Quando raça e gênero pesam na escolha de apoio psicológico


Escolher o profissional que combine com o estilo do paciente nem sempre é fácil. Por isso, há quem prefira buscar aquele com vivências semelhantes às suas

Por Júlia Belas Trindade
Julia Farias, de 20 anos, buscava lidar com aansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32 anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista ao Estadão.

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A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários. 

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CADASTRADOS. Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam, necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.”

Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”: num cenário de opressão, aquele espaço promove um pertencimento.

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“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona. 

Amanda Andrade, de 25 anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal. 

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'Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida', diz a comunicologa Julia Farias Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

DESMONTADA.“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vittude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

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“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vá conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.

Julia Farias, de 20 anos, buscava lidar com aansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32 anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista ao Estadão.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários. 

CADASTRADOS. Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam, necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.”

Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”: num cenário de opressão, aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona. 

Amanda Andrade, de 25 anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal. 

'Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida', diz a comunicologa Julia Farias Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

DESMONTADA.“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vittude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vá conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.

Julia Farias, de 20 anos, buscava lidar com aansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32 anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista ao Estadão.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários. 

CADASTRADOS. Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam, necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.”

Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”: num cenário de opressão, aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona. 

Amanda Andrade, de 25 anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal. 

'Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida', diz a comunicologa Julia Farias Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

DESMONTADA.“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vittude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vá conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.

Julia Farias, de 20 anos, buscava lidar com aansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32 anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista ao Estadão.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários. 

CADASTRADOS. Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam, necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.”

Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”: num cenário de opressão, aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona. 

Amanda Andrade, de 25 anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal. 

'Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida', diz a comunicologa Julia Farias Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

DESMONTADA.“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vittude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vá conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.

Julia Farias, de 20 anos, buscava lidar com aansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32 anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista ao Estadão.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários. 

CADASTRADOS. Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam, necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.”

Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”: num cenário de opressão, aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona. 

Amanda Andrade, de 25 anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal. 

'Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida', diz a comunicologa Julia Farias Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

DESMONTADA.“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vittude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vá conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.

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