Quem já teve covid-19 precisa sim se vacinar, alertam especialistas


Nível de imunidade varia para cada pessoa e número de anticorpos não permitem saber por quanto tempo haverá proteção; Bolsonaro tem contrariado evidências científicas e desestimulado a vacinação

Por Paulo Favero

O presidente Jair Bolsonaro tem afirmado com frequência nos últimos dias que não precisa tomar a vacina contra a covid-19 porque, como já foi infectado pela doença, já tem anticorpos suficientes. Mas os especialistas rejeitam esse argumento, que não tem base científica, e sugerem o contrário: que a pessoa que foi contaminada precisa se imunizar porque isso daria um aumento considerável nos anticorpos.

"Quando a pessoa que já se infectou toma a vacina, a proteção dela é até mais robusta. É o melhor que você pode ter em termos de proteção", explica Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. "Então mesmo quem já teve covid-19 precisa se vacinar por várias razões e o Bolsonaro está errado na premissa. Isso pode gerar confusão nas pessoas", continua.

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Mulher é vacinada contra a covid-19 Foto: Leo Souza/Estadão - 16/5/2021

A especialista aponta que uma infecção natural causa uma imunidade forte e duradoura, mas que nem todo mundo tem essa mesma imunidade. "Tem um grupo que não responde à infecção natural, e o grau de proteção varia muito, tende a ser mais forte em pessoas com doença mais grave", diz. Em pessoas assintomáticas, por exemplo, pode ocorrer de o corpo não produzir quase nenhuma imunidade ao coronavírus. "A probabilidade de ter proteção forte é relacionada com a severidade da doença", continua.

Como grande parte dos casos de covid-19 são assintomáticos ou leves, a necessidade de se vacinar é ainda maior. "Existem pacientes que não mostram níveis detectáveis de anticorpos neutralizantes. Já as vacinas são desenvolvidas para produzir essa resposta imune. Em estudos da vacina de mRNA, por exemplo, 100% das pessoas vacinadas com as duas doses mostram proteção", afirma Denise.

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Outro ponto importante para o debate é que a chance de reinfecção é muito maior para quem só teve a doença e não se vacinou do que para quem já está imunizado. "A pessoa não vacinada tem 2,3 vezes mais chances de se reinfectar do que uma pessoa que tomou a vacina", explica a especialista.

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, essa situação de reinfecção pôde ser observada claramente em Manaus, que teve um período crítico no início do ano. "Houve uma prevalência de 75% de contaminação em Manaus na primeira onda, mas depois, quando apareceu a variante Gama, muita gente pegou a covid novamente, com muitos casos graves e até mortes", diz.

Ela lembra que no início da pandemia a duração da proteção pós-doença foi uma das primeiras questões que intrigaram os profissionais da saúde. "Era um dos aspectos a se entender do vírus, era uma lacuna de conhecimento científico. Então foram feitos muitos estudos e a permanência de anticorpos variou de 3 a 11 meses."

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Os casos de infecção em quem já tinha pego a covid começaram a mostrar que o simples fato de ter anticorpos não significa que a pessoa está protegida de uma nova infecção. "Sem contar que o número de anticorpos vai caindo ao longo do tempo, inclusive para quem se vacinou. Ainda existem as variantes, que entraram neste cenário e está mais do que provado que elas podem evadir os anticorpos gerados, por infecção ou vacinação", afirma.

Polêmica do IgG

Em algumas declarações, o presidente Bolsonaro comentou que não precisava da vacina por ter o IgG alto e citou até o número de 991 e que isso lhe daria proteção contra a covid-19. Mas as especialistas refutam esse argumento e lembram que um IgG alto não significa que a pessoa não corre riscos de se contaminar novamente pela doença.

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"Ter o IgG alto não protege contra a covid. Existe um nível que a gente sabe que se eu tiver, estou protegida. Mas a gente não sabe qual é esse nível ainda. Porque também depende da resposta celular, que tem um papel muito importante. Por isso, medir anticorpos diz que já teve contato com o vírus, mas o quanto está protegido e por quanto tempo não tem como saber com certeza", explica Denise.

O IgG é a imunoglobulina do tipo G, que é um anticorpo produzido em resposta a uma infecção. Costuma ficar por longos períodos nas pessoas, mas o que os cientistas descobriram é que esse tempo varia para cada um no caso da covid-19. Até por isso, o nível de imunidade muda de acordo com a pessoa e justamente por causa disso a vacinação é fundamental para todos.

