Quedas de idosos em SP sobem 6,2% no pós-pandemia; veja se sua casa está preparada para evitá-las


A maioria dos acidentes acontece em casa e pode gerar consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão

Por Giovanna Castro
Atualização:

Os registros de quedas acidentais de pessoas acima de 60 anos aumentaram 6,2% na rede municipal em relação ao patamar pré-pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Ao todo, foram 14.160 quedas registradas na capital no ano passado, ante 13.327 em 2019.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o isolamento social fez com que as quedas tenham diminuído temporariamente – em 2020, foram contabilizadas 10.542 –, mas colaborou para um agravamento do quadro no pós-covid. “As pessoas estavam em casa e ficavam ainda mais paradas, o que as levou a perder músculos. Com isso, quando elas voltam a sair para andar, sem tantos músculos, a chance de cair aumenta”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da USP.

A Secretaria de Estado de Saúdeaponta ainda a redução no controle de doenças crônicas e os quadros de sequelas por infecção do coronavírus como motivos para o aumento da fragilidade dos idosos. No Estado, os quadros de internação por queda desse grupo populacional nos leitos do SUS variou de cerca de 34 mil para 41 mil entre 2018 e 2022. Isso representa um aumento de 4%, se ajustado com o aumento da população idosa no período, que foi de 11%.

continua após a publicidade

Já a Secretaria Municipal de Saúde responsabiliza a intensificação dos programas de conscientização sobre quedas para alta de notificações – antes, os casos poderiam estar subnotificados, diz a pasta.

O Ministério da Saúde diz que esse tipo de acidente é a 3ª maior causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil – por sangramento, agravamento de condição preexistente ou má recuperação pós-cirurgia – e 70% deles acontecem dentro de casa. Aproximadamente 30% das pessoas nessa faixa etária caem ao menos uma vez por ano e 25% dos casos necessitam hospitalização.

Mesmo que não provoquem a morte, essas quedas podem trazer consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão, alertam especialistas. E por terem metabolismo mais lento, menor produção de cálcio e possíveis restrições a cirurgias, a recuperação tende a ser mais difícil para esse tipo de paciente.

continua após a publicidade

É o caso do bancário aposentado Francisco Marsiglia, de 74 anos. Ele teve a mobilidade do braço e da perna direita reduzida após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril do ano passado e, depois disso, já sofreu duas quedas. “Uma delas foi com o andador. Eu me desequilibrei, caí de lado e trinquei quatro costelas“, diz. “Sentia dor quando deitava de lado e levou uns três meses para cicatrizar.”

Hoje, Marsiglia conta com a ajuda de um cuidador para subir e descer as escadas de sua casa e realizar atividades diárias, como tomar banho. Ele diz que sente falta da sua independência e que, por causa das quedas, tem medo de andar sozinho. “Já tem um ano que eu praticamente vivo em uma cela no quarto. Só desço para a sala, ajudado, e vou ao médico, de cadeira de rodas e Uber”, diz.

Francisco Marsiglia, bancário aposentado de 74 anos, e seu cuidador, Lucas Henrique Ramos Costa, de 27 anos.  Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
continua após a publicidade

Corpo mais vulnerável

Segundo o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, existem alguns motivos para que os idosos sejam mais suscetíveis a quedas, mas o principal são as alterações na marcha do caminhar.

Nesta faixa etária, a pessoa perde massa muscular, o que altera a sua composição corporal e leva à perda do equilíbrio. É por isso que muitos idosos não conseguem ou têm maior dificuldade em se equilibrarem apoiados em um só pé, por exemplo.

continua após a publicidade

“Há também uma menor amplitude do movimento, especialmente no movimento de dobrar a planta do pé sobre o chão. Essa elasticidade do pé é reduzida, o que dá menor propulsão para andar e faz com que o idoso arraste mais o pé”, diz Chehter.

É comum também que idosos tenham doenças ou condições que os tornam mais vulneráveis, como problemas de visão, artrose, osteoporose, doença de Parkinson, entre outras. Em adicional, alguns medicamentos podem causar tontura, falta de atenção ou redução da qualidade muscular.

continua após a publicidade

Rosangela Silvestrini, de 65 anos, aposentada, conta que a condição de sua sogra, Maria de Lurdes dos Santos, de 88, foi determinante para que ela se acidentasse. Maria tem demência e diabetes – doença que a deixou amputada da perna direita e cega.

“Ela achou que estava em seu estado normal (em relação às pernas, por conta da demência), foi tentar se levantar sem ajuda e caiu”, afirma Rosângela. “Fraturou a patela (osso) do joelho e precisaria de cirurgia, mas por conta da idade ela não pode fazer cirurgia nem engessar.” Depois do episódio, a família redobrou o número de acessórios de proteção na casa em que a idosa vive.

Cuidados redobrados

continua após a publicidade

Na visão de Chehter e de Camiz, a família de Maria de Lurdes agiu corretamente ao redobrar as medidas de segurança na casa. Isso porque não só questões fisiológicas levam às quedas, mas também ambientais e comportamentais.

Segundo os especialistas, pisos desnivelados e/ou escorregadios, móveis instáveis, baixa iluminação e pouco espaço para circulação são alguns dos fatores que podem favorecer acidentes. Assim como comportamentos perigosos a essa faixa etária, como subir em banquinhos, fazer faxinas pesadas e utilizar sapatos escorregadios ou folgados.

