Há quem duvide que seja possível mudar totalmente de profissão depois de longos anos de trabalho. Mas na vida de Lourival José da Costa, de 63 anos, essa redescoberta aconteceu e foi inspirada por uma pessoa muito próxima: sua filha, Rebecca.
A jovem, hoje com 22 anos, começou a usar órtese na perna esquerda ainda bem pequena, em razão de uma osteomielite, infecção óssea diagnosticada quando ela tinha apenas 8 meses de vida. Foram 13 cirurgias para tentar salvar a perna esquerda de Rebecca, que chegou a ter a parte venosa comprometida e a ficar 15 centímetros menor do que a direita.
Em 2018, a jovem optou pela amputação, para não correr risco em mais uma cirurgia, desta vez para alongar o membro. E passou a usar uma prótese na perna esquerda.
Acompanhar todo esse longo processo junto com a filha levou Costa, já aposentado, a fazer duas pós-graduações, uma em órtese e prótese e a outra em arquitetura mecânica, voltada para pessoas com deficiência. Há dois meses, realizou também um curso para aprender a confeccionar peças para membro inferior, justamente na clínica de reabilitação onde Rebecca trabalha. Ao fim do curso, a turma doou duas órteses para pessoas de baixa renda.
“Minha maior motivação foi fazer o bem para pessoas necessitadas”, conta Costa, que passou a trabalhar na clínica. “Estou desenvolvendo uma cadeira de rodas motorizada com valor bem abaixo do mercado. Não estamos pensando no lucro, mas em ajudar.”
Costa, que sempre trabalhou com Marketing, diz que a mudança para a área da saúde trouxe um novo significado para sua vida. “Sempre tive em mente que eu queria deixar um legado. E esse legado eu posso perceber nitidamente que é voltado para a reabilitação, para facilitar a vida das pessoas com deficiência”, explica. “Muitas vezes, não se têm a dimensão do que é produzir alguma coisa para alguém que precisa. Do que é identificar uma necessidade e pode prover essa solução. Isso torna a vida muito bela.”
Inspiração
Após quatro anos da amputação, Rebecca conta que convive muito bem com a decisão. Além de ter inspirado o pai, a jovem passou a estudar o assunto, que será tema de seu trabalho de conclusão de curso. Por meio da coleta de dados de pessoas que passaram pela amputação, ela pretende evitar que o procedimento seja visto apenas como uma perda.
A própria mãe da jovem, Isabel, contou que a opção a princípio deixou a família em choque. Mas que a dificuldade foi superada após pesquisas e ao descobrirem exemplos de superação. “Hoje, a gente quer que se a pessoa só tiver a opção de amputar, ela entenda que isso pode ser uma coisa boa, não uma derrota.”