Por que a grama sintética tem sido associada a casos de câncer de jogadores nos EUA?


Seis atletas de time de beisebol que usaram por anos o mesmo campo desenvolveram tumores cerebrais raros; médicos pedem mais estudos para estabelecer a correlação

Por Roberta Jansen

RIO - A discussão sobre os riscos à saúde da grama sintética dos campos esportivos nos Estados Unidos voltou à tona nas últimas semanas depois que seis jogadores do time de beisebol Philadelphia Phillies morreram de um tipo raro de câncer de cérebro. Um relatório encomendado pelo jornal Philadelphia Inquirer aponta que o gramado apresenta substâncias tóxicas, potencialmente cancerígenas, que poderiam estar por trás das mortes. Médicos brasileiros e americanos afirmam, no entanto, que é difícil comprovar a relação de causa e efeito nesses casos.

Os seis atletas que morreram de glioblastoma jogaram a maior parte de suas carreiras na grama artificial do Estádio dos Veteranos. Toda grama artificial é feita com compostos químicos sintéticos, derivados de petróleo, como metais pesados, benzeno e outros compostos voláteis, potencialmente carcinogênicos.

Um grande número de Estados americanos já baniu ou está propondo o banimento dos campos sintéticos por outras razões. Alguns tipos de lesões, por exemplo, são mais comuns na grama artificial, bem como queimaduras, além da questão ambiental. A morte dos jogadores do Phillies pode ser mais um indício dentre tantos outros reunidos por legisladores para defender a proibição.

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“No Brasil, o uso da grama sintética ainda é raro”, afirmou o pesquisador da Unesp Leandro Godoy, especialista em grama natural. “Em outros países, como nos Estados Unidos, o uso é muito comum. A grama artificial é usada desde os anos 60 em gramados onde se praticam esportes. Efeitos a longo prazo desse uso começam a aparecer. Atualmente, os problemas mais conhecidos relacionados à grama sintética são lesões de joelho e tornozelo. Essa notícia do câncer é bem incomum, nunca tinha ouvido nada parecido.”

Especialistas em câncer de cérebro dizem que o número de jogadores mortos chama a atenção, mas que é impossível provar a relação entre os tumores e as substâncias químicas presentes na grama.

“Tudo é possível neste mundo, mas possível e provável são duas coisas bem diferentes”, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian o neuro-oncologista Henry Friedman, da Universidade de Duke, responsável pelo tratamento de dois dos atletas que acabaram morrendo. “Não há como dizer que aquelas substâncias químicas estão causando os tumores.”

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Ubirani Otero não vê base científica para a correlação entre grama sintética e câncer de cérebro  Foto: Fábio Motta/Estadão

A médica Ubirani Otero, da Divisão de Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), concorda com o colega.

“Chama a atenção o número de mortes e o tipo de câncer. Isso certamente merece uma investigação aprofundada. Não dá para descartar nada”, afirmou. “Mas os tumores de cérebro são normalmente relacionados à exposição à radiação, não a substâncias químicas. Não há respaldo científico para fazer essa correlação.”

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Segundo a especialista brasileira, compostos químicos são relacionados a cânceres de pulmão, bexiga ou hematológicos, como leucemia e linfomas.

Sob os gramados de plástico há ainda uma camada de borracha que, segundo um relatório recente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, apresenta níveis altos de substâncias químicas potencialmente perigosas. O jornal Philadelphia Inquirer encaminhou amostras do gramado do Phillies para dois laboratórios diferentes. Os resultados revelaram 16 tipos de compostos potencialmente tóxicos.

Tais compostos são comumente usados em produtos para serem resistentes à água e ao calor. Eles são conhecidos como “substâncias químicas eternas” porque não se decompõem naturalmente e já foram relacionados a diferentes tumores, de fígado, tireoide, doenças renais, queda na imunidade, entre outros problemas de saúde. Tais substâncias podem ser ingeridas, inaladas e absorvidas pela pele. Podem, até mesmo, entrar no organismo por meio de feridas abertas.

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Mortes

Os jogadores do Phillies competiram no campo artificial entre 1971 e 2003. Seis deles, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, morreram – uma incidência três vezes maior do que a registrada entre a população em geral. Especialistas dizem, no entanto, que essa é a faixa etária mais atingida por esse tipo de tumor. Além disso, outros fatores podem ter contribuído, como o uso de pesticidas nos campos, o hábito de mascar tabaco, o uso de drogas e, até mesmo, concussões cerebrais.

