Usar todos os recursos da ciência para aliviar a dor, acolher e endereçar perspectivas. A qualidade de vida tem sido um dos temas mais discutidos nos congressos oncológicos. Desde o momento do diagnóstico até o processo de alta, a premissa tem sido o cuidado mais humanizado e o fortalecimento do paciente para que a travessia seja menos pesada. E a vida, após o câncer, boa.
“O grande desafio é tirar o estigma e encorajar quem está passando pelo processo. Os médicos hoje têm muita condição de prescrever mais qualidade de vida ouvindo as reclamações do paciente. O foco precisa estar na cura, no controle, mas também nos cuidados paliativos e na diminuição do sofrimento”, afirma Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, ONG de apoio e informação ao paciente com câncer. Trabalhar a autoestima dos pacientes, segundo a psico-oncologista, também é fundamental. “Uma mulher e um homem empoderados participam melhor das tomadas de decisão”, afirma.
Tumores diagnosticados, por exemplo, na mama, no caso das mulheres, ou na próstata, no sexo masculino, impactam diretamente questões como autoestima, sexualidade e no reconhecimento da própria imagem. O câncer de próstata, por exemplo, representa 30% dos tumores identificados entre os homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer. A recuperação das funções sexuais é uma das grandes preocupações desses pacientes.
Campanhas de conscientização, como a do Novembro Azul, inovações tecnológicas e novos fármacos estão auxiliando na derrubada de tabus e no cuidado com a saúde em geral, segundo Diogo Assed Bastos, membro do Comitê de Tumores Geniturinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “A inteligência artificial tem ajudado na análise das biópsias e mostrado caminhos para tratamentos mais eficazes. As cirurgias robóticas estão mais precisas e a radioterapia, mais segura”, explica o especialista. Além disso, afirma Bastos, existem vários medicamentos que geram menos efeitos colaterais e diminuem o risco da tão temida disfunção erétil. O tumor de próstata costuma ser silencioso. Sinais como jato urinário fraco e entrecortado, sangramento no sêmen e na urina devem ser avaliados, segundo os médicos.
O bom uso das novas tecnologias, associado aos cuidados humanizados, também está sendo essencial para sustentar a qualidade de vida de mulheres que passam pelo câncer de mama. “Além da ciência avançada, cuidados com a saúde mental, alimentação e atividade física vêm se mostrando relevantes (veja texto nesta página). É um pacote que ajuda a diminuir sintomas e abre caminhos para a retomada da vida. Nosso trabalho é ajudar as pacientes a não se sentir responsáveis pelo câncer”, afirma Daniela Dornelles Rosa, membro do Comitê de Tumores Mamários da SBOC. “Ninguém precisa sentir dor nem aguentar o sofrimento”, ratifica a médica.
Informação de qualidade
Serviço gratuito para ajudar no tratamento do câncer:
0800 773 1666 ou www.oncoguia.org.br
ACOLHIMENTO É CURA
O relato da psicanalista Joana Baptista, de 44 anos, que viveu o susto do diagnóstico do câncer de mama em 2021, mostra que os caminhos escolhidos para atravessar o processo, apesar de toda a complexidade que o momento apresenta, podem ser determinantes ao final da travessia.
“Desde 2020, acompanhava um caroço na mama esquerda. Quando passei a percebê-lo com mais facilidade, e a sentir uma dor estranha também, entendi que algo não estava bem. Havia algo diferente no meu corpo. Era um tumor do grupo ligado aos hormônios. O mundo despencou.
Fiz a mastectomia em janeiro de 2022. Além da retirada de toda a mama, precisei fazer um esvaziamento axilar porque alguns linfonodos estavam contaminados. O segundo passo a ser dado, então, acabou sendo a quimioterapia, que estava fora dos meus planos. Foi o segundo baque.
Consegui tratamento no A.C.Camargo. Apesar do momento difícil que atravessava, me senti segura. Além do acompanhamento de médicos muito bons, que traçaram um plano pra mim, existe acolhimento por parte da equipe que cerca os pacientes. O hospital virou minha segunda casa.
No início, pensar na quimioterapia era estranho, por causa do estigma de perda de cabelo, de ficar caída na cama. Ao longo das sessões, entretanto, essas ideias foram sendo desconstruídas.
Nos meses do tratamento, o que me manteve firme foi seguir ativa, na rotina de trabalho, cuidando da alimentação, mas também fazendo atividade física regular. Uma personal, amiga minha, montou um treino especial pra mim que funcionou como um remédio. Meu corpo estava forte e reagindo.
Consegui atravessar esse caminho tortuoso muito por causa do otimismo dos enfermeiros também. Eles ouviam minhas queixas e me ajudavam a amenizar.
Hoje faço acompanhamento. Tomo remédio em casa todos os dias e injeção para bloqueio hormonal a cada três meses. Apesar do incômodo de já ter entrado na menopausa induzida, esse é meu processo de cura. Ano passado, fiz cirurgia na mama direita para ficar simétrica à esquerda.
Meu foco foi na cura. Minha inspiração foi a minha avó, que passou pelo câncer de mama há muitos anos e hoje está aqui ainda, cheia de vida, aos 100 anos.”