Pandemia de covid: o que mudou nas nossas vidas nos últimos três anos


Maior crise sanitária do século alterou profundamente a saúde, educação, trabalho e a ciência

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Após mais de três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 5, que a covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o alerta de nível mais alto da organização. É um dia histórico depois da declaração do alerta sobre o novo coronavírus no fim de janeiro de 2020, quando o número de casos e mortes começou a explodir na China.

A doença fez mais de 7 milhões de vítimas em todo o mundo, número que pode ser ainda mais alto, diante da alta subnotificação em vários países - especialistas estimam haver cerca de 20 milhões de vítimas. A pandemia alterou profundamente o cotidiano de todos no planeta inteiro. “A covid mudou o mundo”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

A maior crise sanitária do último século envolveu longas medidas de quarentena, superlotação de hospitais, aumento da pobreza, e uma corrida sem precedentes pela vacina, desenvolvida pelos cientistas em tempo recorde. A globalização e a tecnologia permitiram que parte das atividades econômicas, sociais e educacionais continuassem funcionando mesmo em fases mais severas do isolamento social. Por outro lado, também impulsionaram o avanço rápido da desinformação e do negacionismo científico.

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A alteração do status foi possível graças ao avanço da vacinação, que, de acordo com Tedros, nos permitiu ver, no último ano, tendência de queda de casos e mortes, e diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde. E, alertou a OMS, o surgimento de novas cepas do vírus. “Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes”, disse Adhanom.

Você se lembra de como era o mundo antes da pandemia? O que voltou ao normal e o que se transformou para valer desde que o vírus passou a fazer parte das nossas vidas? Veja algumas principais mudanças trazidas pela crise sanitária:

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Motoristas e cobradores de ônibus da EMTU na campanha de vacinação contra o coronavírus Foto: Werther Santana / Estadão

Saúde

Se uma pandemia afeta a vida de todo mundo, a área de saúde recebe as mudanças primeiro e de forma mais dramática. Nos hospitais, houve um aprendizado sobre gestão de leitos e de UTIs, além do desenvolvimento de terapias e remédios.

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Em função da necessidade de isolamento social para frear o contágio, a telemedicina, conjunto de práticas ligadas ao uso de tecnologia da informação na área da saúde, avançou velozmente. Para especialistas, essa é uma oportunidade de ampliar acesso a atendimentos por uma população pobre e em áreas remotas, com o desafio de garantir qualidade.

Para o epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a telemedicina veio para ficar, mas com ressalvas. “É preciso preparo para que as instituições ofereçam essa forma de atendimento para acompanhamento ou orientações rápidas. Quem precisa de atenção maior, deve procurar atendimento presencial”, afirma.

Outra mudança relevante é a adoção de hábitos de higiene e prevenção de surtos. Ações simples, como lavar as mãos frequentemente e evitar levá-las ao rosto, ou cobrir a boca e o nariz com o braço na hora de espirrar, fazem a diferença. Mas, claro, muita gente já se esqueceu desses protocolos - e você? ainda usa máscara quando aparecem os sintomas?

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Educação

A pandemia colocou as escolas para pensar novas formas de trabalhar o processo de ensino-aprendizagem ao impor quase dois anos de afastamento total ou parcial das salas de aula. Alunos e professores tiveram de se adaptar a práticas remotas, basicamente por meio de computadores, celulares e tablets, uma revolução digital que antecipou transformações que já ocorriam nas classes.

Por outro lado, a longa quarentena reforçou a importância da escola no acolhimento dos alunos e das famílias, tanto no aspecto pedagógico quanto no emocional. Diante do isolamento, alguns colégios passaram a dar mais atenção a habilidades que vão além dos resultados em exames. Nesse contexto, as competências socioemocionais recebem especial atenção.

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Carolina Campos, fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, destaca as mudanças emocionais e a necessidade de cuidados com a saúde mental. “Na volta dos alunos, havia dificuldade de seguir regras básicas de conduta e convivência, maior dificuldade de socialização em todas as etapas, da creche até o ensino médio. Havia dificuldade real e evidente de saúde mental, sobretudo quando as crises de ansiedade coletiva começaram a acontecer”, diz a especialista.

Para tornar o cenário ainda mais desafiador, a lei federal da obrigatoriedade de psicólogos nas escolas, de dezembro de 2019, ainda não havia sido totalmente implementada. “Tivemos problemas pedagógicos de recomposição das aprendizagens que se tornaram questões de saúde mental e que levaram problemas de violência”, diz Carolina.

Ela aponta ainda a necessidade de várias mudanças que, segundo ela, ainda não foram implementadas pelas escolas. “Seria importante implementar protocolos de violência de saúde mental, combate ao racismo, de xenofobia e intolerância religiosa e outros tipos de violências”, diz.