No Brasil, os tumores de cérebro não são contabilizados pelo tipo. Eles são agrupados pelo Inca como “cânceres do sistema nervoso central” – dos quais 88% ocorrem no cérebro. São 11.490 novos casos por ano, com 9.355 mortes.

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Um estudo sobre a possível conexão entre esses compostos químicos e tumores cerebrais deveria ser feito, segundo David Andrews, cientista especializado em meio ambiente, ouvido pelo Guardian.

“Eu não conheço nenhum estudo direto que tente quantificar a exposição desses atletas que sempre jogaram em campos artificiais e como se compara a outras fontes de exposição”, afirmou. “Essa é a questão que requer mais investigação.”

Defensores dos campos sintéticos dizem que eles são de manutenção mais simples do que os campos de naturais. O produto vem sendo cada vez mais usado também em playgrounds e áreas de recreação. Os produtores dizem que os níveis desses compostos nas gramas artificiais são seguros.

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“Pesquisas independentes já mostraram diversas vezes que as gramas sintéticas oferecem muitos benefícios e atendem aos critérios de segurança para a saúde humana e também para a segurança e performance de atletas”, segundo o Conselho de Grama Sintética dos EUA.

Meio ambiente

Para além da questão da exposição a substâncias químicas, os críticos dizem que o material emite níveis altos de metano – um potente gás do efeito estufa –, além de lançar substâncias químicas e microplásticos nos cursos de água.

“Um campo de grama natural é uma área verde a mais dentro de uma cidade. São 7 mil metros quadrados, praticamente um hectare”, afirma Leandro Godoy, da Unesp. “A grama natural sequestra carbono do ambiente e faz baixar a temperatura. A grama sintética, ao contrário, chega a temperaturas altíssimas, de até 50ºC; é uma ilha de calor.”

Campo de futebol com grama artificial em Boston, nos Estados Unidos. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Contusões

Em 2022, atletas profissionais pressionaram a Liga Nacional de Futebol Americano a banir a grama artificial por causa de lesões. Os times de futebol só jogam em campos de grama natural pelas mesmas razões.

De acordo com especialistas, as lesões podem ser mais frequentes e mais graves porque o gramado artificial é mais duro, menos flexível, além de ficar mais escorregadio quando molhado. Como esquenta muito, também está associado à possibilidade de queirmaduras.

Nas Copas do Mundo, apenas campos de grama natural são utilizados. Mas a Fifa permite campos artificiais em competições amistosas, desde que sejam devidamente certificados pela entidade. No Brasil, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, e o Allianz Parque, do Palmeiras, usam grama sintética. Mais recentemente, o Pacaembu anunciou que também pretende usar o gramado artificial.

RIO - A discussão sobre os riscos à saúde da grama sintética dos campos esportivos nos Estados Unidos voltou à tona nas últimas semanas depois que seis jogadores do time de beisebol Philadelphia Phillies morreram de um tipo raro de câncer de cérebro. Um relatório encomendado pelo jornal Philadelphia Inquirer aponta que o gramado apresenta substâncias tóxicas, potencialmente cancerígenas, que poderiam estar por trás das mortes. Médicos brasileiros e americanos afirmam, no entanto, que é difícil comprovar a relação de causa e efeito nesses casos.

Os seis atletas que morreram de glioblastoma jogaram a maior parte de suas carreiras na grama artificial do Estádio dos Veteranos. Toda grama artificial é feita com compostos químicos sintéticos, derivados de petróleo, como metais pesados, benzeno e outros compostos voláteis, potencialmente carcinogênicos.

Um grande número de Estados americanos já baniu ou está propondo o banimento dos campos sintéticos por outras razões. Alguns tipos de lesões, por exemplo, são mais comuns na grama artificial, bem como queimaduras, além da questão ambiental. A morte dos jogadores do Phillies pode ser mais um indício dentre tantos outros reunidos por legisladores para defender a proibição.

“No Brasil, o uso da grama sintética ainda é raro”, afirmou o pesquisador da Unesp Leandro Godoy, especialista em grama natural. “Em outros países, como nos Estados Unidos, o uso é muito comum. A grama artificial é usada desde os anos 60 em gramados onde se praticam esportes. Efeitos a longo prazo desse uso começam a aparecer. Atualmente, os problemas mais conhecidos relacionados à grama sintética são lesões de joelho e tornozelo. Essa notícia do câncer é bem incomum, nunca tinha ouvido nada parecido.”