Algumas adaptações simples, como fixar barras de apoio pela casa, retirar tapetes e colocar uma grade de proteção na cama podem ajudar. O banheiro merece atenção especial, aponta Camiz, pois é o cômodo em que as quedas são mais comuns.

Para aqueles idosos que ficam muito tempo sozinhos em casa, a instalação de câmeras ou sensores de movimento podem colaborar para um socorro mais rápido em caso de emergência.

Junto à proteção, deve estar o diálogo. Segundo Chehter é preciso conversar com o idoso para que ele “entenda que não são apenas medidas de restrição da liberdade deles, mas uma forma de protegê-los, evitando que consequências negativas aconteçam”.

Camiz acrescenta que manter um acompanhamento com geriatra para identificar os pontos de risco de maneira personalizada e trabalhar na prevenção também é importante. “Se algum medicamento está dando muita tontura, por exemplo, é preciso trocar ou ajustar a dose”, diz.

Em caso de queda, deve-se avaliar o estado do idoso. “Se ele não consegue levantar, não deve ser removido, pois pode ter sofrido alguma fratura. Deve-se chamar o Samu (no 192) ou uma ambulância particular para que ele seja imobilizado e levado até um médico”, diz Chehter.

Se houver impacto na cabeça, a recomendação é fazer exames de imagem e observar se há alguma sequela posteriormente - sonolência e quadros de confusão mental são sinais de alerta.

Praticar atividade física e trabalhar a autoestima são o melhor remédio

De acordo com Camiz, uma queda para um idoso pode ser proporcional a um acidente de carro para um jovem - tanto em relação aos possíveis danos à sua integridade física, quanto ao trauma gerado.

Chehter concorda. “Quando o paciente já caiu uma vez e passa a ter medo de cair novamente, isso envolve questões psicológicas que levam a pessoa a se limitar mais e parar de frequentar determinados espaços, o que agrava ainda mais o seu condicionamento físico e o seu humor”, diz.

Nesse sentido, estimular a prática de exercícios físicos e o cuidado com os aspectos psicológicos nos idosos pode ajudar em relação ao problema das quedas e na saúde deles como um todo. São cuidados que servem tanto como prevenção, quanto como reabilitação.

“É uma fase muito difícil, porque é uma fase de aceitação de limitações. Mas é preciso entender que limitações não são necessariamente ruins, elas só significam que precisamos aprender a lidar com as coisas de uma forma nova“, diz o psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin. “Uma coisa bacana de trabalhar é fazer o idoso olhar para outras coisas, as que são possíveis.”

Em relação às atividades físicas, o recomendado é que todo idoso tenha uma rotina diária de exercícios. Eles podem ser escolhidos junto a um geriatra, de acordo com os gostos e possíveis limitações de cada pessoa. Se a pessoa sofreu queda recente ou tem alguma limitação ortopédica, a fisioterapia é o caminho.

Francisco, que tem feito fisioterapia cinco vezes por semana há um ano, desde que caiu pela primeira vez, sente os benefícios. Ele já consegue ir ao banheiro sozinho, se levantar da cama e de cadeiras com mais facilidade e caminhar melhor.

Francisco Marsiglia, de 74 anos, teve a sua mobilidade reduzida por causa de um AVC e já sofreu duas quedas. Atualmente, faz fisioterapia cinco vezes por semana para melhorar sua coordenação motora. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os registros de quedas acidentais de pessoas acima de 60 anos aumentaram 6,2% na rede municipal em relação ao patamar pré-pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Ao todo, foram 14.160 quedas registradas na capital no ano passado, ante 13.327 em 2019.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o isolamento social fez com que as quedas tenham diminuído temporariamente – em 2020, foram contabilizadas 10.542 –, mas colaborou para um agravamento do quadro no pós-covid. “As pessoas estavam em casa e ficavam ainda mais paradas, o que as levou a perder músculos. Com isso, quando elas voltam a sair para andar, sem tantos músculos, a chance de cair aumenta”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da USP.

A Secretaria de Estado de Saúdeaponta ainda a redução no controle de doenças crônicas e os quadros de sequelas por infecção do coronavírus como motivos para o aumento da fragilidade dos idosos. No Estado, os quadros de internação por queda desse grupo populacional nos leitos do SUS variou de cerca de 34 mil para 41 mil entre 2018 e 2022. Isso representa um aumento de 4%, se ajustado com o aumento da população idosa no período, que foi de 11%.

Já a Secretaria Municipal de Saúde responsabiliza a intensificação dos programas de conscientização sobre quedas para alta de notificações – antes, os casos poderiam estar subnotificados, diz a pasta.

O Ministério da Saúde diz que esse tipo de acidente é a 3ª maior causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil – por sangramento, agravamento de condição preexistente ou má recuperação pós-cirurgia – e 70% deles acontecem dentro de casa. Aproximadamente 30% das pessoas nessa faixa etária caem ao menos uma vez por ano e 25% dos casos necessitam hospitalização.

Mesmo que não provoquem a morte, essas quedas podem trazer consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão, alertam especialistas. E por terem metabolismo mais lento, menor produção de cálcio e possíveis restrições a cirurgias, a recuperação tende a ser mais difícil para esse tipo de paciente.