Essa vacinação de pessoas que já se contaminaram gera um "booster", uma amplificação no número de anticorpos, de acordo com diversos estudos recentes. Para Mônica Levi, o booster é um consenso global. "Como a pessoa já teve contato primário com aquele vírus, na hora que ela toma a primeira dose, a resposta imunológica dela fica muito elevada", diz Mônica Levi.

O presidente Jair Bolsonaro tem afirmado com frequência nos últimos dias que não precisa tomar a vacina contra a covid-19 porque, como já foi infectado pela doença, já tem anticorpos suficientes. Mas os especialistas rejeitam esse argumento, que não tem base científica, e sugerem o contrário: que a pessoa que foi contaminada precisa se imunizar porque isso daria um aumento considerável nos anticorpos.

"Quando a pessoa que já se infectou toma a vacina, a proteção dela é até mais robusta. É o melhor que você pode ter em termos de proteção", explica Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. "Então mesmo quem já teve covid-19 precisa se vacinar por várias razões e o Bolsonaro está errado na premissa. Isso pode gerar confusão nas pessoas", continua.

Mulher é vacinada contra a covid-19 Foto: Leo Souza/Estadão - 16/5/2021

A especialista aponta que uma infecção natural causa uma imunidade forte e duradoura, mas que nem todo mundo tem essa mesma imunidade. "Tem um grupo que não responde à infecção natural, e o grau de proteção varia muito, tende a ser mais forte em pessoas com doença mais grave", diz. Em pessoas assintomáticas, por exemplo, pode ocorrer de o corpo não produzir quase nenhuma imunidade ao coronavírus. "A probabilidade de ter proteção forte é relacionada com a severidade da doença", continua.

Como grande parte dos casos de covid-19 são assintomáticos ou leves, a necessidade de se vacinar é ainda maior. "Existem pacientes que não mostram níveis detectáveis de anticorpos neutralizantes. Já as vacinas são desenvolvidas para produzir essa resposta imune. Em estudos da vacina de mRNA, por exemplo, 100% das pessoas vacinadas com as duas doses mostram proteção", afirma Denise.

Outro ponto importante para o debate é que a chance de reinfecção é muito maior para quem só teve a doença e não se vacinou do que para quem já está imunizado. "A pessoa não vacinada tem 2,3 vezes mais chances de se reinfectar do que uma pessoa que tomou a vacina", explica a especialista.

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, essa situação de reinfecção pôde ser observada claramente em Manaus, que teve um período crítico no início do ano. "Houve uma prevalência de 75% de contaminação em Manaus na primeira onda, mas depois, quando apareceu a variante Gama, muita gente pegou a covid novamente, com muitos casos graves e até mortes", diz.

Ela lembra que no início da pandemia a duração da proteção pós-doença foi uma das primeiras questões que intrigaram os profissionais da saúde. "Era um dos aspectos a se entender do vírus, era uma lacuna de conhecimento científico. Então foram feitos muitos estudos e a permanência de anticorpos variou de 3 a 11 meses."

Os casos de infecção em quem já tinha pego a covid começaram a mostrar que o simples fato de ter anticorpos não significa que a pessoa está protegida de uma nova infecção. "Sem contar que o número de anticorpos vai caindo ao longo do tempo, inclusive para quem se vacinou. Ainda existem as variantes, que entraram neste cenário e está mais do que provado que elas podem evadir os anticorpos gerados, por infecção ou vacinação", afirma.

Polêmica do IgG

Em algumas declarações, o presidente Bolsonaro comentou que não precisava da vacina por ter o IgG alto e citou até o número de 991 e que isso lhe daria proteção contra a covid-19. Mas as especialistas refutam esse argumento e lembram que um IgG alto não significa que a pessoa não corre riscos de se contaminar novamente pela doença.

"Ter o IgG alto não protege contra a covid. Existe um nível que a gente sabe que se eu tiver, estou protegida. Mas a gente não sabe qual é esse nível ainda. Porque também depende da resposta celular, que tem um papel muito importante. Por isso, medir anticorpos diz que já teve contato com o vírus, mas o quanto está protegido e por quanto tempo não tem como saber com certeza", explica Denise.

O IgG é a imunoglobulina do tipo G, que é um anticorpo produzido em resposta a uma infecção. Costuma ficar por longos períodos nas pessoas, mas o que os cientistas descobriram é que esse tempo varia para cada um no caso da covid-19. Até por isso, o nível de imunidade muda de acordo com a pessoa e justamente por causa disso a vacinação é fundamental para todos.

Essa vacinação de pessoas que já se contaminaram gera um "booster", uma amplificação no número de anticorpos, de acordo com diversos estudos recentes. Para Mônica Levi, o booster é um consenso global. "Como a pessoa já teve contato primário com aquele vírus, na hora que ela toma a primeira dose, a resposta imunológica dela fica muito elevada", diz Mônica Levi.

O presidente Jair Bolsonaro tem afirmado com frequência nos últimos dias que não precisa tomar a vacina contra a covid-19 porque, como já foi infectado pela doença, já tem anticorpos suficientes. Mas os especialistas rejeitam esse argumento, que não tem base científica, e sugerem o contrário: que a pessoa que foi contaminada precisa se imunizar porque isso daria um aumento considerável nos anticorpos.

"Quando a pessoa que já se infectou toma a vacina, a proteção dela é até mais robusta. É o melhor que você pode ter em termos de proteção", explica Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. "Então mesmo quem já teve covid-19 precisa se vacinar por várias razões e o Bolsonaro está errado na premissa. Isso pode gerar confusão nas pessoas", continua.

Mulher é vacinada contra a covid-19 Foto: Leo Souza/Estadão - 16/5/2021

A especialista aponta que uma infecção natural causa uma imunidade forte e duradoura, mas que nem todo mundo tem essa mesma imunidade. "Tem um grupo que não responde à infecção natural, e o grau de proteção varia muito, tende a ser mais forte em pessoas com doença mais grave", diz. Em pessoas assintomáticas, por exemplo, pode ocorrer de o corpo não produzir quase nenhuma imunidade ao coronavírus. "A probabilidade de ter proteção forte é relacionada com a severidade da doença", continua.

Como grande parte dos casos de covid-19 são assintomáticos ou leves, a necessidade de se vacinar é ainda maior. "Existem pacientes que não mostram níveis detectáveis de anticorpos neutralizantes. Já as vacinas são desenvolvidas para produzir essa resposta imune. Em estudos da vacina de mRNA, por exemplo, 100% das pessoas vacinadas com as duas doses mostram proteção", afirma Denise.

Outro ponto importante para o debate é que a chance de reinfecção é muito maior para quem só teve a doença e não se vacinou do que para quem já está imunizado. "A pessoa não vacinada tem 2,3 vezes mais chances de se reinfectar do que uma pessoa que tomou a vacina", explica a especialista.

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, essa situação de reinfecção pôde ser observada claramente em Manaus, que teve um período crítico no início do ano. "Houve uma prevalência de 75% de contaminação em Manaus na primeira onda, mas depois, quando apareceu a variante Gama, muita gente pegou a covid novamente, com muitos casos graves e até mortes", diz.

Ela lembra que no início da pandemia a duração da proteção pós-doença foi uma das primeiras questões que intrigaram os profissionais da saúde. "Era um dos aspectos a se entender do vírus, era uma lacuna de conhecimento científico. Então foram feitos muitos estudos e a permanência de anticorpos variou de 3 a 11 meses."

Os casos de infecção em quem já tinha pego a covid começaram a mostrar que o simples fato de ter anticorpos não significa que a pessoa está protegida de uma nova infecção. "Sem contar que o número de anticorpos vai caindo ao longo do tempo, inclusive para quem se vacinou. Ainda existem as variantes, que entraram neste cenário e está mais do que provado que elas podem evadir os anticorpos gerados, por infecção ou vacinação", afirma.

Polêmica do IgG

Em algumas declarações, o presidente Bolsonaro comentou que não precisava da vacina por ter o IgG alto e citou até o número de 991 e que isso lhe daria proteção contra a covid-19. Mas as especialistas refutam esse argumento e lembram que um IgG alto não significa que a pessoa não corre riscos de se contaminar novamente pela doença.

"Ter o IgG alto não protege contra a covid. Existe um nível que a gente sabe que se eu tiver, estou protegida. Mas a gente não sabe qual é esse nível ainda. Porque também depende da resposta celular, que tem um papel muito importante. Por isso, medir anticorpos diz que já teve contato com o vírus, mas o quanto está protegido e por quanto tempo não tem como saber com certeza", explica Denise.

O IgG é a imunoglobulina do tipo G, que é um anticorpo produzido em resposta a uma infecção. Costuma ficar por longos períodos nas pessoas, mas o que os cientistas descobriram é que esse tempo varia para cada um no caso da covid-19. Até por isso, o nível de imunidade muda de acordo com a pessoa e justamente por causa disso a vacinação é fundamental para todos.

Essa vacinação de pessoas que já se contaminaram gera um "booster", uma amplificação no número de anticorpos, de acordo com diversos estudos recentes. Para Mônica Levi, o booster é um consenso global. "Como a pessoa já teve contato primário com aquele vírus, na hora que ela toma a primeira dose, a resposta imunológica dela fica muito elevada", diz Mônica Levi.