Especialistas em câncer de cérebro dizem que o número de jogadores mortos chama a atenção, mas que é impossível provar a relação entre os tumores e as substâncias químicas presentes na grama.

“Tudo é possível neste mundo, mas possível e provável são duas coisas bem diferentes”, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian o neuro-oncologista Henry Friedman, da Universidade de Duke, responsável pelo tratamento de dois dos atletas que acabaram morrendo. “Não há como dizer que aquelas substâncias químicas estão causando os tumores.”

Ubirani Otero não vê base científica para a correlação entre grama sintética e câncer de cérebro  Foto: Fábio Motta/Estadão

A médica Ubirani Otero, da Divisão de Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), concorda com o colega.

“Chama a atenção o número de mortes e o tipo de câncer. Isso certamente merece uma investigação aprofundada. Não dá para descartar nada”, afirmou. “Mas os tumores de cérebro são normalmente relacionados à exposição à radiação, não a substâncias químicas. Não há respaldo científico para fazer essa correlação.”

Segundo a especialista brasileira, compostos químicos são relacionados a cânceres de pulmão, bexiga ou hematológicos, como leucemia e linfomas.

Sob os gramados de plástico há ainda uma camada de borracha que, segundo um relatório recente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, apresenta níveis altos de substâncias químicas potencialmente perigosas. O jornal Philadelphia Inquirer encaminhou amostras do gramado do Phillies para dois laboratórios diferentes. Os resultados revelaram 16 tipos de compostos potencialmente tóxicos.

Tais compostos são comumente usados em produtos para serem resistentes à água e ao calor. Eles são conhecidos como “substâncias químicas eternas” porque não se decompõem naturalmente e já foram relacionados a diferentes tumores, de fígado, tireoide, doenças renais, queda na imunidade, entre outros problemas de saúde. Tais substâncias podem ser ingeridas, inaladas e absorvidas pela pele. Podem, até mesmo, entrar no organismo por meio de feridas abertas.

Mortes

Os jogadores do Phillies competiram no campo artificial entre 1971 e 2003. Seis deles, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, morreram – uma incidência três vezes maior do que a registrada entre a população em geral. Especialistas dizem, no entanto, que essa é a faixa etária mais atingida por esse tipo de tumor. Além disso, outros fatores podem ter contribuído, como o uso de pesticidas nos campos, o hábito de mascar tabaco, o uso de drogas e, até mesmo, concussões cerebrais.

No Brasil, os tumores de cérebro não são contabilizados pelo tipo. Eles são agrupados pelo Inca como “cânceres do sistema nervoso central” – dos quais 88% ocorrem no cérebro. São 11.490 novos casos por ano, com 9.355 mortes.

Um estudo sobre a possível conexão entre esses compostos químicos e tumores cerebrais deveria ser feito, segundo David Andrews, cientista especializado em meio ambiente, ouvido pelo Guardian.

“Eu não conheço nenhum estudo direto que tente quantificar a exposição desses atletas que sempre jogaram em campos artificiais e como se compara a outras fontes de exposição”, afirmou. “Essa é a questão que requer mais investigação.”

Defensores dos campos sintéticos dizem que eles são de manutenção mais simples do que os campos de naturais. O produto vem sendo cada vez mais usado também em playgrounds e áreas de recreação. Os produtores dizem que os níveis desses compostos nas gramas artificiais são seguros.

“Pesquisas independentes já mostraram diversas vezes que as gramas sintéticas oferecem muitos benefícios e atendem aos critérios de segurança para a saúde humana e também para a segurança e performance de atletas”, segundo o Conselho de Grama Sintética dos EUA.

Meio ambiente

Para além da questão da exposição a substâncias químicas, os críticos dizem que o material emite níveis altos de metano – um potente gás do efeito estufa –, além de lançar substâncias químicas e microplásticos nos cursos de água.

“Um campo de grama natural é uma área verde a mais dentro de uma cidade. São 7 mil metros quadrados, praticamente um hectare”, afirma Leandro Godoy, da Unesp. “A grama natural sequestra carbono do ambiente e faz baixar a temperatura. A grama sintética, ao contrário, chega a temperaturas altíssimas, de até 50ºC; é uma ilha de calor.”