É o caso do bancário aposentado Francisco Marsiglia, de 74 anos. Ele teve a mobilidade do braço e da perna direita reduzida após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril do ano passado e, depois disso, já sofreu duas quedas. “Uma delas foi com o andador. Eu me desequilibrei, caí de lado e trinquei quatro costelas“, diz. “Sentia dor quando deitava de lado e levou uns três meses para cicatrizar.”

Hoje, Marsiglia conta com a ajuda de um cuidador para subir e descer as escadas de sua casa e realizar atividades diárias, como tomar banho. Ele diz que sente falta da sua independência e que, por causa das quedas, tem medo de andar sozinho. “Já tem um ano que eu praticamente vivo em uma cela no quarto. Só desço para a sala, ajudado, e vou ao médico, de cadeira de rodas e Uber”, diz.

Francisco Marsiglia, bancário aposentado de 74 anos, e seu cuidador, Lucas Henrique Ramos Costa, de 27 anos.  Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Corpo mais vulnerável

Segundo o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, existem alguns motivos para que os idosos sejam mais suscetíveis a quedas, mas o principal são as alterações na marcha do caminhar.

Nesta faixa etária, a pessoa perde massa muscular, o que altera a sua composição corporal e leva à perda do equilíbrio. É por isso que muitos idosos não conseguem ou têm maior dificuldade em se equilibrarem apoiados em um só pé, por exemplo.

“Há também uma menor amplitude do movimento, especialmente no movimento de dobrar a planta do pé sobre o chão. Essa elasticidade do pé é reduzida, o que dá menor propulsão para andar e faz com que o idoso arraste mais o pé”, diz Chehter.

É comum também que idosos tenham doenças ou condições que os tornam mais vulneráveis, como problemas de visão, artrose, osteoporose, doença de Parkinson, entre outras. Em adicional, alguns medicamentos podem causar tontura, falta de atenção ou redução da qualidade muscular.

Rosangela Silvestrini, de 65 anos, aposentada, conta que a condição de sua sogra, Maria de Lurdes dos Santos, de 88, foi determinante para que ela se acidentasse. Maria tem demência e diabetes – doença que a deixou amputada da perna direita e cega.

“Ela achou que estava em seu estado normal (em relação às pernas, por conta da demência), foi tentar se levantar sem ajuda e caiu”, afirma Rosângela. “Fraturou a patela (osso) do joelho e precisaria de cirurgia, mas por conta da idade ela não pode fazer cirurgia nem engessar.” Depois do episódio, a família redobrou o número de acessórios de proteção na casa em que a idosa vive.

Cuidados redobrados

Na visão de Chehter e de Camiz, a família de Maria de Lurdes agiu corretamente ao redobrar as medidas de segurança na casa. Isso porque não só questões fisiológicas levam às quedas, mas também ambientais e comportamentais.

Segundo os especialistas, pisos desnivelados e/ou escorregadios, móveis instáveis, baixa iluminação e pouco espaço para circulação são alguns dos fatores que podem favorecer acidentes. Assim como comportamentos perigosos a essa faixa etária, como subir em banquinhos, fazer faxinas pesadas e utilizar sapatos escorregadios ou folgados.

Algumas adaptações simples, como fixar barras de apoio pela casa, retirar tapetes e colocar uma grade de proteção na cama podem ajudar. O banheiro merece atenção especial, aponta Camiz, pois é o cômodo em que as quedas são mais comuns.

Para aqueles idosos que ficam muito tempo sozinhos em casa, a instalação de câmeras ou sensores de movimento podem colaborar para um socorro mais rápido em caso de emergência.

Junto à proteção, deve estar o diálogo. Segundo Chehter é preciso conversar com o idoso para que ele “entenda que não são apenas medidas de restrição da liberdade deles, mas uma forma de protegê-los, evitando que consequências negativas aconteçam”.

Camiz acrescenta que manter um acompanhamento com geriatra para identificar os pontos de risco de maneira personalizada e trabalhar na prevenção também é importante. “Se algum medicamento está dando muita tontura, por exemplo, é preciso trocar ou ajustar a dose”, diz.

Em caso de queda, deve-se avaliar o estado do idoso. “Se ele não consegue levantar, não deve ser removido, pois pode ter sofrido alguma fratura. Deve-se chamar o Samu (no 192) ou uma ambulância particular para que ele seja imobilizado e levado até um médico”, diz Chehter.

Se houver impacto na cabeça, a recomendação é fazer exames de imagem e observar se há alguma sequela posteriormente - sonolência e quadros de confusão mental são sinais de alerta.

Praticar atividade física e trabalhar a autoestima são o melhor remédio

De acordo com Camiz, uma queda para um idoso pode ser proporcional a um acidente de carro para um jovem - tanto em relação aos possíveis danos à sua integridade física, quanto ao trauma gerado.

Chehter concorda. “Quando o paciente já caiu uma vez e passa a ter medo de cair novamente, isso envolve questões psicológicas que levam a pessoa a se limitar mais e parar de frequentar determinados espaços, o que agrava ainda mais o seu condicionamento físico e o seu humor”, diz.

Nesse sentido, estimular a prática de exercícios físicos e o cuidado com os aspectos psicológicos nos idosos pode ajudar em relação ao problema das quedas e na saúde deles como um todo. São cuidados que servem tanto como prevenção, quanto como reabilitação.

