Pode cortar comprimido ao meio? E diluir cápsulas? Tire 9 dúvidas sobre a hora de tomar remédios


O uso inadequado de medicamentos pode comprometer a eficácia do tratamento e contribuir para outros perigos

Por Rafaela Ferreira

Dentro de um universo com diferentes princípios ativos e formas de apresentação – comprimido, cápsula, líquido ou pó, por exemplo –, cada medicamento é único e desempenha uma função específica no organismo. Mas, para que um remédio cumpra o que promete, ele deve ser utilizado de acordo com as condições descritas na bula. Afinal, segundo a farmacêutica Maria Aparecida Nicoletti, responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, ele foi estudado dentro de determinadas condições.

Com isso, não existe uma regra geral e única sobre como lidar com medicações. Tudo depende da sua finalidade e das instruções contidas na embalagem. Porém, algumas questões acabam sendo um consenso entre os profissionais de saúde. Estadão conversou com farmacêuticos para tirar dúvidas corriqueiras na hora de tomar remédio.

1- Pode dividir comprimidos ao meio?

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Essa é uma prática comum entre aqueles que não encontram um remédio numa dosagem específica ou que não conseguem engolir um comprimido inteiro. Para a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e professora e coordenadora do curso de farmácia da Universidade Mackenzie, seja qual for o motivo, a tática não é aconselhável.

Cada remédio foi estudado dentro de determinadas condições. Daí a importância de respeitar a bula Foto: okskaz/Adobe Stock

Se a ideia é consumir uma dosagem menor, ela explica que não há tecnologia suficiente capaz de garantir que aquele princípio ativo vai fazer o efeito total em uma metade ou outra. Agora, você deve lembrar que algumas medicações são sulcadas, ou seja, possuem uma linha que divide o comprimido. “Se não tiver esse sulco, aí é que não pode cortar mesmo”, afirma a especialista. Quando há essa divisão, Amouni comenta que ainda existe uma esperança de conseguir alguma parte razoável do princípio ativo em cada metade. Mas, no fim das contas, o ideal é evitar cortar o remédio mesmo.

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Maria Aparecida observa ainda que essa prática vulnerabiliza o princípio ativo, aumentando o risco de ele irritar o estômago. “Alguns antibióticos têm um revestimento para protegê-los do suco gástrico. Se você, por exemplo, corta esse comprimido ao meio, ele vai liberar tudo isso no estômago e, provavelmente, a acidez vai afetar a estabilidade desse fármaco”, descreve. Ela ainda lembra que os fármacos são desenhados para liberar o princípio ativo aos poucos. Ao parti-los, essa característica se perde.

2- Mas e se eu não conseguir engolir comprimidos?

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Uma das soluções apontadas pelo farmacêutico Gabriel Freitas, consultor do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é avaliar a possibilidade de recorrer à uma farmácia de manipulação para a produção de um fármaco em uma apresentação mais fácil de ser ingerida. Por exemplo: há princípios ativos que podem ser oferecidos no formato líquido.

3- Posso abrir uma cápsula e diluir o conteúdo na bebida ou misturar à comida?

Essa é outra estratégia usada por quem tem dificuldade de engolir medicamentos. Mas, segundo os especialistas, a resposta também é não. Isso porque as cápsulas são feitas para proteger o princípio ativo, possibilitando que ele seja liberado apenas no local correto. Ao se desfazer dessa blindagem, é possível que o remédio perca parte de seu efeito.

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E, de novo, Maria Aparecida frisa que o conteúdo liberado pode causar irritação no estômago. Fora que há a possibilidade de ele interagir com o líquido ou a comida, o que nos leva ao próximo ponto.

4- Medicamentos interagem com os alimentos?

Ficou claro que não é correto abrir cápsulas e misturar seu conteúdo na bebida ou comida. Mas e engolir remédios inteiros durante as refeições? Nesse caso, o indicado é ler a bula. Segundo os especialistas, os medicamentos podem interagir com a comida, culminando em uma redução ou exacerbação de seus efeitos – mas isso está longe de ser uma regra.

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“Cada medicamento foi estudado dentro de determinadas condições, e o resultado que se espera dele depende de que seja utilizado conforme a descrição na bula”, resume Maria Aparecida.

