Estou levando Penny, minha filha de 3 anos, à escolinha. Ela me pergunta alguma coisa, mas estou meio distraída, pensando se, depois de deixá-la, devo experimentar uma nova bebida no Starbucks ou ficar com meu preferido, café com leite de soja. Aí penso na conversa que meu marido e eu tivemos na noite anterior: vamos matricular as crianças na escola pública ou na particular?
“Podemos ter um tempo mamãe-e-Penny quando você me buscar na escola?”, ela repete, uma referência ao tempo especial que às vezes passamos juntas, sem sua irmã mais nova. Se eu não estivesse com a cabeça tão cheia de preocupações, poderia ter ouvido seu doce pedido na primeira vez.
Todos os dias somos inundados de escolhas. Algumas são pequenas – como o pedido do café da manhã – e outras são bem grandes – como em que escola matricular as filhas. Com uma abundância de opções e informações ao nosso alcance, seria de se esperar que as melhores decisões viessem de análises minuciosas e detalhadas, certo?
Errado.
Décadas de pesquisas em psicologia sugerem o contrário. Na verdade, as pessoas que tomam decisões “boas o suficiente”, em vez de decisões “perfeitas”, muitas vezes são mais felizes.
Estima-se que os adultos americanos façam milhares de escolhas por dia. Neste mundo de opções e informações quase infinitas, é claro que os humanos não têm tempo nem recursos cognitivos para tomar a decisão perfeita em cada uma das situações.
“A mente humana simplesmente não tem capacidade suficiente para fazer tudo isso”, diz Valerie Reyna, professora e codiretora do Centro de Economia Comportamental e Pesquisa sobre Tomada de Decisão da Universidade Cornell.
Quando se trata de tomar decisões, as pessoas geralmente escolhem entre duas abordagens: buscar a maximização ou se contentar com o satisfaciente [no original, satisficing], termo cunhado pelo cientista político Herbert Simon que combina “satisfazer” e “suficiente”.
“Os maximizadores querem tomar a melhor decisão”, diz Ayelet Fishbach, professora de ciência comportamental e marketing na Booth School of Business da Universidade de Chicago. “Os satisficistas só querem tomar uma decisão ‘boa o suficiente’”.
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O que é “bom o suficiente”?
As decisões boas o bastante não são aleatórias, mas atingem um equilíbrio fundamental. As decisões ruins e mal refletidas costumam ser precipitadas ou movidas pela emoção. As decisões “maximizadas”, no outro extremo, muitas vezes demoram demais e são desgastantes, a ponto de levarem ao arrependimento.
Decisões suficientemente boas são pensadas. Mas, assim que algo atende às suas necessidades, você decide que é bom o suficiente e pronto.
Por exemplo: os maximizadores podem passar duas horas online procurando o fone de ouvido perfeito. Eles analisam meticulosamente as avaliações e comparam todos os recursos. Os satisficistas simplesmente clicam em “comprar” quando encontram um modelo que atende às necessidades.
“Num mundo com opções praticamente ilimitadas, o satisficista consegue decidir”, diz Barry Schwartz, autor de O Paradoxo da Escolha: Por que mais é menos]. “O maximizador só consegue decidir depois de avaliar todas as opções”.
Os maximizadores tendem ser menos contentes, menos otimistas e mais deprimidos do que os satisficistas, de acordo com as pesquisas de Schwartz. Os maximizadores também demoram mais para se recuperar de decisões erradas, ficam remoendo pensamentos por mais tempo, saboreiam menos os eventos positivos, não lidam tão bem com os eventos negativos e são mais inclinados ao arrependimento.
Quando escolhemos entre um conjunto limitado de opções – digamos, três pares de meias –, geralmente sentimos que fizemos o melhor que podíamos, diz Schwartz. Mas quando o conjunto de opções é praticamente ilimitado (uma busca rápida por meias na Amazon mostra 80 mil resultados), as coisas ficam mais difíceis, sobretudo quando há opções que ainda não avaliamos, diz ele. É por isso que os maximizadores, que focam em encontrar a melhor opção, muitas vezes sentem mais arrependimento do que os satisficistas.
Os maximizadores também podem sofrer a “paralisia de análise”, informa Thea Gallagher, psicóloga clínica e professora associada da NYU Langone Health.
Por exemplo: alguém passa horas procurando voos e acaba não comprando nenhuma passagem, porque acha que vai aparecer uma opção melhor no dia seguinte. “Então, essa pessoa não fez o que precisava fazer, o que acaba gerando mais estresse e ansiedade”, diz Gallagher.
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Chega um ponto em que a quantidade de escolhas disponíveis se torna prejudicial em vez de benéfica, diz Schwartz.
Em certo estudo, pesquisadores da Universidade de Stanford apresentaram seis ou 24 tipos de geleia para os participantes escolherem em um supermercado chique. As pessoas que viram 24 sabores compraram geleia apenas 3% das vezes. As que viram seis opções fizeram uma compra em quase 30% das vezes.
O estudo “demonstrou que, quando você dá escolhas demais às pessoas, elas não se sentem livres para escolher”, diz Schwartz, que é professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Elas se sentem paralisadas”.
5 dicas para melhorar a tomada de decisão
Algumas decisões – como a escola onde matricular as crianças – merecem mais tempo e deliberação. Mas outras não. Aqui vão algumas ideias para você tomar decisões com mais facilidade.
- Vá com tudo. Quando você acha que uma decisão é reversível, você não faz o trabalho necessário para se sentir contente com ela, diz Schwartz. Digamos que você comprou um vestido que não pode devolver. Diante dessa impossibilidade, você provavelmente vai encontrar alguns motivos para gostar dele. “Não creio que seja algo que as pessoas façam de forma consciente ou deliberada, [mas] quando não tem como voltar atrás, você faz de tudo para se sentir bem com o que tem”, diz Schwartz. “Quando tem volta, você volta atrás”.
- Encontre seu nicho. Você não precisa ser satisficista em todas as decisões. Maximizar às vezes é bom, desde que seja por algo de que você goste muito. “Se você realmente gosta de se aprofundar em certas coisas, tudo bem”, diz Schwartz. “Só não faça isso com tudo, porque só vai trazer paralisia e sofrimento”.
- Automatize partes do seu dia. A maioria das decisões menores são relativamente insignificantes, mas consomem uma energia mental que poderia ser gasta em atividades mais valiosas. Reduza o número total de decisões diárias. Reyna recomenda tomar o que ela chama de “decisões por si só”. Por exemplo: em vez de ficar debatendo se deve fazer exercícios todas as manhãs, simplesmente decida correr sempre às 6h30 durante a semana.
- Estabeleça limites. Quem tende à maximização pode se beneficiar ao estabelecer restrições à tomada de decisão, diz Gallagher. Por exemplo: reserve apenas 15 minutos para procurar fones de ouvido novos. Ou encontre um site em que você confie e sempre pesquise produtos lá.
- Não se perca. Pesquisas mostraram que, além da quantidade de informações analisadas, a qualidade da sua percepção sobre as coisas é crucial.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU