Produtos ‘milagrosos’ surgem como praga na internet, diz Mari Krüger; veja vídeo


Bióloga gaúcha atrai milhões de seguidores nas redes sociais divulgando ciência e desmentindo falsas promessas

Por Leon Ferrari
Foto: Léo Souza/Estadão
Entrevista comMari Krugerbióloga, divulgadora científica e influenciadora digital

Olhando para a câmera, bem enquadrado num retângulo vertical, o mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, responde a uma “caixinha de perguntas” do Instagram, como um usuário qualquer. “É verdade que mosquito da dengue só pica até as 18h?”, questiona um suposto internauta. “É verdade, sim. CLT, né? Deu 18h, acabou, c’est fini.”

Usando uma camiseta listrada, asas provavelmente advindas de uma fantasia de fada, boné, óculos escuros e um cone de papel no nariz, quem responde na verdade é a bióloga gaúcha Mari Krüger, de 35 anos. Com personagens como esse e bastante humor, ela faz sucesso nas redes sociais com algo que por muito tempo foi visto — e talvez seja até hoje — como sisudo e sem graça: divulgação científica. Popularizando a ciência, ela já soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e quase 800 mil no TikTok.

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Formada em 2013, ela tomou um rumo inesperado: virou DJ. Mas, com a pandemia de covid-19, as casas noturnas fecharam e ela voltou para a dela. Se divertiu muito com os vídeos curtos do TikTok e, para “não enlouquecer”, começou a gravar também, usando curiosidades científicas que lembrava da época da faculdade.

Não era profissão, até que se tornou. Mari viralizou colocando em xeque a indicação indiscriminada de suplementos por parte de algumas blogueiras, mas não se restringiu a esse assunto e hoje aborda diferentes pautas — e produtos. Isso exige estudo e tempo, por isso, comemora quando consegue gravar três vídeos por semana, uma antítese à produção taylorista de outros influenciadores.

'Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope', defende Mari Krüger Foto: Léo Souza/Estadão
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A experiência como uma quase “fiscal” dos produtos da internet — ela é constantemente convocada pelos seguidores a desvendar conteúdos duvidosos nas redes — levou a uma visão especial de como a mentira é mais sedutora. “A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta.”

No estúdio da TV Estadão, ela deu dicas de como nadar contra a maré de desinformação e falou sobre o processo de produção de seus vídeos. Confira a entrevista:

Alguns pesquisadores definem influenciador como alguém que quer vender algo nas redes. Você se considera uma influenciadora? Ou talvez uma ‘desinfluenciadora’?

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O termo influenciadora me incomoda um pouco. Porque quando a gente fala ‘sou influenciadora’, o que vem à mente é a galera com que eu não queria parecer. Mas vendo coisas. Além de oferecer, de graça, o meu conhecimento, trabalho com muitas marcas. Essa é a minha fonte de renda porque, infelizmente, a monetização não paga tão bem quanto deveria. Inclusive, eu gosto de usar a expressão desinfluenciadora para a pessoa que está fazendo uma influência errada, que está desinformando. Eu gosto da ideia de que eu influencio as pessoas para comprar, mas também influencio com conhecimento.

Como você escolhe as publicidades?

É delicado. Quando percebi que isso ia ser uma profissão, quando as marcas começaram a entrar em contato comigo, me desesperei porque pensei: ‘Não vou conseguir trabalhar com nada’. Mas, na verdade, o que aconteceu foi justamente o contrário. Por eu fazer um trabalho baseado em ciência e ser muito criteriosa com as marcas com as quais trabalho, comecei a trabalhar com marcas muito grandes muito cedo. Porque não importava para elas se eu tinha muitos seguidores, importava que eu era uma cientista, uma bióloga que estava validando aquele produto e dizendo: ‘Isso aqui é um produto legal, eu pesquisei.’

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A gênese do que é o seu conteúdo hoje nasceu na pandemia?

Isso. Tive a ideia de começar a fazer vídeo para não enlouquecer, ocupar a minha cabeça. Tinha alguns assuntos que lembrava (da faculdade) e que eu usava em mesa de bar para puxar assunto. Pensei: ‘Vou contar isso em vídeo’. Porque além de bióloga e DJ, também sou atriz, desde os meus 18 anos. Sempre tive muita facilidade em fazer caras e bocas, em interpretar. O reels (do Instagram) permitia 15 segundos (de vídeo). Eu tinha facilidade em trazer muita informação sem precisar falar quase nada, porque fazia muitos comerciais. Tudo começou ali. Depois, passei a fazer vídeos mais longos, a profissionalizar, investir em equipamentos, fazer cursos, até que isso se tornou a minha profissão.

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Como surgem suas pautas? Vejo que as pessoas costumam marcá-la em tudo quanto é propaganda e postagem de outros influenciadores.

Nunca precisei procurar pautas porque, infelizmente, elas me encontram. Se quisesse ficar um tempo sem nada, não ia conseguir, porque todo dia é um novo absurdo. Grande parte do meu conteúdo é desmentindo informações incorretas ou trazendo a verdade sobre produtos milagrosos — e esses aparecem que nem praga, diariamente.

O trabalho de divulgação científica tem que servir à população

Mari Krüger, bióloga

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As pautas me encontram, mas são em volume gigantesco e preciso filtrar um pouco. Eu filtro por demanda. ‘Isso aqui surgiu muitas vezes e é interessante ser falado’ ou ‘isso traz risco para as pessoas’. Às vezes, as pessoas falam que a avó manda tomar tal chá. ‘Será que funciona?’ Toma o chá que a avó mandou. Não tem nada de prejuízo ali. Claro, não vai deixar de procurar um tratamento médico quando estiver doente. Mas algumas coisas que não trazem risco à saúde ou que não são uma ameaça à saúde pública, acabo deixando em stand-by. Vamos falar sobre essa água alcalina que está prometendo a cura do câncer. Isso aqui, sim, é mais importante. O trabalho de divulgação científica tem que servir à população.

Sobre esses produtos milagrosos, suplementos, por exemplo, que focam justamente na saúde e bem-estar. Por que temos tanto conteúdo e gente tentando vender produtos que ‘curam’ tudo?

Viralizei na internet por falar sobre suplementos. Tenho um quadro no qual faço os suplementos chegando dentro do corpo, falando tudo o que eles vão fazer e a personagem, que é tipo a ‘hostess’ do corpo, fica ali questionando como é que isso seria possível. No final, tem a bexiga jogando dinheiro para cima, porque vira um xixi caro. Quando suplementamos uma coisa que não é necessária, ela vai ser só expelida na nossa urina. Precisamos saber o que temos antes de saber se precisamos suplementar ou não.

Bem raramente a causa do que estamos sentindo vai ser uma deficiência de vitaminas. Precisamos de um diagnóstico. Por exemplo, a queda de cabelo. Pode ser uma questão hormonal, um sintoma de pós-covid, estresse, dermatite. Então, tomar um suplemento não vai adiantar nada.

