Poluição mata 633 crianças por ano no Brasil, aponta OMS


Mortes são referentes a menores de 5 anos no País; no mundo, óbitos chegaram a 543 mil somente em 2016

Por Fabiana Cambricoli, Paula Felix e Pepita Ortega

SÃO PAULO - Pelo menos 633 crianças menores de 5 anos morrem por ano no Brasil vítimas de complicações relacionadas à poluição, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira, 29, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 2016. Em todo o mundo, o número de crianças dessa faixa etária vítimas do problema chega a 543 mil.

Recomendação.Monyse utiliza inalador com Arthur, que tem rinite alérgica; especialista sugere umidificação de ambientes Foto: Alex Silva/Estadão

Segundo a OMS, 93% das crianças e adolescentes do mundo (o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas) respiram diariamente ar com nível de poluição capaz de colocar a saúde em risco. As partículas tóxicas provocam ou agravam problemas respiratórios que, em alguns casos, podem ser fatais. 

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Segundo especialistas, o impacto do ar de má qualidade tem início já na gestação, com o aumento da probabilidade de mulheres darem à luz prematuramente. “Desde o desenvolvimento fetal, a criança já sofre os efeitos da poluição. O poluente é muito nocivo para a saúde, porque o efeito não é só respiratório, é sistêmico, entra na árvore respiratória, chega ao alvéolo, onde tem a troca gasosa, e entra na circulação, causando efeitos nas artérias e no coração, principalmente. Na gestação, leva a enfartes na parte circulatória da placenta, o que diminui o aporte do oxigênio, podendo causar partos prematuros e até morte fetal”, explica a patologista clínica Evangelina de Araújo Vormittag, que é diretora de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina e diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Outro aspecto que prejudica nessa fase da vida, especialmente entre as crianças mais novas, é o fato de o sistema imunológico ainda estar em formação. “Com isso, tem menos chances de se defender contra esse mal tóxico”, afirma a médica. 

Doenças como alergias, asma, pneumonia e câncer infantil estão entre os problemas de saúde citados pela entidade que podem ter como causa o contato com os poluentes. Com 1 ano e 10 meses, Arthur já sente os efeitos nocivos da poluição. Diagnosticado com rinite alérgica, o menino, morador da zona leste da capital paulista, tem crises no período de clima seco, quando os poluentes ficam mais concentrados. “Na última crise, o problema evoluiu para infecção na garganta e no ouvido. Ele teve de tomar antibiótico 15 dias”, conta a mãe do menino, a advogada Monyse Tesser, de 32 anos.

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Independentemente do clima, a mãe estabeleceu uma rotina de cuidados para evitar complicações na saúde do filho. “Faço lavagem nasal duas vezes por dia nele. Temos inalador, vaporizador, tiramos tapetes de casa e não deixamos bichos de pelúcia no quarto dele.”

Outros riscos

A exposição aos altos níveis de poluição também aumenta os riscos de doenças crônicas, como as cardiovasculares, e pode afetar o neurodesenvolvimento e as habilidades cognitivas.

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Segundo a OMS, peculiaridades das crianças fazem com que elas se tornem mais vulneráveis aos efeitos da poluição, como respirar mais rápido do que os adultos, fazendo com que a absorção de poluentes seja maior, e viver mais perto do chão, onde essas partículas se concentram. Isso em um momento em que seus cérebros e corpos estão em desenvolvimento.

O contato com a poluição dentro de casa, por meio de fogões a lenha e equipamentos de aquecimento e iluminação que utilizam combustíveis poluentes, como o querosene, foi lembrado pela entidade, que defende que sejam criadas políticas para que a população utilize tecnologias livres de poluentes para cozinhar, iluminar e aquecer suas casas.

“Claramente precisamos acelerar a mudança para fontes de energia mais limpas. Precisamos fazer com que a população tenha acesso a combustíveis limpos. Provavelmente o mundo precisa reduzir drasticamente a grande dependência de combustíveis fósseis”, declarou nesta segunda a diretora do Departamento de Saúde Pública da organização, Maria Neira.

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Pode-se ter um bom desenvolvimento econômico sem destruir o meio ambiente. Ao não destruir o meio ambiente, você não está destruindo os pulmões, cérebros e corações da população, o que custa caro para a economia.

