País tem mais de 70 estudos sobre coronavírus; 21 são testes de possíveis tratamentos


Mais de 8 mil pacientes participarão das pesquisas que buscam tratamento para a doença; cloroquina e remédio para HIV estão sendo testados

Por Fabiana Cambricoli e Giovana Girardi

Em um esforço sem precedentes, a comunidade científica brasileira já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da covid-19 e buscar possíveis tratamentos.

O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigações, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. 

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Ministério da Saúde Foto: Ministério da Saúde

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxicloroquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substâncias, mais conhecidas como antimaláricas, têm vários efeitos colaterais, principalmente relacionados a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia. Um deles, em Manaus, que foi modificado após observação de aumento de risco de complicações cardíacas, virou alvo em redes bolsonaristas, com os cientistas sendo chamados de irresponsáveis e acusados de usarem “cobaias humanas”. Leia mais sobre essa polêmica.

O balanço, apresentado em relatório da Conep finalizado nesta terça-feira, 14, mostra ainda pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais. Mais de 8 mil pacientes participarão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituições de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

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Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigarão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxicloroquina, e outros sete pesquisarão a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótico azitromicina. 

Força-tarefa mundial

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19: a cloroquina e hidroxicloroquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar o vírus.

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O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organização Mundial da Saúde, que está investigando essas quatro possibilidades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativa de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas.

Em uma modelagem dinâmica e adaptativa, o estudo vai permitir descartar drogas que eventualmente já se mostrarem inadequadas ao longo do estudo, assim como incluir outras. Mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão desse tipo, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigador principal do estudo no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicamento usado contra o ebola que foi considerado promissor em alguns trabalhos, mas também carece de resultado em testes randomizados, quando os pacientes são escolhidos aleatoriamente e há um grupo controle. Esse é justamente o objetivo do projeto mundial. Os testes com essa droga não começaram porque ela ainda não chegou ao Brasil, o que se espera ocorrer até o fim do mês.

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“A ideia é ter o máximo volume de pacientes em um tempo curto, com foco no desfecho clínico, se alguma modalidade de tratamento traz uma sobrevida ou alta. Estamos analisando essas drogas em comparação entre elas e com o cuidado padrão, que não envolve nenhuma medicação específica. A grande questão é ver se alguma vai se mostrar melhor que a outra. Se alguma for muito melhor, vamos ver isso rapidamente, mas ainda não temos isso”, afirma Nunes.

Plasma e estudos observacionais

Outro trabalho que em breve deve ser iniciado vai usar plasma de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus e se curaram. Foi montado um consórcio entre USP, USP de Ribeirão Preto, Unicamp e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para fazer um teste randomizado que vai checar a eficácia da aplicação do material em pacientes doentes. Serão testadas duas doses, uma de 200 ml e outra de 400 ml, na comparação com um grupo controle, que não vai receber o plasma.

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O grupo já recebeu autorização da Conep para coletar o plasma e agora vai submeter o protocolo do teste clínico para iniciar os testes. Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, do HC, afirma que já recebeu a inscrição de 90 possíveis doadores, sendo que 15 já foram capacitados. Pessoas que já foram testadas e confirmadas com a covid-19 e estão há mais de 14 dias sem sintomas podem doar o plasma para tratamento de pacientes com doença ativa. 

Segundo Rocha, cada pessoa doa em média de 400 ml a 600 ml, o que pode fornecer material para até três testes. A expectativa é incluir de 90 a 120 pacientes no ensaio clínico.

Além dos 21 testes de possíveis tratamentos, a Conep deu aval ainda para outros 55 estudos observacionais relacionados à pandemia do coronavírus.

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Entre as pesquisas propostas pelos cientistas estão estudos epidemiológicos, investigações sobre os impactos da quarentena e isolamento na saúde mental da população e de profissionais de saúde, detalhes sobre a manifestação da doença em crianças internadas com covid-19 e entre gestantes – dois grupos ainda pouco investigados.

Há trabalhos também sobre os fatores associados à adesão de medidas de prevenção contra o coronavírus, entre outros.

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Em um esforço sem precedentes, a comunidade científica brasileira já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da covid-19 e buscar possíveis tratamentos.

O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigações, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. 

Ministério da Saúde Foto: Ministério da Saúde

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxicloroquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substâncias, mais conhecidas como antimaláricas, têm vários efeitos colaterais, principalmente relacionados a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia. Um deles, em Manaus, que foi modificado após observação de aumento de risco de complicações cardíacas, virou alvo em redes bolsonaristas, com os cientistas sendo chamados de irresponsáveis e acusados de usarem “cobaias humanas”. Leia mais sobre essa polêmica.

