BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deve realizar uma reunião na terça-feira, 8, com governadores para tratar da compra de vacinas contra a covid-19. O encontro será feito no Palácio do Planalto, mas a maioria dos governadores deve participar por meio de videoconferência.
Em outubro, durante reunião com governadores, Pazuello anunciou que compraria doses da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantã, órgão ligado ao governo paulista de João Doria (PSDB). Após ser desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, porém, o ministério recuou e negou a compra do imunizante. Nessa videoconferência Pazuello estava no Ministério da Saúde.
A Saúde não deu explicações sobre o porquê de a reunião, desta vez, ser feita no Palácio do Planalto. A Presidência não informou se Bolsonaro e ministros palacianos participam da conversa.
Os governadores devem cobrar que o ministério incorpore ao SUS o maior número de vacinas possível, além de pedir mobilização para uso emergencial dos imunizantes, que pode ser feito ainda com estudos clínicos em andamento.
Pazuello tem dito, porém, que só comprará mais vacinas após o registro dos produtos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tutelado pelo Planalto, o ministro da Saúde ainda tem ignorado a Coronavac ao falar sobre o plano para vacinar a população.
Desafeto de Bolsonaro, o governador Doria deve participar da reunião por videoconferência. Nesta segunda-feira, 7, ele anunciou que a vacinação em São Paulo começa em 25 de janeiro, mesmo sem o Butantã ter apresentado todos os dados sobre a Coronavac. O plano do governo federal aponta março como mês do início da vacinação.
Horas mais tarde ao anúncio de Doria, o presidente disse nas redes sociais que não faltaram recursos para vacinar toda a população brasileira de graça. O ministério, porém, ainda corre atrás de insumos básicos para a imunização, como seringas.
Além de Doria, outros governadores tem negociado compras próprias de vacina. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, afirma que a criação de planos estaduais para vacinação não é o ideal, mas torna-se inevitável por causa da demora do ministério em fechar um plano nacional de vacinação, incorporar imunizantes e comprar seringas. A entidade pede que o ministério lidere e centralize este debate.
O governo Jair Bolsonaro aposta na vacina de Oxford. A Fiocruz trabalha para incorporar a tecnologia e produzir as próprias doses desse imunizante. Mas os pesquisadores responsáveis pelo estudo de Oxford já reconheceram erros nos testes iniciais e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro.
Além disso, a pasta espera receber doses para 10% da população brasileira por meio da Covax Facility, consórcio internacional liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O ministério também tem feito reuniões com outras farmacêuticas, como a Pfizer, mas não se comprometeu com a compra de novos imunizantes. A pasta e a Pfizer trataram nesta segunda-feira, 7, sobre pontos de um "memorando" não vinculante de interesse sobre a vacina. Um dos pontos de divergência entre as partes é o número de doses ofertadas.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a afirmar ironicamente, nos bastidores, que as doses não serviriam para imunizar Brasília, que tem cerca de 3 milhões de habitantes.