Série ‘You’ na vida real: conheça a história de Livia Vilela, que foi perseguida por um ‘admirador’


A atriz ignorou os sinais que diziam que o colega de trabalho era estranho. Com o tempo, a estranheza virou obsessão e ela teve sua vida completamente transformada

Por Ana Lourenço
Atualização:

Mesmo em uma multidão de gente, um rosto se destacava. E não de um jeito bom. Durante seis anos, a atriz Livia Vilela foi perseguida por um homem que se dizia apaixonado por ela, mas na verdade era obcecado. Tal obsessão fez com que Livia mudasse sua maneira de se comportar perto das pessoas, sua rotina e passasse a temer cada segundo que estava sozinha. “É uma coisa que está até na minha carne. Eu ainda tenho engasgos, eu ainda tenho dores de estômago. Eu ainda sinto tremedeira, eu ainda tenho náuseas”, diz.

Hoje, Lívia conta sua história em uma peça documental que mostra a importância de estar atenta aos sinais. “Se você ficou com uma pulga atrás da orelha por algo, acredite nela. É isso que eu posso dizer para todo mundo, inclusive para a Lívia do futuro.”

“Eu demorei muito tempo para entender que era uma coisa grave”, conta a atriz Livia Vilela que foi perseguida por um então colega de trabalho. Em 2015, quando se conheceram, o perseguidor parecia apenas alguém exageradamente simpático.

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O inconveniente durou até 2021, quando o caso de Livia foi reconhecido como perseguição. Durante todo esse processo, Livia teve de lidar com questionamento de pessoas que achavam que ela estava exagerando sobre o comportamento do perseguidor. “Nossa, mas ele é tão gente boa”, diziam. Além da culpa de ter sido simpática durante as poucas conversas que tiveram. “Muitas vezes minha terapeuta tinha que me falar: ‘Não é sua culpa’.”

Por trabalhar no mesmo local que Livia – ela era professora de teatro e ele de xadrez –, ele fazia questão de conversar, sentar com ela no refeitório, enviar presentes após suas apresentações e até ajudar em vaquinhas virtuais. Algo que Livia achava estranho, mas o tratava como um colega como outro qualquer.

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“Em 2016 fizemos uma temporada de 15 dias, com quatro apresentações por dia e ele foi em todas”, relembra. “Até que teve um dia que ele chegou no teatro mais cedo e se declarou”, conta ela.

Livia explicou que não tinha nenhum interesse nele e que, além de tudo, era casada. “Falei: você está entendendo errado. Eu sou muito simpática com você porque você vem assistir minhas peças, mas não quero nada além de amizade”, diz. O perseguidor ignorou esse e tantos outros pedidos de Livia para que ele parasse com a importunação. Ao invés disso, passou a ter uma abordagem diferente. “Ele passou a perguntar coisas para mim só quando eu estava com outras pessoas, porque dessa maneira me sentia constrangida de não responder”, relembra.

Quando estava sozinha, porém, o ignorava. E foi em uma dessas que ele correu atrás dela pelo corredor da escola. “Ele veio por trás e pegou no meu ombro. Acho que ele só queria falar comigo, mas eu me assustei, tremia muito”, conta.

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A atriz, então, contou que estava sendo assediada e pediu ajuda à escola, que decidiu que os professores não trabalhariam mais no mesmo dia. Algo que funcionou bem até março de 2018, quando Livia recebeu uma ligação do sujeito. Desligou e logo bloqueou o número. Mas ele insistiu.

“Passei a receber muitas ligações dele (reconhecida pelo identificador de chamadas). E depois de um tempo, ele tentou se comunicar por e-mails”, conta. Mas um e-mail, em particular chamou a atenção. “Nele, o sujeito falava sobre um sonho em que ele conversava com uma outra pessoa e ela dizia para ele me sequestrar. E ele respondia: Mas então eu vou também assassinar e esquartejar em pedacinhos pequenos para colocar em vários potinhos”, diz Livia.

A ameaça havia sido estabelecida. E Livia decidiu agir. Em julho de 2018, conseguiu uma medida protetiva por importunação. Mas para ele, era apenas mais um obstáculo. Os e-mails passaram a vir nomeados como “Você Sabe Quem”, e logo ele passou a fazer visitas na portaria da sua antiga casa, fazendo serenatas.