O balanço, apresentado em relatório da Conep finalizado nesta terça-feira, 14, mostra ainda pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais. Mais de 8 mil pacientes participarão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituições de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigarão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxicloroquina, e outros sete pesquisarão a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótico azitromicina. 

Força-tarefa mundial

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19: a cloroquina e hidroxicloroquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar o vírus.

O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organização Mundial da Saúde, que está investigando essas quatro possibilidades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativa de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas.

Em uma modelagem dinâmica e adaptativa, o estudo vai permitir descartar drogas que eventualmente já se mostrarem inadequadas ao longo do estudo, assim como incluir outras. Mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão desse tipo, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigador principal do estudo no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicamento usado contra o ebola que foi considerado promissor em alguns trabalhos, mas também carece de resultado em testes randomizados, quando os pacientes são escolhidos aleatoriamente e há um grupo controle. Esse é justamente o objetivo do projeto mundial. Os testes com essa droga não começaram porque ela ainda não chegou ao Brasil, o que se espera ocorrer até o fim do mês.

“A ideia é ter o máximo volume de pacientes em um tempo curto, com foco no desfecho clínico, se alguma modalidade de tratamento traz uma sobrevida ou alta. Estamos analisando essas drogas em comparação entre elas e com o cuidado padrão, que não envolve nenhuma medicação específica. A grande questão é ver se alguma vai se mostrar melhor que a outra. Se alguma for muito melhor, vamos ver isso rapidamente, mas ainda não temos isso”, afirma Nunes.

Plasma e estudos observacionais

Outro trabalho que em breve deve ser iniciado vai usar plasma de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus e se curaram. Foi montado um consórcio entre USP, USP de Ribeirão Preto, Unicamp e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para fazer um teste randomizado que vai checar a eficácia da aplicação do material em pacientes doentes. Serão testadas duas doses, uma de 200 ml e outra de 400 ml, na comparação com um grupo controle, que não vai receber o plasma.

O grupo já recebeu autorização da Conep para coletar o plasma e agora vai submeter o protocolo do teste clínico para iniciar os testes. Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, do HC, afirma que já recebeu a inscrição de 90 possíveis doadores, sendo que 15 já foram capacitados. Pessoas que já foram testadas e confirmadas com a covid-19 e estão há mais de 14 dias sem sintomas podem doar o plasma para tratamento de pacientes com doença ativa. 

Segundo Rocha, cada pessoa doa em média de 400 ml a 600 ml, o que pode fornecer material para até três testes. A expectativa é incluir de 90 a 120 pacientes no ensaio clínico.

Além dos 21 testes de possíveis tratamentos, a Conep deu aval ainda para outros 55 estudos observacionais relacionados à pandemia do coronavírus.

Entre as pesquisas propostas pelos cientistas estão estudos epidemiológicos, investigações sobre os impactos da quarentena e isolamento na saúde mental da população e de profissionais de saúde, detalhes sobre a manifestação da doença em crianças internadas com covid-19 e entre gestantes – dois grupos ainda pouco investigados.

Há trabalhos também sobre os fatores associados à adesão de medidas de prevenção contra o coronavírus, entre outros.

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O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigações, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. 

Ministério da Saúde Foto: Ministério da Saúde

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxicloroquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substâncias, mais conhecidas como antimaláricas, têm vários efeitos colaterais, principalmente relacionados a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia. Um deles, em Manaus, que foi modificado após observação de aumento de risco de complicações cardíacas, virou alvo em redes bolsonaristas, com os cientistas sendo chamados de irresponsáveis e acusados de usarem “cobaias humanas”. Leia mais sobre essa polêmica.

O balanço, apresentado em relatório da Conep finalizado nesta terça-feira, 14, mostra ainda pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais. Mais de 8 mil pacientes participarão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituições de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigarão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxicloroquina, e outros sete pesquisarão a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótico azitromicina. 

Força-tarefa mundial

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19: a cloroquina e hidroxicloroquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar o vírus.

O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organização Mundial da Saúde, que está investigando essas quatro possibilidades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativa de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas.

Em uma modelagem dinâmica e adaptativa, o estudo vai permitir descartar drogas que eventualmente já se mostrarem inadequadas ao longo do estudo, assim como incluir outras. Mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão desse tipo, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigador principal do estudo no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicamento usado contra o ebola que foi considerado promissor em alguns trabalhos, mas também carece de resultado em testes randomizados, quando os pacientes são escolhidos aleatoriamente e há um grupo controle. Esse é justamente o objetivo do projeto mundial. Os testes com essa droga não começaram porque ela ainda não chegou ao Brasil, o que se espera ocorrer até o fim do mês.

