Saúde masculina: por que a probabilidade de morte é maior para o homem do que para a mulher?


Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres

Por Tara Parker-Pope e Caitlin Gilbert

Uma crise silenciosa na saúde dos homens está encurtando a expectativa de vida de pais, maridos, irmãos e filhos.

Durante anos, a sabedoria convencional dizia que a falta de pesquisas de saúde específicas por sexo prejudica sobretudo as mulheres e as minorias de gênero. Embora essas preocupações sejam verdadeiras, um olhar mais atento aos dados de longevidade conta uma história mais complicada.

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Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres.

O resultado é uma crescente diferença de longevidade entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida em 2021 era de 79,1 anos para mulheres e 73,2 anos para homens. Essa diferença de 5,9 anos é a maior lacuna em um quarto de século. (Os dados não são ajustados para incluir diferenças entre pessoas não binárias e trans.)

“Os homens têm vantagens em todos os aspectos de nossa sociedade, mas temos piores resultados de saúde para a maioria das coisas que podem matar”, disse Derek Griffith, diretor do Centro de Igualdade em Saúde Masculina no Instituto de Justiça Racial da Universidade de Georgetown. “Costumamos não priorizar a saúde do homem, mas ela precisa de atenção exclusiva e tem implicações para o resto da família. Isso significa que outros membros da família, incluindo mulheres e crianças, também sofrem.”

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A diferença de longevidade entre homens e mulheres é um fenômeno global, embora as diferenças entre os sexos e os dados sobre as idades de maior risco variem em todo o mundo e sejam influenciados por normas culturais, manutenção de registros e fatores geopolíticos, como pobreza, guerras e mudanças climáticas.

Mas os dados que analisam os riscos à saúde de meninos e homens nos Estados Unidos mostram um quadro sombrio.

Os homens correm maior risco de morrer de covid-19 do que as mulheres, uma diferença que não pode ser explicada pelas taxas de infecção ou pelas condições preexistentes. A taxa de mortalidade ajustada por idade para covid foi de 140 mortes por 100 mil para homens e 87,7 por 100 mil para mulheres.

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Mais homens morrem de diabete do que mulheres. As taxas de mortalidade para homens são 31,2 por 100 mil contra 19,5 por 100 mil para mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer é maior entre os homens – 189,5 por 100 mil – em comparação com 135,7 por 100 mil para as mulheres. Homens negros têm a maior taxa de mortalidade por câncer: 227,3 por 100 mil. Entre as mulheres negras, a taxa de mortalidade por câncer é de 149 por 100 mil.

As taxas de mortalidade de meninos e adolescentes de 10 a 19 anos (44,5 por 100 mil) superam em muito as de meninas (21,3 por 100 mil). Mesmo entre as crianças, a taxa de mortalidade é maior para os meninos (5,87 por 1 mil nascidos vivos) do que para as meninas (4,95 por 1 mil).

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Os homens morrem por suicídio quase quatro vezes mais do que as mulheres, com base em dados de 2020 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A taxa de suicídio é maior em homens brancos de meia-idade, mas os adolescentes também enfrentam um alto risco.

Em 2020, 72% de todas as vítimas de acidentes com veículos motorizados eram do sexo masculino. Os homens também representaram 71% das mortes de pedestres, 87% das mortes de ciclistas e 92% das mortes de motociclistas.

Defensores de mais pesquisas sobre a saúde masculina dizem que o objetivo não é roubar recursos de mulheres, meninas e minorias de gênero.

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“Algumas pessoas pensam que a saúde é um ganho de soma zero, que um dólar para a saúde dos homens tira algo das mulheres”, disse Ronald Henry, presidente e cofundador da Men’s Health Network. “Está errado. Apoiamos totalmente os esforços de saúde das mulheres e a melhoria da qualidade de vida das mulheres.”

Mas, ao ver os homens como padrão privilegiado, os especialistas em saúde estão ignorando importantes diferenças que podem iluminar questões de saúde.

Por exemplo, durante anos, a crença amplamente difundida nos círculos médicos era de que as mulheres usavam muitos recursos de saúde em comparação com os homens. Como resultado, os homens eram vistos como o padrão para a procura pelos cuidados de saúde, enquanto as mulheres muitas vezes eram consideradas histéricas ou “ansiosas” quando procuravam atendimento.

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“Costumávamos pensar que as mulheres estavam super-utilizando os cuidados de saúde, e os homens os estavam utilizando da maneira correta”, disse Griffith. “O que percebemos foi que as mulheres estavam indo melhor, principalmente em termos de cuidados preventivos, e os homens estavam, na verdade, subutilizando os cuidados de saúde.”

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante. Foto: CDC

Biologia e diferenças culturais

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante.

Por exemplo, altos níveis de testosterona, que podem enfraquecer a resposta imune, talvez sejam um fator que explica por que os homens – e os mamíferos masculinos em geral – são mais vulneráveis a infecções parasitárias. O estrogênio pode explicar por que as mulheres têm taxas mais baixas de doenças cardíacas ao longo da vida – e por que a diferença diminui depois que as mulheres atingem a menopausa. (Embora o estrogênio pareça ser protetor nas mulheres, estudos da década de 1970 mostraram que, quando o estrogênio era administrado a homens, em vez de ser protetor, causava o dobro da taxa de ataques cardíacos do que em um grupo de placebo.)

