NATAL - A pandemia do novo coronavírus parece não mais assustar os turistas que frequentam a praia de Pipa, no litoral Sul do Rio Grande do Norte. As aglomerações registradas em festas privadas de réveillon ganharam as ruas do vilarejo, um dos mais disputados destinos turísticos do Nordeste, na primeira semana do novo ano.
Sem máscaras, dividindo copos, se beijando e se abraçando, pessoas de todas as idades festejavam como se a covid-19 não estivesse contaminando mais e ampliando o número de vítimas fatais no estado. A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) alerta para os riscos dessas aglomerações não somente para a população local, mas também para aquelas às quais os turistas pertencem.
“Realmente, poderemos ter um risco de consequências não só para a população, mas para os que participaram dos eventos e retornaram para seus locais de moradia, sem o devido rastreamento. Esses são os riscos potenciais de realmente termos uma aceleração do número de casos tanto nas duas cidades (Pipa e São Miguel do Gostoso), como em outras localidades que poderão ser afetadas pelos participantes dos eventos ao retornarem para seus locais de moradia ou trabalho”, declara Cipriano Maia, titular da Sesap/RN.
Conforme dados da pasta, o número de casos confirmados da infecção pelo novo coronavírus saltou 23,22% em um mês. No dia 7 de dezembro, foram registrados 98.553 casos de covid-19. Um mês após, 121.440 (22.887 novas confirmações). No mesmo período, o número de mortos pela doença em todas as regiões potiguares também cresceu, num percentual menor, de 11,85%. Eram 2.741 vítimas fatais em 7 de dezembro de 2020 e, neste 7 de janeiro, 3.066 mortes pela doença (325 a mais no período).
“As aglomerações, como qualquer evento que reúne pessoas em grande quantidade, irão contribuir para facilitar o aumento da transmissibilidade e, consequentemente, o risco do aumento de casos, podendo redundar em aumento de internações e também de óbitos. É bom destacar que essas aglomerações dos eventos de réveillon ocorreram à revelia da recomendação do Governo do Estado, dos decretos do Governo que recomendavam a não realização desses eventos, mas foram autorizados pelos municípios e, diante do conflito judicial, foram legitimados pela Justiça em desacordo com tudo aquilo que vimos preconizando para reduzir o contágio e a transmissibilidade através da restrição da circulação, do encontro de pessoas”, analisa Cipriano Maia.
O vai e vem indiscriminado de pessoas sem proteção individual assustou moradores da cidade de Tibau do Sul, que não conta com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para casos mais graves de covid-19.
“Eu estou realmente assustado. Desde março que eu mantinha meu isolamento, mas recebi parentes em casa e acabei saindo para mostrar-lhes a praia, a lagoa de Guaraíras, as belezas da região de Tibau do Sul. Me senti com medo ao ver tantas pessoas sem máscaras, fazendo aglomeração como se a pandemia não existisse. É assustador”, relatou um servidor público que preferiu não ser identificado. Ele é morador de Tibau do Sul, cidade responsável pela administração do distrito de Pipa, e foi entrevistado às margens da Lagoa de Guaraíras, um dos locais mais visitados pelos turistas na região. Para a semana do réveillon, somente do Ceará, a praia de Pipa recebeu oito ônibus de turistas. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio Grande do Norte (ABIH/RN), a taxa de ocupação de hotéis e pousadas ficou acima dos 50%. “A pandemia trouxe uma peculiaridade para o turismo regional, muita gente está deixando para comprar em cima da hora, pelo menos nos últimos 10 dias ou última semana, então muitas vezes quando achamos que vai dar uma ocupação de 50% / 60%, quando vê ela chega a cerca de 65%, que foi o que aconteceu agora no final de ano”, comenta Abdon Gosson, presidente da entidade.
Fiscalização
Diferente do anunciado em decreto publicado nos últimos dias do ano passado, a prefeitura Municipal de Tibau do Sul não promoveu o controle de acesso à praia da Pipa com a verificação da temperatura de quem entrava no distrito nesta quarta-feira, 6. Nenhum agente de saúde estava posicionado nos pontos de maior concentração de chegada e saída de turistas, como os estacionamentos da rua mais movimentada do vilarejo, por exemplo.
Ao longo da permanência da equipe de reportagem do Estadão na noite desta quarta-feira, na praia de Pipa, somente uma viatura com três policiais militares foi vista fazendo a segurança, mas sem abordar nenhuma pessoa que estava sem usar máscara. A maciça maioria dos transeuntes não fazia uso desse item de proteção individual. A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN) foi procurada e questionada sobre o número de autuações contra empresas e populares por descumprimento de medidas de biossegurança, mas informou que os dados relativos ao mês de dezembro ainda não foram consolidados.