E se for, de fato, uma deficiência vitamínica, precisamos fazer a correção com uma dosagem correta. E aqui a gente vai entender por que vemos tanta propaganda de suplemento. Esses suplementos prontos, multivitamínicos prontos, para serem aprovados pela Anvisa e poderem ser vendidos no Brasil, não precisam ter uma comprovação de eficácia. Só precisam ter comprovação de segurança.

Para eles serem seguros para toda e qualquer pessoa, precisam ter uma dosagem muito baixa dos componentes. Com essa dosagem muito baixa, é praticamente impossível que consigam corrigir uma deficiência. É por isso que é tão fácil criar um novo suplemento.

Quando se faz publicidade para um medicamento, por exemplo, há milhares de poréns regulatórios. O suplemento tem bem menos regras. É mais fácil de ser criado, de ser vendido, de se fazer publicidade. E é um mercado que está movimentando muito dinheiro, e vai movimentar ainda mais.

Sua formação é biologia e você fala de vários assuntos dentro do guarda-chuva da ciência nas redes. Até onde pode ir em relação aos temas abordados?

É quase impossível que eu saiba tudo de tudo. Tenho muito medo de parecer uma ‘tudóloga’, que entende de tudo. A verdade é que eu estudo todos os assuntos (dos quais falo) e, com muita frequência, busco profissionais especializados naquele assunto. Tenho um ‘time de profissionais’ que me ajuda. Coloco entre aspas porque eles não trabalham comigo, são amigos, na verdade. Fazemos vídeos e roteiros em colaboração. Se você procurar nos meus vídeos, além de ter todas as referências científicas que foram utilizadas, eu cito os profissionais que me ajudaram.

Como você lida com o hate na internet? Que mito derrubado mais incomodou os haters?

Uma das coisas que mais me trouxeram hate e que marcou muito a minha vida foi o vinagre porque, dentro do X (ex-Twitter), eu era conhecida como a anti-vinagre. Eu fiz uma thread (fio de publicações em sequência) explicando que o vinagre não era tudo isso que a gente imaginava, porque as pessoas atrelam o vinagre a milagres. As pessoas me acusavam de tudo.

O ódio dentro da internet é bem comum, recebo muito, mas de forma que paralisou minha vida foram algumas poucas vezes. Mas eu sempre digo que existem algumas pessoas que eu não me importo de desagradar. Quando eu recebo hate de pessoas que são negacionistas ou pessoas que não acreditam na ciência, me sinto orgulhosa de estar decepcionando. O que me incomoda é quando eu acabo decepcionando pessoas que ‘nossa, eu adorava o seu conteúdo, mas isso aqui acabou me incomodando’.

Não tenho medo nenhum de aceitar que eu errei, de rever um conteúdo que estava errado. Eu já fiz um vídeo brincando com uma retratação. Fiquei com muito medo de fazer isso e as pessoas acharem ‘pronto, agora tudo que ela falar vai estar errado, não vou mais acreditar’. E, na verdade, foi o contrário, as pessoas dizendo que ciência é isso. Ciência é sobre identificar onde está o erro e dizer ‘não, gente, ó, eu fui apresentada a evidências melhores e aqui está a correção.’

Você acha que hoje é mais fácil encontrar desinformação ou informação?

A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta. É muito mais fácil viralizar um vídeo dizendo que a garrafinha plástica te impede de emagrecer ‘porque os microplásticos não sei o quê, não sei o quê’. Enquanto o cientista vai dizer: ‘gente, não é bem assim, ó, depende, bababá.’ O vídeo vai ficar mais longo, mais chato, mais complexo. Fica mais difícil que se torne viral. É muito mais fácil que esse vídeo (desinformativo), direto ao ponto, chegue a mais pessoas.

Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer

Mari Krüger, bióloga

Apesar de achar que estamos imersos em um mar de desinformação, vejo um grande ‘boom’ de interesse na ciência. Odeio usar o termo ‘o lado bom da pandemia’, mas o lado bom da pandemia é que todo mundo acabou se interessando mais pelo que estava acontecendo. ‘O que é esse vírus?’ ‘Como é que se faz uma vacina?’ ‘Qual remédio funciona?’ Era um assunto que estava muito na moda, todo mundo estava falando sobre isso. Então, houve um grande ‘boom’ de criadores de conteúdo de ciência também. Antes eles estavam no YouTube, mas agora também estão nas redes sociais de vídeos curtos.

Acho que estamos indo para um caminho de pessoas se tornarem mais desconfiadas. Não diria que elas vão desacreditar da desinformação, mas está todo mundo ficando mais atento, com um olhar mais crítico. Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer.

Do seu processo de criação de conteúdo, o que pode ajudar outras pessoas a se protegerem da desinformação?

É muito delicado, porque não tenho como dizer aqui para a dona Maria, lá na casa dela, abrir o PubMed, que é o lugar onde fazemos busca de artigo científico. Até porque é praticamente impossível para quem não é da área, porque os artigos estão todos em inglês, usam uma linguagem científica. Dentro dos artigos, ainda tem a questão da qualidade metodológica. Ter um artigo, às vezes, não significa nada. Pode ser um artigo super ruim, fraco, com um viés, que foi comprado para aquilo ser falado.

Costumo dizer para as pessoas para criar uma rede de informações seguras. Então, com muita frequência, indico o perfil de outros profissionais que, de repente, quando eu não conseguir fazer um vídeo e for um assunto da área deles, provavelmente vão fazer.

A gente cria essa rede segura para tirar dúvidas, mas principalmente para consumir esses conteúdos, porque vamos ficando com um olhar mais treinado para desconfiar. Quando a gente segue essas pessoas que trabalham embasando o conteúdo em ciência, é bem comum que comecemos a reconhecer com mais facilidade as ‘red flags’, as bandeiras vermelhas de atenção.

Dicas básicas que costumam ser bem fáceis são:

  • (desconfie de) produtos que prometem muitas coisas. Um produto que promete ajudar a emagrecer, melhorar o foco, dormir melhor… Calma! Não tem como ele fazer tudo isso;
  • ou, então, um tratamento que serve para muitas coisas, não necessariamente um produto;
  • ou um profissional que indica, por exemplo, suplementos através de um vídeo. Suplementação tem que ser individualizada, tem que ser feita uma anamnese em consultório, tem que ser feito exame.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Eu sei que está difícil. Sei que vemos os criadores de conteúdos digitais e torcemos o nariz. ‘Quem é essa pessoa que está fazendo humor, essa pessoa que é nova demais?’ ‘Por que não vou acreditar naquele médico senhorzinho de bigode e cabelo branco? Parece que ele sabe muito mais.’

Eu entendo essa desconfiança. Às vezes, nem gosto de dizer que sou influenciadora, por saber que grande parte dos influenciadores digitais, de fato, não são responsáveis no que divulgam. Mas valorizem o trabalho dos divulgadores científicos. Eles estão na internet, têm muito potencial e precisam de voz e chegar a mais pessoas.

Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope. Não comenta, não compartilha, não joga pra frente. Faz isso ao contrário, com as pessoas que estão divulgando a ciência e a informação correta. Espalhem para o mundo, indiquem para as pessoas. Sem as pessoas nos assistirem e propagarem o nosso trabalho, ficamos falando pra ninguém.

Olhando para a câmera, bem enquadrado num retângulo vertical, o mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, responde a uma “caixinha de perguntas” do Instagram, como um usuário qualquer. “É verdade que mosquito da dengue só pica até as 18h?”, questiona um suposto internauta. “É verdade, sim. CLT, né? Deu 18h, acabou, c’est fini.”

Usando uma camiseta listrada, asas provavelmente advindas de uma fantasia de fada, boné, óculos escuros e um cone de papel no nariz, quem responde na verdade é a bióloga gaúcha Mari Krüger, de 35 anos. Com personagens como esse e bastante humor, ela faz sucesso nas redes sociais com algo que por muito tempo foi visto — e talvez seja até hoje — como sisudo e sem graça: divulgação científica. Popularizando a ciência, ela já soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e quase 800 mil no TikTok.

Formada em 2013, ela tomou um rumo inesperado: virou DJ. Mas, com a pandemia de covid-19, as casas noturnas fecharam e ela voltou para a dela. Se divertiu muito com os vídeos curtos do TikTok e, para “não enlouquecer”, começou a gravar também, usando curiosidades científicas que lembrava da época da faculdade.

Não era profissão, até que se tornou. Mari viralizou colocando em xeque a indicação indiscriminada de suplementos por parte de algumas blogueiras, mas não se restringiu a esse assunto e hoje aborda diferentes pautas — e produtos. Isso exige estudo e tempo, por isso, comemora quando consegue gravar três vídeos por semana, uma antítese à produção taylorista de outros influenciadores.

'Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope', defende Mari Krüger Foto: Léo Souza/Estadão

A experiência como uma quase “fiscal” dos produtos da internet — ela é constantemente convocada pelos seguidores a desvendar conteúdos duvidosos nas redes — levou a uma visão especial de como a mentira é mais sedutora. “A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta.”

No estúdio da TV Estadão, ela deu dicas de como nadar contra a maré de desinformação e falou sobre o processo de produção de seus vídeos. Confira a entrevista:

Alguns pesquisadores definem influenciador como alguém que quer vender algo nas redes. Você se considera uma influenciadora? Ou talvez uma ‘desinfluenciadora’?

O termo influenciadora me incomoda um pouco. Porque quando a gente fala ‘sou influenciadora’, o que vem à mente é a galera com que eu não queria parecer. Mas vendo coisas. Além de oferecer, de graça, o meu conhecimento, trabalho com muitas marcas. Essa é a minha fonte de renda porque, infelizmente, a monetização não paga tão bem quanto deveria. Inclusive, eu gosto de usar a expressão desinfluenciadora para a pessoa que está fazendo uma influência errada, que está desinformando. Eu gosto da ideia de que eu influencio as pessoas para comprar, mas também influencio com conhecimento.

Como você escolhe as publicidades?

É delicado. Quando percebi que isso ia ser uma profissão, quando as marcas começaram a entrar em contato comigo, me desesperei porque pensei: ‘Não vou conseguir trabalhar com nada’. Mas, na verdade, o que aconteceu foi justamente o contrário. Por eu fazer um trabalho baseado em ciência e ser muito criteriosa com as marcas com as quais trabalho, comecei a trabalhar com marcas muito grandes muito cedo. Porque não importava para elas se eu tinha muitos seguidores, importava que eu era uma cientista, uma bióloga que estava validando aquele produto e dizendo: ‘Isso aqui é um produto legal, eu pesquisei.’

A gênese do que é o seu conteúdo hoje nasceu na pandemia?

Isso. Tive a ideia de começar a fazer vídeo para não enlouquecer, ocupar a minha cabeça. Tinha alguns assuntos que lembrava (da faculdade) e que eu usava em mesa de bar para puxar assunto. Pensei: ‘Vou contar isso em vídeo’. Porque além de bióloga e DJ, também sou atriz, desde os meus 18 anos. Sempre tive muita facilidade em fazer caras e bocas, em interpretar. O reels (do Instagram) permitia 15 segundos (de vídeo). Eu tinha facilidade em trazer muita informação sem precisar falar quase nada, porque fazia muitos comerciais. Tudo começou ali. Depois, passei a fazer vídeos mais longos, a profissionalizar, investir em equipamentos, fazer cursos, até que isso se tornou a minha profissão.

Como surgem suas pautas? Vejo que as pessoas costumam marcá-la em tudo quanto é propaganda e postagem de outros influenciadores.

Nunca precisei procurar pautas porque, infelizmente, elas me encontram. Se quisesse ficar um tempo sem nada, não ia conseguir, porque todo dia é um novo absurdo. Grande parte do meu conteúdo é desmentindo informações incorretas ou trazendo a verdade sobre produtos milagrosos — e esses aparecem que nem praga, diariamente.

O trabalho de divulgação científica tem que servir à população

Mari Krüger, bióloga

As pautas me encontram, mas são em volume gigantesco e preciso filtrar um pouco. Eu filtro por demanda. ‘Isso aqui surgiu muitas vezes e é interessante ser falado’ ou ‘isso traz risco para as pessoas’. Às vezes, as pessoas falam que a avó manda tomar tal chá. ‘Será que funciona?’ Toma o chá que a avó mandou. Não tem nada de prejuízo ali. Claro, não vai deixar de procurar um tratamento médico quando estiver doente. Mas algumas coisas que não trazem risco à saúde ou que não são uma ameaça à saúde pública, acabo deixando em stand-by. Vamos falar sobre essa água alcalina que está prometendo a cura do câncer. Isso aqui, sim, é mais importante. O trabalho de divulgação científica tem que servir à população.

Sobre esses produtos milagrosos, suplementos, por exemplo, que focam justamente na saúde e bem-estar. Por que temos tanto conteúdo e gente tentando vender produtos que ‘curam’ tudo?

Viralizei na internet por falar sobre suplementos. Tenho um quadro no qual faço os suplementos chegando dentro do corpo, falando tudo o que eles vão fazer e a personagem, que é tipo a ‘hostess’ do corpo, fica ali questionando como é que isso seria possível. No final, tem a bexiga jogando dinheiro para cima, porque vira um xixi caro. Quando suplementamos uma coisa que não é necessária, ela vai ser só expelida na nossa urina. Precisamos saber o que temos antes de saber se precisamos suplementar ou não.

Bem raramente a causa do que estamos sentindo vai ser uma deficiência de vitaminas. Precisamos de um diagnóstico. Por exemplo, a queda de cabelo. Pode ser uma questão hormonal, um sintoma de pós-covid, estresse, dermatite. Então, tomar um suplemento não vai adiantar nada.

E se for, de fato, uma deficiência vitamínica, precisamos fazer a correção com uma dosagem correta. E aqui a gente vai entender por que vemos tanta propaganda de suplemento. Esses suplementos prontos, multivitamínicos prontos, para serem aprovados pela Anvisa e poderem ser vendidos no Brasil, não precisam ter uma comprovação de eficácia. Só precisam ter comprovação de segurança.