Preconceitos culturais sobre a masculinidade, que ensinam meninos e homens a esconder seus sentimentos e não reclamar, também podem influenciar a saúde masculina.

“A depressão nos homens é bastante enganosa”, disse Marianne J. Legato, médica e fundadora da Fundação para Medicina Específica de Gênero em Nova York. “Os homens são socialmente programados para não reclamar. O suicídio muitas vezes é visto como algo inesperado nos homens, mas não muito nas mulheres.”

As expectativas culturais de estoicismo masculino também podem atrasar o cuidado dos homens. Por exemplo, embora doenças como diabete, doenças cardíacas e hipertensão sejam comuns em homens e mulheres, os homens costumam esperar mais tempo para procurar atendimento e as doenças são diagnosticadas em estágios posteriores, levando a mais danos e consequências piores.

“É um enigma interessante e, em muitos aspectos, não é bem compreendido”, disse o cardiologista Steven Nissen, diretor acadêmico da Cleveland Clinic. “Os homens precisam prestar muita atenção aos fatores de risco cardiovascular. Tratar os fatores de risco precocemente pode reduzir muito o risco.”

Os homens também são conhecidos por se envolverem em comportamentos mais arriscados, como uso de drogas e álcool, tabagismo e direção imprudente. Embora as razões por trás dessas tendências não sejam totalmente compreendidas, os riscos comportamentais também são uma razão pela qual a saúde masculina não é estudada, disse Griffith.

“É difícil convencer as pessoas de que a saúde masculina é um problema quando pensamos que só é um problema porque os homens não fazem o que deveriam fazer”, disse ele.

Uma preocupação citada com frequência é que os homens também são menos propensos a consultar médicos. Embora meninos e meninas visitem o pediatra na mesma proporção, a tendência muda na idade adulta e as visitas médicas dos homens diminuem. Os dados do CDC mostram que a taxa de visitas médicas em 2018 entre as mulheres foi quase 40% maior: 3,08 visitas por mulher contra 2,24 por homem.

Uma razão é que as mulheres visitam regularmente o ginecologista em seus anos reprodutivos. “Não existe algo semelhante para os homens”, disse Nissen.

Mas, mesmo quando as consultas para gravidez são excluídas, a pesquisa sugere que as mulheres ainda têm duas vezes mais chances do que os homens de agendar exames anuais regulares e usar serviços preventivos.

Os médicos dizem que os homens são mais propensos a visitar o médico por causa de uma lesão esportiva ou para “a visita do Viagra” – quando procuram tratamento para a disfunção erétil. Como resultado, médicos de medicina esportiva e urologistas são incentivados a usar essas consultas para verificar a pressão arterial, o colesterol e outros indicadores de saúde geral.

“Vitalidade e saúde sexual são duas das coisas em que os homens mais pensam”, disse Howard LeWine, médico do Brigham and Women’s Hospital em Boston e editor-chefe da Harvard Health Publishing. “Quando você tem 20 ou 30 anos e é homem, não pensa em ir ao médico para prevenir câncer ou doenças cardíacas. Acho que isso só passa pela cabeça dos homens quando algo acontece com eles.”

A ironia é que, durante anos, os homens foram super-representados na pesquisa médica, muitas vezes às custas das mulheres, de acordo com um relatório seminal de 1985 que estimulou mais investimentos do governo na pesquisa sobre a saúde da mulher.

“Os homens estavam super-representados nos estudos médicos, mas ainda estão sub-representados em termos de atendimento clínico”, disse Harvey Simon, médico e fundador do Harvard Men’s Health Watch, um boletim informativo dedicado à saúde masculina.

Defensores da saúde masculina dizem que um dos maiores fatores é a falta de infraestrutura para apoiar pesquisas especificamente focadas na saúde masculina.

Durante anos, a Men’s Health Network fez lobby para a criação de um Escritório de Saúde do Homem, semelhante ao Escritório de Saúde da Mulher, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. A legislação proposta, no entanto, não tem ganhado apoio.

Embora alguns sistemas de saúde afirmem ter departamentos focados na saúde masculina, o atendimento geralmente é focado na saúde urológica e da próstata, em vez de cuidados cardíacos, saúde mental ou outros problemas que afligem os homens em altas taxas.

O tema da saúde masculina simplesmente não pegou como algo que defensores, patrocinadores corporativos e políticos queiram apoiar. Embora a fita rosa tenha sido elevada ao status de ícone para sinalizar a conscientização sobre o câncer de mama, nada na saúde masculina alcançou o mesmo nível de atenção.

“Há uma lacuna de empatia”, disse Henry. “Algumas pessoas dão de ombros e dizem: ‘Sim, os homens morrem mais jovens. O mundo é assim mesmo’. Não precisa ser assim. Se dedicarmos atenção e recursos, podemos mudar os resultados para os homens.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Uma crise silenciosa na saúde dos homens está encurtando a expectativa de vida de pais, maridos, irmãos e filhos.