Maria Neira, diretora da OMS

Para proteger os filhos dos efeitos da poluição, as recomendações para os pais são evitar andar em casa com calçados usados na rua, umidificar o ambiente e hidratar as vias aéreas das crianças, segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico do Hospital Infantil Darcy Vargas, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

“E o aleitamento materno é fundamental. É um dos grandes mecanismos de defesa na primeira infância, porque melhora a imunidade e ajuda no desenvolvimento da criança. Os pais também devem garantir uma dieta saudável, com alimentos de boa procedência e evitar os produtos industrializados.” A OMS orienta que escolas e playgrounds sejam instalados longe de locais como vias movimentadas e fábricas.

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Manifesto

Na semana passada, cerca de 30 mil médicos da Associação Paulista de Medicina lançaram o manifesto Um Minuto de Ar Limpo para abordar a necessidade de reduzir a poluição no ar para frear o aumento de doenças ligadas ao problema em São Paulo. Os médicos demonstram preocupação com a saúde da população, pois, de acordo com uma projeção do Instituto Saúde e Sustentabilidade, se a poluição se mantiver a mesma deste ano até 2025, na região metropolitana de São Paulo, são estimadas 51.367 mortes e 31.812 internações públicas por doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão.

O documento brasileiro deverá ser apresentado nesta terça-feira, 30, durante a realização da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, em Genebra, na Suíça.

SÃO PAULO - Pelo menos 633 crianças menores de 5 anos morrem por ano no Brasil vítimas de complicações relacionadas à poluição, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira, 29, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 2016. Em todo o mundo, o número de crianças dessa faixa etária vítimas do problema chega a 543 mil.

Recomendação.Monyse utiliza inalador com Arthur, que tem rinite alérgica; especialista sugere umidificação de ambientes Foto: Alex Silva/Estadão

Segundo a OMS, 93% das crianças e adolescentes do mundo (o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas) respiram diariamente ar com nível de poluição capaz de colocar a saúde em risco. As partículas tóxicas provocam ou agravam problemas respiratórios que, em alguns casos, podem ser fatais. 

Segundo especialistas, o impacto do ar de má qualidade tem início já na gestação, com o aumento da probabilidade de mulheres darem à luz prematuramente. “Desde o desenvolvimento fetal, a criança já sofre os efeitos da poluição. O poluente é muito nocivo para a saúde, porque o efeito não é só respiratório, é sistêmico, entra na árvore respiratória, chega ao alvéolo, onde tem a troca gasosa, e entra na circulação, causando efeitos nas artérias e no coração, principalmente. Na gestação, leva a enfartes na parte circulatória da placenta, o que diminui o aporte do oxigênio, podendo causar partos prematuros e até morte fetal”, explica a patologista clínica Evangelina de Araújo Vormittag, que é diretora de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina e diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Outro aspecto que prejudica nessa fase da vida, especialmente entre as crianças mais novas, é o fato de o sistema imunológico ainda estar em formação. “Com isso, tem menos chances de se defender contra esse mal tóxico”, afirma a médica. 

Doenças como alergias, asma, pneumonia e câncer infantil estão entre os problemas de saúde citados pela entidade que podem ter como causa o contato com os poluentes. Com 1 ano e 10 meses, Arthur já sente os efeitos nocivos da poluição. Diagnosticado com rinite alérgica, o menino, morador da zona leste da capital paulista, tem crises no período de clima seco, quando os poluentes ficam mais concentrados. “Na última crise, o problema evoluiu para infecção na garganta e no ouvido. Ele teve de tomar antibiótico 15 dias”, conta a mãe do menino, a advogada Monyse Tesser, de 32 anos.

Independentemente do clima, a mãe estabeleceu uma rotina de cuidados para evitar complicações na saúde do filho. “Faço lavagem nasal duas vezes por dia nele. Temos inalador, vaporizador, tiramos tapetes de casa e não deixamos bichos de pelúcia no quarto dele.”

Outros riscos

A exposição aos altos níveis de poluição também aumenta os riscos de doenças crônicas, como as cardiovasculares, e pode afetar o neurodesenvolvimento e as habilidades cognitivas.

Segundo a OMS, peculiaridades das crianças fazem com que elas se tornem mais vulneráveis aos efeitos da poluição, como respirar mais rápido do que os adultos, fazendo com que a absorção de poluentes seja maior, e viver mais perto do chão, onde essas partículas se concentram. Isso em um momento em que seus cérebros e corpos estão em desenvolvimento.