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De importunação, virou um caso de perseguição. Ele passou a segui-la não apenas em São Paulo, mas também em peças que ela fazia no Recife ou no Rio de Janeiro. Afinal, por ser uma figura pública, Livia tinha suas peças e viagens compartilhadas. Em uma das vezes, o sujeito gritou dentro de um teatro lotado que Livia era sua esposa e que estava o traindo com Cézar, seu marido da época. “Graças a isso, eu fui enquadrada na lei Maria da Penha mesmo sem eu nunca ter tido nada com ele”, diz ela, que foi uma das primeiras mulheres a usar a lei para um caso de perseguição.

'Eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar', diz Livia Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Hoje já existe uma lei própria para o crime de stalking, sancionada em 2021, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Antes, era enquadrada apenas como contravenção penal, punível com prisão de 15 dias a 2 meses e multa.

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Transformar dor em arte

Por conta de uma pessoa que não fazia parte de sua vida, Livia passou a ter medo de ir para a rua, deixou de ir ao teatro, que era seu grande porto seguro e foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós Traumático. “Depois de anos trancada, eu decidi que eu precisava voltar à cena”, conta.

A decisão fez com que Livia transformasse sua dor em arte. Na peça ’Stalking – um Conto de Terror documental’, ela conta tudo que passou nesse período. Algo que não foi nada fácil, mas tinha um objetivo muito maior. “Hoje eu me sinto muito mais forte porque eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, me agradecendo por ter coragem de falar, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar”, conta.

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Atualmente, o perseguidor está preso por ter descumprido a medida protetiva da Lei Maria da Pena. A atriz não sabe por quanto tempo foi ou quanto tempo será, mas confessa ter medo dele querer vingança. “Apesar disso, eu não vou deixar de contar minha história. Isso mudou como eu lido com as pessoas. A Livia fofinha, simpática, ainda existe, mas ela criou uma casca.”

Mesmo em uma multidão de gente, um rosto se destacava. E não de um jeito bom. Durante seis anos, a atriz Livia Vilela foi perseguida por um homem que se dizia apaixonado por ela, mas na verdade era obcecado. Tal obsessão fez com que Livia mudasse sua maneira de se comportar perto das pessoas, sua rotina e passasse a temer cada segundo que estava sozinha. “É uma coisa que está até na minha carne. Eu ainda tenho engasgos, eu ainda tenho dores de estômago. Eu ainda sinto tremedeira, eu ainda tenho náuseas”, diz.

Hoje, Lívia conta sua história em uma peça documental que mostra a importância de estar atenta aos sinais. “Se você ficou com uma pulga atrás da orelha por algo, acredite nela. É isso que eu posso dizer para todo mundo, inclusive para a Lívia do futuro.”

“Eu demorei muito tempo para entender que era uma coisa grave”, conta a atriz Livia Vilela que foi perseguida por um então colega de trabalho. Em 2015, quando se conheceram, o perseguidor parecia apenas alguém exageradamente simpático.

O inconveniente durou até 2021, quando o caso de Livia foi reconhecido como perseguição. Durante todo esse processo, Livia teve de lidar com questionamento de pessoas que achavam que ela estava exagerando sobre o comportamento do perseguidor. “Nossa, mas ele é tão gente boa”, diziam. Além da culpa de ter sido simpática durante as poucas conversas que tiveram. “Muitas vezes minha terapeuta tinha que me falar: ‘Não é sua culpa’.”

Por trabalhar no mesmo local que Livia – ela era professora de teatro e ele de xadrez –, ele fazia questão de conversar, sentar com ela no refeitório, enviar presentes após suas apresentações e até ajudar em vaquinhas virtuais. Algo que Livia achava estranho, mas o tratava como um colega como outro qualquer.

“Em 2016 fizemos uma temporada de 15 dias, com quatro apresentações por dia e ele foi em todas”, relembra. “Até que teve um dia que ele chegou no teatro mais cedo e se declarou”, conta ela.

Livia explicou que não tinha nenhum interesse nele e que, além de tudo, era casada. “Falei: você está entendendo errado. Eu sou muito simpática com você porque você vem assistir minhas peças, mas não quero nada além de amizade”, diz. O perseguidor ignorou esse e tantos outros pedidos de Livia para que ele parasse com a importunação. Ao invés disso, passou a ter uma abordagem diferente. “Ele passou a perguntar coisas para mim só quando eu estava com outras pessoas, porque dessa maneira me sentia constrangida de não responder”, relembra.