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“O trauma não para na porta da escola. Ele entra. Tivemos lutos que não foram processados da melhor forma, sem acolhimento de educador e de estudante. Não podemos desconsiderar esses traumas”, acrescenta. Além disso, será preciso enfrentar graves efeitos colaterais por muitos anos: desigualdades sociais, desníveis de aprendizagem, desorganização das estruturas das redes de ensino e alta evasão escolar.

A pandemia também obrigou os educadores a olhar o contexto da vida do estudante, como sua condição socioeconômica, o ambiente domiciliar, segurança alimentar e a segurança pública na opinião de Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação. “Antes da pandemia, esses fatores eram praticamente esquecidos”.

Alunos da turma do 5º ano do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, durante programa de cidadania digital e segurança na internet em 2021  Foto: Marcelo Chello / Estadão

Trabalho

A pandemia mudou a forma como trabalhamos. Um conceito que estava no radar das empresas, mas permanecia sob incertezas, se instalou de vez: o trabalho remoto (home office). Vários segmentos da economia se viram obrigados a trabalhar de casa, provocando uma fusão entre os ambientes doméstico e profissional que dificilmente será desfeita.

Com isso, a tecnologia ganhou espaço, como explica Milena Bizzarri, diretora de Recursos Humanos e Marketing e Comunicação da Mazars. “Falar por vídeo hoje é tão natural quanto falar presencialmente. Além disso, compartilhar é palavra de ordem. Trabalhar em documentos compartilhados foi um avanço em muitas empresas”.

Na transição entre o isolamento e o retorno, ganharam força nas empresas os modelos híbridos (no início, com muita máscara e álcool em gel). Esperar que os trabalhadores se desloquem para o escritório cinco dias por semana já é coisa do passado em muitas empresas. Além disso, o home office diminuiu custos com transporte, aluguel de espaços, contas de água, luz e internet dos escritórios.

Manoela Ribas Mitchell, 29 anos, CEO da healthtech Pipo, trabalha em escritório montado em seu apartamento na Vila Olimpia  Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas da FGV EAESP, afirma que o desafio das empresas é compreender qual é o melhor modelo de trabalho, em termos de produtividade e satisfação dos colaboradores. “Outro ponto importante é a preocupação com saúde mental e bem-estar das equipes, com valorização da área de RH. Essas mudanças chacoalharam as empresas para que pensem soluções junto com os funcionários”.

Mas trabalhar em escritório - ou mesmo ter um trabalho - não é privilégio de todos no Brasil, onde a pandemia agravou as desigualdades, o desemprego e também o número de moradores de rua. Na crise sanitária, se agravaram as desigualdades sociais e a diversificação de trabalhos informais ou com condições precárias, como foi o caso dos entregadores de delivery, setor que viu a demanda aumentar.

Ciência

A pandemia motivou uma corrida global pela vacina, que mobilizou pesquisadores, farmacêuticas e governos. As primeiras imunizações em larga escala começaram em dezembro de 2020, menos de um ano após a 1ª infecção ter sido relatada à OMS, o que representou conquista extraordinária da ciência. Os imunizantes foram testados e aprovados e, menos de um ano após o anúncio dos primeiros estudos, a vacina chegou - com garantias de segurança e eficácia - aos braços das pessoas.

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), destaca a colaboração internacional na produção de vacinas. “O maior avanço é perceber que podemos fazer ciência em colaboração internacional. Isso rendeu frutos, como o Centro de Produção de Vacinas na África do Sul, que será um polo de produção para o continente africano, o que mais sofreu com a escassez de vacinas”, diz.

A tecnologia de produção de vacinas também deixa um legado para outras doenças infecciosas, mas também para outras não infecciosas, como câncer e doenças genéticas que vão poder se aproveitar da tecnologia de vacinas Rma para outras terapias e medicamentos.

Se a maior parte da humanidade nunca foi tão grata aos cientistas, essa mobilização veio acompanhada de avanço da desinformação, catapultada pela rapidez das tecnologias e das redes sociais. No Brasil, o negacionismo e as fake news, incluindo por parte das autoridades, prejudicou a adoção de estratégias de prevenção, como o uso da máscara, e a adesão à vacina.

E, se fomos salvos pela turma que está por trás das bancadas dos laboratórios, a emergência sanitária mostrou a necessidade de investimento permanente em pesquisas e cooperação entre cientistas, como no compartilhamento de dados e de equipes.

Cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, recebeu alto número de vítimas da covid Foto: Felipe Rau/Estadão

Nesse contexto, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), afirma que as pessoas passaram a compreender melhor a presença da ciência no dia a dia. “Antes da pandemia, era difícil que as pessoas percebessem a ciência no cotidiano, como a importância das práticas de higiene, a corrida pelas vacinas, o desenvolvimento de testes e pesquisas de outros tratamentos”.