O contato com a poluição dentro de casa, por meio de fogões a lenha e equipamentos de aquecimento e iluminação que utilizam combustíveis poluentes, como o querosene, foi lembrado pela entidade, que defende que sejam criadas políticas para que a população utilize tecnologias livres de poluentes para cozinhar, iluminar e aquecer suas casas.

“Claramente precisamos acelerar a mudança para fontes de energia mais limpas. Precisamos fazer com que a população tenha acesso a combustíveis limpos. Provavelmente o mundo precisa reduzir drasticamente a grande dependência de combustíveis fósseis”, declarou nesta segunda a diretora do Departamento de Saúde Pública da organização, Maria Neira.

Pode-se ter um bom desenvolvimento econômico sem destruir o meio ambiente. Ao não destruir o meio ambiente, você não está destruindo os pulmões, cérebros e corações da população, o que custa caro para a economia.

Maria Neira, diretora da OMS

Para proteger os filhos dos efeitos da poluição, as recomendações para os pais são evitar andar em casa com calçados usados na rua, umidificar o ambiente e hidratar as vias aéreas das crianças, segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico do Hospital Infantil Darcy Vargas, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

“E o aleitamento materno é fundamental. É um dos grandes mecanismos de defesa na primeira infância, porque melhora a imunidade e ajuda no desenvolvimento da criança. Os pais também devem garantir uma dieta saudável, com alimentos de boa procedência e evitar os produtos industrializados.” A OMS orienta que escolas e playgrounds sejam instalados longe de locais como vias movimentadas e fábricas.

Manifesto

Na semana passada, cerca de 30 mil médicos da Associação Paulista de Medicina lançaram o manifesto Um Minuto de Ar Limpo para abordar a necessidade de reduzir a poluição no ar para frear o aumento de doenças ligadas ao problema em São Paulo. Os médicos demonstram preocupação com a saúde da população, pois, de acordo com uma projeção do Instituto Saúde e Sustentabilidade, se a poluição se mantiver a mesma deste ano até 2025, na região metropolitana de São Paulo, são estimadas 51.367 mortes e 31.812 internações públicas por doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão.

O documento brasileiro deverá ser apresentado nesta terça-feira, 30, durante a realização da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, em Genebra, na Suíça.

SÃO PAULO - Pelo menos 633 crianças menores de 5 anos morrem por ano no Brasil vítimas de complicações relacionadas à poluição, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira, 29, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 2016. Em todo o mundo, o número de crianças dessa faixa etária vítimas do problema chega a 543 mil.

Recomendação.Monyse utiliza inalador com Arthur, que tem rinite alérgica; especialista sugere umidificação de ambientes Foto: Alex Silva/Estadão

Segundo a OMS, 93% das crianças e adolescentes do mundo (o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas) respiram diariamente ar com nível de poluição capaz de colocar a saúde em risco. As partículas tóxicas provocam ou agravam problemas respiratórios que, em alguns casos, podem ser fatais. 

Segundo especialistas, o impacto do ar de má qualidade tem início já na gestação, com o aumento da probabilidade de mulheres darem à luz prematuramente. “Desde o desenvolvimento fetal, a criança já sofre os efeitos da poluição. O poluente é muito nocivo para a saúde, porque o efeito não é só respiratório, é sistêmico, entra na árvore respiratória, chega ao alvéolo, onde tem a troca gasosa, e entra na circulação, causando efeitos nas artérias e no coração, principalmente. Na gestação, leva a enfartes na parte circulatória da placenta, o que diminui o aporte do oxigênio, podendo causar partos prematuros e até morte fetal”, explica a patologista clínica Evangelina de Araújo Vormittag, que é diretora de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina e diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Outro aspecto que prejudica nessa fase da vida, especialmente entre as crianças mais novas, é o fato de o sistema imunológico ainda estar em formação. “Com isso, tem menos chances de se defender contra esse mal tóxico”, afirma a médica. 

Doenças como alergias, asma, pneumonia e câncer infantil estão entre os problemas de saúde citados pela entidade que podem ter como causa o contato com os poluentes. Com 1 ano e 10 meses, Arthur já sente os efeitos nocivos da poluição. Diagnosticado com rinite alérgica, o menino, morador da zona leste da capital paulista, tem crises no período de clima seco, quando os poluentes ficam mais concentrados. “Na última crise, o problema evoluiu para infecção na garganta e no ouvido. Ele teve de tomar antibiótico 15 dias”, conta a mãe do menino, a advogada Monyse Tesser, de 32 anos.