Quando estava sozinha, porém, o ignorava. E foi em uma dessas que ele correu atrás dela pelo corredor da escola. “Ele veio por trás e pegou no meu ombro. Acho que ele só queria falar comigo, mas eu me assustei, tremia muito”, conta.

A atriz, então, contou que estava sendo assediada e pediu ajuda à escola, que decidiu que os professores não trabalhariam mais no mesmo dia. Algo que funcionou bem até março de 2018, quando Livia recebeu uma ligação do sujeito. Desligou e logo bloqueou o número. Mas ele insistiu.

“Passei a receber muitas ligações dele (reconhecida pelo identificador de chamadas). E depois de um tempo, ele tentou se comunicar por e-mails”, conta. Mas um e-mail, em particular chamou a atenção. “Nele, o sujeito falava sobre um sonho em que ele conversava com uma outra pessoa e ela dizia para ele me sequestrar. E ele respondia: Mas então eu vou também assassinar e esquartejar em pedacinhos pequenos para colocar em vários potinhos”, diz Livia.

A ameaça havia sido estabelecida. E Livia decidiu agir. Em julho de 2018, conseguiu uma medida protetiva por importunação. Mas para ele, era apenas mais um obstáculo. Os e-mails passaram a vir nomeados como “Você Sabe Quem”, e logo ele passou a fazer visitas na portaria da sua antiga casa, fazendo serenatas.

De importunação, virou um caso de perseguição. Ele passou a segui-la não apenas em São Paulo, mas também em peças que ela fazia no Recife ou no Rio de Janeiro. Afinal, por ser uma figura pública, Livia tinha suas peças e viagens compartilhadas. Em uma das vezes, o sujeito gritou dentro de um teatro lotado que Livia era sua esposa e que estava o traindo com Cézar, seu marido da época. “Graças a isso, eu fui enquadrada na lei Maria da Penha mesmo sem eu nunca ter tido nada com ele”, diz ela, que foi uma das primeiras mulheres a usar a lei para um caso de perseguição.

'Eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar', diz Livia Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Hoje já existe uma lei própria para o crime de stalking, sancionada em 2021, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Antes, era enquadrada apenas como contravenção penal, punível com prisão de 15 dias a 2 meses e multa.

Transformar dor em arte

Por conta de uma pessoa que não fazia parte de sua vida, Livia passou a ter medo de ir para a rua, deixou de ir ao teatro, que era seu grande porto seguro e foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós Traumático. “Depois de anos trancada, eu decidi que eu precisava voltar à cena”, conta.

A decisão fez com que Livia transformasse sua dor em arte. Na peça ’Stalking – um Conto de Terror documental’, ela conta tudo que passou nesse período. Algo que não foi nada fácil, mas tinha um objetivo muito maior. “Hoje eu me sinto muito mais forte porque eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, me agradecendo por ter coragem de falar, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar”, conta.

Atualmente, o perseguidor está preso por ter descumprido a medida protetiva da Lei Maria da Pena. A atriz não sabe por quanto tempo foi ou quanto tempo será, mas confessa ter medo dele querer vingança. “Apesar disso, eu não vou deixar de contar minha história. Isso mudou como eu lido com as pessoas. A Livia fofinha, simpática, ainda existe, mas ela criou uma casca.”

Mesmo em uma multidão de gente, um rosto se destacava. E não de um jeito bom. Durante seis anos, a atriz Livia Vilela foi perseguida por um homem que se dizia apaixonado por ela, mas na verdade era obcecado. Tal obsessão fez com que Livia mudasse sua maneira de se comportar perto das pessoas, sua rotina e passasse a temer cada segundo que estava sozinha. “É uma coisa que está até na minha carne. Eu ainda tenho engasgos, eu ainda tenho dores de estômago. Eu ainda sinto tremedeira, eu ainda tenho náuseas”, diz.

Hoje, Lívia conta sua história em uma peça documental que mostra a importância de estar atenta aos sinais. “Se você ficou com uma pulga atrás da orelha por algo, acredite nela. É isso que eu posso dizer para todo mundo, inclusive para a Lívia do futuro.”