A farmacêutica da USP observa que medicamentos para a tireoide, por exemplo, têm indicação de uso em jejum. Por outro lado, a metformina, droga recomendada a quem tem diabetes, pode ser ingerida com a comida. “Quem toma lítio, que é para estabilização de humor, também pode fazer isso junto com a comida”, acrescenta Amouni.

Agora, se você não estiver com a bula por perto, o melhor é evitar a combinação entre medicamentos e comida devido ao risco de interação. Se possível, procure um farmacêutico para orientação. Se descobrir que o remédio tem que ser tomado em jejum, Amouni sugere verificar também quanto tempo depois de engoli-lo é preciso esperar para se alimentar.

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5- Posso tomar remédio com outros líquidos além da água?

No geral, a recomendação é sempre com água e nunca com nenhuma bebida alcoólica. A água auxilia na passagem do medicamento da boca para o estômago, fazendo com que seja absorvido da maneira desejada. Outros líquidos, no entanto, podem mudar a constituição da droga. Por exemplo: o refrigerante, que geralmente é ácido, pode destruir o medicamento antes mesmo de ele chegar ao ponto de absorção, lembra Amouni.

Na hora de tomar remédio, o ideal é recorrer à água Foto: fizkes/Adobe Stock

O álcool, por sua vez, pode intensificar alguns efeitos ou influenciar negativamente na eficácia do remédio. “Combinar álcool com certos medicamentos, especialmente aqueles com efeitos sedativos, pode aumentar o risco de eventos adversos, incluindo quedas, acidentes de trânsito e overdoses fatais”, destaca Freitas.

Ainda de acordo com ele, bebidas alcoólicas são capazes de modificar o metabolismo e os efeitos farmacológicos de muitos medicamentos comuns, assim como muitos remédios podem alterar a absorção e o metabolismo do álcool.

6- O que acontece se não respeitar o intervalo indicado?

Quando há a indicação de tomar um medicamento a cada oito ou 12 horas, significa que ele foi estudado para ter um efeito durante esse período. “Não pode aumentar ou diminuir esse intervalo, porque vai ocorrer uma perda da ação. Por exemplo: tem antibiótico que deve ser tomado de oito em oito horas. Esse é o tempo que se tem de proteção. Se tomar depois de 10 ou 12 horas, a bactéria vai aprender a se defender e esse remédio não fará mais efeito”, alerta Amouni.

Para não perder o momento exato de ingerir o fármaco, há algumas estratégias, como colocar um alarme no celular.

7- Posso interromper o tratamento se eu melhorar?

Os especialistas são unânimes: o paciente não deve interromper o tratamento por conta própria. Segundo Freitas, do CFF, em casos crônicos, essa conduta pode, entre outras coisas, atrapalhar o controle da doença – há risco inclusive de o problema piorar. Maria Aparecida acrescenta que, para a proposta terapêutica ser atingida, é preciso respeitar a duração do tratamento.

Nesse aspecto, o uso de antibióticos merece atenção especial. Isso porque, ao parar de tomá-los antes da hora, o indivíduo pode contribuir para o desenvolvimento de uma cepa de bactéria ainda mais resistente. “Estamos vivendo uma fase de (surgimento de) superbactérias, e isso é decorrente do uso indevido de antibióticos”, alerta a farmacêutica da USP.

8- Se sobrar remédio, posso guardar para usar em outra ocasião? Como armazenar?

Para Amouni, se o problema retornar, o correto é o indivíduo perguntar ao médico se pode tomar o medicamento de novo. “Às vezes, a pessoa acha que os sintomas são da mesma condição de antes, mas nem sempre são”, justifica. Então, tem que confirmar com um profissional de saúde se o problema é realmente o mesmo – e se faz sentido repetir o medicamento.

Em relação aos medicamentos vendidos sem necessidade de prescrição, é necessário um cuidado com o armazenamento. O ideal é deixar em locais sem umidade, sem calor excessivo, longe da luz solar e dentro da embalagem original.

9- O remédio venceu, posso descartar?

A orientação é a seguinte: não jogue remédios no lixo comum ou na pia. O despejo nesses locais faz mal para o meio ambiente, uma vez que o medicamento pode contaminar o solo e a água. O correto é levar um produto vencido ou em desuso a drogarias e farmácias.

Uma portaria de 2020 do Governo Federal estabelece que todos os medicamentos que já não tenham mais finalidade devem ser levados a esses pontos de coleta. O indivíduo ainda pode buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa para tirar dúvidas sobre os pontos de coleta. “Consulte essas opções ou entre em contato com a farmácia para obter informações sobre o descarte apropriado na sua região”, alerta Freitas, representante do CFF.