O presidente Jair Bolsonaro tem afirmado com frequência nos últimos dias que não precisa tomar a vacina contra a covid-19 porque, como já foi infectado pela doença, já tem anticorpos suficientes. Mas os especialistas rejeitam esse argumento, que não tem base científica, e sugerem o contrário: que a pessoa que foi contaminada precisa se imunizar porque isso daria um aumento considerável nos anticorpos.

"Quando a pessoa que já se infectou toma a vacina, a proteção dela é até mais robusta. É o melhor que você pode ter em termos de proteção", explica Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. "Então mesmo quem já teve covid-19 precisa se vacinar por várias razões e o Bolsonaro está errado na premissa. Isso pode gerar confusão nas pessoas", continua.

Mulher é vacinada contra a covid-19 Foto: Leo Souza/Estadão - 16/5/2021

A especialista aponta que uma infecção natural causa uma imunidade forte e duradoura, mas que nem todo mundo tem essa mesma imunidade. "Tem um grupo que não responde à infecção natural, e o grau de proteção varia muito, tende a ser mais forte em pessoas com doença mais grave", diz. Em pessoas assintomáticas, por exemplo, pode ocorrer de o corpo não produzir quase nenhuma imunidade ao coronavírus. "A probabilidade de ter proteção forte é relacionada com a severidade da doença", continua.

Como grande parte dos casos de covid-19 são assintomáticos ou leves, a necessidade de se vacinar é ainda maior. "Existem pacientes que não mostram níveis detectáveis de anticorpos neutralizantes. Já as vacinas são desenvolvidas para produzir essa resposta imune. Em estudos da vacina de mRNA, por exemplo, 100% das pessoas vacinadas com as duas doses mostram proteção", afirma Denise.

Outro ponto importante para o debate é que a chance de reinfecção é muito maior para quem só teve a doença e não se vacinou do que para quem já está imunizado. "A pessoa não vacinada tem 2,3 vezes mais chances de se reinfectar do que uma pessoa que tomou a vacina", explica a especialista.

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, essa situação de reinfecção pôde ser observada claramente em Manaus, que teve um período crítico no início do ano. "Houve uma prevalência de 75% de contaminação em Manaus na primeira onda, mas depois, quando apareceu a variante Gama, muita gente pegou a covid novamente, com muitos casos graves e até mortes", diz.

Ela lembra que no início da pandemia a duração da proteção pós-doença foi uma das primeiras questões que intrigaram os profissionais da saúde. "Era um dos aspectos a se entender do vírus, era uma lacuna de conhecimento científico. Então foram feitos muitos estudos e a permanência de anticorpos variou de 3 a 11 meses."

Os casos de infecção em quem já tinha pego a covid começaram a mostrar que o simples fato de ter anticorpos não significa que a pessoa está protegida de uma nova infecção. "Sem contar que o número de anticorpos vai caindo ao longo do tempo, inclusive para quem se vacinou. Ainda existem as variantes, que entraram neste cenário e está mais do que provado que elas podem evadir os anticorpos gerados, por infecção ou vacinação", afirma.

Polêmica do IgG

Em algumas declarações, o presidente Bolsonaro comentou que não precisava da vacina por ter o IgG alto e citou até o número de 991 e que isso lhe daria proteção contra a covid-19. Mas as especialistas refutam esse argumento e lembram que um IgG alto não significa que a pessoa não corre riscos de se contaminar novamente pela doença.

"Ter o IgG alto não protege contra a covid. Existe um nível que a gente sabe que se eu tiver, estou protegida. Mas a gente não sabe qual é esse nível ainda. Porque também depende da resposta celular, que tem um papel muito importante. Por isso, medir anticorpos diz que já teve contato com o vírus, mas o quanto está protegido e por quanto tempo não tem como saber com certeza", explica Denise.

O IgG é a imunoglobulina do tipo G, que é um anticorpo produzido em resposta a uma infecção. Costuma ficar por longos períodos nas pessoas, mas o que os cientistas descobriram é que esse tempo varia para cada um no caso da covid-19. Até por isso, o nível de imunidade muda de acordo com a pessoa e justamente por causa disso a vacinação é fundamental para todos.

Essa vacinação de pessoas que já se contaminaram gera um "booster", uma amplificação no número de anticorpos, de acordo com diversos estudos recentes. Para Mônica Levi, o booster é um consenso global. "Como a pessoa já teve contato primário com aquele vírus, na hora que ela toma a primeira dose, a resposta imunológica dela fica muito elevada", diz Mônica Levi.