Durante anos, a sabedoria convencional dizia que a falta de pesquisas de saúde específicas por sexo prejudica sobretudo as mulheres e as minorias de gênero. Embora essas preocupações sejam verdadeiras, um olhar mais atento aos dados de longevidade conta uma história mais complicada.

Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres.

O resultado é uma crescente diferença de longevidade entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida em 2021 era de 79,1 anos para mulheres e 73,2 anos para homens. Essa diferença de 5,9 anos é a maior lacuna em um quarto de século. (Os dados não são ajustados para incluir diferenças entre pessoas não binárias e trans.)

“Os homens têm vantagens em todos os aspectos de nossa sociedade, mas temos piores resultados de saúde para a maioria das coisas que podem matar”, disse Derek Griffith, diretor do Centro de Igualdade em Saúde Masculina no Instituto de Justiça Racial da Universidade de Georgetown. “Costumamos não priorizar a saúde do homem, mas ela precisa de atenção exclusiva e tem implicações para o resto da família. Isso significa que outros membros da família, incluindo mulheres e crianças, também sofrem.”

A diferença de longevidade entre homens e mulheres é um fenômeno global, embora as diferenças entre os sexos e os dados sobre as idades de maior risco variem em todo o mundo e sejam influenciados por normas culturais, manutenção de registros e fatores geopolíticos, como pobreza, guerras e mudanças climáticas.

Mas os dados que analisam os riscos à saúde de meninos e homens nos Estados Unidos mostram um quadro sombrio.

Os homens correm maior risco de morrer de covid-19 do que as mulheres, uma diferença que não pode ser explicada pelas taxas de infecção ou pelas condições preexistentes. A taxa de mortalidade ajustada por idade para covid foi de 140 mortes por 100 mil para homens e 87,7 por 100 mil para mulheres.

Mais homens morrem de diabete do que mulheres. As taxas de mortalidade para homens são 31,2 por 100 mil contra 19,5 por 100 mil para mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer é maior entre os homens – 189,5 por 100 mil – em comparação com 135,7 por 100 mil para as mulheres. Homens negros têm a maior taxa de mortalidade por câncer: 227,3 por 100 mil. Entre as mulheres negras, a taxa de mortalidade por câncer é de 149 por 100 mil.

As taxas de mortalidade de meninos e adolescentes de 10 a 19 anos (44,5 por 100 mil) superam em muito as de meninas (21,3 por 100 mil). Mesmo entre as crianças, a taxa de mortalidade é maior para os meninos (5,87 por 1 mil nascidos vivos) do que para as meninas (4,95 por 1 mil).

Os homens morrem por suicídio quase quatro vezes mais do que as mulheres, com base em dados de 2020 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A taxa de suicídio é maior em homens brancos de meia-idade, mas os adolescentes também enfrentam um alto risco.

Em 2020, 72% de todas as vítimas de acidentes com veículos motorizados eram do sexo masculino. Os homens também representaram 71% das mortes de pedestres, 87% das mortes de ciclistas e 92% das mortes de motociclistas.

Defensores de mais pesquisas sobre a saúde masculina dizem que o objetivo não é roubar recursos de mulheres, meninas e minorias de gênero.

“Algumas pessoas pensam que a saúde é um ganho de soma zero, que um dólar para a saúde dos homens tira algo das mulheres”, disse Ronald Henry, presidente e cofundador da Men’s Health Network. “Está errado. Apoiamos totalmente os esforços de saúde das mulheres e a melhoria da qualidade de vida das mulheres.”

Mas, ao ver os homens como padrão privilegiado, os especialistas em saúde estão ignorando importantes diferenças que podem iluminar questões de saúde.

Por exemplo, durante anos, a crença amplamente difundida nos círculos médicos era de que as mulheres usavam muitos recursos de saúde em comparação com os homens. Como resultado, os homens eram vistos como o padrão para a procura pelos cuidados de saúde, enquanto as mulheres muitas vezes eram consideradas histéricas ou “ansiosas” quando procuravam atendimento.

“Costumávamos pensar que as mulheres estavam super-utilizando os cuidados de saúde, e os homens os estavam utilizando da maneira correta”, disse Griffith. “O que percebemos foi que as mulheres estavam indo melhor, principalmente em termos de cuidados preventivos, e os homens estavam, na verdade, subutilizando os cuidados de saúde.”

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante. Foto: CDC

Biologia e diferenças culturais

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante.

Por exemplo, altos níveis de testosterona, que podem enfraquecer a resposta imune, talvez sejam um fator que explica por que os homens – e os mamíferos masculinos em geral – são mais vulneráveis a infecções parasitárias. O estrogênio pode explicar por que as mulheres têm taxas mais baixas de doenças cardíacas ao longo da vida – e por que a diferença diminui depois que as mulheres atingem a menopausa. (Embora o estrogênio pareça ser protetor nas mulheres, estudos da década de 1970 mostraram que, quando o estrogênio era administrado a homens, em vez de ser protetor, causava o dobro da taxa de ataques cardíacos do que em um grupo de placebo.)