Para eles serem seguros para toda e qualquer pessoa, precisam ter uma dosagem muito baixa dos componentes. Com essa dosagem muito baixa, é praticamente impossível que consigam corrigir uma deficiência. É por isso que é tão fácil criar um novo suplemento.

Quando se faz publicidade para um medicamento, por exemplo, há milhares de poréns regulatórios. O suplemento tem bem menos regras. É mais fácil de ser criado, de ser vendido, de se fazer publicidade. E é um mercado que está movimentando muito dinheiro, e vai movimentar ainda mais.

Sua formação é biologia e você fala de vários assuntos dentro do guarda-chuva da ciência nas redes. Até onde pode ir em relação aos temas abordados?

É quase impossível que eu saiba tudo de tudo. Tenho muito medo de parecer uma ‘tudóloga’, que entende de tudo. A verdade é que eu estudo todos os assuntos (dos quais falo) e, com muita frequência, busco profissionais especializados naquele assunto. Tenho um ‘time de profissionais’ que me ajuda. Coloco entre aspas porque eles não trabalham comigo, são amigos, na verdade. Fazemos vídeos e roteiros em colaboração. Se você procurar nos meus vídeos, além de ter todas as referências científicas que foram utilizadas, eu cito os profissionais que me ajudaram.

Como você lida com o hate na internet? Que mito derrubado mais incomodou os haters?

Uma das coisas que mais me trouxeram hate e que marcou muito a minha vida foi o vinagre porque, dentro do X (ex-Twitter), eu era conhecida como a anti-vinagre. Eu fiz uma thread (fio de publicações em sequência) explicando que o vinagre não era tudo isso que a gente imaginava, porque as pessoas atrelam o vinagre a milagres. As pessoas me acusavam de tudo.

O ódio dentro da internet é bem comum, recebo muito, mas de forma que paralisou minha vida foram algumas poucas vezes. Mas eu sempre digo que existem algumas pessoas que eu não me importo de desagradar. Quando eu recebo hate de pessoas que são negacionistas ou pessoas que não acreditam na ciência, me sinto orgulhosa de estar decepcionando. O que me incomoda é quando eu acabo decepcionando pessoas que ‘nossa, eu adorava o seu conteúdo, mas isso aqui acabou me incomodando’.

Não tenho medo nenhum de aceitar que eu errei, de rever um conteúdo que estava errado. Eu já fiz um vídeo brincando com uma retratação. Fiquei com muito medo de fazer isso e as pessoas acharem ‘pronto, agora tudo que ela falar vai estar errado, não vou mais acreditar’. E, na verdade, foi o contrário, as pessoas dizendo que ciência é isso. Ciência é sobre identificar onde está o erro e dizer ‘não, gente, ó, eu fui apresentada a evidências melhores e aqui está a correção.’

Você acha que hoje é mais fácil encontrar desinformação ou informação?

A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta. É muito mais fácil viralizar um vídeo dizendo que a garrafinha plástica te impede de emagrecer ‘porque os microplásticos não sei o quê, não sei o quê’. Enquanto o cientista vai dizer: ‘gente, não é bem assim, ó, depende, bababá.’ O vídeo vai ficar mais longo, mais chato, mais complexo. Fica mais difícil que se torne viral. É muito mais fácil que esse vídeo (desinformativo), direto ao ponto, chegue a mais pessoas.

Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer

Mari Krüger, bióloga

Apesar de achar que estamos imersos em um mar de desinformação, vejo um grande ‘boom’ de interesse na ciência. Odeio usar o termo ‘o lado bom da pandemia’, mas o lado bom da pandemia é que todo mundo acabou se interessando mais pelo que estava acontecendo. ‘O que é esse vírus?’ ‘Como é que se faz uma vacina?’ ‘Qual remédio funciona?’ Era um assunto que estava muito na moda, todo mundo estava falando sobre isso. Então, houve um grande ‘boom’ de criadores de conteúdo de ciência também. Antes eles estavam no YouTube, mas agora também estão nas redes sociais de vídeos curtos.

Acho que estamos indo para um caminho de pessoas se tornarem mais desconfiadas. Não diria que elas vão desacreditar da desinformação, mas está todo mundo ficando mais atento, com um olhar mais crítico. Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer.

Do seu processo de criação de conteúdo, o que pode ajudar outras pessoas a se protegerem da desinformação?

É muito delicado, porque não tenho como dizer aqui para a dona Maria, lá na casa dela, abrir o PubMed, que é o lugar onde fazemos busca de artigo científico. Até porque é praticamente impossível para quem não é da área, porque os artigos estão todos em inglês, usam uma linguagem científica. Dentro dos artigos, ainda tem a questão da qualidade metodológica. Ter um artigo, às vezes, não significa nada. Pode ser um artigo super ruim, fraco, com um viés, que foi comprado para aquilo ser falado.

Costumo dizer para as pessoas para criar uma rede de informações seguras. Então, com muita frequência, indico o perfil de outros profissionais que, de repente, quando eu não conseguir fazer um vídeo e for um assunto da área deles, provavelmente vão fazer.

A gente cria essa rede segura para tirar dúvidas, mas principalmente para consumir esses conteúdos, porque vamos ficando com um olhar mais treinado para desconfiar. Quando a gente segue essas pessoas que trabalham embasando o conteúdo em ciência, é bem comum que comecemos a reconhecer com mais facilidade as ‘red flags’, as bandeiras vermelhas de atenção.

Dicas básicas que costumam ser bem fáceis são:

  • (desconfie de) produtos que prometem muitas coisas. Um produto que promete ajudar a emagrecer, melhorar o foco, dormir melhor… Calma! Não tem como ele fazer tudo isso;
  • ou, então, um tratamento que serve para muitas coisas, não necessariamente um produto;
  • ou um profissional que indica, por exemplo, suplementos através de um vídeo. Suplementação tem que ser individualizada, tem que ser feita uma anamnese em consultório, tem que ser feito exame.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Eu sei que está difícil. Sei que vemos os criadores de conteúdos digitais e torcemos o nariz. ‘Quem é essa pessoa que está fazendo humor, essa pessoa que é nova demais?’ ‘Por que não vou acreditar naquele médico senhorzinho de bigode e cabelo branco? Parece que ele sabe muito mais.’

Eu entendo essa desconfiança. Às vezes, nem gosto de dizer que sou influenciadora, por saber que grande parte dos influenciadores digitais, de fato, não são responsáveis no que divulgam. Mas valorizem o trabalho dos divulgadores científicos. Eles estão na internet, têm muito potencial e precisam de voz e chegar a mais pessoas.

Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope. Não comenta, não compartilha, não joga pra frente. Faz isso ao contrário, com as pessoas que estão divulgando a ciência e a informação correta. Espalhem para o mundo, indiquem para as pessoas. Sem as pessoas nos assistirem e propagarem o nosso trabalho, ficamos falando pra ninguém.

