Poliomielite: Saneamento básico deficiente no País reforça necessidade de vacinação


Doença tem transmissão diretamente ligada à rede de água e esgoto; baixos índices de imunização no País preocupam especialistas

Por Ana Luiza Antunes, Camila Santos, Guilherme Santiago e Isabel Gomes

Quase três décadas após a erradicação da poliomielite no Brasil, o cenário precário do saneamento básico no País alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade da imunização contra a doença. No último dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral em fezes na região – o caso, no entanto, não significa a volta da doença.

Como se trata de um vírus transmitido via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da pólio, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso a água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil.  A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% do esgoto tratado.

Apesar de ser menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados. “A ausência do saneamento faz com que haja um maior contato com o vírus da poliomielite, seja na hora de consumir um alimento infectado ou brincar em uma vala a céu aberto”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil, uma organização da sociedade civil.

continua após a publicidade

Antes da erradicação da pólio, o saneamento foi um dos fatores que potencializaram a epidemia no País, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, falta de banheiros e más condições habitacionais eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de se resolver porque exige um volume grande de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.

Hoje, as regiões Norte e Nordeste concentram as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e somente 13,1% da população nos Estados do Norte. De acordo com o ranking de saneamento básico do Trata Brasil, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do País tratam mais de 80% do esgoto.

continua após a publicidade

O panorama é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no País, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior de Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e não protegida”, afirma. “Espero que não tenhamos um grande volume de doentes de uma só vez, porque, se tivermos, teremos hospitais despreparados para atender as diferentes doenças que podem voltar a ser registradas.”

Ameaça

Considerada uma doença altamente contagiosa, a poliomielite foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Neste ano e pela primeira vez, em três décadas, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef emitiram um alerta vermelho para a iminência de um novo surto de poliomielite no País.

continua após a publicidade

A advertência coincide com a queda na cobertura vacinal contra a pólio no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde, e com o aumento na probabilidade de transmissão no mundo após partículas virais da poliomielite terem sido identificadas nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação em aeroportos. Soma-se a isso o fato de que a doença ainda é endêmica e não foi erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.

“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça da poliomielite está muito mais próxima do que se imagina. Talvez tenha aparecido lá (nos Estados Unidos) porque eles têm uma cobertura vacinal menor há mais tempo. É uma questão de tempo para começarmos a detectar também no Brasil os primeiros esgotos contaminados”, alerta Danise Senna Oliveira, professora adjunta de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.

Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a médica pediatra Mônica Tilli é enfática: “Nunca poderemos parar de vacinar até a erradicação da doença no mundo inteiro”. A constatação é endossada também por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento na cobertura vacinal. “Precisamos falar para população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só irá acontecer quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz.

continua após a publicidade
Brasil está abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde para imunização contra poliomielite. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tire suas dúvidas

Tem outras dúvidas sobre a imunização infantil? Participe dos nossos grupos oficiais! No canal Vacina Estadão, no Telegram, e no grupo Vem pensar com a gente, no Facebook, leitores podem enviar as suas perguntas e se informar com qualidade.

continua após a publicidade

Durante um mês, especialistas e autoridades na área da saúde vão esclarecer questões relacionadas à vacinação infantil. Quer saber mais? Entre no canal Vacina Estadão no Telegram e na comunidade Vem pensar com a gente, do Estadão no Facebook.

Saiba mais sobre a doença

Poliomielite

continua após a publicidade

Existem três sorotipos do poliovírus: tipo 1, ainda em circulação em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e tipo 2 e 3, que já foram erradicadas no mundo.

Como se dissemina?

Por ser uma doença infecciosa, a pólio pode ser transmitida pelas fezes humanas ou por secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.

Risco de transmissão

Afeta principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e costuma ser assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.

Sintomas

Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômito, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.

Sequelas

Sintomas da poliomielite podem voltar a aparecer décadas depois da infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada pelas frequentes dores e fraqueza nas articulações, membros tortos como consequência da paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma das pernas e hipersensibilidade ao toque.

Fonte: Ministério da Saúde

Quase três décadas após a erradicação da poliomielite no Brasil, o cenário precário do saneamento básico no País alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade da imunização contra a doença. No último dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral em fezes na região – o caso, no entanto, não significa a volta da doença.

Como se trata de um vírus transmitido via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da pólio, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso a água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil.  A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% do esgoto tratado.

Apesar de ser menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados. “A ausência do saneamento faz com que haja um maior contato com o vírus da poliomielite, seja na hora de consumir um alimento infectado ou brincar em uma vala a céu aberto”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil, uma organização da sociedade civil.