Preconceitos culturais sobre a masculinidade, que ensinam meninos e homens a esconder seus sentimentos e não reclamar, também podem influenciar a saúde masculina.

“A depressão nos homens é bastante enganosa”, disse Marianne J. Legato, médica e fundadora da Fundação para Medicina Específica de Gênero em Nova York. “Os homens são socialmente programados para não reclamar. O suicídio muitas vezes é visto como algo inesperado nos homens, mas não muito nas mulheres.”

As expectativas culturais de estoicismo masculino também podem atrasar o cuidado dos homens. Por exemplo, embora doenças como diabete, doenças cardíacas e hipertensão sejam comuns em homens e mulheres, os homens costumam esperar mais tempo para procurar atendimento e as doenças são diagnosticadas em estágios posteriores, levando a mais danos e consequências piores.

“É um enigma interessante e, em muitos aspectos, não é bem compreendido”, disse o cardiologista Steven Nissen, diretor acadêmico da Cleveland Clinic. “Os homens precisam prestar muita atenção aos fatores de risco cardiovascular. Tratar os fatores de risco precocemente pode reduzir muito o risco.”

Os homens também são conhecidos por se envolverem em comportamentos mais arriscados, como uso de drogas e álcool, tabagismo e direção imprudente. Embora as razões por trás dessas tendências não sejam totalmente compreendidas, os riscos comportamentais também são uma razão pela qual a saúde masculina não é estudada, disse Griffith.

“É difícil convencer as pessoas de que a saúde masculina é um problema quando pensamos que só é um problema porque os homens não fazem o que deveriam fazer”, disse ele.

Uma preocupação citada com frequência é que os homens também são menos propensos a consultar médicos. Embora meninos e meninas visitem o pediatra na mesma proporção, a tendência muda na idade adulta e as visitas médicas dos homens diminuem. Os dados do CDC mostram que a taxa de visitas médicas em 2018 entre as mulheres foi quase 40% maior: 3,08 visitas por mulher contra 2,24 por homem.

Uma razão é que as mulheres visitam regularmente o ginecologista em seus anos reprodutivos. “Não existe algo semelhante para os homens”, disse Nissen.

Mas, mesmo quando as consultas para gravidez são excluídas, a pesquisa sugere que as mulheres ainda têm duas vezes mais chances do que os homens de agendar exames anuais regulares e usar serviços preventivos.

Os médicos dizem que os homens são mais propensos a visitar o médico por causa de uma lesão esportiva ou para “a visita do Viagra” – quando procuram tratamento para a disfunção erétil. Como resultado, médicos de medicina esportiva e urologistas são incentivados a usar essas consultas para verificar a pressão arterial, o colesterol e outros indicadores de saúde geral.

“Vitalidade e saúde sexual são duas das coisas em que os homens mais pensam”, disse Howard LeWine, médico do Brigham and Women’s Hospital em Boston e editor-chefe da Harvard Health Publishing. “Quando você tem 20 ou 30 anos e é homem, não pensa em ir ao médico para prevenir câncer ou doenças cardíacas. Acho que isso só passa pela cabeça dos homens quando algo acontece com eles.”

A ironia é que, durante anos, os homens foram super-representados na pesquisa médica, muitas vezes às custas das mulheres, de acordo com um relatório seminal de 1985 que estimulou mais investimentos do governo na pesquisa sobre a saúde da mulher.

“Os homens estavam super-representados nos estudos médicos, mas ainda estão sub-representados em termos de atendimento clínico”, disse Harvey Simon, médico e fundador do Harvard Men’s Health Watch, um boletim informativo dedicado à saúde masculina.

Defensores da saúde masculina dizem que um dos maiores fatores é a falta de infraestrutura para apoiar pesquisas especificamente focadas na saúde masculina.

Durante anos, a Men’s Health Network fez lobby para a criação de um Escritório de Saúde do Homem, semelhante ao Escritório de Saúde da Mulher, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. A legislação proposta, no entanto, não tem ganhado apoio.

Embora alguns sistemas de saúde afirmem ter departamentos focados na saúde masculina, o atendimento geralmente é focado na saúde urológica e da próstata, em vez de cuidados cardíacos, saúde mental ou outros problemas que afligem os homens em altas taxas.

O tema da saúde masculina simplesmente não pegou como algo que defensores, patrocinadores corporativos e políticos queiram apoiar. Embora a fita rosa tenha sido elevada ao status de ícone para sinalizar a conscientização sobre o câncer de mama, nada na saúde masculina alcançou o mesmo nível de atenção.

“Há uma lacuna de empatia”, disse Henry. “Algumas pessoas dão de ombros e dizem: ‘Sim, os homens morrem mais jovens. O mundo é assim mesmo’. Não precisa ser assim. Se dedicarmos atenção e recursos, podemos mudar os resultados para os homens.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Uma crise silenciosa na saúde dos homens está encurtando a expectativa de vida de pais, maridos, irmãos e filhos.