“É uma fase muito difícil, porque é uma fase de aceitação de limitações. Mas é preciso entender que limitações não são necessariamente ruins, elas só significam que precisamos aprender a lidar com as coisas de uma forma nova“, diz o psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin. “Uma coisa bacana de trabalhar é fazer o idoso olhar para outras coisas, as que são possíveis.”

Em relação às atividades físicas, o recomendado é que todo idoso tenha uma rotina diária de exercícios. Eles podem ser escolhidos junto a um geriatra, de acordo com os gostos e possíveis limitações de cada pessoa. Se a pessoa sofreu queda recente ou tem alguma limitação ortopédica, a fisioterapia é o caminho.

Francisco, que tem feito fisioterapia cinco vezes por semana há um ano, desde que caiu pela primeira vez, sente os benefícios. Ele já consegue ir ao banheiro sozinho, se levantar da cama e de cadeiras com mais facilidade e caminhar melhor.

Francisco Marsiglia, de 74 anos, teve a sua mobilidade reduzida por causa de um AVC e já sofreu duas quedas. Atualmente, faz fisioterapia cinco vezes por semana para melhorar sua coordenação motora. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os registros de quedas acidentais de pessoas acima de 60 anos aumentaram 6,2% na rede municipal em relação ao patamar pré-pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Ao todo, foram 14.160 quedas registradas na capital no ano passado, ante 13.327 em 2019.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o isolamento social fez com que as quedas tenham diminuído temporariamente – em 2020, foram contabilizadas 10.542 –, mas colaborou para um agravamento do quadro no pós-covid. “As pessoas estavam em casa e ficavam ainda mais paradas, o que as levou a perder músculos. Com isso, quando elas voltam a sair para andar, sem tantos músculos, a chance de cair aumenta”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da USP.

A Secretaria de Estado de Saúdeaponta ainda a redução no controle de doenças crônicas e os quadros de sequelas por infecção do coronavírus como motivos para o aumento da fragilidade dos idosos. No Estado, os quadros de internação por queda desse grupo populacional nos leitos do SUS variou de cerca de 34 mil para 41 mil entre 2018 e 2022. Isso representa um aumento de 4%, se ajustado com o aumento da população idosa no período, que foi de 11%.

Já a Secretaria Municipal de Saúde responsabiliza a intensificação dos programas de conscientização sobre quedas para alta de notificações – antes, os casos poderiam estar subnotificados, diz a pasta.

O Ministério da Saúde diz que esse tipo de acidente é a 3ª maior causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil – por sangramento, agravamento de condição preexistente ou má recuperação pós-cirurgia – e 70% deles acontecem dentro de casa. Aproximadamente 30% das pessoas nessa faixa etária caem ao menos uma vez por ano e 25% dos casos necessitam hospitalização.

Mesmo que não provoquem a morte, essas quedas podem trazer consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão, alertam especialistas. E por terem metabolismo mais lento, menor produção de cálcio e possíveis restrições a cirurgias, a recuperação tende a ser mais difícil para esse tipo de paciente.

É o caso do bancário aposentado Francisco Marsiglia, de 74 anos. Ele teve a mobilidade do braço e da perna direita reduzida após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril do ano passado e, depois disso, já sofreu duas quedas. “Uma delas foi com o andador. Eu me desequilibrei, caí de lado e trinquei quatro costelas“, diz. “Sentia dor quando deitava de lado e levou uns três meses para cicatrizar.”

Hoje, Marsiglia conta com a ajuda de um cuidador para subir e descer as escadas de sua casa e realizar atividades diárias, como tomar banho. Ele diz que sente falta da sua independência e que, por causa das quedas, tem medo de andar sozinho. “Já tem um ano que eu praticamente vivo em uma cela no quarto. Só desço para a sala, ajudado, e vou ao médico, de cadeira de rodas e Uber”, diz.

Francisco Marsiglia, bancário aposentado de 74 anos, e seu cuidador, Lucas Henrique Ramos Costa, de 27 anos.  Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Corpo mais vulnerável

Segundo o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, existem alguns motivos para que os idosos sejam mais suscetíveis a quedas, mas o principal são as alterações na marcha do caminhar.

Nesta faixa etária, a pessoa perde massa muscular, o que altera a sua composição corporal e leva à perda do equilíbrio. É por isso que muitos idosos não conseguem ou têm maior dificuldade em se equilibrarem apoiados em um só pé, por exemplo.

“Há também uma menor amplitude do movimento, especialmente no movimento de dobrar a planta do pé sobre o chão. Essa elasticidade do pé é reduzida, o que dá menor propulsão para andar e faz com que o idoso arraste mais o pé”, diz Chehter.

É comum também que idosos tenham doenças ou condições que os tornam mais vulneráveis, como problemas de visão, artrose, osteoporose, doença de Parkinson, entre outras. Em adicional, alguns medicamentos podem causar tontura, falta de atenção ou redução da qualidade muscular.

Rosangela Silvestrini, de 65 anos, aposentada, conta que a condição de sua sogra, Maria de Lurdes dos Santos, de 88, foi determinante para que ela se acidentasse. Maria tem demência e diabetes – doença que a deixou amputada da perna direita e cega.