Antes da erradicação da pólio, o saneamento foi um dos fatores que potencializaram a epidemia no País, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, falta de banheiros e más condições habitacionais eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de se resolver porque exige um volume grande de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.

Hoje, as regiões Norte e Nordeste concentram as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e somente 13,1% da população nos Estados do Norte. De acordo com o ranking de saneamento básico do Trata Brasil, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do País tratam mais de 80% do esgoto.

O panorama é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no País, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior de Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e não protegida”, afirma. “Espero que não tenhamos um grande volume de doentes de uma só vez, porque, se tivermos, teremos hospitais despreparados para atender as diferentes doenças que podem voltar a ser registradas.”

Ameaça

Considerada uma doença altamente contagiosa, a poliomielite foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Neste ano e pela primeira vez, em três décadas, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef emitiram um alerta vermelho para a iminência de um novo surto de poliomielite no País.

A advertência coincide com a queda na cobertura vacinal contra a pólio no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde, e com o aumento na probabilidade de transmissão no mundo após partículas virais da poliomielite terem sido identificadas nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação em aeroportos. Soma-se a isso o fato de que a doença ainda é endêmica e não foi erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.

“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça da poliomielite está muito mais próxima do que se imagina. Talvez tenha aparecido lá (nos Estados Unidos) porque eles têm uma cobertura vacinal menor há mais tempo. É uma questão de tempo para começarmos a detectar também no Brasil os primeiros esgotos contaminados”, alerta Danise Senna Oliveira, professora adjunta de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.

Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a médica pediatra Mônica Tilli é enfática: “Nunca poderemos parar de vacinar até a erradicação da doença no mundo inteiro”. A constatação é endossada também por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento na cobertura vacinal. “Precisamos falar para população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só irá acontecer quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz.

Brasil está abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde para imunização contra poliomielite. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tire suas dúvidas

Tem outras dúvidas sobre a imunização infantil? Participe dos nossos grupos oficiais! No canal Vacina Estadão, no Telegram, e no grupo Vem pensar com a gente, no Facebook, leitores podem enviar as suas perguntas e se informar com qualidade.

Durante um mês, especialistas e autoridades na área da saúde vão esclarecer questões relacionadas à vacinação infantil. Quer saber mais? Entre no canal Vacina Estadão no Telegram e na comunidade Vem pensar com a gente, do Estadão no Facebook.

Saiba mais sobre a doença

Poliomielite

Existem três sorotipos do poliovírus: tipo 1, ainda em circulação em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e tipo 2 e 3, que já foram erradicadas no mundo.

Como se dissemina?

Por ser uma doença infecciosa, a pólio pode ser transmitida pelas fezes humanas ou por secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.

Risco de transmissão

Afeta principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e costuma ser assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.

Sintomas

Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômito, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.

Sequelas

Sintomas da poliomielite podem voltar a aparecer décadas depois da infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada pelas frequentes dores e fraqueza nas articulações, membros tortos como consequência da paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma das pernas e hipersensibilidade ao toque.

Fonte: Ministério da Saúde

Quase três décadas após a erradicação da poliomielite no Brasil, o cenário precário do saneamento básico no País alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade da imunização contra a doença. No último dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral em fezes na região – o caso, no entanto, não significa a volta da doença.

Como se trata de um vírus transmitido via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da pólio, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso a água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil.  A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% do esgoto tratado.

Apesar de ser menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados. “A ausência do saneamento faz com que haja um maior contato com o vírus da poliomielite, seja na hora de consumir um alimento infectado ou brincar em uma vala a céu aberto”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil, uma organização da sociedade civil.

Antes da erradicação da pólio, o saneamento foi um dos fatores que potencializaram a epidemia no País, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, falta de banheiros e más condições habitacionais eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de se resolver porque exige um volume grande de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.

Hoje, as regiões Norte e Nordeste concentram as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e somente 13,1% da população nos Estados do Norte. De acordo com o ranking de saneamento básico do Trata Brasil, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do País tratam mais de 80% do esgoto.

O panorama é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no País, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior de Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e não protegida”, afirma. “Espero que não tenhamos um grande volume de doentes de uma só vez, porque, se tivermos, teremos hospitais despreparados para atender as diferentes doenças que podem voltar a ser registradas.”

Ameaça

Considerada uma doença altamente contagiosa, a poliomielite foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Neste ano e pela primeira vez, em três décadas, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef emitiram um alerta vermelho para a iminência de um novo surto de poliomielite no País.

A advertência coincide com a queda na cobertura vacinal contra a pólio no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde, e com o aumento na probabilidade de transmissão no mundo após partículas virais da poliomielite terem sido identificadas nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação em aeroportos. Soma-se a isso o fato de que a doença ainda é endêmica e não foi erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.