Campo de futebol com grama artificial em Boston, nos Estados Unidos. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Contusões

Em 2022, atletas profissionais pressionaram a Liga Nacional de Futebol Americano a banir a grama artificial por causa de lesões. Os times de futebol só jogam em campos de grama natural pelas mesmas razões.

De acordo com especialistas, as lesões podem ser mais frequentes e mais graves porque o gramado artificial é mais duro, menos flexível, além de ficar mais escorregadio quando molhado. Como esquenta muito, também está associado à possibilidade de queirmaduras.

Nas Copas do Mundo, apenas campos de grama natural são utilizados. Mas a Fifa permite campos artificiais em competições amistosas, desde que sejam devidamente certificados pela entidade. No Brasil, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, e o Allianz Parque, do Palmeiras, usam grama sintética. Mais recentemente, o Pacaembu anunciou que também pretende usar o gramado artificial.

RIO - A discussão sobre os riscos à saúde da grama sintética dos campos esportivos nos Estados Unidos voltou à tona nas últimas semanas depois que seis jogadores do time de beisebol Philadelphia Phillies morreram de um tipo raro de câncer de cérebro. Um relatório encomendado pelo jornal Philadelphia Inquirer aponta que o gramado apresenta substâncias tóxicas, potencialmente cancerígenas, que poderiam estar por trás das mortes. Médicos brasileiros e americanos afirmam, no entanto, que é difícil comprovar a relação de causa e efeito nesses casos.

Os seis atletas que morreram de glioblastoma jogaram a maior parte de suas carreiras na grama artificial do Estádio dos Veteranos. Toda grama artificial é feita com compostos químicos sintéticos, derivados de petróleo, como metais pesados, benzeno e outros compostos voláteis, potencialmente carcinogênicos.

Um grande número de Estados americanos já baniu ou está propondo o banimento dos campos sintéticos por outras razões. Alguns tipos de lesões, por exemplo, são mais comuns na grama artificial, bem como queimaduras, além da questão ambiental. A morte dos jogadores do Phillies pode ser mais um indício dentre tantos outros reunidos por legisladores para defender a proibição.

“No Brasil, o uso da grama sintética ainda é raro”, afirmou o pesquisador da Unesp Leandro Godoy, especialista em grama natural. “Em outros países, como nos Estados Unidos, o uso é muito comum. A grama artificial é usada desde os anos 60 em gramados onde se praticam esportes. Efeitos a longo prazo desse uso começam a aparecer. Atualmente, os problemas mais conhecidos relacionados à grama sintética são lesões de joelho e tornozelo. Essa notícia do câncer é bem incomum, nunca tinha ouvido nada parecido.”

Especialistas em câncer de cérebro dizem que o número de jogadores mortos chama a atenção, mas que é impossível provar a relação entre os tumores e as substâncias químicas presentes na grama.

“Tudo é possível neste mundo, mas possível e provável são duas coisas bem diferentes”, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian o neuro-oncologista Henry Friedman, da Universidade de Duke, responsável pelo tratamento de dois dos atletas que acabaram morrendo. “Não há como dizer que aquelas substâncias químicas estão causando os tumores.”

Ubirani Otero não vê base científica para a correlação entre grama sintética e câncer de cérebro  Foto: Fábio Motta/Estadão

A médica Ubirani Otero, da Divisão de Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), concorda com o colega.

“Chama a atenção o número de mortes e o tipo de câncer. Isso certamente merece uma investigação aprofundada. Não dá para descartar nada”, afirmou. “Mas os tumores de cérebro são normalmente relacionados à exposição à radiação, não a substâncias químicas. Não há respaldo científico para fazer essa correlação.”

Segundo a especialista brasileira, compostos químicos são relacionados a cânceres de pulmão, bexiga ou hematológicos, como leucemia e linfomas.

Sob os gramados de plástico há ainda uma camada de borracha que, segundo um relatório recente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, apresenta níveis altos de substâncias químicas potencialmente perigosas. O jornal Philadelphia Inquirer encaminhou amostras do gramado do Phillies para dois laboratórios diferentes. Os resultados revelaram 16 tipos de compostos potencialmente tóxicos.