“Eu demorei muito tempo para entender que era uma coisa grave”, conta a atriz Livia Vilela que foi perseguida por um então colega de trabalho. Em 2015, quando se conheceram, o perseguidor parecia apenas alguém exageradamente simpático.

O inconveniente durou até 2021, quando o caso de Livia foi reconhecido como perseguição. Durante todo esse processo, Livia teve de lidar com questionamento de pessoas que achavam que ela estava exagerando sobre o comportamento do perseguidor. “Nossa, mas ele é tão gente boa”, diziam. Além da culpa de ter sido simpática durante as poucas conversas que tiveram. “Muitas vezes minha terapeuta tinha que me falar: ‘Não é sua culpa’.”

Por trabalhar no mesmo local que Livia – ela era professora de teatro e ele de xadrez –, ele fazia questão de conversar, sentar com ela no refeitório, enviar presentes após suas apresentações e até ajudar em vaquinhas virtuais. Algo que Livia achava estranho, mas o tratava como um colega como outro qualquer.

“Em 2016 fizemos uma temporada de 15 dias, com quatro apresentações por dia e ele foi em todas”, relembra. “Até que teve um dia que ele chegou no teatro mais cedo e se declarou”, conta ela.

Livia explicou que não tinha nenhum interesse nele e que, além de tudo, era casada. “Falei: você está entendendo errado. Eu sou muito simpática com você porque você vem assistir minhas peças, mas não quero nada além de amizade”, diz. O perseguidor ignorou esse e tantos outros pedidos de Livia para que ele parasse com a importunação. Ao invés disso, passou a ter uma abordagem diferente. “Ele passou a perguntar coisas para mim só quando eu estava com outras pessoas, porque dessa maneira me sentia constrangida de não responder”, relembra.

Quando estava sozinha, porém, o ignorava. E foi em uma dessas que ele correu atrás dela pelo corredor da escola. “Ele veio por trás e pegou no meu ombro. Acho que ele só queria falar comigo, mas eu me assustei, tremia muito”, conta.

A atriz, então, contou que estava sendo assediada e pediu ajuda à escola, que decidiu que os professores não trabalhariam mais no mesmo dia. Algo que funcionou bem até março de 2018, quando Livia recebeu uma ligação do sujeito. Desligou e logo bloqueou o número. Mas ele insistiu.

“Passei a receber muitas ligações dele (reconhecida pelo identificador de chamadas). E depois de um tempo, ele tentou se comunicar por e-mails”, conta. Mas um e-mail, em particular chamou a atenção. “Nele, o sujeito falava sobre um sonho em que ele conversava com uma outra pessoa e ela dizia para ele me sequestrar. E ele respondia: Mas então eu vou também assassinar e esquartejar em pedacinhos pequenos para colocar em vários potinhos”, diz Livia.

A ameaça havia sido estabelecida. E Livia decidiu agir. Em julho de 2018, conseguiu uma medida protetiva por importunação. Mas para ele, era apenas mais um obstáculo. Os e-mails passaram a vir nomeados como “Você Sabe Quem”, e logo ele passou a fazer visitas na portaria da sua antiga casa, fazendo serenatas.

De importunação, virou um caso de perseguição. Ele passou a segui-la não apenas em São Paulo, mas também em peças que ela fazia no Recife ou no Rio de Janeiro. Afinal, por ser uma figura pública, Livia tinha suas peças e viagens compartilhadas. Em uma das vezes, o sujeito gritou dentro de um teatro lotado que Livia era sua esposa e que estava o traindo com Cézar, seu marido da época. “Graças a isso, eu fui enquadrada na lei Maria da Penha mesmo sem eu nunca ter tido nada com ele”, diz ela, que foi uma das primeiras mulheres a usar a lei para um caso de perseguição.

'Eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar', diz Livia Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Hoje já existe uma lei própria para o crime de stalking, sancionada em 2021, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Antes, era enquadrada apenas como contravenção penal, punível com prisão de 15 dias a 2 meses e multa.

Transformar dor em arte

Por conta de uma pessoa que não fazia parte de sua vida, Livia passou a ter medo de ir para a rua, deixou de ir ao teatro, que era seu grande porto seguro e foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós Traumático. “Depois de anos trancada, eu decidi que eu precisava voltar à cena”, conta.