“A ideia é ter o máximo volume de pacientes em um tempo curto, com foco no desfecho clínico, se alguma modalidade de tratamento traz uma sobrevida ou alta. Estamos analisando essas drogas em comparação entre elas e com o cuidado padrão, que não envolve nenhuma medicação específica. A grande questão é ver se alguma vai se mostrar melhor que a outra. Se alguma for muito melhor, vamos ver isso rapidamente, mas ainda não temos isso”, afirma Nunes.

Plasma e estudos observacionais

Outro trabalho que em breve deve ser iniciado vai usar plasma de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus e se curaram. Foi montado um consórcio entre USP, USP de Ribeirão Preto, Unicamp e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para fazer um teste randomizado que vai checar a eficácia da aplicação do material em pacientes doentes. Serão testadas duas doses, uma de 200 ml e outra de 400 ml, na comparação com um grupo controle, que não vai receber o plasma.

O grupo já recebeu autorização da Conep para coletar o plasma e agora vai submeter o protocolo do teste clínico para iniciar os testes. Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, do HC, afirma que já recebeu a inscrição de 90 possíveis doadores, sendo que 15 já foram capacitados. Pessoas que já foram testadas e confirmadas com a covid-19 e estão há mais de 14 dias sem sintomas podem doar o plasma para tratamento de pacientes com doença ativa. 

Segundo Rocha, cada pessoa doa em média de 400 ml a 600 ml, o que pode fornecer material para até três testes. A expectativa é incluir de 90 a 120 pacientes no ensaio clínico.

Além dos 21 testes de possíveis tratamentos, a Conep deu aval ainda para outros 55 estudos observacionais relacionados à pandemia do coronavírus.

Entre as pesquisas propostas pelos cientistas estão estudos epidemiológicos, investigações sobre os impactos da quarentena e isolamento na saúde mental da população e de profissionais de saúde, detalhes sobre a manifestação da doença em crianças internadas com covid-19 e entre gestantes – dois grupos ainda pouco investigados.

Há trabalhos também sobre os fatores associados à adesão de medidas de prevenção contra o coronavírus, entre outros.

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Em um esforço sem precedentes, a comunidade científica brasileira já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da covid-19 e buscar possíveis tratamentos.

O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigações, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. 

Ministério da Saúde Foto: Ministério da Saúde

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxicloroquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substâncias, mais conhecidas como antimaláricas, têm vários efeitos colaterais, principalmente relacionados a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia. Um deles, em Manaus, que foi modificado após observação de aumento de risco de complicações cardíacas, virou alvo em redes bolsonaristas, com os cientistas sendo chamados de irresponsáveis e acusados de usarem “cobaias humanas”. Leia mais sobre essa polêmica.

O balanço, apresentado em relatório da Conep finalizado nesta terça-feira, 14, mostra ainda pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais. Mais de 8 mil pacientes participarão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituições de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigarão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxicloroquina, e outros sete pesquisarão a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótico azitromicina. 

Força-tarefa mundial

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19: a cloroquina e hidroxicloroquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar o vírus.

O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organização Mundial da Saúde, que está investigando essas quatro possibilidades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativa de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas.

Em uma modelagem dinâmica e adaptativa, o estudo vai permitir descartar drogas que eventualmente já se mostrarem inadequadas ao longo do estudo, assim como incluir outras. Mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão desse tipo, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigador principal do estudo no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicamento usado contra o ebola que foi considerado promissor em alguns trabalhos, mas também carece de resultado em testes randomizados, quando os pacientes são escolhidos aleatoriamente e há um grupo controle. Esse é justamente o objetivo do projeto mundial. Os testes com essa droga não começaram porque ela ainda não chegou ao Brasil, o que se espera ocorrer até o fim do mês.

“A ideia é ter o máximo volume de pacientes em um tempo curto, com foco no desfecho clínico, se alguma modalidade de tratamento traz uma sobrevida ou alta. Estamos analisando essas drogas em comparação entre elas e com o cuidado padrão, que não envolve nenhuma medicação específica. A grande questão é ver se alguma vai se mostrar melhor que a outra. Se alguma for muito melhor, vamos ver isso rapidamente, mas ainda não temos isso”, afirma Nunes.

Plasma e estudos observacionais

Outro trabalho que em breve deve ser iniciado vai usar plasma de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus e se curaram. Foi montado um consórcio entre USP, USP de Ribeirão Preto, Unicamp e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para fazer um teste randomizado que vai checar a eficácia da aplicação do material em pacientes doentes. Serão testadas duas doses, uma de 200 ml e outra de 400 ml, na comparação com um grupo controle, que não vai receber o plasma.