Durante anos, a sabedoria convencional dizia que a falta de pesquisas de saúde específicas por sexo prejudica sobretudo as mulheres e as minorias de gênero. Embora essas preocupações sejam verdadeiras, um olhar mais atento aos dados de longevidade conta uma história mais complicada.

Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres.

O resultado é uma crescente diferença de longevidade entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida em 2021 era de 79,1 anos para mulheres e 73,2 anos para homens. Essa diferença de 5,9 anos é a maior lacuna em um quarto de século. (Os dados não são ajustados para incluir diferenças entre pessoas não binárias e trans.)

“Os homens têm vantagens em todos os aspectos de nossa sociedade, mas temos piores resultados de saúde para a maioria das coisas que podem matar”, disse Derek Griffith, diretor do Centro de Igualdade em Saúde Masculina no Instituto de Justiça Racial da Universidade de Georgetown. “Costumamos não priorizar a saúde do homem, mas ela precisa de atenção exclusiva e tem implicações para o resto da família. Isso significa que outros membros da família, incluindo mulheres e crianças, também sofrem.”

A diferença de longevidade entre homens e mulheres é um fenômeno global, embora as diferenças entre os sexos e os dados sobre as idades de maior risco variem em todo o mundo e sejam influenciados por normas culturais, manutenção de registros e fatores geopolíticos, como pobreza, guerras e mudanças climáticas.

Mas os dados que analisam os riscos à saúde de meninos e homens nos Estados Unidos mostram um quadro sombrio.

Os homens correm maior risco de morrer de covid-19 do que as mulheres, uma diferença que não pode ser explicada pelas taxas de infecção ou pelas condições preexistentes. A taxa de mortalidade ajustada por idade para covid foi de 140 mortes por 100 mil para homens e 87,7 por 100 mil para mulheres.

Mais homens morrem de diabete do que mulheres. As taxas de mortalidade para homens são 31,2 por 100 mil contra 19,5 por 100 mil para mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer é maior entre os homens – 189,5 por 100 mil – em comparação com 135,7 por 100 mil para as mulheres. Homens negros têm a maior taxa de mortalidade por câncer: 227,3 por 100 mil. Entre as mulheres negras, a taxa de mortalidade por câncer é de 149 por 100 mil.

As taxas de mortalidade de meninos e adolescentes de 10 a 19 anos (44,5 por 100 mil) superam em muito as de meninas (21,3 por 100 mil). Mesmo entre as crianças, a taxa de mortalidade é maior para os meninos (5,87 por 1 mil nascidos vivos) do que para as meninas (4,95 por 1 mil).

Os homens morrem por suicídio quase quatro vezes mais do que as mulheres, com base em dados de 2020 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A taxa de suicídio é maior em homens brancos de meia-idade, mas os adolescentes também enfrentam um alto risco.

Em 2020, 72% de todas as vítimas de acidentes com veículos motorizados eram do sexo masculino. Os homens também representaram 71% das mortes de pedestres, 87% das mortes de ciclistas e 92% das mortes de motociclistas.

Defensores de mais pesquisas sobre a saúde masculina dizem que o objetivo não é roubar recursos de mulheres, meninas e minorias de gênero.

“Algumas pessoas pensam que a saúde é um ganho de soma zero, que um dólar para a saúde dos homens tira algo das mulheres”, disse Ronald Henry, presidente e cofundador da Men’s Health Network. “Está errado. Apoiamos totalmente os esforços de saúde das mulheres e a melhoria da qualidade de vida das mulheres.”

Mas, ao ver os homens como padrão privilegiado, os especialistas em saúde estão ignorando importantes diferenças que podem iluminar questões de saúde.

Por exemplo, durante anos, a crença amplamente difundida nos círculos médicos era de que as mulheres usavam muitos recursos de saúde em comparação com os homens. Como resultado, os homens eram vistos como o padrão para a procura pelos cuidados de saúde, enquanto as mulheres muitas vezes eram consideradas histéricas ou “ansiosas” quando procuravam atendimento.

“Costumávamos pensar que as mulheres estavam super-utilizando os cuidados de saúde, e os homens os estavam utilizando da maneira correta”, disse Griffith. “O que percebemos foi que as mulheres estavam indo melhor, principalmente em termos de cuidados preventivos, e os homens estavam, na verdade, subutilizando os cuidados de saúde.”

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante. Foto: CDC

Biologia e diferenças culturais

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante.

Por exemplo, altos níveis de testosterona, que podem enfraquecer a resposta imune, talvez sejam um fator que explica por que os homens – e os mamíferos masculinos em geral – são mais vulneráveis a infecções parasitárias. O estrogênio pode explicar por que as mulheres têm taxas mais baixas de doenças cardíacas ao longo da vida – e por que a diferença diminui depois que as mulheres atingem a menopausa. (Embora o estrogênio pareça ser protetor nas mulheres, estudos da década de 1970 mostraram que, quando o estrogênio era administrado a homens, em vez de ser protetor, causava o dobro da taxa de ataques cardíacos do que em um grupo de placebo.)