A decisão fez com que Livia transformasse sua dor em arte. Na peça ’Stalking – um Conto de Terror documental’, ela conta tudo que passou nesse período. Algo que não foi nada fácil, mas tinha um objetivo muito maior. “Hoje eu me sinto muito mais forte porque eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, me agradecendo por ter coragem de falar, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar”, conta.

Atualmente, o perseguidor está preso por ter descumprido a medida protetiva da Lei Maria da Pena. A atriz não sabe por quanto tempo foi ou quanto tempo será, mas confessa ter medo dele querer vingança. “Apesar disso, eu não vou deixar de contar minha história. Isso mudou como eu lido com as pessoas. A Livia fofinha, simpática, ainda existe, mas ela criou uma casca.”

Mesmo em uma multidão de gente, um rosto se destacava. E não de um jeito bom. Durante seis anos, a atriz Livia Vilela foi perseguida por um homem que se dizia apaixonado por ela, mas na verdade era obcecado. Tal obsessão fez com que Livia mudasse sua maneira de se comportar perto das pessoas, sua rotina e passasse a temer cada segundo que estava sozinha. “É uma coisa que está até na minha carne. Eu ainda tenho engasgos, eu ainda tenho dores de estômago. Eu ainda sinto tremedeira, eu ainda tenho náuseas”, diz.

Hoje, Lívia conta sua história em uma peça documental que mostra a importância de estar atenta aos sinais. “Se você ficou com uma pulga atrás da orelha por algo, acredite nela. É isso que eu posso dizer para todo mundo, inclusive para a Lívia do futuro.”

“Eu demorei muito tempo para entender que era uma coisa grave”, conta a atriz Livia Vilela que foi perseguida por um então colega de trabalho. Em 2015, quando se conheceram, o perseguidor parecia apenas alguém exageradamente simpático.

O inconveniente durou até 2021, quando o caso de Livia foi reconhecido como perseguição. Durante todo esse processo, Livia teve de lidar com questionamento de pessoas que achavam que ela estava exagerando sobre o comportamento do perseguidor. “Nossa, mas ele é tão gente boa”, diziam. Além da culpa de ter sido simpática durante as poucas conversas que tiveram. “Muitas vezes minha terapeuta tinha que me falar: ‘Não é sua culpa’.”

Por trabalhar no mesmo local que Livia – ela era professora de teatro e ele de xadrez –, ele fazia questão de conversar, sentar com ela no refeitório, enviar presentes após suas apresentações e até ajudar em vaquinhas virtuais. Algo que Livia achava estranho, mas o tratava como um colega como outro qualquer.

“Em 2016 fizemos uma temporada de 15 dias, com quatro apresentações por dia e ele foi em todas”, relembra. “Até que teve um dia que ele chegou no teatro mais cedo e se declarou”, conta ela.

Livia explicou que não tinha nenhum interesse nele e que, além de tudo, era casada. “Falei: você está entendendo errado. Eu sou muito simpática com você porque você vem assistir minhas peças, mas não quero nada além de amizade”, diz. O perseguidor ignorou esse e tantos outros pedidos de Livia para que ele parasse com a importunação. Ao invés disso, passou a ter uma abordagem diferente. “Ele passou a perguntar coisas para mim só quando eu estava com outras pessoas, porque dessa maneira me sentia constrangida de não responder”, relembra.

Quando estava sozinha, porém, o ignorava. E foi em uma dessas que ele correu atrás dela pelo corredor da escola. “Ele veio por trás e pegou no meu ombro. Acho que ele só queria falar comigo, mas eu me assustei, tremia muito”, conta.

A atriz, então, contou que estava sendo assediada e pediu ajuda à escola, que decidiu que os professores não trabalhariam mais no mesmo dia. Algo que funcionou bem até março de 2018, quando Livia recebeu uma ligação do sujeito. Desligou e logo bloqueou o número. Mas ele insistiu.