“Ela achou que estava em seu estado normal (em relação às pernas, por conta da demência), foi tentar se levantar sem ajuda e caiu”, afirma Rosângela. “Fraturou a patela (osso) do joelho e precisaria de cirurgia, mas por conta da idade ela não pode fazer cirurgia nem engessar.” Depois do episódio, a família redobrou o número de acessórios de proteção na casa em que a idosa vive.

Cuidados redobrados

Na visão de Chehter e de Camiz, a família de Maria de Lurdes agiu corretamente ao redobrar as medidas de segurança na casa. Isso porque não só questões fisiológicas levam às quedas, mas também ambientais e comportamentais.

Segundo os especialistas, pisos desnivelados e/ou escorregadios, móveis instáveis, baixa iluminação e pouco espaço para circulação são alguns dos fatores que podem favorecer acidentes. Assim como comportamentos perigosos a essa faixa etária, como subir em banquinhos, fazer faxinas pesadas e utilizar sapatos escorregadios ou folgados.

Algumas adaptações simples, como fixar barras de apoio pela casa, retirar tapetes e colocar uma grade de proteção na cama podem ajudar. O banheiro merece atenção especial, aponta Camiz, pois é o cômodo em que as quedas são mais comuns.

Para aqueles idosos que ficam muito tempo sozinhos em casa, a instalação de câmeras ou sensores de movimento podem colaborar para um socorro mais rápido em caso de emergência.

Junto à proteção, deve estar o diálogo. Segundo Chehter é preciso conversar com o idoso para que ele “entenda que não são apenas medidas de restrição da liberdade deles, mas uma forma de protegê-los, evitando que consequências negativas aconteçam”.

Camiz acrescenta que manter um acompanhamento com geriatra para identificar os pontos de risco de maneira personalizada e trabalhar na prevenção também é importante. “Se algum medicamento está dando muita tontura, por exemplo, é preciso trocar ou ajustar a dose”, diz.

Em caso de queda, deve-se avaliar o estado do idoso. “Se ele não consegue levantar, não deve ser removido, pois pode ter sofrido alguma fratura. Deve-se chamar o Samu (no 192) ou uma ambulância particular para que ele seja imobilizado e levado até um médico”, diz Chehter.

Se houver impacto na cabeça, a recomendação é fazer exames de imagem e observar se há alguma sequela posteriormente - sonolência e quadros de confusão mental são sinais de alerta.

Praticar atividade física e trabalhar a autoestima são o melhor remédio

De acordo com Camiz, uma queda para um idoso pode ser proporcional a um acidente de carro para um jovem - tanto em relação aos possíveis danos à sua integridade física, quanto ao trauma gerado.

Chehter concorda. “Quando o paciente já caiu uma vez e passa a ter medo de cair novamente, isso envolve questões psicológicas que levam a pessoa a se limitar mais e parar de frequentar determinados espaços, o que agrava ainda mais o seu condicionamento físico e o seu humor”, diz.

Nesse sentido, estimular a prática de exercícios físicos e o cuidado com os aspectos psicológicos nos idosos pode ajudar em relação ao problema das quedas e na saúde deles como um todo. São cuidados que servem tanto como prevenção, quanto como reabilitação.

“É uma fase muito difícil, porque é uma fase de aceitação de limitações. Mas é preciso entender que limitações não são necessariamente ruins, elas só significam que precisamos aprender a lidar com as coisas de uma forma nova“, diz o psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin. “Uma coisa bacana de trabalhar é fazer o idoso olhar para outras coisas, as que são possíveis.”

Em relação às atividades físicas, o recomendado é que todo idoso tenha uma rotina diária de exercícios. Eles podem ser escolhidos junto a um geriatra, de acordo com os gostos e possíveis limitações de cada pessoa. Se a pessoa sofreu queda recente ou tem alguma limitação ortopédica, a fisioterapia é o caminho.

Francisco, que tem feito fisioterapia cinco vezes por semana há um ano, desde que caiu pela primeira vez, sente os benefícios. Ele já consegue ir ao banheiro sozinho, se levantar da cama e de cadeiras com mais facilidade e caminhar melhor.

Francisco Marsiglia, de 74 anos, teve a sua mobilidade reduzida por causa de um AVC e já sofreu duas quedas. Atualmente, faz fisioterapia cinco vezes por semana para melhorar sua coordenação motora. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os registros de quedas acidentais de pessoas acima de 60 anos aumentaram 6,2% na rede municipal em relação ao patamar pré-pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Ao todo, foram 14.160 quedas registradas na capital no ano passado, ante 13.327 em 2019.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o isolamento social fez com que as quedas tenham diminuído temporariamente – em 2020, foram contabilizadas 10.542 –, mas colaborou para um agravamento do quadro no pós-covid. “As pessoas estavam em casa e ficavam ainda mais paradas, o que as levou a perder músculos. Com isso, quando elas voltam a sair para andar, sem tantos músculos, a chance de cair aumenta”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da USP.

A Secretaria de Estado de Saúdeaponta ainda a redução no controle de doenças crônicas e os quadros de sequelas por infecção do coronavírus como motivos para o aumento da fragilidade dos idosos. No Estado, os quadros de internação por queda desse grupo populacional nos leitos do SUS variou de cerca de 34 mil para 41 mil entre 2018 e 2022. Isso representa um aumento de 4%, se ajustado com o aumento da população idosa no período, que foi de 11%.