Após mais de três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 5, que a covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o alerta de nível mais alto da organização. É um dia histórico depois da declaração do alerta sobre o novo coronavírus no fim de janeiro de 2020, quando o número de casos e mortes começou a explodir na China.

A doença fez mais de 7 milhões de vítimas em todo o mundo, número que pode ser ainda mais alto, diante da alta subnotificação em vários países - especialistas estimam haver cerca de 20 milhões de vítimas. A pandemia alterou profundamente o cotidiano de todos no planeta inteiro. “A covid mudou o mundo”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

A maior crise sanitária do último século envolveu longas medidas de quarentena, superlotação de hospitais, aumento da pobreza, e uma corrida sem precedentes pela vacina, desenvolvida pelos cientistas em tempo recorde. A globalização e a tecnologia permitiram que parte das atividades econômicas, sociais e educacionais continuassem funcionando mesmo em fases mais severas do isolamento social. Por outro lado, também impulsionaram o avanço rápido da desinformação e do negacionismo científico.

A alteração do status foi possível graças ao avanço da vacinação, que, de acordo com Tedros, nos permitiu ver, no último ano, tendência de queda de casos e mortes, e diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde. E, alertou a OMS, o surgimento de novas cepas do vírus. “Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes”, disse Adhanom.

Você se lembra de como era o mundo antes da pandemia? O que voltou ao normal e o que se transformou para valer desde que o vírus passou a fazer parte das nossas vidas? Veja algumas principais mudanças trazidas pela crise sanitária:

Motoristas e cobradores de ônibus da EMTU na campanha de vacinação contra o coronavírus Foto: Werther Santana / Estadão

Saúde

Se uma pandemia afeta a vida de todo mundo, a área de saúde recebe as mudanças primeiro e de forma mais dramática. Nos hospitais, houve um aprendizado sobre gestão de leitos e de UTIs, além do desenvolvimento de terapias e remédios.

Em função da necessidade de isolamento social para frear o contágio, a telemedicina, conjunto de práticas ligadas ao uso de tecnologia da informação na área da saúde, avançou velozmente. Para especialistas, essa é uma oportunidade de ampliar acesso a atendimentos por uma população pobre e em áreas remotas, com o desafio de garantir qualidade.

Para o epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a telemedicina veio para ficar, mas com ressalvas. “É preciso preparo para que as instituições ofereçam essa forma de atendimento para acompanhamento ou orientações rápidas. Quem precisa de atenção maior, deve procurar atendimento presencial”, afirma.

Outra mudança relevante é a adoção de hábitos de higiene e prevenção de surtos. Ações simples, como lavar as mãos frequentemente e evitar levá-las ao rosto, ou cobrir a boca e o nariz com o braço na hora de espirrar, fazem a diferença. Mas, claro, muita gente já se esqueceu desses protocolos - e você? ainda usa máscara quando aparecem os sintomas?

Educação

A pandemia colocou as escolas para pensar novas formas de trabalhar o processo de ensino-aprendizagem ao impor quase dois anos de afastamento total ou parcial das salas de aula. Alunos e professores tiveram de se adaptar a práticas remotas, basicamente por meio de computadores, celulares e tablets, uma revolução digital que antecipou transformações que já ocorriam nas classes.

Por outro lado, a longa quarentena reforçou a importância da escola no acolhimento dos alunos e das famílias, tanto no aspecto pedagógico quanto no emocional. Diante do isolamento, alguns colégios passaram a dar mais atenção a habilidades que vão além dos resultados em exames. Nesse contexto, as competências socioemocionais recebem especial atenção.

Carolina Campos, fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, destaca as mudanças emocionais e a necessidade de cuidados com a saúde mental. “Na volta dos alunos, havia dificuldade de seguir regras básicas de conduta e convivência, maior dificuldade de socialização em todas as etapas, da creche até o ensino médio. Havia dificuldade real e evidente de saúde mental, sobretudo quando as crises de ansiedade coletiva começaram a acontecer”, diz a especialista.

Para tornar o cenário ainda mais desafiador, a lei federal da obrigatoriedade de psicólogos nas escolas, de dezembro de 2019, ainda não havia sido totalmente implementada. “Tivemos problemas pedagógicos de recomposição das aprendizagens que se tornaram questões de saúde mental e que levaram problemas de violência”, diz Carolina.

Ela aponta ainda a necessidade de várias mudanças que, segundo ela, ainda não foram implementadas pelas escolas. “Seria importante implementar protocolos de violência de saúde mental, combate ao racismo, de xenofobia e intolerância religiosa e outros tipos de violências”, diz.