“Passei a receber muitas ligações dele (reconhecida pelo identificador de chamadas). E depois de um tempo, ele tentou se comunicar por e-mails”, conta. Mas um e-mail, em particular chamou a atenção. “Nele, o sujeito falava sobre um sonho em que ele conversava com uma outra pessoa e ela dizia para ele me sequestrar. E ele respondia: Mas então eu vou também assassinar e esquartejar em pedacinhos pequenos para colocar em vários potinhos”, diz Livia.

A ameaça havia sido estabelecida. E Livia decidiu agir. Em julho de 2018, conseguiu uma medida protetiva por importunação. Mas para ele, era apenas mais um obstáculo. Os e-mails passaram a vir nomeados como “Você Sabe Quem”, e logo ele passou a fazer visitas na portaria da sua antiga casa, fazendo serenatas.

De importunação, virou um caso de perseguição. Ele passou a segui-la não apenas em São Paulo, mas também em peças que ela fazia no Recife ou no Rio de Janeiro. Afinal, por ser uma figura pública, Livia tinha suas peças e viagens compartilhadas. Em uma das vezes, o sujeito gritou dentro de um teatro lotado que Livia era sua esposa e que estava o traindo com Cézar, seu marido da época. “Graças a isso, eu fui enquadrada na lei Maria da Penha mesmo sem eu nunca ter tido nada com ele”, diz ela, que foi uma das primeiras mulheres a usar a lei para um caso de perseguição.

'Eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar', diz Livia Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Hoje já existe uma lei própria para o crime de stalking, sancionada em 2021, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Antes, era enquadrada apenas como contravenção penal, punível com prisão de 15 dias a 2 meses e multa.

Transformar dor em arte

Por conta de uma pessoa que não fazia parte de sua vida, Livia passou a ter medo de ir para a rua, deixou de ir ao teatro, que era seu grande porto seguro e foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós Traumático. “Depois de anos trancada, eu decidi que eu precisava voltar à cena”, conta.

A decisão fez com que Livia transformasse sua dor em arte. Na peça ’Stalking – um Conto de Terror documental’, ela conta tudo que passou nesse período. Algo que não foi nada fácil, mas tinha um objetivo muito maior. “Hoje eu me sinto muito mais forte porque eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, me agradecendo por ter coragem de falar, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar”, conta.

Atualmente, o perseguidor está preso por ter descumprido a medida protetiva da Lei Maria da Pena. A atriz não sabe por quanto tempo foi ou quanto tempo será, mas confessa ter medo dele querer vingança. “Apesar disso, eu não vou deixar de contar minha história. Isso mudou como eu lido com as pessoas. A Livia fofinha, simpática, ainda existe, mas ela criou uma casca.”

Mesmo em uma multidão de gente, um rosto se destacava. E não de um jeito bom. Durante seis anos, a atriz Livia Vilela foi perseguida por um homem que se dizia apaixonado por ela, mas na verdade era obcecado. Tal obsessão fez com que Livia mudasse sua maneira de se comportar perto das pessoas, sua rotina e passasse a temer cada segundo que estava sozinha. “É uma coisa que está até na minha carne. Eu ainda tenho engasgos, eu ainda tenho dores de estômago. Eu ainda sinto tremedeira, eu ainda tenho náuseas”, diz.

Hoje, Lívia conta sua história em uma peça documental que mostra a importância de estar atenta aos sinais. “Se você ficou com uma pulga atrás da orelha por algo, acredite nela. É isso que eu posso dizer para todo mundo, inclusive para a Lívia do futuro.”

“Eu demorei muito tempo para entender que era uma coisa grave”, conta a atriz Livia Vilela que foi perseguida por um então colega de trabalho. Em 2015, quando se conheceram, o perseguidor parecia apenas alguém exageradamente simpático.

O inconveniente durou até 2021, quando o caso de Livia foi reconhecido como perseguição. Durante todo esse processo, Livia teve de lidar com questionamento de pessoas que achavam que ela estava exagerando sobre o comportamento do perseguidor. “Nossa, mas ele é tão gente boa”, diziam. Além da culpa de ter sido simpática durante as poucas conversas que tiveram. “Muitas vezes minha terapeuta tinha que me falar: ‘Não é sua culpa’.”

Por trabalhar no mesmo local que Livia – ela era professora de teatro e ele de xadrez –, ele fazia questão de conversar, sentar com ela no refeitório, enviar presentes após suas apresentações e até ajudar em vaquinhas virtuais. Algo que Livia achava estranho, mas o tratava como um colega como outro qualquer.