Já a Secretaria Municipal de Saúde responsabiliza a intensificação dos programas de conscientização sobre quedas para alta de notificações – antes, os casos poderiam estar subnotificados, diz a pasta.

O Ministério da Saúde diz que esse tipo de acidente é a 3ª maior causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil – por sangramento, agravamento de condição preexistente ou má recuperação pós-cirurgia – e 70% deles acontecem dentro de casa. Aproximadamente 30% das pessoas nessa faixa etária caem ao menos uma vez por ano e 25% dos casos necessitam hospitalização.

Mesmo que não provoquem a morte, essas quedas podem trazer consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão, alertam especialistas. E por terem metabolismo mais lento, menor produção de cálcio e possíveis restrições a cirurgias, a recuperação tende a ser mais difícil para esse tipo de paciente.

É o caso do bancário aposentado Francisco Marsiglia, de 74 anos. Ele teve a mobilidade do braço e da perna direita reduzida após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril do ano passado e, depois disso, já sofreu duas quedas. “Uma delas foi com o andador. Eu me desequilibrei, caí de lado e trinquei quatro costelas“, diz. “Sentia dor quando deitava de lado e levou uns três meses para cicatrizar.”

Hoje, Marsiglia conta com a ajuda de um cuidador para subir e descer as escadas de sua casa e realizar atividades diárias, como tomar banho. Ele diz que sente falta da sua independência e que, por causa das quedas, tem medo de andar sozinho. “Já tem um ano que eu praticamente vivo em uma cela no quarto. Só desço para a sala, ajudado, e vou ao médico, de cadeira de rodas e Uber”, diz.

Francisco Marsiglia, bancário aposentado de 74 anos, e seu cuidador, Lucas Henrique Ramos Costa, de 27 anos.  Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Corpo mais vulnerável

Segundo o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, existem alguns motivos para que os idosos sejam mais suscetíveis a quedas, mas o principal são as alterações na marcha do caminhar.

Nesta faixa etária, a pessoa perde massa muscular, o que altera a sua composição corporal e leva à perda do equilíbrio. É por isso que muitos idosos não conseguem ou têm maior dificuldade em se equilibrarem apoiados em um só pé, por exemplo.

“Há também uma menor amplitude do movimento, especialmente no movimento de dobrar a planta do pé sobre o chão. Essa elasticidade do pé é reduzida, o que dá menor propulsão para andar e faz com que o idoso arraste mais o pé”, diz Chehter.

É comum também que idosos tenham doenças ou condições que os tornam mais vulneráveis, como problemas de visão, artrose, osteoporose, doença de Parkinson, entre outras. Em adicional, alguns medicamentos podem causar tontura, falta de atenção ou redução da qualidade muscular.

Rosangela Silvestrini, de 65 anos, aposentada, conta que a condição de sua sogra, Maria de Lurdes dos Santos, de 88, foi determinante para que ela se acidentasse. Maria tem demência e diabetes – doença que a deixou amputada da perna direita e cega.

“Ela achou que estava em seu estado normal (em relação às pernas, por conta da demência), foi tentar se levantar sem ajuda e caiu”, afirma Rosângela. “Fraturou a patela (osso) do joelho e precisaria de cirurgia, mas por conta da idade ela não pode fazer cirurgia nem engessar.” Depois do episódio, a família redobrou o número de acessórios de proteção na casa em que a idosa vive.

Cuidados redobrados

Na visão de Chehter e de Camiz, a família de Maria de Lurdes agiu corretamente ao redobrar as medidas de segurança na casa. Isso porque não só questões fisiológicas levam às quedas, mas também ambientais e comportamentais.

Segundo os especialistas, pisos desnivelados e/ou escorregadios, móveis instáveis, baixa iluminação e pouco espaço para circulação são alguns dos fatores que podem favorecer acidentes. Assim como comportamentos perigosos a essa faixa etária, como subir em banquinhos, fazer faxinas pesadas e utilizar sapatos escorregadios ou folgados.

Algumas adaptações simples, como fixar barras de apoio pela casa, retirar tapetes e colocar uma grade de proteção na cama podem ajudar. O banheiro merece atenção especial, aponta Camiz, pois é o cômodo em que as quedas são mais comuns.

Para aqueles idosos que ficam muito tempo sozinhos em casa, a instalação de câmeras ou sensores de movimento podem colaborar para um socorro mais rápido em caso de emergência.

Junto à proteção, deve estar o diálogo. Segundo Chehter é preciso conversar com o idoso para que ele “entenda que não são apenas medidas de restrição da liberdade deles, mas uma forma de protegê-los, evitando que consequências negativas aconteçam”.

Camiz acrescenta que manter um acompanhamento com geriatra para identificar os pontos de risco de maneira personalizada e trabalhar na prevenção também é importante. “Se algum medicamento está dando muita tontura, por exemplo, é preciso trocar ou ajustar a dose”, diz.

Em caso de queda, deve-se avaliar o estado do idoso. “Se ele não consegue levantar, não deve ser removido, pois pode ter sofrido alguma fratura. Deve-se chamar o Samu (no 192) ou uma ambulância particular para que ele seja imobilizado e levado até um médico”, diz Chehter.