Olhando para a câmera, bem enquadrado num retângulo vertical, o mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, responde a uma “caixinha de perguntas” do Instagram, como um usuário qualquer. “É verdade que mosquito da dengue só pica até as 18h?”, questiona um suposto internauta. “É verdade, sim. CLT, né? Deu 18h, acabou, c’est fini.”

Usando uma camiseta listrada, asas provavelmente advindas de uma fantasia de fada, boné, óculos escuros e um cone de papel no nariz, quem responde na verdade é a bióloga gaúcha Mari Krüger, de 35 anos. Com personagens como esse e bastante humor, ela faz sucesso nas redes sociais com algo que por muito tempo foi visto — e talvez seja até hoje — como sisudo e sem graça: divulgação científica. Popularizando a ciência, ela já soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e quase 800 mil no TikTok.

Formada em 2013, ela tomou um rumo inesperado: virou DJ. Mas, com a pandemia de covid-19, as casas noturnas fecharam e ela voltou para a dela. Se divertiu muito com os vídeos curtos do TikTok e, para “não enlouquecer”, começou a gravar também, usando curiosidades científicas que lembrava da época da faculdade.

Não era profissão, até que se tornou. Mari viralizou colocando em xeque a indicação indiscriminada de suplementos por parte de algumas blogueiras, mas não se restringiu a esse assunto e hoje aborda diferentes pautas — e produtos. Isso exige estudo e tempo, por isso, comemora quando consegue gravar três vídeos por semana, uma antítese à produção taylorista de outros influenciadores.

'Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope', defende Mari Krüger Foto: Léo Souza/Estadão

A experiência como uma quase “fiscal” dos produtos da internet — ela é constantemente convocada pelos seguidores a desvendar conteúdos duvidosos nas redes — levou a uma visão especial de como a mentira é mais sedutora. “A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta.”

No estúdio da TV Estadão, ela deu dicas de como nadar contra a maré de desinformação e falou sobre o processo de produção de seus vídeos. Confira a entrevista:

Alguns pesquisadores definem influenciador como alguém que quer vender algo nas redes. Você se considera uma influenciadora? Ou talvez uma ‘desinfluenciadora’?

O termo influenciadora me incomoda um pouco. Porque quando a gente fala ‘sou influenciadora’, o que vem à mente é a galera com que eu não queria parecer. Mas vendo coisas. Além de oferecer, de graça, o meu conhecimento, trabalho com muitas marcas. Essa é a minha fonte de renda porque, infelizmente, a monetização não paga tão bem quanto deveria. Inclusive, eu gosto de usar a expressão desinfluenciadora para a pessoa que está fazendo uma influência errada, que está desinformando. Eu gosto da ideia de que eu influencio as pessoas para comprar, mas também influencio com conhecimento.

Como você escolhe as publicidades?

É delicado. Quando percebi que isso ia ser uma profissão, quando as marcas começaram a entrar em contato comigo, me desesperei porque pensei: ‘Não vou conseguir trabalhar com nada’. Mas, na verdade, o que aconteceu foi justamente o contrário. Por eu fazer um trabalho baseado em ciência e ser muito criteriosa com as marcas com as quais trabalho, comecei a trabalhar com marcas muito grandes muito cedo. Porque não importava para elas se eu tinha muitos seguidores, importava que eu era uma cientista, uma bióloga que estava validando aquele produto e dizendo: ‘Isso aqui é um produto legal, eu pesquisei.’

A gênese do que é o seu conteúdo hoje nasceu na pandemia?

Isso. Tive a ideia de começar a fazer vídeo para não enlouquecer, ocupar a minha cabeça. Tinha alguns assuntos que lembrava (da faculdade) e que eu usava em mesa de bar para puxar assunto. Pensei: ‘Vou contar isso em vídeo’. Porque além de bióloga e DJ, também sou atriz, desde os meus 18 anos. Sempre tive muita facilidade em fazer caras e bocas, em interpretar. O reels (do Instagram) permitia 15 segundos (de vídeo). Eu tinha facilidade em trazer muita informação sem precisar falar quase nada, porque fazia muitos comerciais. Tudo começou ali. Depois, passei a fazer vídeos mais longos, a profissionalizar, investir em equipamentos, fazer cursos, até que isso se tornou a minha profissão.

Como surgem suas pautas? Vejo que as pessoas costumam marcá-la em tudo quanto é propaganda e postagem de outros influenciadores.

Nunca precisei procurar pautas porque, infelizmente, elas me encontram. Se quisesse ficar um tempo sem nada, não ia conseguir, porque todo dia é um novo absurdo. Grande parte do meu conteúdo é desmentindo informações incorretas ou trazendo a verdade sobre produtos milagrosos — e esses aparecem que nem praga, diariamente.

O trabalho de divulgação científica tem que servir à população

Mari Krüger, bióloga

As pautas me encontram, mas são em volume gigantesco e preciso filtrar um pouco. Eu filtro por demanda. ‘Isso aqui surgiu muitas vezes e é interessante ser falado’ ou ‘isso traz risco para as pessoas’. Às vezes, as pessoas falam que a avó manda tomar tal chá. ‘Será que funciona?’ Toma o chá que a avó mandou. Não tem nada de prejuízo ali. Claro, não vai deixar de procurar um tratamento médico quando estiver doente. Mas algumas coisas que não trazem risco à saúde ou que não são uma ameaça à saúde pública, acabo deixando em stand-by. Vamos falar sobre essa água alcalina que está prometendo a cura do câncer. Isso aqui, sim, é mais importante. O trabalho de divulgação científica tem que servir à população.

Sobre esses produtos milagrosos, suplementos, por exemplo, que focam justamente na saúde e bem-estar. Por que temos tanto conteúdo e gente tentando vender produtos que ‘curam’ tudo?

Viralizei na internet por falar sobre suplementos. Tenho um quadro no qual faço os suplementos chegando dentro do corpo, falando tudo o que eles vão fazer e a personagem, que é tipo a ‘hostess’ do corpo, fica ali questionando como é que isso seria possível. No final, tem a bexiga jogando dinheiro para cima, porque vira um xixi caro. Quando suplementamos uma coisa que não é necessária, ela vai ser só expelida na nossa urina. Precisamos saber o que temos antes de saber se precisamos suplementar ou não.

Bem raramente a causa do que estamos sentindo vai ser uma deficiência de vitaminas. Precisamos de um diagnóstico. Por exemplo, a queda de cabelo. Pode ser uma questão hormonal, um sintoma de pós-covid, estresse, dermatite. Então, tomar um suplemento não vai adiantar nada.

E se for, de fato, uma deficiência vitamínica, precisamos fazer a correção com uma dosagem correta. E aqui a gente vai entender por que vemos tanta propaganda de suplemento. Esses suplementos prontos, multivitamínicos prontos, para serem aprovados pela Anvisa e poderem ser vendidos no Brasil, não precisam ter uma comprovação de eficácia. Só precisam ter comprovação de segurança.