“Em 2016 fizemos uma temporada de 15 dias, com quatro apresentações por dia e ele foi em todas”, relembra. “Até que teve um dia que ele chegou no teatro mais cedo e se declarou”, conta ela.

Livia explicou que não tinha nenhum interesse nele e que, além de tudo, era casada. “Falei: você está entendendo errado. Eu sou muito simpática com você porque você vem assistir minhas peças, mas não quero nada além de amizade”, diz. O perseguidor ignorou esse e tantos outros pedidos de Livia para que ele parasse com a importunação. Ao invés disso, passou a ter uma abordagem diferente. “Ele passou a perguntar coisas para mim só quando eu estava com outras pessoas, porque dessa maneira me sentia constrangida de não responder”, relembra.

Quando estava sozinha, porém, o ignorava. E foi em uma dessas que ele correu atrás dela pelo corredor da escola. “Ele veio por trás e pegou no meu ombro. Acho que ele só queria falar comigo, mas eu me assustei, tremia muito”, conta.

A atriz, então, contou que estava sendo assediada e pediu ajuda à escola, que decidiu que os professores não trabalhariam mais no mesmo dia. Algo que funcionou bem até março de 2018, quando Livia recebeu uma ligação do sujeito. Desligou e logo bloqueou o número. Mas ele insistiu.

“Passei a receber muitas ligações dele (reconhecida pelo identificador de chamadas). E depois de um tempo, ele tentou se comunicar por e-mails”, conta. Mas um e-mail, em particular chamou a atenção. “Nele, o sujeito falava sobre um sonho em que ele conversava com uma outra pessoa e ela dizia para ele me sequestrar. E ele respondia: Mas então eu vou também assassinar e esquartejar em pedacinhos pequenos para colocar em vários potinhos”, diz Livia.

A ameaça havia sido estabelecida. E Livia decidiu agir. Em julho de 2018, conseguiu uma medida protetiva por importunação. Mas para ele, era apenas mais um obstáculo. Os e-mails passaram a vir nomeados como “Você Sabe Quem”, e logo ele passou a fazer visitas na portaria da sua antiga casa, fazendo serenatas.

De importunação, virou um caso de perseguição. Ele passou a segui-la não apenas em São Paulo, mas também em peças que ela fazia no Recife ou no Rio de Janeiro. Afinal, por ser uma figura pública, Livia tinha suas peças e viagens compartilhadas. Em uma das vezes, o sujeito gritou dentro de um teatro lotado que Livia era sua esposa e que estava o traindo com Cézar, seu marido da época. “Graças a isso, eu fui enquadrada na lei Maria da Penha mesmo sem eu nunca ter tido nada com ele”, diz ela, que foi uma das primeiras mulheres a usar a lei para um caso de perseguição.

'Eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar', diz Livia Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Hoje já existe uma lei própria para o crime de stalking, sancionada em 2021, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima. Antes, era enquadrada apenas como contravenção penal, punível com prisão de 15 dias a 2 meses e multa.

Transformar dor em arte

Por conta de uma pessoa que não fazia parte de sua vida, Livia passou a ter medo de ir para a rua, deixou de ir ao teatro, que era seu grande porto seguro e foi diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós Traumático. “Depois de anos trancada, eu decidi que eu precisava voltar à cena”, conta.

A decisão fez com que Livia transformasse sua dor em arte. Na peça ’Stalking – um Conto de Terror documental’, ela conta tudo que passou nesse período. Algo que não foi nada fácil, mas tinha um objetivo muito maior. “Hoje eu me sinto muito mais forte porque eu recebi tanta mensagem de mulheres depois que viram a peça falando sobre os seus abusos, me agradecendo por ter coragem de falar, e aí eu fui entendendo que existe uma peso da culpa, da gente se diminuir ao invés de falar”, conta.

Atualmente, o perseguidor está preso por ter descumprido a medida protetiva da Lei Maria da Pena. A atriz não sabe por quanto tempo foi ou quanto tempo será, mas confessa ter medo dele querer vingança. “Apesar disso, eu não vou deixar de contar minha história. Isso mudou como eu lido com as pessoas. A Livia fofinha, simpática, ainda existe, mas ela criou uma casca.”

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