BRASÍLIA - O Ministério da Saúde vai lançar, em setembro, o novo plano da pasta para combater a dengue. A estratégia será divulgada em duas partes e envolverá, num primeiro momento, o controle de vetores e uso de inovações na área, como o método Wolbachia, que utiliza mosquitos modificados para bloquear a transmissão da doença.
A vacinação não é considerada como a principal estratégia para lidar com a doença em 2025, já que há baixos estoques de vacina disponíveis no mercado. O imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan é visto como uma das apostas para vacinação no país, mas ainda precisa ser submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por dar aval ao uso.
Em maio, autoridades do Ministério da Saúde alertaram para o fato de que a próxima epidemia da doença pode chegar ainda mais cedo devido às mudanças climáticas. Segundo as projeções anunciadas na época, a alta de casos poderia começar já em novembro de 2024.
“Até 10 de setembro estamos lançando esse plano que envolverá além do controle de vetores, uso de tecnologias novas. Algumas já mostraram excelente resultado, como é o caso do método Wolbachia, que tem sido bem estudado. É o caso de Niterói, que a cidade toda se beneficiou dessa estratégia. Mas não existe estratégia mágica”, afirma ministra da saúde, Nísia Trindade.
Desde 2015, quando o método Wolbachia foi introduzido na cidade, houve uma queda de 70% nos casos de dengue, conforme divulgação feita pela secretaria municipal de saúde em fevereiro. Enquanto isso, diversos municípios do país apresentavam aumento no número de casos. O método consiste em introduzir a bactéria Wolbachia nos mosquitos. Esse micro-organismo é capaz de bloquear a transmissão do vírus para o ser humano e interferir no ciclo reprodutivo do inseto na natureza.
Nísia participou, na manhã desta quarta-feira, 28, de um café com jornalistas na sede do Ministério da Saúde em Brasília. Na ocasião, a gestora falou a respeito das políticas implementadas pela pasta. Segundo ela, o plano será lançado em duas partes, porque ainda depende de perspectivas de cenário que estão sendo construídas pelo Infodengue.
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Vacina
“A vacina é uma estratégia que vamos continuar a utilizar, mas não é a principal estratégia para 2025. Pode ser que venha a ser em 2026, a depender do desenvolvimento da vacina do Butantan. E podendo aumentar (a aquisição de doses) da Takeda, certamente aumentaremos”, disse.
A vacinação contra a doença é complexa devido à baixa disponibilidade de doses. O governo brasileiro adquiriu 6,5 milhões de doses do imunizante produzido pela Takeda para 2024, e 9 milhões para 2025. A ministra também comentou sobre o possível processo de transferência de tecnologia entre a Takeda e a Fiocruz para que a instituição brasileira produza o imunizante.
A ministra afirmou que a Fiocruz é plenamente capaz de fazer o processo, mas o principal entrave é justamente a dificuldade da Takeda em produzir a matéria-prima em larga escala para que o imunizante seja concluído no País. Diante do impasse, o governo tem visto com otimismo o desenvolvimento da vacina do Instituto Butantan.
“Eu diria que nossa aposta maior, mas falo isso com cuidado, porque ainda nem foi submetida à Anvisa, é a vacina do Butantan, que de fato mostrou excelente resultado em estudos clínicos. Vamos trabalhar com o Butantan esse cronograma”, argumentou.
A vacina do Butantan teve a eficácia confirmada em artigo publicado recentemente na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM). Na publicação, os pesquisadores descrevem que o imunizante teve 79,6% de eficácia em prevenir a doença. Uma das vantagens desse imunizante é o fato de ser oferecido em dose única, o que auxiliaria no processo de imunização.
Em nota enviada ao Estadão, a farmacêutica Takeda comentou que “as tratativas para uma parceria de desenvolvimento produtivo da vacina da dengue com a Fiocruz seguem avançando conforme o rito regular desse processo, que visa a transferência de tecnologia”. A empresa ainda observa que, no momento, não há qualquer impedimento de sua parte para que a parceria aconteça.
“Diante da emergência da dengue, a grande demanda de quantitativo de vacinas não será equalizada por apenas uma entidade, seja ela a Takeda ou o Instituto Butantan. Por isso, acreditamos que a coexistência de diferentes vacinas é essencial para combater a epidemia em longo prazo”, acrescenta a nota.
A farmacêutica reforça que, independente da parceria com a Fiocruz, a entrega de 6,6 milhões de doses para o Ministério da Saúde em 2024 está garantida, assim como o compromisso de disponibilizar 9 milhões de doses para 2025.