Independentemente do clima, a mãe estabeleceu uma rotina de cuidados para evitar complicações na saúde do filho. “Faço lavagem nasal duas vezes por dia nele. Temos inalador, vaporizador, tiramos tapetes de casa e não deixamos bichos de pelúcia no quarto dele.”

Outros riscos

A exposição aos altos níveis de poluição também aumenta os riscos de doenças crônicas, como as cardiovasculares, e pode afetar o neurodesenvolvimento e as habilidades cognitivas.

Segundo a OMS, peculiaridades das crianças fazem com que elas se tornem mais vulneráveis aos efeitos da poluição, como respirar mais rápido do que os adultos, fazendo com que a absorção de poluentes seja maior, e viver mais perto do chão, onde essas partículas se concentram. Isso em um momento em que seus cérebros e corpos estão em desenvolvimento.

O contato com a poluição dentro de casa, por meio de fogões a lenha e equipamentos de aquecimento e iluminação que utilizam combustíveis poluentes, como o querosene, foi lembrado pela entidade, que defende que sejam criadas políticas para que a população utilize tecnologias livres de poluentes para cozinhar, iluminar e aquecer suas casas.

“Claramente precisamos acelerar a mudança para fontes de energia mais limpas. Precisamos fazer com que a população tenha acesso a combustíveis limpos. Provavelmente o mundo precisa reduzir drasticamente a grande dependência de combustíveis fósseis”, declarou nesta segunda a diretora do Departamento de Saúde Pública da organização, Maria Neira.

Pode-se ter um bom desenvolvimento econômico sem destruir o meio ambiente. Ao não destruir o meio ambiente, você não está destruindo os pulmões, cérebros e corações da população, o que custa caro para a economia.

Maria Neira, diretora da OMS

Para proteger os filhos dos efeitos da poluição, as recomendações para os pais são evitar andar em casa com calçados usados na rua, umidificar o ambiente e hidratar as vias aéreas das crianças, segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico do Hospital Infantil Darcy Vargas, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

“E o aleitamento materno é fundamental. É um dos grandes mecanismos de defesa na primeira infância, porque melhora a imunidade e ajuda no desenvolvimento da criança. Os pais também devem garantir uma dieta saudável, com alimentos de boa procedência e evitar os produtos industrializados.” A OMS orienta que escolas e playgrounds sejam instalados longe de locais como vias movimentadas e fábricas.

Manifesto

Na semana passada, cerca de 30 mil médicos da Associação Paulista de Medicina lançaram o manifesto Um Minuto de Ar Limpo para abordar a necessidade de reduzir a poluição no ar para frear o aumento de doenças ligadas ao problema em São Paulo. Os médicos demonstram preocupação com a saúde da população, pois, de acordo com uma projeção do Instituto Saúde e Sustentabilidade, se a poluição se mantiver a mesma deste ano até 2025, na região metropolitana de São Paulo, são estimadas 51.367 mortes e 31.812 internações públicas por doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão.

O documento brasileiro deverá ser apresentado nesta terça-feira, 30, durante a realização da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, em Genebra, na Suíça.

SÃO PAULO - Pelo menos 633 crianças menores de 5 anos morrem por ano no Brasil vítimas de complicações relacionadas à poluição, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira, 29, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com dados de 2016. Em todo o mundo, o número de crianças dessa faixa etária vítimas do problema chega a 543 mil.

Recomendação.Monyse utiliza inalador com Arthur, que tem rinite alérgica; especialista sugere umidificação de ambientes Foto: Alex Silva/Estadão

Segundo a OMS, 93% das crianças e adolescentes do mundo (o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas) respiram diariamente ar com nível de poluição capaz de colocar a saúde em risco. As partículas tóxicas provocam ou agravam problemas respiratórios que, em alguns casos, podem ser fatais. 