“O trauma não para na porta da escola. Ele entra. Tivemos lutos que não foram processados da melhor forma, sem acolhimento de educador e de estudante. Não podemos desconsiderar esses traumas”, acrescenta. Além disso, será preciso enfrentar graves efeitos colaterais por muitos anos: desigualdades sociais, desníveis de aprendizagem, desorganização das estruturas das redes de ensino e alta evasão escolar.

A pandemia também obrigou os educadores a olhar o contexto da vida do estudante, como sua condição socioeconômica, o ambiente domiciliar, segurança alimentar e a segurança pública na opinião de Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação. “Antes da pandemia, esses fatores eram praticamente esquecidos”.

Alunos da turma do 5º ano do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, durante programa de cidadania digital e segurança na internet em 2021  Foto: Marcelo Chello / Estadão

Trabalho

A pandemia mudou a forma como trabalhamos. Um conceito que estava no radar das empresas, mas permanecia sob incertezas, se instalou de vez: o trabalho remoto (home office). Vários segmentos da economia se viram obrigados a trabalhar de casa, provocando uma fusão entre os ambientes doméstico e profissional que dificilmente será desfeita.

Com isso, a tecnologia ganhou espaço, como explica Milena Bizzarri, diretora de Recursos Humanos e Marketing e Comunicação da Mazars. “Falar por vídeo hoje é tão natural quanto falar presencialmente. Além disso, compartilhar é palavra de ordem. Trabalhar em documentos compartilhados foi um avanço em muitas empresas”.

Na transição entre o isolamento e o retorno, ganharam força nas empresas os modelos híbridos (no início, com muita máscara e álcool em gel). Esperar que os trabalhadores se desloquem para o escritório cinco dias por semana já é coisa do passado em muitas empresas. Além disso, o home office diminuiu custos com transporte, aluguel de espaços, contas de água, luz e internet dos escritórios.

Manoela Ribas Mitchell, 29 anos, CEO da healthtech Pipo, trabalha em escritório montado em seu apartamento na Vila Olimpia  Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas da FGV EAESP, afirma que o desafio das empresas é compreender qual é o melhor modelo de trabalho, em termos de produtividade e satisfação dos colaboradores. “Outro ponto importante é a preocupação com saúde mental e bem-estar das equipes, com valorização da área de RH. Essas mudanças chacoalharam as empresas para que pensem soluções junto com os funcionários”.

Mas trabalhar em escritório - ou mesmo ter um trabalho - não é privilégio de todos no Brasil, onde a pandemia agravou as desigualdades, o desemprego e também o número de moradores de rua. Na crise sanitária, se agravaram as desigualdades sociais e a diversificação de trabalhos informais ou com condições precárias, como foi o caso dos entregadores de delivery, setor que viu a demanda aumentar.

Ciência

A pandemia motivou uma corrida global pela vacina, que mobilizou pesquisadores, farmacêuticas e governos. As primeiras imunizações em larga escala começaram em dezembro de 2020, menos de um ano após a 1ª infecção ter sido relatada à OMS, o que representou conquista extraordinária da ciência. Os imunizantes foram testados e aprovados e, menos de um ano após o anúncio dos primeiros estudos, a vacina chegou - com garantias de segurança e eficácia - aos braços das pessoas.

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), destaca a colaboração internacional na produção de vacinas. “O maior avanço é perceber que podemos fazer ciência em colaboração internacional. Isso rendeu frutos, como o Centro de Produção de Vacinas na África do Sul, que será um polo de produção para o continente africano, o que mais sofreu com a escassez de vacinas”, diz.

A tecnologia de produção de vacinas também deixa um legado para outras doenças infecciosas, mas também para outras não infecciosas, como câncer e doenças genéticas que vão poder se aproveitar da tecnologia de vacinas Rma para outras terapias e medicamentos.

Se a maior parte da humanidade nunca foi tão grata aos cientistas, essa mobilização veio acompanhada de avanço da desinformação, catapultada pela rapidez das tecnologias e das redes sociais. No Brasil, o negacionismo e as fake news, incluindo por parte das autoridades, prejudicou a adoção de estratégias de prevenção, como o uso da máscara, e a adesão à vacina.

E, se fomos salvos pela turma que está por trás das bancadas dos laboratórios, a emergência sanitária mostrou a necessidade de investimento permanente em pesquisas e cooperação entre cientistas, como no compartilhamento de dados e de equipes.

Cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, recebeu alto número de vítimas da covid Foto: Felipe Rau/Estadão

Nesse contexto, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), afirma que as pessoas passaram a compreender melhor a presença da ciência no dia a dia. “Antes da pandemia, era difícil que as pessoas percebessem a ciência no cotidiano, como a importância das práticas de higiene, a corrida pelas vacinas, o desenvolvimento de testes e pesquisas de outros tratamentos”.