Tais compostos são comumente usados em produtos para serem resistentes à água e ao calor. Eles são conhecidos como “substâncias químicas eternas” porque não se decompõem naturalmente e já foram relacionados a diferentes tumores, de fígado, tireoide, doenças renais, queda na imunidade, entre outros problemas de saúde. Tais substâncias podem ser ingeridas, inaladas e absorvidas pela pele. Podem, até mesmo, entrar no organismo por meio de feridas abertas.

Mortes

Os jogadores do Phillies competiram no campo artificial entre 1971 e 2003. Seis deles, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, morreram – uma incidência três vezes maior do que a registrada entre a população em geral. Especialistas dizem, no entanto, que essa é a faixa etária mais atingida por esse tipo de tumor. Além disso, outros fatores podem ter contribuído, como o uso de pesticidas nos campos, o hábito de mascar tabaco, o uso de drogas e, até mesmo, concussões cerebrais.

No Brasil, os tumores de cérebro não são contabilizados pelo tipo. Eles são agrupados pelo Inca como “cânceres do sistema nervoso central” – dos quais 88% ocorrem no cérebro. São 11.490 novos casos por ano, com 9.355 mortes.

Um estudo sobre a possível conexão entre esses compostos químicos e tumores cerebrais deveria ser feito, segundo David Andrews, cientista especializado em meio ambiente, ouvido pelo Guardian.

“Eu não conheço nenhum estudo direto que tente quantificar a exposição desses atletas que sempre jogaram em campos artificiais e como se compara a outras fontes de exposição”, afirmou. “Essa é a questão que requer mais investigação.”

Defensores dos campos sintéticos dizem que eles são de manutenção mais simples do que os campos de naturais. O produto vem sendo cada vez mais usado também em playgrounds e áreas de recreação. Os produtores dizem que os níveis desses compostos nas gramas artificiais são seguros.

“Pesquisas independentes já mostraram diversas vezes que as gramas sintéticas oferecem muitos benefícios e atendem aos critérios de segurança para a saúde humana e também para a segurança e performance de atletas”, segundo o Conselho de Grama Sintética dos EUA.

Meio ambiente

Para além da questão da exposição a substâncias químicas, os críticos dizem que o material emite níveis altos de metano – um potente gás do efeito estufa –, além de lançar substâncias químicas e microplásticos nos cursos de água.

“Um campo de grama natural é uma área verde a mais dentro de uma cidade. São 7 mil metros quadrados, praticamente um hectare”, afirma Leandro Godoy, da Unesp. “A grama natural sequestra carbono do ambiente e faz baixar a temperatura. A grama sintética, ao contrário, chega a temperaturas altíssimas, de até 50ºC; é uma ilha de calor.”

Campo de futebol com grama artificial em Boston, nos Estados Unidos. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Contusões

Em 2022, atletas profissionais pressionaram a Liga Nacional de Futebol Americano a banir a grama artificial por causa de lesões. Os times de futebol só jogam em campos de grama natural pelas mesmas razões.

De acordo com especialistas, as lesões podem ser mais frequentes e mais graves porque o gramado artificial é mais duro, menos flexível, além de ficar mais escorregadio quando molhado. Como esquenta muito, também está associado à possibilidade de queirmaduras.

Nas Copas do Mundo, apenas campos de grama natural são utilizados. Mas a Fifa permite campos artificiais em competições amistosas, desde que sejam devidamente certificados pela entidade. No Brasil, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, e o Allianz Parque, do Palmeiras, usam grama sintética. Mais recentemente, o Pacaembu anunciou que também pretende usar o gramado artificial.

RIO - A discussão sobre os riscos à saúde da grama sintética dos campos esportivos nos Estados Unidos voltou à tona nas últimas semanas depois que seis jogadores do time de beisebol Philadelphia Phillies morreram de um tipo raro de câncer de cérebro. Um relatório encomendado pelo jornal Philadelphia Inquirer aponta que o gramado apresenta substâncias tóxicas, potencialmente cancerígenas, que poderiam estar por trás das mortes. Médicos brasileiros e americanos afirmam, no entanto, que é difícil comprovar a relação de causa e efeito nesses casos.

Os seis atletas que morreram de glioblastoma jogaram a maior parte de suas carreiras na grama artificial do Estádio dos Veteranos. Toda grama artificial é feita com compostos químicos sintéticos, derivados de petróleo, como metais pesados, benzeno e outros compostos voláteis, potencialmente carcinogênicos.

