Apesar de o Plano Nacional de Imunização (PNI) ter completado 50 anos e o Brasil ser reconhecido como um país com forte cultura de vacinação, boa parte da população ainda tem dúvidas em relação aos cuidados que deve ter antes e depois da picada.
De olho nisso, o Estadão reuniu as questões mais comuns relacionadas ao tema e ouviu especialistas no assunto.
Posso tomar vacina se estiver gripado?
A vacina da gripe está sendo distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas algumas pessoas têm evitado tomá-la por já estarem gripadas. Acontece que esse não é um fator impeditivo para receber a dose.
“Se estiver com tosse e nariz escorrendo, pode tomar sem problemas”, assegura Miriam Macedo, enfermeira e professora coordenadora do projeto de educação permanente em saúde do Vacina Bahia, do governo do Estado. “O que não pode é se vacinar em caso de febre”, pondera. Essa regrinha vale para todas as vacinas – não só a da gripe.
A infectologista Raquel Stucchi, professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), frisa ainda que o motivo da febre não importa. “O objetivo é não atrapalhar a investigação de uma eventual reação adversa à vacina”, justifica. Ou seja, não tem a ver com nenhum risco propriamente dito.
Se a febre sumir completamente por um período de pelo menos 48 horas, o indivíduo já pode ser vacinado.
No site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é informado que “a gripe não constitui uma contraindicação formal à aplicação da vacina” e que a imunização não deve ser realizada apenas “em casos de doença febril aguda que comprometa o estado geral de saúde”.
O órgão orienta ainda que o paciente pode pedir a um médico especialista ou ao próprio vacinador para examinar seu quadro clínico antes de ser imunizado.
Quando não tomar vacina?
A presença de febre é um dos únicos empecilhos para pausar o cronograma vacinal. Outra contraindicação diz respeito à ocorrência de reação alérgica grave após uso de algum componente da vacina ou dose anterior.
Que tipo de alergia devo levar em conta antes de tomar vacina?
Vermelhidão e coceira no local da picada da agulha não são sinais de que você é alérgico ao imunizante. “Essa ressalva é apenas para os casos graves, que fizeram o paciente buscar uma unidade de saúde e receber a confirmação de reação alérgica”, explica a médica.
Segundo o site da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), as manifestações realmente preocupantes podem ser representadas por asma, eczema, rinite, urticária, anafilaxia etc.
A anafilaxia é a reação alérgica considerada mais grave, e acontece de forma imediata. Mas a Sbim reforça que sua ocorrência é rara.
Fora isso, apenas a alergia ao ovo deve ser considerada antes da imunização – e, mesmo assim, depende do tipo de vacina que a pessoa irá tomar. “A vacina contra a febre amarela, por exemplo, só pode ser dada às crianças que já consumiram esse alimento”, destaca a enfermeira.
Ainda de acordo com ela, o mesmo raciocínio serve para os adultos. “Quem teve um quadro de alergia após comer o alimento em si ou bolos e massas feitos com ele, deve ficar atento”, informa.
Por outro lado, a alergia ao ovo não é uma contraindicação para receber, por exemplo, as vacinas contra a covid-19, já que não há resquícios do alimento nesses imunizantes.
É possível ficar gripado depois de tomar a vacina da gripe?
Da mesma forma que vermelhidão e coceira não representam claramente um quadro de alergia à vacina, as sensações de cansaço e “corpo quebrado” não significam necessariamente um quadro gripal. Cabe ressaltar que a vacina só vai oferecer proteção contra a doença em aproximadamente 15 dias. “Então, até lá você pode contrair o vírus influenza e manifestar os sintomas”, enfatiza a professora do Vacina Bahia.
Também há a possibilidade de se contaminar antes da vacinação.
Vale ressaltar ainda que nenhuma vacina é 100% eficaz. A Sbim informa “que algumas vacinas não conseguem evitar a doença por completo, mas amenizam a sua gravidade”.
Um exemplo é justamente a vacina contra o vírus influenza. Quando aplicada em grupos de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas, ela nem sempre evitará a gripe. “Mas a vacinação adequada reduzirá de modo significativo o risco de complicações, como internações ou até mesmo óbito”, esclarece a Sbim.
