Se você sempre assumiu que perda de peso e emagrecimento são conceitos iguais, está na hora de entender o que está por trás de cada situação. Até porque cada um desses resultados traz impactos diferentes na saúde.
Enquanto perder peso é simplesmente perceber o ponteiro da balança caindo, emagrecer significa de fato perder gordura. “Ou seja, ver um número menor na balança não significa que você emagreceu. Você pode ter perdido massa magra, mas ter mantido a quantidade de gordura corporal”, explica a nutricionista Desire Coelho, colunista do Estadão.
Isso significa que é possível perder peso sem emagrecer, assim como é possível emagrecer sem perder peso.
Em sua última coluna, Desire informa, inclusive, que é possível ver oscilações de 0,5 a 1,5 kg na balança no mesmo dia, e que isso é normal. Pode ter relação com consumo de itens ricos em sódio ou álcool, variações hormonais, uso de medicamentos e até uma eventual constipação. Ou seja, essa variação não significa que alguém engordou ou emagreceu.
De acordo com a especialista, emagrecer significa se tornar mais magro – por uma diminuição da massa gorda ou um aumento da massa magra. “Os dois processos são mais lentos e ocorrem de modo significativo quando há uma alteração mais prolongada dos hábitos”, escreve ela.
Por outro lado, ver o peso cair rapidamente por causa de uma dieta restritiva, por exemplo, acaba sacrificando o estoque de massa muscular, o que não é vantajoso para a saúde. Afinal, os músculos têm funções valiosas, como aumentar o gasto calórico mesmo quando se está em repouso e também garantir a realização de vários movimentos no dia a dia, como andar, correr, subir escadas, etc. São eles também que ajudam a manter a autonomia e qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento, prevenindo quedas e fraturas.
De acordo com Guilherme Artioli, professor de fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), concentrar esforços na perda de gordura, ou seja, no emagrecimento real, não só pode resultar em mudanças na estética corporal como também proporciona benefícios menos óbvios, como melhorias na saúde metabólica, no perfil lipídico, nos níveis de glicose no sangue e na circunferência abdominal – transformações ainda mais relevantes em casos de obesidade ou sobrepeso.
“Mesmo uma modesta redução de 10 a 15% do peso corporal associada à perda de gordura e mantida a longo prazo, pode resultar em melhorias consideráveis na saúde e na redução do risco de uma série de doenças crônicas, embora os padrões estéticos convencionais possam não ser completamente atendidos”, destaca o especialista.
Quais os melhores exercícios para quem deseja emagrecer?
Para alcançar um emagrecimento saudável e reduzir a gordura corporal, Daniela Agostinho, coordenadora do Departamento de Educação Física da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), sugere combinar exercícios aeróbicos, como caminhada, corrida, ciclismo ou natação, com modalidades de força, como musculação, pilates e movimentos que usam o peso do próprio corpo.
Essa abordagem, de acordo com ela, fortalece a musculatura, o que contribui para aumentar o gasto energético em repouso. “Enquanto os aeróbicos melhoram a capacidade física e o gasto energético durante o movimento, a musculação aumenta a massa muscular ativa, ampliando o consumo de energia em repouso. Daí porque essa combinação é interessante”, explica Daniela.
Isso significa que focar exclusivamente em exercícios aeróbicos (que realmente queimam mais calorias) pode resultar em uma aparente perda de peso na balança, mas, na realidade, o que ocorreu foi também uma redução da massa muscular.
Leia mais
“Ao combinar aeróbicos com musculação, asseguramos a perda de gordura, além da manutenção ou até mesmo do ganho de massa muscular. Isso é especialmente relevante para pessoas com sobrepeso ou que são sedentárias”, reforça Artioli.
Dá para emagrecer sem mexer na alimentação?
A alimentação desempenha um papel fundamental no processo de emagrecimento. Isso se deve ao fato de que, para emagrecer, é necessário criar um déficit calórico, ou seja, gastar mais energia do que se consome, conforme explica Desire.
Isso significa que, por mais que exista a prática regular de exercícios, é improvável que o gasto calórico supere o consumo energético proveniente da alimentação. Para ilustrar: é mais viável reduzir a ingestão diária em 500 calorias do que tentar queimar 500 calorias adicionais por meio do exercício.
Por isso, é considerado fundamental combinar uma dieta equilibrada com uma rotina de exercícios quando se deseja emagrecer. Contudo, é válido ressaltar a importância do acompanhamento nutricional, afinal, dietas muito restritivas podem acarretar riscos à saúde mental e física, incluindo transtornos alimentares, distorções da imagem corporal e padrões alimentares disfuncionais.
“Atualmente, as redes sociais promovem muito esses métodos radicais e intensos, que prometem resultados rápidos, mas é necessário cautela”, alerta Desire. “Quando alguém começa a restringir demais a alimentação, isso pode desencadear pensamentos obsessivos em relação à comida, fraqueza devido à brusca redução calórica, além de afetar o sono, o sistema imunológico e aumentar a propensão a doenças, entre outros problemas”, acrescenta.