Um grande número de Estados americanos já baniu ou está propondo o banimento dos campos sintéticos por outras razões. Alguns tipos de lesões, por exemplo, são mais comuns na grama artificial, bem como queimaduras, além da questão ambiental. A morte dos jogadores do Phillies pode ser mais um indício dentre tantos outros reunidos por legisladores para defender a proibição.

“No Brasil, o uso da grama sintética ainda é raro”, afirmou o pesquisador da Unesp Leandro Godoy, especialista em grama natural. “Em outros países, como nos Estados Unidos, o uso é muito comum. A grama artificial é usada desde os anos 60 em gramados onde se praticam esportes. Efeitos a longo prazo desse uso começam a aparecer. Atualmente, os problemas mais conhecidos relacionados à grama sintética são lesões de joelho e tornozelo. Essa notícia do câncer é bem incomum, nunca tinha ouvido nada parecido.”

Especialistas em câncer de cérebro dizem que o número de jogadores mortos chama a atenção, mas que é impossível provar a relação entre os tumores e as substâncias químicas presentes na grama.

“Tudo é possível neste mundo, mas possível e provável são duas coisas bem diferentes”, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian o neuro-oncologista Henry Friedman, da Universidade de Duke, responsável pelo tratamento de dois dos atletas que acabaram morrendo. “Não há como dizer que aquelas substâncias químicas estão causando os tumores.”

Ubirani Otero não vê base científica para a correlação entre grama sintética e câncer de cérebro  Foto: Fábio Motta/Estadão

A médica Ubirani Otero, da Divisão de Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), concorda com o colega.

“Chama a atenção o número de mortes e o tipo de câncer. Isso certamente merece uma investigação aprofundada. Não dá para descartar nada”, afirmou. “Mas os tumores de cérebro são normalmente relacionados à exposição à radiação, não a substâncias químicas. Não há respaldo científico para fazer essa correlação.”

Segundo a especialista brasileira, compostos químicos são relacionados a cânceres de pulmão, bexiga ou hematológicos, como leucemia e linfomas.

Sob os gramados de plástico há ainda uma camada de borracha que, segundo um relatório recente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, apresenta níveis altos de substâncias químicas potencialmente perigosas. O jornal Philadelphia Inquirer encaminhou amostras do gramado do Phillies para dois laboratórios diferentes. Os resultados revelaram 16 tipos de compostos potencialmente tóxicos.

Tais compostos são comumente usados em produtos para serem resistentes à água e ao calor. Eles são conhecidos como “substâncias químicas eternas” porque não se decompõem naturalmente e já foram relacionados a diferentes tumores, de fígado, tireoide, doenças renais, queda na imunidade, entre outros problemas de saúde. Tais substâncias podem ser ingeridas, inaladas e absorvidas pela pele. Podem, até mesmo, entrar no organismo por meio de feridas abertas.

Mortes

Os jogadores do Phillies competiram no campo artificial entre 1971 e 2003. Seis deles, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, morreram – uma incidência três vezes maior do que a registrada entre a população em geral. Especialistas dizem, no entanto, que essa é a faixa etária mais atingida por esse tipo de tumor. Além disso, outros fatores podem ter contribuído, como o uso de pesticidas nos campos, o hábito de mascar tabaco, o uso de drogas e, até mesmo, concussões cerebrais.

No Brasil, os tumores de cérebro não são contabilizados pelo tipo. Eles são agrupados pelo Inca como “cânceres do sistema nervoso central” – dos quais 88% ocorrem no cérebro. São 11.490 novos casos por ano, com 9.355 mortes.

Um estudo sobre a possível conexão entre esses compostos químicos e tumores cerebrais deveria ser feito, segundo David Andrews, cientista especializado em meio ambiente, ouvido pelo Guardian.

“Eu não conheço nenhum estudo direto que tente quantificar a exposição desses atletas que sempre jogaram em campos artificiais e como se compara a outras fontes de exposição”, afirmou. “Essa é a questão que requer mais investigação.”

Defensores dos campos sintéticos dizem que eles são de manutenção mais simples do que os campos de naturais. O produto vem sendo cada vez mais usado também em playgrounds e áreas de recreação. Os produtores dizem que os níveis desses compostos nas gramas artificiais são seguros.