O presidente Jair Bolsonaro tem afirmado com frequência nos últimos dias que não precisa tomar a vacina contra a covid-19 porque, como já foi infectado pela doença, já tem anticorpos suficientes. Mas os especialistas rejeitam esse argumento, que não tem base científica, e sugerem o contrário: que a pessoa que foi contaminada precisa se imunizar porque isso daria um aumento considerável nos anticorpos.

"Quando a pessoa que já se infectou toma a vacina, a proteção dela é até mais robusta. É o melhor que você pode ter em termos de proteção", explica Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. "Então mesmo quem já teve covid-19 precisa se vacinar por várias razões e o Bolsonaro está errado na premissa. Isso pode gerar confusão nas pessoas", continua.

Mulher é vacinada contra a covid-19 Foto: Leo Souza/Estadão - 16/5/2021

A especialista aponta que uma infecção natural causa uma imunidade forte e duradoura, mas que nem todo mundo tem essa mesma imunidade. "Tem um grupo que não responde à infecção natural, e o grau de proteção varia muito, tende a ser mais forte em pessoas com doença mais grave", diz. Em pessoas assintomáticas, por exemplo, pode ocorrer de o corpo não produzir quase nenhuma imunidade ao coronavírus. "A probabilidade de ter proteção forte é relacionada com a severidade da doença", continua.

Como grande parte dos casos de covid-19 são assintomáticos ou leves, a necessidade de se vacinar é ainda maior. "Existem pacientes que não mostram níveis detectáveis de anticorpos neutralizantes. Já as vacinas são desenvolvidas para produzir essa resposta imune. Em estudos da vacina de mRNA, por exemplo, 100% das pessoas vacinadas com as duas doses mostram proteção", afirma Denise.

Outro ponto importante para o debate é que a chance de reinfecção é muito maior para quem só teve a doença e não se vacinou do que para quem já está imunizado. "A pessoa não vacinada tem 2,3 vezes mais chances de se reinfectar do que uma pessoa que tomou a vacina", explica a especialista.

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, essa situação de reinfecção pôde ser observada claramente em Manaus, que teve um período crítico no início do ano. "Houve uma prevalência de 75% de contaminação em Manaus na primeira onda, mas depois, quando apareceu a variante Gama, muita gente pegou a covid novamente, com muitos casos graves e até mortes", diz.

Ela lembra que no início da pandemia a duração da proteção pós-doença foi uma das primeiras questões que intrigaram os profissionais da saúde. "Era um dos aspectos a se entender do vírus, era uma lacuna de conhecimento científico. Então foram feitos muitos estudos e a permanência de anticorpos variou de 3 a 11 meses."

Os casos de infecção em quem já tinha pego a covid começaram a mostrar que o simples fato de ter anticorpos não significa que a pessoa está protegida de uma nova infecção. "Sem contar que o número de anticorpos vai caindo ao longo do tempo, inclusive para quem se vacinou. Ainda existem as variantes, que entraram neste cenário e está mais do que provado que elas podem evadir os anticorpos gerados, por infecção ou vacinação", afirma.

Polêmica do IgG

Em algumas declarações, o presidente Bolsonaro comentou que não precisava da vacina por ter o IgG alto e citou até o número de 991 e que isso lhe daria proteção contra a covid-19. Mas as especialistas refutam esse argumento e lembram que um IgG alto não significa que a pessoa não corre riscos de se contaminar novamente pela doença.

"Ter o IgG alto não protege contra a covid. Existe um nível que a gente sabe que se eu tiver, estou protegida. Mas a gente não sabe qual é esse nível ainda. Porque também depende da resposta celular, que tem um papel muito importante. Por isso, medir anticorpos diz que já teve contato com o vírus, mas o quanto está protegido e por quanto tempo não tem como saber com certeza", explica Denise.

O IgG é a imunoglobulina do tipo G, que é um anticorpo produzido em resposta a uma infecção. Costuma ficar por longos períodos nas pessoas, mas o que os cientistas descobriram é que esse tempo varia para cada um no caso da covid-19. Até por isso, o nível de imunidade muda de acordo com a pessoa e justamente por causa disso a vacinação é fundamental para todos.

Essa vacinação de pessoas que já se contaminaram gera um "booster", uma amplificação no número de anticorpos, de acordo com diversos estudos recentes. Para Mônica Levi, o booster é um consenso global. "Como a pessoa já teve contato primário com aquele vírus, na hora que ela toma a primeira dose, a resposta imunológica dela fica muito elevada", diz Mônica Levi.

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