Dentro de um universo com diferentes princípios ativos e formas de apresentação – comprimido, cápsula, líquido ou pó, por exemplo –, cada medicamento é único e desempenha uma função específica no organismo. Mas, para que um remédio cumpra o que promete, ele deve ser utilizado de acordo com as condições descritas na bula. Afinal, segundo a farmacêutica Maria Aparecida Nicoletti, responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, ele foi estudado dentro de determinadas condições.

Com isso, não existe uma regra geral e única sobre como lidar com medicações. Tudo depende da sua finalidade e das instruções contidas na embalagem. Porém, algumas questões acabam sendo um consenso entre os profissionais de saúde. Estadão conversou com farmacêuticos para tirar dúvidas corriqueiras na hora de tomar remédio.

1- Pode dividir comprimidos ao meio?

Essa é uma prática comum entre aqueles que não encontram um remédio numa dosagem específica ou que não conseguem engolir um comprimido inteiro. Para a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e professora e coordenadora do curso de farmácia da Universidade Mackenzie, seja qual for o motivo, a tática não é aconselhável.

Cada remédio foi estudado dentro de determinadas condições. Daí a importância de respeitar a bula Foto: okskaz/Adobe Stock

Se a ideia é consumir uma dosagem menor, ela explica que não há tecnologia suficiente capaz de garantir que aquele princípio ativo vai fazer o efeito total em uma metade ou outra. Agora, você deve lembrar que algumas medicações são sulcadas, ou seja, possuem uma linha que divide o comprimido. “Se não tiver esse sulco, aí é que não pode cortar mesmo”, afirma a especialista. Quando há essa divisão, Amouni comenta que ainda existe uma esperança de conseguir alguma parte razoável do princípio ativo em cada metade. Mas, no fim das contas, o ideal é evitar cortar o remédio mesmo.

Maria Aparecida observa ainda que essa prática vulnerabiliza o princípio ativo, aumentando o risco de ele irritar o estômago. “Alguns antibióticos têm um revestimento para protegê-los do suco gástrico. Se você, por exemplo, corta esse comprimido ao meio, ele vai liberar tudo isso no estômago e, provavelmente, a acidez vai afetar a estabilidade desse fármaco”, descreve. Ela ainda lembra que os fármacos são desenhados para liberar o princípio ativo aos poucos. Ao parti-los, essa característica se perde.

2- Mas e se eu não conseguir engolir comprimidos?

Uma das soluções apontadas pelo farmacêutico Gabriel Freitas, consultor do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é avaliar a possibilidade de recorrer à uma farmácia de manipulação para a produção de um fármaco em uma apresentação mais fácil de ser ingerida. Por exemplo: há princípios ativos que podem ser oferecidos no formato líquido.

3- Posso abrir uma cápsula e diluir o conteúdo na bebida ou misturar à comida?

Essa é outra estratégia usada por quem tem dificuldade de engolir medicamentos. Mas, segundo os especialistas, a resposta também é não. Isso porque as cápsulas são feitas para proteger o princípio ativo, possibilitando que ele seja liberado apenas no local correto. Ao se desfazer dessa blindagem, é possível que o remédio perca parte de seu efeito.

E, de novo, Maria Aparecida frisa que o conteúdo liberado pode causar irritação no estômago. Fora que há a possibilidade de ele interagir com o líquido ou a comida, o que nos leva ao próximo ponto.

4- Medicamentos interagem com os alimentos?

Ficou claro que não é correto abrir cápsulas e misturar seu conteúdo na bebida ou comida. Mas e engolir remédios inteiros durante as refeições? Nesse caso, o indicado é ler a bula. Segundo os especialistas, os medicamentos podem interagir com a comida, culminando em uma redução ou exacerbação de seus efeitos – mas isso está longe de ser uma regra.

“Cada medicamento foi estudado dentro de determinadas condições, e o resultado que se espera dele depende de que seja utilizado conforme a descrição na bula”, resume Maria Aparecida.

A farmacêutica da USP observa que medicamentos para a tireoide, por exemplo, têm indicação de uso em jejum. Por outro lado, a metformina, droga recomendada a quem tem diabetes, pode ser ingerida com a comida. “Quem toma lítio, que é para estabilização de humor, também pode fazer isso junto com a comida”, acrescenta Amouni.