Preconceitos culturais sobre a masculinidade, que ensinam meninos e homens a esconder seus sentimentos e não reclamar, também podem influenciar a saúde masculina.

“A depressão nos homens é bastante enganosa”, disse Marianne J. Legato, médica e fundadora da Fundação para Medicina Específica de Gênero em Nova York. “Os homens são socialmente programados para não reclamar. O suicídio muitas vezes é visto como algo inesperado nos homens, mas não muito nas mulheres.”

As expectativas culturais de estoicismo masculino também podem atrasar o cuidado dos homens. Por exemplo, embora doenças como diabete, doenças cardíacas e hipertensão sejam comuns em homens e mulheres, os homens costumam esperar mais tempo para procurar atendimento e as doenças são diagnosticadas em estágios posteriores, levando a mais danos e consequências piores.

“É um enigma interessante e, em muitos aspectos, não é bem compreendido”, disse o cardiologista Steven Nissen, diretor acadêmico da Cleveland Clinic. “Os homens precisam prestar muita atenção aos fatores de risco cardiovascular. Tratar os fatores de risco precocemente pode reduzir muito o risco.”

Os homens também são conhecidos por se envolverem em comportamentos mais arriscados, como uso de drogas e álcool, tabagismo e direção imprudente. Embora as razões por trás dessas tendências não sejam totalmente compreendidas, os riscos comportamentais também são uma razão pela qual a saúde masculina não é estudada, disse Griffith.

“É difícil convencer as pessoas de que a saúde masculina é um problema quando pensamos que só é um problema porque os homens não fazem o que deveriam fazer”, disse ele.

Uma preocupação citada com frequência é que os homens também são menos propensos a consultar médicos. Embora meninos e meninas visitem o pediatra na mesma proporção, a tendência muda na idade adulta e as visitas médicas dos homens diminuem. Os dados do CDC mostram que a taxa de visitas médicas em 2018 entre as mulheres foi quase 40% maior: 3,08 visitas por mulher contra 2,24 por homem.

Uma razão é que as mulheres visitam regularmente o ginecologista em seus anos reprodutivos. “Não existe algo semelhante para os homens”, disse Nissen.

Mas, mesmo quando as consultas para gravidez são excluídas, a pesquisa sugere que as mulheres ainda têm duas vezes mais chances do que os homens de agendar exames anuais regulares e usar serviços preventivos.

Os médicos dizem que os homens são mais propensos a visitar o médico por causa de uma lesão esportiva ou para “a visita do Viagra” – quando procuram tratamento para a disfunção erétil. Como resultado, médicos de medicina esportiva e urologistas são incentivados a usar essas consultas para verificar a pressão arterial, o colesterol e outros indicadores de saúde geral.

“Vitalidade e saúde sexual são duas das coisas em que os homens mais pensam”, disse Howard LeWine, médico do Brigham and Women’s Hospital em Boston e editor-chefe da Harvard Health Publishing. “Quando você tem 20 ou 30 anos e é homem, não pensa em ir ao médico para prevenir câncer ou doenças cardíacas. Acho que isso só passa pela cabeça dos homens quando algo acontece com eles.”

A ironia é que, durante anos, os homens foram super-representados na pesquisa médica, muitas vezes às custas das mulheres, de acordo com um relatório seminal de 1985 que estimulou mais investimentos do governo na pesquisa sobre a saúde da mulher.

“Os homens estavam super-representados nos estudos médicos, mas ainda estão sub-representados em termos de atendimento clínico”, disse Harvey Simon, médico e fundador do Harvard Men’s Health Watch, um boletim informativo dedicado à saúde masculina.

Defensores da saúde masculina dizem que um dos maiores fatores é a falta de infraestrutura para apoiar pesquisas especificamente focadas na saúde masculina.

Durante anos, a Men’s Health Network fez lobby para a criação de um Escritório de Saúde do Homem, semelhante ao Escritório de Saúde da Mulher, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. A legislação proposta, no entanto, não tem ganhado apoio.

Embora alguns sistemas de saúde afirmem ter departamentos focados na saúde masculina, o atendimento geralmente é focado na saúde urológica e da próstata, em vez de cuidados cardíacos, saúde mental ou outros problemas que afligem os homens em altas taxas.

O tema da saúde masculina simplesmente não pegou como algo que defensores, patrocinadores corporativos e políticos queiram apoiar. Embora a fita rosa tenha sido elevada ao status de ícone para sinalizar a conscientização sobre o câncer de mama, nada na saúde masculina alcançou o mesmo nível de atenção.

“Há uma lacuna de empatia”, disse Henry. “Algumas pessoas dão de ombros e dizem: ‘Sim, os homens morrem mais jovens. O mundo é assim mesmo’. Não precisa ser assim. Se dedicarmos atenção e recursos, podemos mudar os resultados para os homens.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Uma crise silenciosa na saúde dos homens está encurtando a expectativa de vida de pais, maridos, irmãos e filhos.