Para eles serem seguros para toda e qualquer pessoa, precisam ter uma dosagem muito baixa dos componentes. Com essa dosagem muito baixa, é praticamente impossível que consigam corrigir uma deficiência. É por isso que é tão fácil criar um novo suplemento.

Quando se faz publicidade para um medicamento, por exemplo, há milhares de poréns regulatórios. O suplemento tem bem menos regras. É mais fácil de ser criado, de ser vendido, de se fazer publicidade. E é um mercado que está movimentando muito dinheiro, e vai movimentar ainda mais.

Sua formação é biologia e você fala de vários assuntos dentro do guarda-chuva da ciência nas redes. Até onde pode ir em relação aos temas abordados?

É quase impossível que eu saiba tudo de tudo. Tenho muito medo de parecer uma ‘tudóloga’, que entende de tudo. A verdade é que eu estudo todos os assuntos (dos quais falo) e, com muita frequência, busco profissionais especializados naquele assunto. Tenho um ‘time de profissionais’ que me ajuda. Coloco entre aspas porque eles não trabalham comigo, são amigos, na verdade. Fazemos vídeos e roteiros em colaboração. Se você procurar nos meus vídeos, além de ter todas as referências científicas que foram utilizadas, eu cito os profissionais que me ajudaram.

Como você lida com o hate na internet? Que mito derrubado mais incomodou os haters?

Uma das coisas que mais me trouxeram hate e que marcou muito a minha vida foi o vinagre porque, dentro do X (ex-Twitter), eu era conhecida como a anti-vinagre. Eu fiz uma thread (fio de publicações em sequência) explicando que o vinagre não era tudo isso que a gente imaginava, porque as pessoas atrelam o vinagre a milagres. As pessoas me acusavam de tudo.

O ódio dentro da internet é bem comum, recebo muito, mas de forma que paralisou minha vida foram algumas poucas vezes. Mas eu sempre digo que existem algumas pessoas que eu não me importo de desagradar. Quando eu recebo hate de pessoas que são negacionistas ou pessoas que não acreditam na ciência, me sinto orgulhosa de estar decepcionando. O que me incomoda é quando eu acabo decepcionando pessoas que ‘nossa, eu adorava o seu conteúdo, mas isso aqui acabou me incomodando’.

Não tenho medo nenhum de aceitar que eu errei, de rever um conteúdo que estava errado. Eu já fiz um vídeo brincando com uma retratação. Fiquei com muito medo de fazer isso e as pessoas acharem ‘pronto, agora tudo que ela falar vai estar errado, não vou mais acreditar’. E, na verdade, foi o contrário, as pessoas dizendo que ciência é isso. Ciência é sobre identificar onde está o erro e dizer ‘não, gente, ó, eu fui apresentada a evidências melhores e aqui está a correção.’

Você acha que hoje é mais fácil encontrar desinformação ou informação?

A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta. É muito mais fácil viralizar um vídeo dizendo que a garrafinha plástica te impede de emagrecer ‘porque os microplásticos não sei o quê, não sei o quê’. Enquanto o cientista vai dizer: ‘gente, não é bem assim, ó, depende, bababá.’ O vídeo vai ficar mais longo, mais chato, mais complexo. Fica mais difícil que se torne viral. É muito mais fácil que esse vídeo (desinformativo), direto ao ponto, chegue a mais pessoas.

Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer

Mari Krüger, bióloga

Apesar de achar que estamos imersos em um mar de desinformação, vejo um grande ‘boom’ de interesse na ciência. Odeio usar o termo ‘o lado bom da pandemia’, mas o lado bom da pandemia é que todo mundo acabou se interessando mais pelo que estava acontecendo. ‘O que é esse vírus?’ ‘Como é que se faz uma vacina?’ ‘Qual remédio funciona?’ Era um assunto que estava muito na moda, todo mundo estava falando sobre isso. Então, houve um grande ‘boom’ de criadores de conteúdo de ciência também. Antes eles estavam no YouTube, mas agora também estão nas redes sociais de vídeos curtos.

Acho que estamos indo para um caminho de pessoas se tornarem mais desconfiadas. Não diria que elas vão desacreditar da desinformação, mas está todo mundo ficando mais atento, com um olhar mais crítico. Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer.

Do seu processo de criação de conteúdo, o que pode ajudar outras pessoas a se protegerem da desinformação?

É muito delicado, porque não tenho como dizer aqui para a dona Maria, lá na casa dela, abrir o PubMed, que é o lugar onde fazemos busca de artigo científico. Até porque é praticamente impossível para quem não é da área, porque os artigos estão todos em inglês, usam uma linguagem científica. Dentro dos artigos, ainda tem a questão da qualidade metodológica. Ter um artigo, às vezes, não significa nada. Pode ser um artigo super ruim, fraco, com um viés, que foi comprado para aquilo ser falado.

Costumo dizer para as pessoas para criar uma rede de informações seguras. Então, com muita frequência, indico o perfil de outros profissionais que, de repente, quando eu não conseguir fazer um vídeo e for um assunto da área deles, provavelmente vão fazer.

A gente cria essa rede segura para tirar dúvidas, mas principalmente para consumir esses conteúdos, porque vamos ficando com um olhar mais treinado para desconfiar. Quando a gente segue essas pessoas que trabalham embasando o conteúdo em ciência, é bem comum que comecemos a reconhecer com mais facilidade as ‘red flags’, as bandeiras vermelhas de atenção.

Dicas básicas que costumam ser bem fáceis são:

  • (desconfie de) produtos que prometem muitas coisas. Um produto que promete ajudar a emagrecer, melhorar o foco, dormir melhor… Calma! Não tem como ele fazer tudo isso;
  • ou, então, um tratamento que serve para muitas coisas, não necessariamente um produto;
  • ou um profissional que indica, por exemplo, suplementos através de um vídeo. Suplementação tem que ser individualizada, tem que ser feita uma anamnese em consultório, tem que ser feito exame.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Eu sei que está difícil. Sei que vemos os criadores de conteúdos digitais e torcemos o nariz. ‘Quem é essa pessoa que está fazendo humor, essa pessoa que é nova demais?’ ‘Por que não vou acreditar naquele médico senhorzinho de bigode e cabelo branco? Parece que ele sabe muito mais.’

Eu entendo essa desconfiança. Às vezes, nem gosto de dizer que sou influenciadora, por saber que grande parte dos influenciadores digitais, de fato, não são responsáveis no que divulgam. Mas valorizem o trabalho dos divulgadores científicos. Eles estão na internet, têm muito potencial e precisam de voz e chegar a mais pessoas.

Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope. Não comenta, não compartilha, não joga pra frente. Faz isso ao contrário, com as pessoas que estão divulgando a ciência e a informação correta. Espalhem para o mundo, indiquem para as pessoas. Sem as pessoas nos assistirem e propagarem o nosso trabalho, ficamos falando pra ninguém.

Olhando para a câmera, bem enquadrado num retângulo vertical, o mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, responde a uma “caixinha de perguntas” do Instagram, como um usuário qualquer. “É verdade que mosquito da dengue só pica até as 18h?”, questiona um suposto internauta. “É verdade, sim. CLT, né? Deu 18h, acabou, c’est fini.”