Agora, se você não estiver com a bula por perto, o melhor é evitar a combinação entre medicamentos e comida devido ao risco de interação. Se possível, procure um farmacêutico para orientação. Se descobrir que o remédio tem que ser tomado em jejum, Amouni sugere verificar também quanto tempo depois de engoli-lo é preciso esperar para se alimentar.

5- Posso tomar remédio com outros líquidos além da água?

No geral, a recomendação é sempre com água e nunca com nenhuma bebida alcoólica. A água auxilia na passagem do medicamento da boca para o estômago, fazendo com que seja absorvido da maneira desejada. Outros líquidos, no entanto, podem mudar a constituição da droga. Por exemplo: o refrigerante, que geralmente é ácido, pode destruir o medicamento antes mesmo de ele chegar ao ponto de absorção, lembra Amouni.

Na hora de tomar remédio, o ideal é recorrer à água Foto: fizkes/Adobe Stock

O álcool, por sua vez, pode intensificar alguns efeitos ou influenciar negativamente na eficácia do remédio. “Combinar álcool com certos medicamentos, especialmente aqueles com efeitos sedativos, pode aumentar o risco de eventos adversos, incluindo quedas, acidentes de trânsito e overdoses fatais”, destaca Freitas.

Ainda de acordo com ele, bebidas alcoólicas são capazes de modificar o metabolismo e os efeitos farmacológicos de muitos medicamentos comuns, assim como muitos remédios podem alterar a absorção e o metabolismo do álcool.

6- O que acontece se não respeitar o intervalo indicado?

Quando há a indicação de tomar um medicamento a cada oito ou 12 horas, significa que ele foi estudado para ter um efeito durante esse período. “Não pode aumentar ou diminuir esse intervalo, porque vai ocorrer uma perda da ação. Por exemplo: tem antibiótico que deve ser tomado de oito em oito horas. Esse é o tempo que se tem de proteção. Se tomar depois de 10 ou 12 horas, a bactéria vai aprender a se defender e esse remédio não fará mais efeito”, alerta Amouni.

Para não perder o momento exato de ingerir o fármaco, há algumas estratégias, como colocar um alarme no celular.

7- Posso interromper o tratamento se eu melhorar?

Os especialistas são unânimes: o paciente não deve interromper o tratamento por conta própria. Segundo Freitas, do CFF, em casos crônicos, essa conduta pode, entre outras coisas, atrapalhar o controle da doença – há risco inclusive de o problema piorar. Maria Aparecida acrescenta que, para a proposta terapêutica ser atingida, é preciso respeitar a duração do tratamento.

Nesse aspecto, o uso de antibióticos merece atenção especial. Isso porque, ao parar de tomá-los antes da hora, o indivíduo pode contribuir para o desenvolvimento de uma cepa de bactéria ainda mais resistente. “Estamos vivendo uma fase de (surgimento de) superbactérias, e isso é decorrente do uso indevido de antibióticos”, alerta a farmacêutica da USP.

8- Se sobrar remédio, posso guardar para usar em outra ocasião? Como armazenar?

Para Amouni, se o problema retornar, o correto é o indivíduo perguntar ao médico se pode tomar o medicamento de novo. “Às vezes, a pessoa acha que os sintomas são da mesma condição de antes, mas nem sempre são”, justifica. Então, tem que confirmar com um profissional de saúde se o problema é realmente o mesmo – e se faz sentido repetir o medicamento.

Em relação aos medicamentos vendidos sem necessidade de prescrição, é necessário um cuidado com o armazenamento. O ideal é deixar em locais sem umidade, sem calor excessivo, longe da luz solar e dentro da embalagem original.

9- O remédio venceu, posso descartar?

A orientação é a seguinte: não jogue remédios no lixo comum ou na pia. O despejo nesses locais faz mal para o meio ambiente, uma vez que o medicamento pode contaminar o solo e a água. O correto é levar um produto vencido ou em desuso a drogarias e farmácias.

Uma portaria de 2020 do Governo Federal estabelece que todos os medicamentos que já não tenham mais finalidade devem ser levados a esses pontos de coleta. O indivíduo ainda pode buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa para tirar dúvidas sobre os pontos de coleta. “Consulte essas opções ou entre em contato com a farmácia para obter informações sobre o descarte apropriado na sua região”, alerta Freitas, representante do CFF.