“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça da poliomielite está muito mais próxima do que se imagina. Talvez tenha aparecido lá (nos Estados Unidos) porque eles têm uma cobertura vacinal menor há mais tempo. É uma questão de tempo para começarmos a detectar também no Brasil os primeiros esgotos contaminados”, alerta Danise Senna Oliveira, professora adjunta de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.

Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a médica pediatra Mônica Tilli é enfática: “Nunca poderemos parar de vacinar até a erradicação da doença no mundo inteiro”. A constatação é endossada também por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento na cobertura vacinal. “Precisamos falar para população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só irá acontecer quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz.

Brasil está abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde para imunização contra poliomielite. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tire suas dúvidas

Tem outras dúvidas sobre a imunização infantil? Participe dos nossos grupos oficiais! No canal Vacina Estadão, no Telegram, e no grupo Vem pensar com a gente, no Facebook, leitores podem enviar as suas perguntas e se informar com qualidade.

Durante um mês, especialistas e autoridades na área da saúde vão esclarecer questões relacionadas à vacinação infantil. Quer saber mais? Entre no canal Vacina Estadão no Telegram e na comunidade Vem pensar com a gente, do Estadão no Facebook.

Saiba mais sobre a doença

Poliomielite

Existem três sorotipos do poliovírus: tipo 1, ainda em circulação em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e tipo 2 e 3, que já foram erradicadas no mundo.

Como se dissemina?

Por ser uma doença infecciosa, a pólio pode ser transmitida pelas fezes humanas ou por secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.

Risco de transmissão

Afeta principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e costuma ser assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.

Sintomas

Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômito, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.

Sequelas

Sintomas da poliomielite podem voltar a aparecer décadas depois da infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada pelas frequentes dores e fraqueza nas articulações, membros tortos como consequência da paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma das pernas e hipersensibilidade ao toque.

Fonte: Ministério da Saúde

Quase três décadas após a erradicação da poliomielite no Brasil, o cenário precário do saneamento básico no País alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade da imunização contra a doença. No último dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral em fezes na região – o caso, no entanto, não significa a volta da doença.

Como se trata de um vírus transmitido via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da pólio, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso a água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil.  A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% do esgoto tratado.

Apesar de ser menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados. “A ausência do saneamento faz com que haja um maior contato com o vírus da poliomielite, seja na hora de consumir um alimento infectado ou brincar em uma vala a céu aberto”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil, uma organização da sociedade civil.

Antes da erradicação da pólio, o saneamento foi um dos fatores que potencializaram a epidemia no País, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, falta de banheiros e más condições habitacionais eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de se resolver porque exige um volume grande de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.

Hoje, as regiões Norte e Nordeste concentram as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e somente 13,1% da população nos Estados do Norte. De acordo com o ranking de saneamento básico do Trata Brasil, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do País tratam mais de 80% do esgoto.

O panorama é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no País, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior de Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e não protegida”, afirma. “Espero que não tenhamos um grande volume de doentes de uma só vez, porque, se tivermos, teremos hospitais despreparados para atender as diferentes doenças que podem voltar a ser registradas.”

Ameaça

Considerada uma doença altamente contagiosa, a poliomielite foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Neste ano e pela primeira vez, em três décadas, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef emitiram um alerta vermelho para a iminência de um novo surto de poliomielite no País.

A advertência coincide com a queda na cobertura vacinal contra a pólio no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde, e com o aumento na probabilidade de transmissão no mundo após partículas virais da poliomielite terem sido identificadas nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação em aeroportos. Soma-se a isso o fato de que a doença ainda é endêmica e não foi erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.

“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça da poliomielite está muito mais próxima do que se imagina. Talvez tenha aparecido lá (nos Estados Unidos) porque eles têm uma cobertura vacinal menor há mais tempo. É uma questão de tempo para começarmos a detectar também no Brasil os primeiros esgotos contaminados”, alerta Danise Senna Oliveira, professora adjunta de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.

Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a médica pediatra Mônica Tilli é enfática: “Nunca poderemos parar de vacinar até a erradicação da doença no mundo inteiro”. A constatação é endossada também por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento na cobertura vacinal. “Precisamos falar para população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só irá acontecer quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz.

Brasil está abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde para imunização contra poliomielite. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tire suas dúvidas

Tem outras dúvidas sobre a imunização infantil? Participe dos nossos grupos oficiais! No canal Vacina Estadão, no Telegram, e no grupo Vem pensar com a gente, no Facebook, leitores podem enviar as suas perguntas e se informar com qualidade.

