Você já deve ter ouvido falar sobre a importância da microbiota intestinal para a manutenção da saúde como um todo – ela auxilia na digestão, na regulação do sistema imunológico e na prevenção de doenças. Mas tão importante quanto a flora intestinal é a microbiota vaginal, que é um conjunto de micro-organismos presentes na vagina, que formam um ecossistema de bactérias essenciais para a saúde íntima feminina. Alterações nessa comunidade microscópica podem prejudicar a lubrificação natural da região e causar corrimentos, ardor, alterações no odor, desconforto pélvico e até infecções.
A vagina saudável de uma mulher em idade reprodutiva é essencialmente habitada por Lactobacillus – as famosas bactérias “do bem”, fundamentais para a proteção do meio vaginal. São essas bactérias que mantém o pH da vagina ácido e produzem peróxido de hidrogênio e substâncias bactericidas que vão destruir os patógenos que invadem o meio vaginal. Para a vagina da mulher estar em equilíbrio, os lactobacilos devem compor pelo menos 90% da flora.
O desajuste da microbiota vaginal – ou a diminuição da quantidade dessas bactérias benéficas – modifica o pH da vagina e pode facilitar a proliferação das bactérias patogênicas, aumentando o risco de infecções urinárias, doença inflamatória pélvica, abcessos e até parto prematuro.
“A maioria das bactérias patogênicas [que causam doenças] cresce em um ambiente de pH básico. Por isso, manter o pH ácido da vagina é essencial para a mulher não enfrentar infecções, manter a lubrificação da mucosa vaginal e não ter outros problemas”, explica a ginecologista e obstetra Rita Sanchez, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
E quais os principais fatores que podem levar ao desequilíbrio da flora vaginal? Segundo a ginecologista e obstetra Ana Catherine Gonçalves, da Comissão de Patologias do Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia), são vários, como raça (mulheres caucasianas costumam ter menos problemas de flora vaginal do que mulheres negras), idade, relações sexuais desprotegidas, alimentação inadequada, uso de roupas apertadas, passar muito tempo com biquíni molhado, entre outros.
Veja, abaixo, algumas dicas para proteger a saúde íntima da vagina.
1 – Proteja o pH da vagina
A vagina tem o pH ácido. Desbalanços na acidez contribuem para a mudança da composição bacteriana vaginal e permitem o surgimento de infecções bacterianas.
Um dos primeiros sinais de que há algo de errado é a alteração do odor vaginal, que pode ficar forte e desagradável. Outras indicações de pH desequilibrado são coceira e aparecimento de corrimento vaginal, que costuma ter odor e cor mais intensos – portanto, é diferente do corrimento indicador de período fértil, que é transparente, sem cheiro e mais elástico.
“Uma das queixas mais frequentes no consultório no fim de ano é a presença do corrimento vaginal associado à coceira. O odor forte é uma característica muito típica de alterações da flora”, descreve Ana.
2 – Faça sexo seguro
O uso do preservativo durante as relações sexuais é essencial para proteger contra infecções sexualmente transmissíveis e também ajuda a manter o equilíbrio da flora vaginal. Isso porque o esperma tem o pH básico – em contato frequente com a flora vaginal, que tem o pH ácido, pode provocar um desequilíbrio.
3 – Mantenha uma dieta saudável
Ter uma alimentação adequada é fundamental para o equilíbrio da flora intestinal e vaginal. Quando uma pessoa está com a imunidade comprometida, isso afeta diretamente a flora. Os iogurtes ricos em probióticos, por exemplo, são fontes importantes de lactobacilos e podem ajudar a mulher a manter a flora vaginal saudável.
4 – Cuidado com o biquíni molhado
Especialmente nesse período de verão, em que as mulheres costumam ir muito à praia e à piscina, é preciso ficar atenta ao biquíni molhado. “As bactérias e os fungos se multiplicam justamente nos meios úmidos e quentes. O mundo ideal é não ficar muito tempo com o maiô molhado para evitar essa ploriferação. Se for viajar, leve pelo menos duas peças de roupa de banho para poder trocar e esperar secar”, orienta Rita.
5 – Não use roupas muito apertadas
A vagina precisa respirar. Tanto que é recomendado que, se possível, as mulheres durmam sem calcinha para evitar que a região fique muito abafada e sujeita a infecções. “As mulheres deveriam dormir sem calcinha. Quanto mais abafada estiver a região, maior o risco do crescimento de bactérias nocivas”, reforça Rita.
Além disso, alguns tipos de tecidos e roupas justas também criam as condições quentes e úmidas ideais para a proliferação bacteriana. As especialistas recomendam o uso de calcinha de algodão, um tecido considerado mais respirável. No caso da prática de exercícios físicos intensa (em que o corpo fica muito suado), a calcinha deve ser trocada assim que possível.
6 – Evite usar protetor diário de calcinha
Embora o nome indique “protetor diário de calcinha”, o uso desse produto não é recomendado diariamente. “Se a gente orienta a mulher dormir sem calcinha para a vagina respirar, imagine usar calcinha e mais um protetor todos os dias. É melhor trocar a calcinha duas, três vezes por dia do que usar protetor diário”, recomenda Rita. De acordo com Ana, da Febrasgo, até existem alguns protetores diários que possuem tecnologia “respirável”, mas ela também ressalta que o uso contínuo não é bem-vindo.
7 – Mantenha a região genital sempre limpa
Após usar o banheiro, é importante se limpar passando o papel da frente para trás e não de trás para frente – isso evita a contaminação da vagina e reduz o risco de infecção. O absorvente deve ser trocado com frequência.
Não faça duchas íntimas sem orientação médica específica. “A realização da ducha altera a microbiota. Há mulheres que usam mel ou outros ingredientes achando que vão higienizar ou até evitar uma gravidez, mas, na verdade, elas acabam piorando a flora vaginal e irritando a região”, comenta Ana.
8 – Não utilize produtos que não são próprios para a área
Um outro fator que leva à alteração da microbiota vaginal é o uso de produtos caseiros para “higienizar” a vagina. “Já recebi pacientes que passaram alho, água com limão, vinagre. Nada disso é recomendado. A única coisa que recomendamos é uso de água. O sabonete, por exemplo, deve ser usado apenas na vulva e não na cavidade vaginal. As pessoas precisam entender que não é porque é um produto natural que não vai fazer mal”, alerta Ana.
9 – Faça tratamentos corretamente
Se houver algum sintoma – como alteração do cheiro, corrimento, ardor, coceira – procure o ginecologista. Os três tipos de infecções mais comuns são a vaginose bacteriana, a tricomoníase e a infecção por fungos (candidíase). O diagnóstico é feito pelo médico, que vai indicar o tratamento adequado.
“No exame físico, geralmente já conseguimos ter indícios de qual bactéria causou o problema”, informa Rita. O tratamento, em geral, é feito com o uso de antibióticos ou antifúngicos. Em alguns poucos casos, pode ocorrer remissão do quadro de irritação e odor de forma natural, sem tratamento.