Dentro de um universo com diferentes princípios ativos e formas de apresentação – comprimido, cápsula, líquido ou pó, por exemplo –, cada medicamento é único e desempenha uma função específica no organismo. Mas, para que um remédio cumpra o que promete, ele deve ser utilizado de acordo com as condições descritas na bula. Afinal, segundo a farmacêutica Maria Aparecida Nicoletti, responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, ele foi estudado dentro de determinadas condições.

Com isso, não existe uma regra geral e única sobre como lidar com medicações. Tudo depende da sua finalidade e das instruções contidas na embalagem. Porém, algumas questões acabam sendo um consenso entre os profissionais de saúde. Estadão conversou com farmacêuticos para tirar dúvidas corriqueiras na hora de tomar remédio.

1- Pode dividir comprimidos ao meio?

Essa é uma prática comum entre aqueles que não encontram um remédio numa dosagem específica ou que não conseguem engolir um comprimido inteiro. Para a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e professora e coordenadora do curso de farmácia da Universidade Mackenzie, seja qual for o motivo, a tática não é aconselhável.

Cada remédio foi estudado dentro de determinadas condições. Daí a importância de respeitar a bula Foto: okskaz/Adobe Stock

Se a ideia é consumir uma dosagem menor, ela explica que não há tecnologia suficiente capaz de garantir que aquele princípio ativo vai fazer o efeito total em uma metade ou outra. Agora, você deve lembrar que algumas medicações são sulcadas, ou seja, possuem uma linha que divide o comprimido. “Se não tiver esse sulco, aí é que não pode cortar mesmo”, afirma a especialista. Quando há essa divisão, Amouni comenta que ainda existe uma esperança de conseguir alguma parte razoável do princípio ativo em cada metade. Mas, no fim das contas, o ideal é evitar cortar o remédio mesmo.

Maria Aparecida observa ainda que essa prática vulnerabiliza o princípio ativo, aumentando o risco de ele irritar o estômago. “Alguns antibióticos têm um revestimento para protegê-los do suco gástrico. Se você, por exemplo, corta esse comprimido ao meio, ele vai liberar tudo isso no estômago e, provavelmente, a acidez vai afetar a estabilidade desse fármaco”, descreve. Ela ainda lembra que os fármacos são desenhados para liberar o princípio ativo aos poucos. Ao parti-los, essa característica se perde.

2- Mas e se eu não conseguir engolir comprimidos?

Uma das soluções apontadas pelo farmacêutico Gabriel Freitas, consultor do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é avaliar a possibilidade de recorrer à uma farmácia de manipulação para a produção de um fármaco em uma apresentação mais fácil de ser ingerida. Por exemplo: há princípios ativos que podem ser oferecidos no formato líquido.

3- Posso abrir uma cápsula e diluir o conteúdo na bebida ou misturar à comida?

Essa é outra estratégia usada por quem tem dificuldade de engolir medicamentos. Mas, segundo os especialistas, a resposta também é não. Isso porque as cápsulas são feitas para proteger o princípio ativo, possibilitando que ele seja liberado apenas no local correto. Ao se desfazer dessa blindagem, é possível que o remédio perca parte de seu efeito.

E, de novo, Maria Aparecida frisa que o conteúdo liberado pode causar irritação no estômago. Fora que há a possibilidade de ele interagir com o líquido ou a comida, o que nos leva ao próximo ponto.

4- Medicamentos interagem com os alimentos?

Ficou claro que não é correto abrir cápsulas e misturar seu conteúdo na bebida ou comida. Mas e engolir remédios inteiros durante as refeições? Nesse caso, o indicado é ler a bula. Segundo os especialistas, os medicamentos podem interagir com a comida, culminando em uma redução ou exacerbação de seus efeitos – mas isso está longe de ser uma regra.

“Cada medicamento foi estudado dentro de determinadas condições, e o resultado que se espera dele depende de que seja utilizado conforme a descrição na bula”, resume Maria Aparecida.

A farmacêutica da USP observa que medicamentos para a tireoide, por exemplo, têm indicação de uso em jejum. Por outro lado, a metformina, droga recomendada a quem tem diabetes, pode ser ingerida com a comida. “Quem toma lítio, que é para estabilização de humor, também pode fazer isso junto com a comida”, acrescenta Amouni.