O grupo já recebeu autorização da Conep para coletar o plasma e agora vai submeter o protocolo do teste clínico para iniciar os testes. Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, do HC, afirma que já recebeu a inscrição de 90 possíveis doadores, sendo que 15 já foram capacitados. Pessoas que já foram testadas e confirmadas com a covid-19 e estão há mais de 14 dias sem sintomas podem doar o plasma para tratamento de pacientes com doença ativa. 

Segundo Rocha, cada pessoa doa em média de 400 ml a 600 ml, o que pode fornecer material para até três testes. A expectativa é incluir de 90 a 120 pacientes no ensaio clínico.

Além dos 21 testes de possíveis tratamentos, a Conep deu aval ainda para outros 55 estudos observacionais relacionados à pandemia do coronavírus.

Entre as pesquisas propostas pelos cientistas estão estudos epidemiológicos, investigações sobre os impactos da quarentena e isolamento na saúde mental da população e de profissionais de saúde, detalhes sobre a manifestação da doença em crianças internadas com covid-19 e entre gestantes – dois grupos ainda pouco investigados.

Há trabalhos também sobre os fatores associados à adesão de medidas de prevenção contra o coronavírus, entre outros.

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Em um esforço sem precedentes, a comunidade científica brasileira já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da covid-19 e buscar possíveis tratamentos.

O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigações, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. 

Ministério da Saúde Foto: Ministério da Saúde

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxicloroquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substâncias, mais conhecidas como antimaláricas, têm vários efeitos colaterais, principalmente relacionados a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia. Um deles, em Manaus, que foi modificado após observação de aumento de risco de complicações cardíacas, virou alvo em redes bolsonaristas, com os cientistas sendo chamados de irresponsáveis e acusados de usarem “cobaias humanas”. Leia mais sobre essa polêmica.

O balanço, apresentado em relatório da Conep finalizado nesta terça-feira, 14, mostra ainda pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais. Mais de 8 mil pacientes participarão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituições de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigarão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxicloroquina, e outros sete pesquisarão a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótico azitromicina. 

Força-tarefa mundial

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19: a cloroquina e hidroxicloroquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-1A, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar o vírus.

O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organização Mundial da Saúde, que está investigando essas quatro possibilidades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativa de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas.

Em uma modelagem dinâmica e adaptativa, o estudo vai permitir descartar drogas que eventualmente já se mostrarem inadequadas ao longo do estudo, assim como incluir outras. Mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão desse tipo, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigador principal do estudo no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicamento usado contra o ebola que foi considerado promissor em alguns trabalhos, mas também carece de resultado em testes randomizados, quando os pacientes são escolhidos aleatoriamente e há um grupo controle. Esse é justamente o objetivo do projeto mundial. Os testes com essa droga não começaram porque ela ainda não chegou ao Brasil, o que se espera ocorrer até o fim do mês.

“A ideia é ter o máximo volume de pacientes em um tempo curto, com foco no desfecho clínico, se alguma modalidade de tratamento traz uma sobrevida ou alta. Estamos analisando essas drogas em comparação entre elas e com o cuidado padrão, que não envolve nenhuma medicação específica. A grande questão é ver se alguma vai se mostrar melhor que a outra. Se alguma for muito melhor, vamos ver isso rapidamente, mas ainda não temos isso”, afirma Nunes.

Plasma e estudos observacionais

Outro trabalho que em breve deve ser iniciado vai usar plasma de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus e se curaram. Foi montado um consórcio entre USP, USP de Ribeirão Preto, Unicamp e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para fazer um teste randomizado que vai checar a eficácia da aplicação do material em pacientes doentes. Serão testadas duas doses, uma de 200 ml e outra de 400 ml, na comparação com um grupo controle, que não vai receber o plasma.

O grupo já recebeu autorização da Conep para coletar o plasma e agora vai submeter o protocolo do teste clínico para iniciar os testes. Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, do HC, afirma que já recebeu a inscrição de 90 possíveis doadores, sendo que 15 já foram capacitados. Pessoas que já foram testadas e confirmadas com a covid-19 e estão há mais de 14 dias sem sintomas podem doar o plasma para tratamento de pacientes com doença ativa. 

Segundo Rocha, cada pessoa doa em média de 400 ml a 600 ml, o que pode fornecer material para até três testes. A expectativa é incluir de 90 a 120 pacientes no ensaio clínico.

Além dos 21 testes de possíveis tratamentos, a Conep deu aval ainda para outros 55 estudos observacionais relacionados à pandemia do coronavírus.

Entre as pesquisas propostas pelos cientistas estão estudos epidemiológicos, investigações sobre os impactos da quarentena e isolamento na saúde mental da população e de profissionais de saúde, detalhes sobre a manifestação da doença em crianças internadas com covid-19 e entre gestantes – dois grupos ainda pouco investigados.

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