Durante um mês, especialistas e autoridades na área da saúde vão esclarecer questões relacionadas à vacinação infantil. Quer saber mais? Entre no canal Vacina Estadão no Telegram e na comunidade Vem pensar com a gente, do Estadão no Facebook.

Saiba mais sobre a doença

Poliomielite

Existem três sorotipos do poliovírus: tipo 1, ainda em circulação em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e tipo 2 e 3, que já foram erradicadas no mundo.

Como se dissemina?

Por ser uma doença infecciosa, a pólio pode ser transmitida pelas fezes humanas ou por secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.

Risco de transmissão

Afeta principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e costuma ser assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.

Sintomas

Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômito, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.

Sequelas

Sintomas da poliomielite podem voltar a aparecer décadas depois da infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada pelas frequentes dores e fraqueza nas articulações, membros tortos como consequência da paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma das pernas e hipersensibilidade ao toque.

Fonte: Ministério da Saúde

Quase três décadas após a erradicação da poliomielite no Brasil, o cenário precário do saneamento básico no País alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade da imunização contra a doença. No último dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral em fezes na região – o caso, no entanto, não significa a volta da doença.

Como se trata de um vírus transmitido via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da pólio, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso a água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil.  A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% do esgoto tratado.

Apesar de ser menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados. “A ausência do saneamento faz com que haja um maior contato com o vírus da poliomielite, seja na hora de consumir um alimento infectado ou brincar em uma vala a céu aberto”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil, uma organização da sociedade civil.

Antes da erradicação da pólio, o saneamento foi um dos fatores que potencializaram a epidemia no País, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, falta de banheiros e más condições habitacionais eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de se resolver porque exige um volume grande de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.

Hoje, as regiões Norte e Nordeste concentram as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e somente 13,1% da população nos Estados do Norte. De acordo com o ranking de saneamento básico do Trata Brasil, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do País tratam mais de 80% do esgoto.

O panorama é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no País, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior de Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e não protegida”, afirma. “Espero que não tenhamos um grande volume de doentes de uma só vez, porque, se tivermos, teremos hospitais despreparados para atender as diferentes doenças que podem voltar a ser registradas.”

Ameaça

Considerada uma doença altamente contagiosa, a poliomielite foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Neste ano e pela primeira vez, em três décadas, a Organização Mundial da Saúde e a Unicef emitiram um alerta vermelho para a iminência de um novo surto de poliomielite no País.

A advertência coincide com a queda na cobertura vacinal contra a pólio no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde, e com o aumento na probabilidade de transmissão no mundo após partículas virais da poliomielite terem sido identificadas nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação em aeroportos. Soma-se a isso o fato de que a doença ainda é endêmica e não foi erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.

“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça da poliomielite está muito mais próxima do que se imagina. Talvez tenha aparecido lá (nos Estados Unidos) porque eles têm uma cobertura vacinal menor há mais tempo. É uma questão de tempo para começarmos a detectar também no Brasil os primeiros esgotos contaminados”, alerta Danise Senna Oliveira, professora adjunta de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.

Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a médica pediatra Mônica Tilli é enfática: “Nunca poderemos parar de vacinar até a erradicação da doença no mundo inteiro”. A constatação é endossada também por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento na cobertura vacinal. “Precisamos falar para população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só irá acontecer quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz.

Brasil está abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde para imunização contra poliomielite. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Tire suas dúvidas

Tem outras dúvidas sobre a imunização infantil? Participe dos nossos grupos oficiais! No canal Vacina Estadão, no Telegram, e no grupo Vem pensar com a gente, no Facebook, leitores podem enviar as suas perguntas e se informar com qualidade.

Durante um mês, especialistas e autoridades na área da saúde vão esclarecer questões relacionadas à vacinação infantil. Quer saber mais? Entre no canal Vacina Estadão no Telegram e na comunidade Vem pensar com a gente, do Estadão no Facebook.

Saiba mais sobre a doença

Poliomielite

Existem três sorotipos do poliovírus: tipo 1, ainda em circulação em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e tipo 2 e 3, que já foram erradicadas no mundo.

Como se dissemina?

Por ser uma doença infecciosa, a pólio pode ser transmitida pelas fezes humanas ou por secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.

Risco de transmissão

Afeta principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e costuma ser assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.

Sintomas

Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômito, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.

Sequelas

Sintomas da poliomielite podem voltar a aparecer décadas depois da infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada pelas frequentes dores e fraqueza nas articulações, membros tortos como consequência da paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma das pernas e hipersensibilidade ao toque.

Fonte: Ministério da Saúde

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.