Posso tomar vacina se estiver usando antibiótico?
De acordo com Stucchi, nenhuma vacina justifica a interrupção do uso de medicamentos – seja um antibiótico ou remédios contra diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas. “Você deve continuar usando o medicamento conforme a indicação do seu médico”, resume a infectologista.
Esse conselho é especialmente importante para o grupo dos imunossuprimidos, ou seja, indivíduos que, por algum motivo, têm uma imunidade mais fraca.
A depender do quadro individual, eles tendem inclusive a ser priorizados nas campanhas de vacinação. Afinal, devido à baixa imunidade, essas pessoas correm maior risco de apresentarem complicações quando pegam doenças.
Posso tomar as vacinas de covid e gripe juntas?
“A preferência é exatamente aplicar as duas no mesmo momento, para não correr o risco de a pessoa esquecer e ficar sem uma delas”, esclarece a enfermeira baiana. A dica é válida para todos os tipos de vacinas contra a covid e em qualquer momento da imunização – primeiras doses, reforço ou aplicação da vacina bivalente.
A professora da Unicamp explica que novos estudos já confirmam que, para quem já tomou um dos dois imunizantes, não é preciso intervalo entre as doses.
Entretanto, no programa Vacina Bahia, segundo Macedo, caso as vacinas da gripe e da covid não sejam oferecidas no mesmo dia, aí se pede um intervalo de 15 dias entre as doses.
O informe técnico operacional da vacinação contra o influenza, divulgado pelo Ministério da Saúde em março de 2023, diz apenas que ambas podem ser tomadas juntas, sem especificar sobre o intervalo entre elas caso uma seja aplicada primeiro.
Em relação a outros tipos de imunizantes, a Sbim esclarece que “a aplicação conjunta de vacinas apropriadas para esse tipo de procedimento não implica em riscos para a saúde”.
De acordo com a entidade, nosso organismo está preparado para responder de forma adequada a esse tipo de procedimento.
Pode doar sangue depois da vacina de gripe?
A mesma nota técnica do Ministério alerta que é necessário aguardar 48 horas entre a aplicação do imunizante e a doação de sangue. Os recém-vacinados são considerados inaptos temporariamente.
Grávidas podem se vacinar contra a gripe?
A médica da SBI é taxativa: “Não só podem, como devem”.
Stucchi argumenta que as gestantes, assim como os imunossuprimidos e idosos, correm maior risco de complicações caso tenham gripe. “Elas podem enfrentar problemas na evolução da gravidez, como trabalho de parto prematuro, ou um quadro de pneumonia causado pelo vírus da gripe”, exemplifica.
Quais vacinas as gestantes não podem tomar?
Segundo Macedo, as grávidas devem tomar as vacinas contra a hepatite, anti-tetânica e a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (DTPA), além das vacinas de campanha para influenza.
No caso do imunizante contra a covid, apenas as marcas Pfizer e Sinovac (Coronavac) estão liberadas. Por outro lado, as gestantes não podem receber vacinas feitas com vírus enfraquecido. São elas: a da varicela (que protege contra a catapora) e a tríplice viral (que combate sarampo, caxumba e rubéola).
Há uma recomendação inicial para se evitar também a vacina da febre amarela entre as gestantes. Porém, caso o risco de a mulher se infectar seja muito grande, aí se abre uma exceção. “É preciso a avaliação de um médico ou enfermeiro especializado em vacina para avaliar essa questão do risco/benefício”, avisa Stucchi.
A infectologista ressalta ainda que, quando for liberada à população, a vacina contra a dengue não será disponibilizada às gestantes.
Tomei a vacina de covid grávida, devo vacinar meu filho?
Mesmo que a imunização tenha acontecido durante a gravidez, é recomendado vacinar bebês e crianças. A aplicação deve ocorrer após os seis meses de vida do bebê.
Pode beber álcool depois de tomar vacina?
Essa é uma dúvida que se tornou frequente durante a pandemia de coronavírus. As especialistas deixam claro que não há problemas em ingerir bebidas alcoólicas nesse momento. “Pode beber e tomar vacina, só não pode dirigir depois de beber”, ressalta Stucchi.