Se houver impacto na cabeça, a recomendação é fazer exames de imagem e observar se há alguma sequela posteriormente - sonolência e quadros de confusão mental são sinais de alerta.

Praticar atividade física e trabalhar a autoestima são o melhor remédio

De acordo com Camiz, uma queda para um idoso pode ser proporcional a um acidente de carro para um jovem - tanto em relação aos possíveis danos à sua integridade física, quanto ao trauma gerado.

Chehter concorda. “Quando o paciente já caiu uma vez e passa a ter medo de cair novamente, isso envolve questões psicológicas que levam a pessoa a se limitar mais e parar de frequentar determinados espaços, o que agrava ainda mais o seu condicionamento físico e o seu humor”, diz.

Nesse sentido, estimular a prática de exercícios físicos e o cuidado com os aspectos psicológicos nos idosos pode ajudar em relação ao problema das quedas e na saúde deles como um todo. São cuidados que servem tanto como prevenção, quanto como reabilitação.

“É uma fase muito difícil, porque é uma fase de aceitação de limitações. Mas é preciso entender que limitações não são necessariamente ruins, elas só significam que precisamos aprender a lidar com as coisas de uma forma nova“, diz o psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin. “Uma coisa bacana de trabalhar é fazer o idoso olhar para outras coisas, as que são possíveis.”

Em relação às atividades físicas, o recomendado é que todo idoso tenha uma rotina diária de exercícios. Eles podem ser escolhidos junto a um geriatra, de acordo com os gostos e possíveis limitações de cada pessoa. Se a pessoa sofreu queda recente ou tem alguma limitação ortopédica, a fisioterapia é o caminho.

Francisco, que tem feito fisioterapia cinco vezes por semana há um ano, desde que caiu pela primeira vez, sente os benefícios. Ele já consegue ir ao banheiro sozinho, se levantar da cama e de cadeiras com mais facilidade e caminhar melhor.

Francisco Marsiglia, de 74 anos, teve a sua mobilidade reduzida por causa de um AVC e já sofreu duas quedas. Atualmente, faz fisioterapia cinco vezes por semana para melhorar sua coordenação motora. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os registros de quedas acidentais de pessoas acima de 60 anos aumentaram 6,2% na rede municipal em relação ao patamar pré-pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Ao todo, foram 14.160 quedas registradas na capital no ano passado, ante 13.327 em 2019.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o isolamento social fez com que as quedas tenham diminuído temporariamente – em 2020, foram contabilizadas 10.542 –, mas colaborou para um agravamento do quadro no pós-covid. “As pessoas estavam em casa e ficavam ainda mais paradas, o que as levou a perder músculos. Com isso, quando elas voltam a sair para andar, sem tantos músculos, a chance de cair aumenta”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da USP.

A Secretaria de Estado de Saúdeaponta ainda a redução no controle de doenças crônicas e os quadros de sequelas por infecção do coronavírus como motivos para o aumento da fragilidade dos idosos. No Estado, os quadros de internação por queda desse grupo populacional nos leitos do SUS variou de cerca de 34 mil para 41 mil entre 2018 e 2022. Isso representa um aumento de 4%, se ajustado com o aumento da população idosa no período, que foi de 11%.

Já a Secretaria Municipal de Saúde responsabiliza a intensificação dos programas de conscientização sobre quedas para alta de notificações – antes, os casos poderiam estar subnotificados, diz a pasta.

O Ministério da Saúde diz que esse tipo de acidente é a 3ª maior causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no Brasil – por sangramento, agravamento de condição preexistente ou má recuperação pós-cirurgia – e 70% deles acontecem dentro de casa. Aproximadamente 30% das pessoas nessa faixa etária caem ao menos uma vez por ano e 25% dos casos necessitam hospitalização.

Mesmo que não provoquem a morte, essas quedas podem trazer consequências graves à saúde física e mental dos idosos, como fraturas ósseas, redução da independência e depressão, alertam especialistas. E por terem metabolismo mais lento, menor produção de cálcio e possíveis restrições a cirurgias, a recuperação tende a ser mais difícil para esse tipo de paciente.

É o caso do bancário aposentado Francisco Marsiglia, de 74 anos. Ele teve a mobilidade do braço e da perna direita reduzida após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril do ano passado e, depois disso, já sofreu duas quedas. “Uma delas foi com o andador. Eu me desequilibrei, caí de lado e trinquei quatro costelas“, diz. “Sentia dor quando deitava de lado e levou uns três meses para cicatrizar.”

Hoje, Marsiglia conta com a ajuda de um cuidador para subir e descer as escadas de sua casa e realizar atividades diárias, como tomar banho. Ele diz que sente falta da sua independência e que, por causa das quedas, tem medo de andar sozinho. “Já tem um ano que eu praticamente vivo em uma cela no quarto. Só desço para a sala, ajudado, e vou ao médico, de cadeira de rodas e Uber”, diz.

Francisco Marsiglia, bancário aposentado de 74 anos, e seu cuidador, Lucas Henrique Ramos Costa, de 27 anos.  Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Corpo mais vulnerável

Segundo o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, existem alguns motivos para que os idosos sejam mais suscetíveis a quedas, mas o principal são as alterações na marcha do caminhar.