“Pesquisas independentes já mostraram diversas vezes que as gramas sintéticas oferecem muitos benefícios e atendem aos critérios de segurança para a saúde humana e também para a segurança e performance de atletas”, segundo o Conselho de Grama Sintética dos EUA.

Meio ambiente

Para além da questão da exposição a substâncias químicas, os críticos dizem que o material emite níveis altos de metano – um potente gás do efeito estufa –, além de lançar substâncias químicas e microplásticos nos cursos de água.

“Um campo de grama natural é uma área verde a mais dentro de uma cidade. São 7 mil metros quadrados, praticamente um hectare”, afirma Leandro Godoy, da Unesp. “A grama natural sequestra carbono do ambiente e faz baixar a temperatura. A grama sintética, ao contrário, chega a temperaturas altíssimas, de até 50ºC; é uma ilha de calor.”

Campo de futebol com grama artificial em Boston, nos Estados Unidos. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Contusões

Em 2022, atletas profissionais pressionaram a Liga Nacional de Futebol Americano a banir a grama artificial por causa de lesões. Os times de futebol só jogam em campos de grama natural pelas mesmas razões.

De acordo com especialistas, as lesões podem ser mais frequentes e mais graves porque o gramado artificial é mais duro, menos flexível, além de ficar mais escorregadio quando molhado. Como esquenta muito, também está associado à possibilidade de queirmaduras.

Nas Copas do Mundo, apenas campos de grama natural são utilizados. Mas a Fifa permite campos artificiais em competições amistosas, desde que sejam devidamente certificados pela entidade. No Brasil, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, e o Allianz Parque, do Palmeiras, usam grama sintética. Mais recentemente, o Pacaembu anunciou que também pretende usar o gramado artificial.

RIO - A discussão sobre os riscos à saúde da grama sintética dos campos esportivos nos Estados Unidos voltou à tona nas últimas semanas depois que seis jogadores do time de beisebol Philadelphia Phillies morreram de um tipo raro de câncer de cérebro. Um relatório encomendado pelo jornal Philadelphia Inquirer aponta que o gramado apresenta substâncias tóxicas, potencialmente cancerígenas, que poderiam estar por trás das mortes. Médicos brasileiros e americanos afirmam, no entanto, que é difícil comprovar a relação de causa e efeito nesses casos.

Os seis atletas que morreram de glioblastoma jogaram a maior parte de suas carreiras na grama artificial do Estádio dos Veteranos. Toda grama artificial é feita com compostos químicos sintéticos, derivados de petróleo, como metais pesados, benzeno e outros compostos voláteis, potencialmente carcinogênicos.

Um grande número de Estados americanos já baniu ou está propondo o banimento dos campos sintéticos por outras razões. Alguns tipos de lesões, por exemplo, são mais comuns na grama artificial, bem como queimaduras, além da questão ambiental. A morte dos jogadores do Phillies pode ser mais um indício dentre tantos outros reunidos por legisladores para defender a proibição.

“No Brasil, o uso da grama sintética ainda é raro”, afirmou o pesquisador da Unesp Leandro Godoy, especialista em grama natural. “Em outros países, como nos Estados Unidos, o uso é muito comum. A grama artificial é usada desde os anos 60 em gramados onde se praticam esportes. Efeitos a longo prazo desse uso começam a aparecer. Atualmente, os problemas mais conhecidos relacionados à grama sintética são lesões de joelho e tornozelo. Essa notícia do câncer é bem incomum, nunca tinha ouvido nada parecido.”

Especialistas em câncer de cérebro dizem que o número de jogadores mortos chama a atenção, mas que é impossível provar a relação entre os tumores e as substâncias químicas presentes na grama.

“Tudo é possível neste mundo, mas possível e provável são duas coisas bem diferentes”, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian o neuro-oncologista Henry Friedman, da Universidade de Duke, responsável pelo tratamento de dois dos atletas que acabaram morrendo. “Não há como dizer que aquelas substâncias químicas estão causando os tumores.”

Ubirani Otero não vê base científica para a correlação entre grama sintética e câncer de cérebro  Foto: Fábio Motta/Estadão

A médica Ubirani Otero, da Divisão de Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), concorda com o colega.