Após mais de três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 5, que a covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o alerta de nível mais alto da organização. É um dia histórico depois da declaração do alerta sobre o novo coronavírus no fim de janeiro de 2020, quando o número de casos e mortes começou a explodir na China.

A doença fez mais de 7 milhões de vítimas em todo o mundo, número que pode ser ainda mais alto, diante da alta subnotificação em vários países - especialistas estimam haver cerca de 20 milhões de vítimas. A pandemia alterou profundamente o cotidiano de todos no planeta inteiro. “A covid mudou o mundo”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

A maior crise sanitária do último século envolveu longas medidas de quarentena, superlotação de hospitais, aumento da pobreza, e uma corrida sem precedentes pela vacina, desenvolvida pelos cientistas em tempo recorde. A globalização e a tecnologia permitiram que parte das atividades econômicas, sociais e educacionais continuassem funcionando mesmo em fases mais severas do isolamento social. Por outro lado, também impulsionaram o avanço rápido da desinformação e do negacionismo científico.

A alteração do status foi possível graças ao avanço da vacinação, que, de acordo com Tedros, nos permitiu ver, no último ano, tendência de queda de casos e mortes, e diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde. E, alertou a OMS, o surgimento de novas cepas do vírus. “Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes”, disse Adhanom.

Você se lembra de como era o mundo antes da pandemia? O que voltou ao normal e o que se transformou para valer desde que o vírus passou a fazer parte das nossas vidas? Veja algumas principais mudanças trazidas pela crise sanitária:

Motoristas e cobradores de ônibus da EMTU na campanha de vacinação contra o coronavírus Foto: Werther Santana / Estadão

Saúde

Se uma pandemia afeta a vida de todo mundo, a área de saúde recebe as mudanças primeiro e de forma mais dramática. Nos hospitais, houve um aprendizado sobre gestão de leitos e de UTIs, além do desenvolvimento de terapias e remédios.

Em função da necessidade de isolamento social para frear o contágio, a telemedicina, conjunto de práticas ligadas ao uso de tecnologia da informação na área da saúde, avançou velozmente. Para especialistas, essa é uma oportunidade de ampliar acesso a atendimentos por uma população pobre e em áreas remotas, com o desafio de garantir qualidade.

Para o epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a telemedicina veio para ficar, mas com ressalvas. “É preciso preparo para que as instituições ofereçam essa forma de atendimento para acompanhamento ou orientações rápidas. Quem precisa de atenção maior, deve procurar atendimento presencial”, afirma.

Outra mudança relevante é a adoção de hábitos de higiene e prevenção de surtos. Ações simples, como lavar as mãos frequentemente e evitar levá-las ao rosto, ou cobrir a boca e o nariz com o braço na hora de espirrar, fazem a diferença. Mas, claro, muita gente já se esqueceu desses protocolos - e você? ainda usa máscara quando aparecem os sintomas?

Educação

A pandemia colocou as escolas para pensar novas formas de trabalhar o processo de ensino-aprendizagem ao impor quase dois anos de afastamento total ou parcial das salas de aula. Alunos e professores tiveram de se adaptar a práticas remotas, basicamente por meio de computadores, celulares e tablets, uma revolução digital que antecipou transformações que já ocorriam nas classes.

Por outro lado, a longa quarentena reforçou a importância da escola no acolhimento dos alunos e das famílias, tanto no aspecto pedagógico quanto no emocional. Diante do isolamento, alguns colégios passaram a dar mais atenção a habilidades que vão além dos resultados em exames. Nesse contexto, as competências socioemocionais recebem especial atenção.

Carolina Campos, fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, destaca as mudanças emocionais e a necessidade de cuidados com a saúde mental. “Na volta dos alunos, havia dificuldade de seguir regras básicas de conduta e convivência, maior dificuldade de socialização em todas as etapas, da creche até o ensino médio. Havia dificuldade real e evidente de saúde mental, sobretudo quando as crises de ansiedade coletiva começaram a acontecer”, diz a especialista.

Para tornar o cenário ainda mais desafiador, a lei federal da obrigatoriedade de psicólogos nas escolas, de dezembro de 2019, ainda não havia sido totalmente implementada. “Tivemos problemas pedagógicos de recomposição das aprendizagens que se tornaram questões de saúde mental e que levaram problemas de violência”, diz Carolina.

Ela aponta ainda a necessidade de várias mudanças que, segundo ela, ainda não foram implementadas pelas escolas. “Seria importante implementar protocolos de violência de saúde mental, combate ao racismo, de xenofobia e intolerância religiosa e outros tipos de violências”, diz.