Durante anos, a sabedoria convencional dizia que a falta de pesquisas de saúde específicas por sexo prejudica sobretudo as mulheres e as minorias de gênero. Embora essas preocupações sejam verdadeiras, um olhar mais atento aos dados de longevidade conta uma história mais complicada.

Ao longo da vida – desde a infância até a adolescência, meia-idade e velhice –, o risco de morte em todas as idades é maior para meninos e homens do que para meninas e mulheres.

O resultado é uma crescente diferença de longevidade entre homens e mulheres. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida em 2021 era de 79,1 anos para mulheres e 73,2 anos para homens. Essa diferença de 5,9 anos é a maior lacuna em um quarto de século. (Os dados não são ajustados para incluir diferenças entre pessoas não binárias e trans.)

“Os homens têm vantagens em todos os aspectos de nossa sociedade, mas temos piores resultados de saúde para a maioria das coisas que podem matar”, disse Derek Griffith, diretor do Centro de Igualdade em Saúde Masculina no Instituto de Justiça Racial da Universidade de Georgetown. “Costumamos não priorizar a saúde do homem, mas ela precisa de atenção exclusiva e tem implicações para o resto da família. Isso significa que outros membros da família, incluindo mulheres e crianças, também sofrem.”

A diferença de longevidade entre homens e mulheres é um fenômeno global, embora as diferenças entre os sexos e os dados sobre as idades de maior risco variem em todo o mundo e sejam influenciados por normas culturais, manutenção de registros e fatores geopolíticos, como pobreza, guerras e mudanças climáticas.

Mas os dados que analisam os riscos à saúde de meninos e homens nos Estados Unidos mostram um quadro sombrio.

Os homens correm maior risco de morrer de covid-19 do que as mulheres, uma diferença que não pode ser explicada pelas taxas de infecção ou pelas condições preexistentes. A taxa de mortalidade ajustada por idade para covid foi de 140 mortes por 100 mil para homens e 87,7 por 100 mil para mulheres.

Mais homens morrem de diabete do que mulheres. As taxas de mortalidade para homens são 31,2 por 100 mil contra 19,5 por 100 mil para mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer é maior entre os homens – 189,5 por 100 mil – em comparação com 135,7 por 100 mil para as mulheres. Homens negros têm a maior taxa de mortalidade por câncer: 227,3 por 100 mil. Entre as mulheres negras, a taxa de mortalidade por câncer é de 149 por 100 mil.

As taxas de mortalidade de meninos e adolescentes de 10 a 19 anos (44,5 por 100 mil) superam em muito as de meninas (21,3 por 100 mil). Mesmo entre as crianças, a taxa de mortalidade é maior para os meninos (5,87 por 1 mil nascidos vivos) do que para as meninas (4,95 por 1 mil).

Os homens morrem por suicídio quase quatro vezes mais do que as mulheres, com base em dados de 2020 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A taxa de suicídio é maior em homens brancos de meia-idade, mas os adolescentes também enfrentam um alto risco.

Em 2020, 72% de todas as vítimas de acidentes com veículos motorizados eram do sexo masculino. Os homens também representaram 71% das mortes de pedestres, 87% das mortes de ciclistas e 92% das mortes de motociclistas.

Defensores de mais pesquisas sobre a saúde masculina dizem que o objetivo não é roubar recursos de mulheres, meninas e minorias de gênero.

“Algumas pessoas pensam que a saúde é um ganho de soma zero, que um dólar para a saúde dos homens tira algo das mulheres”, disse Ronald Henry, presidente e cofundador da Men’s Health Network. “Está errado. Apoiamos totalmente os esforços de saúde das mulheres e a melhoria da qualidade de vida das mulheres.”

Mas, ao ver os homens como padrão privilegiado, os especialistas em saúde estão ignorando importantes diferenças que podem iluminar questões de saúde.

Por exemplo, durante anos, a crença amplamente difundida nos círculos médicos era de que as mulheres usavam muitos recursos de saúde em comparação com os homens. Como resultado, os homens eram vistos como o padrão para a procura pelos cuidados de saúde, enquanto as mulheres muitas vezes eram consideradas histéricas ou “ansiosas” quando procuravam atendimento.

“Costumávamos pensar que as mulheres estavam super-utilizando os cuidados de saúde, e os homens os estavam utilizando da maneira correta”, disse Griffith. “O que percebemos foi que as mulheres estavam indo melhor, principalmente em termos de cuidados preventivos, e os homens estavam, na verdade, subutilizando os cuidados de saúde.”

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante. Foto: CDC

Biologia e diferenças culturais

As razões por trás da diferença de longevidade não são totalmente compreendidas, mas a natureza global da disparidade sugere que a biologia provavelmente tem um papel importante.

Por exemplo, altos níveis de testosterona, que podem enfraquecer a resposta imune, talvez sejam um fator que explica por que os homens – e os mamíferos masculinos em geral – são mais vulneráveis a infecções parasitárias. O estrogênio pode explicar por que as mulheres têm taxas mais baixas de doenças cardíacas ao longo da vida – e por que a diferença diminui depois que as mulheres atingem a menopausa. (Embora o estrogênio pareça ser protetor nas mulheres, estudos da década de 1970 mostraram que, quando o estrogênio era administrado a homens, em vez de ser protetor, causava o dobro da taxa de ataques cardíacos do que em um grupo de placebo.)