“Chama a atenção o número de mortes e o tipo de câncer. Isso certamente merece uma investigação aprofundada. Não dá para descartar nada”, afirmou. “Mas os tumores de cérebro são normalmente relacionados à exposição à radiação, não a substâncias químicas. Não há respaldo científico para fazer essa correlação.”

Segundo a especialista brasileira, compostos químicos são relacionados a cânceres de pulmão, bexiga ou hematológicos, como leucemia e linfomas.

Sob os gramados de plástico há ainda uma camada de borracha que, segundo um relatório recente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, apresenta níveis altos de substâncias químicas potencialmente perigosas. O jornal Philadelphia Inquirer encaminhou amostras do gramado do Phillies para dois laboratórios diferentes. Os resultados revelaram 16 tipos de compostos potencialmente tóxicos.

Tais compostos são comumente usados em produtos para serem resistentes à água e ao calor. Eles são conhecidos como “substâncias químicas eternas” porque não se decompõem naturalmente e já foram relacionados a diferentes tumores, de fígado, tireoide, doenças renais, queda na imunidade, entre outros problemas de saúde. Tais substâncias podem ser ingeridas, inaladas e absorvidas pela pele. Podem, até mesmo, entrar no organismo por meio de feridas abertas.

Mortes

Os jogadores do Phillies competiram no campo artificial entre 1971 e 2003. Seis deles, na faixa etária dos 40 aos 50 anos, morreram – uma incidência três vezes maior do que a registrada entre a população em geral. Especialistas dizem, no entanto, que essa é a faixa etária mais atingida por esse tipo de tumor. Além disso, outros fatores podem ter contribuído, como o uso de pesticidas nos campos, o hábito de mascar tabaco, o uso de drogas e, até mesmo, concussões cerebrais.

No Brasil, os tumores de cérebro não são contabilizados pelo tipo. Eles são agrupados pelo Inca como “cânceres do sistema nervoso central” – dos quais 88% ocorrem no cérebro. São 11.490 novos casos por ano, com 9.355 mortes.

Um estudo sobre a possível conexão entre esses compostos químicos e tumores cerebrais deveria ser feito, segundo David Andrews, cientista especializado em meio ambiente, ouvido pelo Guardian.

“Eu não conheço nenhum estudo direto que tente quantificar a exposição desses atletas que sempre jogaram em campos artificiais e como se compara a outras fontes de exposição”, afirmou. “Essa é a questão que requer mais investigação.”

Defensores dos campos sintéticos dizem que eles são de manutenção mais simples do que os campos de naturais. O produto vem sendo cada vez mais usado também em playgrounds e áreas de recreação. Os produtores dizem que os níveis desses compostos nas gramas artificiais são seguros.

“Pesquisas independentes já mostraram diversas vezes que as gramas sintéticas oferecem muitos benefícios e atendem aos critérios de segurança para a saúde humana e também para a segurança e performance de atletas”, segundo o Conselho de Grama Sintética dos EUA.

Meio ambiente

Para além da questão da exposição a substâncias químicas, os críticos dizem que o material emite níveis altos de metano – um potente gás do efeito estufa –, além de lançar substâncias químicas e microplásticos nos cursos de água.

“Um campo de grama natural é uma área verde a mais dentro de uma cidade. São 7 mil metros quadrados, praticamente um hectare”, afirma Leandro Godoy, da Unesp. “A grama natural sequestra carbono do ambiente e faz baixar a temperatura. A grama sintética, ao contrário, chega a temperaturas altíssimas, de até 50ºC; é uma ilha de calor.”

Campo de futebol com grama artificial em Boston, nos Estados Unidos. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Contusões

Em 2022, atletas profissionais pressionaram a Liga Nacional de Futebol Americano a banir a grama artificial por causa de lesões. Os times de futebol só jogam em campos de grama natural pelas mesmas razões.

De acordo com especialistas, as lesões podem ser mais frequentes e mais graves porque o gramado artificial é mais duro, menos flexível, além de ficar mais escorregadio quando molhado. Como esquenta muito, também está associado à possibilidade de queirmaduras.

Nas Copas do Mundo, apenas campos de grama natural são utilizados. Mas a Fifa permite campos artificiais em competições amistosas, desde que sejam devidamente certificados pela entidade. No Brasil, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, e o Allianz Parque, do Palmeiras, usam grama sintética. Mais recentemente, o Pacaembu anunciou que também pretende usar o gramado artificial.

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