

"Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos", diz a Anvisa, frisando que a responsabilidade da vacinação no País cabe ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e ao Ministério da Saúde.

O balanço mais recente do governo federal, divulgado nesta sexta, aponta que o Brasil tem 173 casos confirmados da varíola dos macacos. Destes, 121 estão localizados em São Paulo. O total nacional mais que dobrou em relação à última terça-feira, quando havia apenas 80 pacientes diagnosticados com a doença no País.

A tendência também é observada no balanço feito pelo governo de São Paulo. De acordo com secretaria estadual da Saúde, já são 145 casos de varíola dos macacos confirmados no Estado, dos quais 128 estão na capital. Na terça, esses totais eram de 77 e 69, respectivamente.

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