Preconceitos culturais sobre a masculinidade, que ensinam meninos e homens a esconder seus sentimentos e não reclamar, também podem influenciar a saúde masculina.

“A depressão nos homens é bastante enganosa”, disse Marianne J. Legato, médica e fundadora da Fundação para Medicina Específica de Gênero em Nova York. “Os homens são socialmente programados para não reclamar. O suicídio muitas vezes é visto como algo inesperado nos homens, mas não muito nas mulheres.”

As expectativas culturais de estoicismo masculino também podem atrasar o cuidado dos homens. Por exemplo, embora doenças como diabete, doenças cardíacas e hipertensão sejam comuns em homens e mulheres, os homens costumam esperar mais tempo para procurar atendimento e as doenças são diagnosticadas em estágios posteriores, levando a mais danos e consequências piores.

“É um enigma interessante e, em muitos aspectos, não é bem compreendido”, disse o cardiologista Steven Nissen, diretor acadêmico da Cleveland Clinic. “Os homens precisam prestar muita atenção aos fatores de risco cardiovascular. Tratar os fatores de risco precocemente pode reduzir muito o risco.”

Os homens também são conhecidos por se envolverem em comportamentos mais arriscados, como uso de drogas e álcool, tabagismo e direção imprudente. Embora as razões por trás dessas tendências não sejam totalmente compreendidas, os riscos comportamentais também são uma razão pela qual a saúde masculina não é estudada, disse Griffith.

“É difícil convencer as pessoas de que a saúde masculina é um problema quando pensamos que só é um problema porque os homens não fazem o que deveriam fazer”, disse ele.

Uma preocupação citada com frequência é que os homens também são menos propensos a consultar médicos. Embora meninos e meninas visitem o pediatra na mesma proporção, a tendência muda na idade adulta e as visitas médicas dos homens diminuem. Os dados do CDC mostram que a taxa de visitas médicas em 2018 entre as mulheres foi quase 40% maior: 3,08 visitas por mulher contra 2,24 por homem.

Uma razão é que as mulheres visitam regularmente o ginecologista em seus anos reprodutivos. “Não existe algo semelhante para os homens”, disse Nissen.

Mas, mesmo quando as consultas para gravidez são excluídas, a pesquisa sugere que as mulheres ainda têm duas vezes mais chances do que os homens de agendar exames anuais regulares e usar serviços preventivos.

Os médicos dizem que os homens são mais propensos a visitar o médico por causa de uma lesão esportiva ou para “a visita do Viagra” – quando procuram tratamento para a disfunção erétil. Como resultado, médicos de medicina esportiva e urologistas são incentivados a usar essas consultas para verificar a pressão arterial, o colesterol e outros indicadores de saúde geral.

“Vitalidade e saúde sexual são duas das coisas em que os homens mais pensam”, disse Howard LeWine, médico do Brigham and Women’s Hospital em Boston e editor-chefe da Harvard Health Publishing. “Quando você tem 20 ou 30 anos e é homem, não pensa em ir ao médico para prevenir câncer ou doenças cardíacas. Acho que isso só passa pela cabeça dos homens quando algo acontece com eles.”

A ironia é que, durante anos, os homens foram super-representados na pesquisa médica, muitas vezes às custas das mulheres, de acordo com um relatório seminal de 1985 que estimulou mais investimentos do governo na pesquisa sobre a saúde da mulher.

“Os homens estavam super-representados nos estudos médicos, mas ainda estão sub-representados em termos de atendimento clínico”, disse Harvey Simon, médico e fundador do Harvard Men’s Health Watch, um boletim informativo dedicado à saúde masculina.

Defensores da saúde masculina dizem que um dos maiores fatores é a falta de infraestrutura para apoiar pesquisas especificamente focadas na saúde masculina.

Durante anos, a Men’s Health Network fez lobby para a criação de um Escritório de Saúde do Homem, semelhante ao Escritório de Saúde da Mulher, no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. A legislação proposta, no entanto, não tem ganhado apoio.

Embora alguns sistemas de saúde afirmem ter departamentos focados na saúde masculina, o atendimento geralmente é focado na saúde urológica e da próstata, em vez de cuidados cardíacos, saúde mental ou outros problemas que afligem os homens em altas taxas.

O tema da saúde masculina simplesmente não pegou como algo que defensores, patrocinadores corporativos e políticos queiram apoiar. Embora a fita rosa tenha sido elevada ao status de ícone para sinalizar a conscientização sobre o câncer de mama, nada na saúde masculina alcançou o mesmo nível de atenção.

“Há uma lacuna de empatia”, disse Henry. “Algumas pessoas dão de ombros e dizem: ‘Sim, os homens morrem mais jovens. O mundo é assim mesmo’. Não precisa ser assim. Se dedicarmos atenção e recursos, podemos mudar os resultados para os homens.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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