Nesta faixa etária, a pessoa perde massa muscular, o que altera a sua composição corporal e leva à perda do equilíbrio. É por isso que muitos idosos não conseguem ou têm maior dificuldade em se equilibrarem apoiados em um só pé, por exemplo.

“Há também uma menor amplitude do movimento, especialmente no movimento de dobrar a planta do pé sobre o chão. Essa elasticidade do pé é reduzida, o que dá menor propulsão para andar e faz com que o idoso arraste mais o pé”, diz Chehter.

É comum também que idosos tenham doenças ou condições que os tornam mais vulneráveis, como problemas de visão, artrose, osteoporose, doença de Parkinson, entre outras. Em adicional, alguns medicamentos podem causar tontura, falta de atenção ou redução da qualidade muscular.

Rosangela Silvestrini, de 65 anos, aposentada, conta que a condição de sua sogra, Maria de Lurdes dos Santos, de 88, foi determinante para que ela se acidentasse. Maria tem demência e diabetes – doença que a deixou amputada da perna direita e cega.

“Ela achou que estava em seu estado normal (em relação às pernas, por conta da demência), foi tentar se levantar sem ajuda e caiu”, afirma Rosângela. “Fraturou a patela (osso) do joelho e precisaria de cirurgia, mas por conta da idade ela não pode fazer cirurgia nem engessar.” Depois do episódio, a família redobrou o número de acessórios de proteção na casa em que a idosa vive.

Cuidados redobrados

Na visão de Chehter e de Camiz, a família de Maria de Lurdes agiu corretamente ao redobrar as medidas de segurança na casa. Isso porque não só questões fisiológicas levam às quedas, mas também ambientais e comportamentais.

Segundo os especialistas, pisos desnivelados e/ou escorregadios, móveis instáveis, baixa iluminação e pouco espaço para circulação são alguns dos fatores que podem favorecer acidentes. Assim como comportamentos perigosos a essa faixa etária, como subir em banquinhos, fazer faxinas pesadas e utilizar sapatos escorregadios ou folgados.

Algumas adaptações simples, como fixar barras de apoio pela casa, retirar tapetes e colocar uma grade de proteção na cama podem ajudar. O banheiro merece atenção especial, aponta Camiz, pois é o cômodo em que as quedas são mais comuns.

Para aqueles idosos que ficam muito tempo sozinhos em casa, a instalação de câmeras ou sensores de movimento podem colaborar para um socorro mais rápido em caso de emergência.

Junto à proteção, deve estar o diálogo. Segundo Chehter é preciso conversar com o idoso para que ele “entenda que não são apenas medidas de restrição da liberdade deles, mas uma forma de protegê-los, evitando que consequências negativas aconteçam”.

Camiz acrescenta que manter um acompanhamento com geriatra para identificar os pontos de risco de maneira personalizada e trabalhar na prevenção também é importante. “Se algum medicamento está dando muita tontura, por exemplo, é preciso trocar ou ajustar a dose”, diz.

Em caso de queda, deve-se avaliar o estado do idoso. “Se ele não consegue levantar, não deve ser removido, pois pode ter sofrido alguma fratura. Deve-se chamar o Samu (no 192) ou uma ambulância particular para que ele seja imobilizado e levado até um médico”, diz Chehter.

Se houver impacto na cabeça, a recomendação é fazer exames de imagem e observar se há alguma sequela posteriormente - sonolência e quadros de confusão mental são sinais de alerta.

Praticar atividade física e trabalhar a autoestima são o melhor remédio

De acordo com Camiz, uma queda para um idoso pode ser proporcional a um acidente de carro para um jovem - tanto em relação aos possíveis danos à sua integridade física, quanto ao trauma gerado.

Chehter concorda. “Quando o paciente já caiu uma vez e passa a ter medo de cair novamente, isso envolve questões psicológicas que levam a pessoa a se limitar mais e parar de frequentar determinados espaços, o que agrava ainda mais o seu condicionamento físico e o seu humor”, diz.

Nesse sentido, estimular a prática de exercícios físicos e o cuidado com os aspectos psicológicos nos idosos pode ajudar em relação ao problema das quedas e na saúde deles como um todo. São cuidados que servem tanto como prevenção, quanto como reabilitação.

“É uma fase muito difícil, porque é uma fase de aceitação de limitações. Mas é preciso entender que limitações não são necessariamente ruins, elas só significam que precisamos aprender a lidar com as coisas de uma forma nova“, diz o psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento Yuri Busin. “Uma coisa bacana de trabalhar é fazer o idoso olhar para outras coisas, as que são possíveis.”

Em relação às atividades físicas, o recomendado é que todo idoso tenha uma rotina diária de exercícios. Eles podem ser escolhidos junto a um geriatra, de acordo com os gostos e possíveis limitações de cada pessoa. Se a pessoa sofreu queda recente ou tem alguma limitação ortopédica, a fisioterapia é o caminho.

Francisco, que tem feito fisioterapia cinco vezes por semana há um ano, desde que caiu pela primeira vez, sente os benefícios. Ele já consegue ir ao banheiro sozinho, se levantar da cama e de cadeiras com mais facilidade e caminhar melhor.

Francisco Marsiglia, de 74 anos, teve a sua mobilidade reduzida por causa de um AVC e já sofreu duas quedas. Atualmente, faz fisioterapia cinco vezes por semana para melhorar sua coordenação motora. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.