“O trauma não para na porta da escola. Ele entra. Tivemos lutos que não foram processados da melhor forma, sem acolhimento de educador e de estudante. Não podemos desconsiderar esses traumas”, acrescenta. Além disso, será preciso enfrentar graves efeitos colaterais por muitos anos: desigualdades sociais, desníveis de aprendizagem, desorganização das estruturas das redes de ensino e alta evasão escolar.

A pandemia também obrigou os educadores a olhar o contexto da vida do estudante, como sua condição socioeconômica, o ambiente domiciliar, segurança alimentar e a segurança pública na opinião de Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação. “Antes da pandemia, esses fatores eram praticamente esquecidos”.

Alunos da turma do 5º ano do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, durante programa de cidadania digital e segurança na internet em 2021  Foto: Marcelo Chello / Estadão

Trabalho

A pandemia mudou a forma como trabalhamos. Um conceito que estava no radar das empresas, mas permanecia sob incertezas, se instalou de vez: o trabalho remoto (home office). Vários segmentos da economia se viram obrigados a trabalhar de casa, provocando uma fusão entre os ambientes doméstico e profissional que dificilmente será desfeita.

Com isso, a tecnologia ganhou espaço, como explica Milena Bizzarri, diretora de Recursos Humanos e Marketing e Comunicação da Mazars. “Falar por vídeo hoje é tão natural quanto falar presencialmente. Além disso, compartilhar é palavra de ordem. Trabalhar em documentos compartilhados foi um avanço em muitas empresas”.

Na transição entre o isolamento e o retorno, ganharam força nas empresas os modelos híbridos (no início, com muita máscara e álcool em gel). Esperar que os trabalhadores se desloquem para o escritório cinco dias por semana já é coisa do passado em muitas empresas. Além disso, o home office diminuiu custos com transporte, aluguel de espaços, contas de água, luz e internet dos escritórios.

Manoela Ribas Mitchell, 29 anos, CEO da healthtech Pipo, trabalha em escritório montado em seu apartamento na Vila Olimpia  Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas da FGV EAESP, afirma que o desafio das empresas é compreender qual é o melhor modelo de trabalho, em termos de produtividade e satisfação dos colaboradores. “Outro ponto importante é a preocupação com saúde mental e bem-estar das equipes, com valorização da área de RH. Essas mudanças chacoalharam as empresas para que pensem soluções junto com os funcionários”.

Mas trabalhar em escritório - ou mesmo ter um trabalho - não é privilégio de todos no Brasil, onde a pandemia agravou as desigualdades, o desemprego e também o número de moradores de rua. Na crise sanitária, se agravaram as desigualdades sociais e a diversificação de trabalhos informais ou com condições precárias, como foi o caso dos entregadores de delivery, setor que viu a demanda aumentar.

Ciência

A pandemia motivou uma corrida global pela vacina, que mobilizou pesquisadores, farmacêuticas e governos. As primeiras imunizações em larga escala começaram em dezembro de 2020, menos de um ano após a 1ª infecção ter sido relatada à OMS, o que representou conquista extraordinária da ciência. Os imunizantes foram testados e aprovados e, menos de um ano após o anúncio dos primeiros estudos, a vacina chegou - com garantias de segurança e eficácia - aos braços das pessoas.

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), destaca a colaboração internacional na produção de vacinas. “O maior avanço é perceber que podemos fazer ciência em colaboração internacional. Isso rendeu frutos, como o Centro de Produção de Vacinas na África do Sul, que será um polo de produção para o continente africano, o que mais sofreu com a escassez de vacinas”, diz.

A tecnologia de produção de vacinas também deixa um legado para outras doenças infecciosas, mas também para outras não infecciosas, como câncer e doenças genéticas que vão poder se aproveitar da tecnologia de vacinas Rma para outras terapias e medicamentos.

Se a maior parte da humanidade nunca foi tão grata aos cientistas, essa mobilização veio acompanhada de avanço da desinformação, catapultada pela rapidez das tecnologias e das redes sociais. No Brasil, o negacionismo e as fake news, incluindo por parte das autoridades, prejudicou a adoção de estratégias de prevenção, como o uso da máscara, e a adesão à vacina.

E, se fomos salvos pela turma que está por trás das bancadas dos laboratórios, a emergência sanitária mostrou a necessidade de investimento permanente em pesquisas e cooperação entre cientistas, como no compartilhamento de dados e de equipes.

Cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, recebeu alto número de vítimas da covid Foto: Felipe Rau/Estadão

Nesse contexto, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), afirma que as pessoas passaram a compreender melhor a presença da ciência no dia a dia. “Antes da pandemia, era difícil que as pessoas percebessem a ciência no cotidiano, como a importância das práticas de higiene, a corrida pelas vacinas, o desenvolvimento de testes e pesquisas de outros tratamentos”.