Usando uma camiseta listrada, asas provavelmente advindas de uma fantasia de fada, boné, óculos escuros e um cone de papel no nariz, quem responde na verdade é a bióloga gaúcha Mari Krüger, de 35 anos. Com personagens como esse e bastante humor, ela faz sucesso nas redes sociais com algo que por muito tempo foi visto — e talvez seja até hoje — como sisudo e sem graça: divulgação científica. Popularizando a ciência, ela já soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e quase 800 mil no TikTok.

Formada em 2013, ela tomou um rumo inesperado: virou DJ. Mas, com a pandemia de covid-19, as casas noturnas fecharam e ela voltou para a dela. Se divertiu muito com os vídeos curtos do TikTok e, para “não enlouquecer”, começou a gravar também, usando curiosidades científicas que lembrava da época da faculdade.

Não era profissão, até que se tornou. Mari viralizou colocando em xeque a indicação indiscriminada de suplementos por parte de algumas blogueiras, mas não se restringiu a esse assunto e hoje aborda diferentes pautas — e produtos. Isso exige estudo e tempo, por isso, comemora quando consegue gravar três vídeos por semana, uma antítese à produção taylorista de outros influenciadores.

'Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope', defende Mari Krüger Foto: Léo Souza/Estadão

A experiência como uma quase “fiscal” dos produtos da internet — ela é constantemente convocada pelos seguidores a desvendar conteúdos duvidosos nas redes — levou a uma visão especial de como a mentira é mais sedutora. “A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta.”

No estúdio da TV Estadão, ela deu dicas de como nadar contra a maré de desinformação e falou sobre o processo de produção de seus vídeos. Confira a entrevista:

Alguns pesquisadores definem influenciador como alguém que quer vender algo nas redes. Você se considera uma influenciadora? Ou talvez uma ‘desinfluenciadora’?

O termo influenciadora me incomoda um pouco. Porque quando a gente fala ‘sou influenciadora’, o que vem à mente é a galera com que eu não queria parecer. Mas vendo coisas. Além de oferecer, de graça, o meu conhecimento, trabalho com muitas marcas. Essa é a minha fonte de renda porque, infelizmente, a monetização não paga tão bem quanto deveria. Inclusive, eu gosto de usar a expressão desinfluenciadora para a pessoa que está fazendo uma influência errada, que está desinformando. Eu gosto da ideia de que eu influencio as pessoas para comprar, mas também influencio com conhecimento.

Como você escolhe as publicidades?

É delicado. Quando percebi que isso ia ser uma profissão, quando as marcas começaram a entrar em contato comigo, me desesperei porque pensei: ‘Não vou conseguir trabalhar com nada’. Mas, na verdade, o que aconteceu foi justamente o contrário. Por eu fazer um trabalho baseado em ciência e ser muito criteriosa com as marcas com as quais trabalho, comecei a trabalhar com marcas muito grandes muito cedo. Porque não importava para elas se eu tinha muitos seguidores, importava que eu era uma cientista, uma bióloga que estava validando aquele produto e dizendo: ‘Isso aqui é um produto legal, eu pesquisei.’

A gênese do que é o seu conteúdo hoje nasceu na pandemia?

Isso. Tive a ideia de começar a fazer vídeo para não enlouquecer, ocupar a minha cabeça. Tinha alguns assuntos que lembrava (da faculdade) e que eu usava em mesa de bar para puxar assunto. Pensei: ‘Vou contar isso em vídeo’. Porque além de bióloga e DJ, também sou atriz, desde os meus 18 anos. Sempre tive muita facilidade em fazer caras e bocas, em interpretar. O reels (do Instagram) permitia 15 segundos (de vídeo). Eu tinha facilidade em trazer muita informação sem precisar falar quase nada, porque fazia muitos comerciais. Tudo começou ali. Depois, passei a fazer vídeos mais longos, a profissionalizar, investir em equipamentos, fazer cursos, até que isso se tornou a minha profissão.

Como surgem suas pautas? Vejo que as pessoas costumam marcá-la em tudo quanto é propaganda e postagem de outros influenciadores.

Nunca precisei procurar pautas porque, infelizmente, elas me encontram. Se quisesse ficar um tempo sem nada, não ia conseguir, porque todo dia é um novo absurdo. Grande parte do meu conteúdo é desmentindo informações incorretas ou trazendo a verdade sobre produtos milagrosos — e esses aparecem que nem praga, diariamente.

O trabalho de divulgação científica tem que servir à população

Mari Krüger, bióloga

As pautas me encontram, mas são em volume gigantesco e preciso filtrar um pouco. Eu filtro por demanda. ‘Isso aqui surgiu muitas vezes e é interessante ser falado’ ou ‘isso traz risco para as pessoas’. Às vezes, as pessoas falam que a avó manda tomar tal chá. ‘Será que funciona?’ Toma o chá que a avó mandou. Não tem nada de prejuízo ali. Claro, não vai deixar de procurar um tratamento médico quando estiver doente. Mas algumas coisas que não trazem risco à saúde ou que não são uma ameaça à saúde pública, acabo deixando em stand-by. Vamos falar sobre essa água alcalina que está prometendo a cura do câncer. Isso aqui, sim, é mais importante. O trabalho de divulgação científica tem que servir à população.

Sobre esses produtos milagrosos, suplementos, por exemplo, que focam justamente na saúde e bem-estar. Por que temos tanto conteúdo e gente tentando vender produtos que ‘curam’ tudo?

Viralizei na internet por falar sobre suplementos. Tenho um quadro no qual faço os suplementos chegando dentro do corpo, falando tudo o que eles vão fazer e a personagem, que é tipo a ‘hostess’ do corpo, fica ali questionando como é que isso seria possível. No final, tem a bexiga jogando dinheiro para cima, porque vira um xixi caro. Quando suplementamos uma coisa que não é necessária, ela vai ser só expelida na nossa urina. Precisamos saber o que temos antes de saber se precisamos suplementar ou não.

Bem raramente a causa do que estamos sentindo vai ser uma deficiência de vitaminas. Precisamos de um diagnóstico. Por exemplo, a queda de cabelo. Pode ser uma questão hormonal, um sintoma de pós-covid, estresse, dermatite. Então, tomar um suplemento não vai adiantar nada.

E se for, de fato, uma deficiência vitamínica, precisamos fazer a correção com uma dosagem correta. E aqui a gente vai entender por que vemos tanta propaganda de suplemento. Esses suplementos prontos, multivitamínicos prontos, para serem aprovados pela Anvisa e poderem ser vendidos no Brasil, não precisam ter uma comprovação de eficácia. Só precisam ter comprovação de segurança.

Para eles serem seguros para toda e qualquer pessoa, precisam ter uma dosagem muito baixa dos componentes. Com essa dosagem muito baixa, é praticamente impossível que consigam corrigir uma deficiência. É por isso que é tão fácil criar um novo suplemento.