Agora, se você não estiver com a bula por perto, o melhor é evitar a combinação entre medicamentos e comida devido ao risco de interação. Se possível, procure um farmacêutico para orientação. Se descobrir que o remédio tem que ser tomado em jejum, Amouni sugere verificar também quanto tempo depois de engoli-lo é preciso esperar para se alimentar.

5- Posso tomar remédio com outros líquidos além da água?

No geral, a recomendação é sempre com água e nunca com nenhuma bebida alcoólica. A água auxilia na passagem do medicamento da boca para o estômago, fazendo com que seja absorvido da maneira desejada. Outros líquidos, no entanto, podem mudar a constituição da droga. Por exemplo: o refrigerante, que geralmente é ácido, pode destruir o medicamento antes mesmo de ele chegar ao ponto de absorção, lembra Amouni.

Na hora de tomar remédio, o ideal é recorrer à água Foto: fizkes/Adobe Stock

O álcool, por sua vez, pode intensificar alguns efeitos ou influenciar negativamente na eficácia do remédio. “Combinar álcool com certos medicamentos, especialmente aqueles com efeitos sedativos, pode aumentar o risco de eventos adversos, incluindo quedas, acidentes de trânsito e overdoses fatais”, destaca Freitas.

Ainda de acordo com ele, bebidas alcoólicas são capazes de modificar o metabolismo e os efeitos farmacológicos de muitos medicamentos comuns, assim como muitos remédios podem alterar a absorção e o metabolismo do álcool.

6- O que acontece se não respeitar o intervalo indicado?

Quando há a indicação de tomar um medicamento a cada oito ou 12 horas, significa que ele foi estudado para ter um efeito durante esse período. “Não pode aumentar ou diminuir esse intervalo, porque vai ocorrer uma perda da ação. Por exemplo: tem antibiótico que deve ser tomado de oito em oito horas. Esse é o tempo que se tem de proteção. Se tomar depois de 10 ou 12 horas, a bactéria vai aprender a se defender e esse remédio não fará mais efeito”, alerta Amouni.

Para não perder o momento exato de ingerir o fármaco, há algumas estratégias, como colocar um alarme no celular.

7- Posso interromper o tratamento se eu melhorar?

Os especialistas são unânimes: o paciente não deve interromper o tratamento por conta própria. Segundo Freitas, do CFF, em casos crônicos, essa conduta pode, entre outras coisas, atrapalhar o controle da doença – há risco inclusive de o problema piorar. Maria Aparecida acrescenta que, para a proposta terapêutica ser atingida, é preciso respeitar a duração do tratamento.

Nesse aspecto, o uso de antibióticos merece atenção especial. Isso porque, ao parar de tomá-los antes da hora, o indivíduo pode contribuir para o desenvolvimento de uma cepa de bactéria ainda mais resistente. “Estamos vivendo uma fase de (surgimento de) superbactérias, e isso é decorrente do uso indevido de antibióticos”, alerta a farmacêutica da USP.

8- Se sobrar remédio, posso guardar para usar em outra ocasião? Como armazenar?

Para Amouni, se o problema retornar, o correto é o indivíduo perguntar ao médico se pode tomar o medicamento de novo. “Às vezes, a pessoa acha que os sintomas são da mesma condição de antes, mas nem sempre são”, justifica. Então, tem que confirmar com um profissional de saúde se o problema é realmente o mesmo – e se faz sentido repetir o medicamento.

Em relação aos medicamentos vendidos sem necessidade de prescrição, é necessário um cuidado com o armazenamento. O ideal é deixar em locais sem umidade, sem calor excessivo, longe da luz solar e dentro da embalagem original.

9- O remédio venceu, posso descartar?

A orientação é a seguinte: não jogue remédios no lixo comum ou na pia. O despejo nesses locais faz mal para o meio ambiente, uma vez que o medicamento pode contaminar o solo e a água. O correto é levar um produto vencido ou em desuso a drogarias e farmácias.

Uma portaria de 2020 do Governo Federal estabelece que todos os medicamentos que já não tenham mais finalidade devem ser levados a esses pontos de coleta. O indivíduo ainda pode buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa para tirar dúvidas sobre os pontos de coleta. “Consulte essas opções ou entre em contato com a farmácia para obter informações sobre o descarte apropriado na sua região”, alerta Freitas, representante do CFF.

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