Após mais de três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 5, que a covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o alerta de nível mais alto da organização. É um dia histórico depois da declaração do alerta sobre o novo coronavírus no fim de janeiro de 2020, quando o número de casos e mortes começou a explodir na China.

A doença fez mais de 7 milhões de vítimas em todo o mundo, número que pode ser ainda mais alto, diante da alta subnotificação em vários países - especialistas estimam haver cerca de 20 milhões de vítimas. A pandemia alterou profundamente o cotidiano de todos no planeta inteiro. “A covid mudou o mundo”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

A maior crise sanitária do último século envolveu longas medidas de quarentena, superlotação de hospitais, aumento da pobreza, e uma corrida sem precedentes pela vacina, desenvolvida pelos cientistas em tempo recorde. A globalização e a tecnologia permitiram que parte das atividades econômicas, sociais e educacionais continuassem funcionando mesmo em fases mais severas do isolamento social. Por outro lado, também impulsionaram o avanço rápido da desinformação e do negacionismo científico.

A alteração do status foi possível graças ao avanço da vacinação, que, de acordo com Tedros, nos permitiu ver, no último ano, tendência de queda de casos e mortes, e diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde. E, alertou a OMS, o surgimento de novas cepas do vírus. “Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes”, disse Adhanom.

Você se lembra de como era o mundo antes da pandemia? O que voltou ao normal e o que se transformou para valer desde que o vírus passou a fazer parte das nossas vidas? Veja algumas principais mudanças trazidas pela crise sanitária:

Motoristas e cobradores de ônibus da EMTU na campanha de vacinação contra o coronavírus Foto: Werther Santana / Estadão

Saúde

Se uma pandemia afeta a vida de todo mundo, a área de saúde recebe as mudanças primeiro e de forma mais dramática. Nos hospitais, houve um aprendizado sobre gestão de leitos e de UTIs, além do desenvolvimento de terapias e remédios.

Em função da necessidade de isolamento social para frear o contágio, a telemedicina, conjunto de práticas ligadas ao uso de tecnologia da informação na área da saúde, avançou velozmente. Para especialistas, essa é uma oportunidade de ampliar acesso a atendimentos por uma população pobre e em áreas remotas, com o desafio de garantir qualidade.

Para o epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a telemedicina veio para ficar, mas com ressalvas. “É preciso preparo para que as instituições ofereçam essa forma de atendimento para acompanhamento ou orientações rápidas. Quem precisa de atenção maior, deve procurar atendimento presencial”, afirma.

Outra mudança relevante é a adoção de hábitos de higiene e prevenção de surtos. Ações simples, como lavar as mãos frequentemente e evitar levá-las ao rosto, ou cobrir a boca e o nariz com o braço na hora de espirrar, fazem a diferença. Mas, claro, muita gente já se esqueceu desses protocolos - e você? ainda usa máscara quando aparecem os sintomas?

Educação

A pandemia colocou as escolas para pensar novas formas de trabalhar o processo de ensino-aprendizagem ao impor quase dois anos de afastamento total ou parcial das salas de aula. Alunos e professores tiveram de se adaptar a práticas remotas, basicamente por meio de computadores, celulares e tablets, uma revolução digital que antecipou transformações que já ocorriam nas classes.

Por outro lado, a longa quarentena reforçou a importância da escola no acolhimento dos alunos e das famílias, tanto no aspecto pedagógico quanto no emocional. Diante do isolamento, alguns colégios passaram a dar mais atenção a habilidades que vão além dos resultados em exames. Nesse contexto, as competências socioemocionais recebem especial atenção.

Carolina Campos, fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, destaca as mudanças emocionais e a necessidade de cuidados com a saúde mental. “Na volta dos alunos, havia dificuldade de seguir regras básicas de conduta e convivência, maior dificuldade de socialização em todas as etapas, da creche até o ensino médio. Havia dificuldade real e evidente de saúde mental, sobretudo quando as crises de ansiedade coletiva começaram a acontecer”, diz a especialista.

Para tornar o cenário ainda mais desafiador, a lei federal da obrigatoriedade de psicólogos nas escolas, de dezembro de 2019, ainda não havia sido totalmente implementada. “Tivemos problemas pedagógicos de recomposição das aprendizagens que se tornaram questões de saúde mental e que levaram problemas de violência”, diz Carolina.

Ela aponta ainda a necessidade de várias mudanças que, segundo ela, ainda não foram implementadas pelas escolas. “Seria importante implementar protocolos de violência de saúde mental, combate ao racismo, de xenofobia e intolerância religiosa e outros tipos de violências”, diz.