Quando se faz publicidade para um medicamento, por exemplo, há milhares de poréns regulatórios. O suplemento tem bem menos regras. É mais fácil de ser criado, de ser vendido, de se fazer publicidade. E é um mercado que está movimentando muito dinheiro, e vai movimentar ainda mais.

Sua formação é biologia e você fala de vários assuntos dentro do guarda-chuva da ciência nas redes. Até onde pode ir em relação aos temas abordados?

É quase impossível que eu saiba tudo de tudo. Tenho muito medo de parecer uma ‘tudóloga’, que entende de tudo. A verdade é que eu estudo todos os assuntos (dos quais falo) e, com muita frequência, busco profissionais especializados naquele assunto. Tenho um ‘time de profissionais’ que me ajuda. Coloco entre aspas porque eles não trabalham comigo, são amigos, na verdade. Fazemos vídeos e roteiros em colaboração. Se você procurar nos meus vídeos, além de ter todas as referências científicas que foram utilizadas, eu cito os profissionais que me ajudaram.

Como você lida com o hate na internet? Que mito derrubado mais incomodou os haters?

Uma das coisas que mais me trouxeram hate e que marcou muito a minha vida foi o vinagre porque, dentro do X (ex-Twitter), eu era conhecida como a anti-vinagre. Eu fiz uma thread (fio de publicações em sequência) explicando que o vinagre não era tudo isso que a gente imaginava, porque as pessoas atrelam o vinagre a milagres. As pessoas me acusavam de tudo.

O ódio dentro da internet é bem comum, recebo muito, mas de forma que paralisou minha vida foram algumas poucas vezes. Mas eu sempre digo que existem algumas pessoas que eu não me importo de desagradar. Quando eu recebo hate de pessoas que são negacionistas ou pessoas que não acreditam na ciência, me sinto orgulhosa de estar decepcionando. O que me incomoda é quando eu acabo decepcionando pessoas que ‘nossa, eu adorava o seu conteúdo, mas isso aqui acabou me incomodando’.

Não tenho medo nenhum de aceitar que eu errei, de rever um conteúdo que estava errado. Eu já fiz um vídeo brincando com uma retratação. Fiquei com muito medo de fazer isso e as pessoas acharem ‘pronto, agora tudo que ela falar vai estar errado, não vou mais acreditar’. E, na verdade, foi o contrário, as pessoas dizendo que ciência é isso. Ciência é sobre identificar onde está o erro e dizer ‘não, gente, ó, eu fui apresentada a evidências melhores e aqui está a correção.’

Você acha que hoje é mais fácil encontrar desinformação ou informação?

A desinformação é muito direta e simples de ser digerida. A ciência é mais complexa. Ela vai responder ‘depende’ quando você fizer uma pergunta. É muito mais fácil viralizar um vídeo dizendo que a garrafinha plástica te impede de emagrecer ‘porque os microplásticos não sei o quê, não sei o quê’. Enquanto o cientista vai dizer: ‘gente, não é bem assim, ó, depende, bababá.’ O vídeo vai ficar mais longo, mais chato, mais complexo. Fica mais difícil que se torne viral. É muito mais fácil que esse vídeo (desinformativo), direto ao ponto, chegue a mais pessoas.

Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer

Mari Krüger, bióloga

Apesar de achar que estamos imersos em um mar de desinformação, vejo um grande ‘boom’ de interesse na ciência. Odeio usar o termo ‘o lado bom da pandemia’, mas o lado bom da pandemia é que todo mundo acabou se interessando mais pelo que estava acontecendo. ‘O que é esse vírus?’ ‘Como é que se faz uma vacina?’ ‘Qual remédio funciona?’ Era um assunto que estava muito na moda, todo mundo estava falando sobre isso. Então, houve um grande ‘boom’ de criadores de conteúdo de ciência também. Antes eles estavam no YouTube, mas agora também estão nas redes sociais de vídeos curtos.

Acho que estamos indo para um caminho de pessoas se tornarem mais desconfiadas. Não diria que elas vão desacreditar da desinformação, mas está todo mundo ficando mais atento, com um olhar mais crítico. Sou uma otimista patológica. A ciência vai vencer.

Do seu processo de criação de conteúdo, o que pode ajudar outras pessoas a se protegerem da desinformação?

É muito delicado, porque não tenho como dizer aqui para a dona Maria, lá na casa dela, abrir o PubMed, que é o lugar onde fazemos busca de artigo científico. Até porque é praticamente impossível para quem não é da área, porque os artigos estão todos em inglês, usam uma linguagem científica. Dentro dos artigos, ainda tem a questão da qualidade metodológica. Ter um artigo, às vezes, não significa nada. Pode ser um artigo super ruim, fraco, com um viés, que foi comprado para aquilo ser falado.

Costumo dizer para as pessoas para criar uma rede de informações seguras. Então, com muita frequência, indico o perfil de outros profissionais que, de repente, quando eu não conseguir fazer um vídeo e for um assunto da área deles, provavelmente vão fazer.

A gente cria essa rede segura para tirar dúvidas, mas principalmente para consumir esses conteúdos, porque vamos ficando com um olhar mais treinado para desconfiar. Quando a gente segue essas pessoas que trabalham embasando o conteúdo em ciência, é bem comum que comecemos a reconhecer com mais facilidade as ‘red flags’, as bandeiras vermelhas de atenção.

Dicas básicas que costumam ser bem fáceis são:

  • (desconfie de) produtos que prometem muitas coisas. Um produto que promete ajudar a emagrecer, melhorar o foco, dormir melhor… Calma! Não tem como ele fazer tudo isso;
  • ou, então, um tratamento que serve para muitas coisas, não necessariamente um produto;
  • ou um profissional que indica, por exemplo, suplementos através de um vídeo. Suplementação tem que ser individualizada, tem que ser feita uma anamnese em consultório, tem que ser feito exame.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Eu sei que está difícil. Sei que vemos os criadores de conteúdos digitais e torcemos o nariz. ‘Quem é essa pessoa que está fazendo humor, essa pessoa que é nova demais?’ ‘Por que não vou acreditar naquele médico senhorzinho de bigode e cabelo branco? Parece que ele sabe muito mais.’

Eu entendo essa desconfiança. Às vezes, nem gosto de dizer que sou influenciadora, por saber que grande parte dos influenciadores digitais, de fato, não são responsáveis no que divulgam. Mas valorizem o trabalho dos divulgadores científicos. Eles estão na internet, têm muito potencial e precisam de voz e chegar a mais pessoas.

Viu um conteúdo que você não gosta? Não dá Ibope. Não comenta, não compartilha, não joga pra frente. Faz isso ao contrário, com as pessoas que estão divulgando a ciência e a informação correta. Espalhem para o mundo, indiquem para as pessoas. Sem as pessoas nos assistirem e propagarem o nosso trabalho, ficamos falando pra ninguém.

Entrevista por Leon Ferrari

Repórter de Saúde e Bem-Estar. É formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Menção honrosa do 40º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo.

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