Segundo especialistas, o impacto do ar de má qualidade tem início já na gestação, com o aumento da probabilidade de mulheres darem à luz prematuramente. “Desde o desenvolvimento fetal, a criança já sofre os efeitos da poluição. O poluente é muito nocivo para a saúde, porque o efeito não é só respiratório, é sistêmico, entra na árvore respiratória, chega ao alvéolo, onde tem a troca gasosa, e entra na circulação, causando efeitos nas artérias e no coração, principalmente. Na gestação, leva a enfartes na parte circulatória da placenta, o que diminui o aporte do oxigênio, podendo causar partos prematuros e até morte fetal”, explica a patologista clínica Evangelina de Araújo Vormittag, que é diretora de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina e diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Outro aspecto que prejudica nessa fase da vida, especialmente entre as crianças mais novas, é o fato de o sistema imunológico ainda estar em formação. “Com isso, tem menos chances de se defender contra esse mal tóxico”, afirma a médica. 

Doenças como alergias, asma, pneumonia e câncer infantil estão entre os problemas de saúde citados pela entidade que podem ter como causa o contato com os poluentes. Com 1 ano e 10 meses, Arthur já sente os efeitos nocivos da poluição. Diagnosticado com rinite alérgica, o menino, morador da zona leste da capital paulista, tem crises no período de clima seco, quando os poluentes ficam mais concentrados. “Na última crise, o problema evoluiu para infecção na garganta e no ouvido. Ele teve de tomar antibiótico 15 dias”, conta a mãe do menino, a advogada Monyse Tesser, de 32 anos.

Independentemente do clima, a mãe estabeleceu uma rotina de cuidados para evitar complicações na saúde do filho. “Faço lavagem nasal duas vezes por dia nele. Temos inalador, vaporizador, tiramos tapetes de casa e não deixamos bichos de pelúcia no quarto dele.”

Outros riscos

A exposição aos altos níveis de poluição também aumenta os riscos de doenças crônicas, como as cardiovasculares, e pode afetar o neurodesenvolvimento e as habilidades cognitivas.

Segundo a OMS, peculiaridades das crianças fazem com que elas se tornem mais vulneráveis aos efeitos da poluição, como respirar mais rápido do que os adultos, fazendo com que a absorção de poluentes seja maior, e viver mais perto do chão, onde essas partículas se concentram. Isso em um momento em que seus cérebros e corpos estão em desenvolvimento.

O contato com a poluição dentro de casa, por meio de fogões a lenha e equipamentos de aquecimento e iluminação que utilizam combustíveis poluentes, como o querosene, foi lembrado pela entidade, que defende que sejam criadas políticas para que a população utilize tecnologias livres de poluentes para cozinhar, iluminar e aquecer suas casas.

“Claramente precisamos acelerar a mudança para fontes de energia mais limpas. Precisamos fazer com que a população tenha acesso a combustíveis limpos. Provavelmente o mundo precisa reduzir drasticamente a grande dependência de combustíveis fósseis”, declarou nesta segunda a diretora do Departamento de Saúde Pública da organização, Maria Neira.

Pode-se ter um bom desenvolvimento econômico sem destruir o meio ambiente. Ao não destruir o meio ambiente, você não está destruindo os pulmões, cérebros e corações da população, o que custa caro para a economia.

Maria Neira, diretora da OMS

Para proteger os filhos dos efeitos da poluição, as recomendações para os pais são evitar andar em casa com calçados usados na rua, umidificar o ambiente e hidratar as vias aéreas das crianças, segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico do Hospital Infantil Darcy Vargas, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

“E o aleitamento materno é fundamental. É um dos grandes mecanismos de defesa na primeira infância, porque melhora a imunidade e ajuda no desenvolvimento da criança. Os pais também devem garantir uma dieta saudável, com alimentos de boa procedência e evitar os produtos industrializados.” A OMS orienta que escolas e playgrounds sejam instalados longe de locais como vias movimentadas e fábricas.

Manifesto

Na semana passada, cerca de 30 mil médicos da Associação Paulista de Medicina lançaram o manifesto Um Minuto de Ar Limpo para abordar a necessidade de reduzir a poluição no ar para frear o aumento de doenças ligadas ao problema em São Paulo. Os médicos demonstram preocupação com a saúde da população, pois, de acordo com uma projeção do Instituto Saúde e Sustentabilidade, se a poluição se mantiver a mesma deste ano até 2025, na região metropolitana de São Paulo, são estimadas 51.367 mortes e 31.812 internações públicas por doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão.

O documento brasileiro deverá ser apresentado nesta terça-feira, 30, durante a realização da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, em Genebra, na Suíça.

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