“O trauma não para na porta da escola. Ele entra. Tivemos lutos que não foram processados da melhor forma, sem acolhimento de educador e de estudante. Não podemos desconsiderar esses traumas”, acrescenta. Além disso, será preciso enfrentar graves efeitos colaterais por muitos anos: desigualdades sociais, desníveis de aprendizagem, desorganização das estruturas das redes de ensino e alta evasão escolar.

A pandemia também obrigou os educadores a olhar o contexto da vida do estudante, como sua condição socioeconômica, o ambiente domiciliar, segurança alimentar e a segurança pública na opinião de Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação. “Antes da pandemia, esses fatores eram praticamente esquecidos”.

Alunos da turma do 5º ano do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, durante programa de cidadania digital e segurança na internet em 2021  Foto: Marcelo Chello / Estadão

Trabalho

A pandemia mudou a forma como trabalhamos. Um conceito que estava no radar das empresas, mas permanecia sob incertezas, se instalou de vez: o trabalho remoto (home office). Vários segmentos da economia se viram obrigados a trabalhar de casa, provocando uma fusão entre os ambientes doméstico e profissional que dificilmente será desfeita.

Com isso, a tecnologia ganhou espaço, como explica Milena Bizzarri, diretora de Recursos Humanos e Marketing e Comunicação da Mazars. “Falar por vídeo hoje é tão natural quanto falar presencialmente. Além disso, compartilhar é palavra de ordem. Trabalhar em documentos compartilhados foi um avanço em muitas empresas”.

Na transição entre o isolamento e o retorno, ganharam força nas empresas os modelos híbridos (no início, com muita máscara e álcool em gel). Esperar que os trabalhadores se desloquem para o escritório cinco dias por semana já é coisa do passado em muitas empresas. Além disso, o home office diminuiu custos com transporte, aluguel de espaços, contas de água, luz e internet dos escritórios.

Manoela Ribas Mitchell, 29 anos, CEO da healthtech Pipo, trabalha em escritório montado em seu apartamento na Vila Olimpia  Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas da FGV EAESP, afirma que o desafio das empresas é compreender qual é o melhor modelo de trabalho, em termos de produtividade e satisfação dos colaboradores. “Outro ponto importante é a preocupação com saúde mental e bem-estar das equipes, com valorização da área de RH. Essas mudanças chacoalharam as empresas para que pensem soluções junto com os funcionários”.

Mas trabalhar em escritório - ou mesmo ter um trabalho - não é privilégio de todos no Brasil, onde a pandemia agravou as desigualdades, o desemprego e também o número de moradores de rua. Na crise sanitária, se agravaram as desigualdades sociais e a diversificação de trabalhos informais ou com condições precárias, como foi o caso dos entregadores de delivery, setor que viu a demanda aumentar.

Ciência

A pandemia motivou uma corrida global pela vacina, que mobilizou pesquisadores, farmacêuticas e governos. As primeiras imunizações em larga escala começaram em dezembro de 2020, menos de um ano após a 1ª infecção ter sido relatada à OMS, o que representou conquista extraordinária da ciência. Os imunizantes foram testados e aprovados e, menos de um ano após o anúncio dos primeiros estudos, a vacina chegou - com garantias de segurança e eficácia - aos braços das pessoas.

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), destaca a colaboração internacional na produção de vacinas. “O maior avanço é perceber que podemos fazer ciência em colaboração internacional. Isso rendeu frutos, como o Centro de Produção de Vacinas na África do Sul, que será um polo de produção para o continente africano, o que mais sofreu com a escassez de vacinas”, diz.

A tecnologia de produção de vacinas também deixa um legado para outras doenças infecciosas, mas também para outras não infecciosas, como câncer e doenças genéticas que vão poder se aproveitar da tecnologia de vacinas Rma para outras terapias e medicamentos.

Se a maior parte da humanidade nunca foi tão grata aos cientistas, essa mobilização veio acompanhada de avanço da desinformação, catapultada pela rapidez das tecnologias e das redes sociais. No Brasil, o negacionismo e as fake news, incluindo por parte das autoridades, prejudicou a adoção de estratégias de prevenção, como o uso da máscara, e a adesão à vacina.

E, se fomos salvos pela turma que está por trás das bancadas dos laboratórios, a emergência sanitária mostrou a necessidade de investimento permanente em pesquisas e cooperação entre cientistas, como no compartilhamento de dados e de equipes.

Cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, recebeu alto número de vítimas da covid Foto: Felipe Rau/Estadão

Nesse contexto, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), afirma que as pessoas passaram a compreender melhor a presença da ciência no dia a dia. “Antes da pandemia, era difícil que as pessoas percebessem a ciência no cotidiano, como a importância das práticas de higiene, a corrida pelas vacinas, o desenvolvimento de testes e pesquisas de outros tratamentos”.

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