Uma das novidades mais promissoras do combate ao câncer é a terapia CAR-T, modalidade de imunoterapia que consiste em modificar as células do sistema imunológico do próprio paciente para atacar a doença. O processo altera as células do sistema de defesa, conhecidas como linfócitos T, para que reconheçam e combatam com maior eficiência as células do tumor.
A terapia tem apresentado ótimos resultados em pacientes com leucemia e linfoma, mas sua ampla adoção no Brasil esbarra nos altos custos envolvidos em um processo que exige personalização para cada paciente. Para evitar esse problema, pesquisadores do Inca estão desenvolvendo um protocolo para baratear os custos de produção das células CAR-T no Brasil, o que – se tudo der certo – poderá permitir a implantação dessa terapia não apenas no próprio instituto, mas em todo o Sistema Único de Saúde (SUS).
Depois de obter bons resultados na fase pré-clínica, a expectativa é de receber a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os estudos clínicos no início do ano que vem. A alternativa desenvolvida pelo Inca é mais barata porque utiliza um pedaço de DNA para transformar a célula T em CAR-T, tarefa que, na técnica tradicional, é realizada por um vírus que atua como “cavalo de troia”. Uma das vantagens da estratégia é a aceleração do processo, cujo prazo cai de um mês para apenas oito dias. O projeto é financiado pelo Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) do Ministério da Saúde.
Pesquisa revolucionária
Outra importante contribuição da ciência brasileira vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan – trata-se de uma terapia revolucionária que estimula as células do câncer. Vai, portanto, na contramão do caminho tradicional, que é tentar inibir o crescimento dessas células. O princípio é combinar a hiperestimulação do mecanismo de divisão celular com a inibição das vias que regulam a sobrecarga – com isso, a célula tumoral é desestabilizada e levada à morte por estresse. Os resultados preliminares são promissores, com o tratamento tendo sido capaz de reduzir tumores em modelos animais de câncer colorretal, sem afetar células saudáveis.
A estratégia foi validada em um estudo publicado na revista Cancer Discovery pelo biomédico Matheus Henrique Dias, que começou a investigar a abordagem durante seu doutorado e pós-doutorado no Laboratório de Ciclo Celular do Butantan, sob orientação do pesquisador científico Hugo Armelin, pioneiro nessa linha de pesquisa. Hoje, Matheus dá continuidade ao pós-doutorado no Instituto Holandês do Câncer, em Amsterdã.
A pesquisa está alinhada à necessidade de buscar novas formas de combate ao câncer, considerando-se a crescente resistência de alguns tipos da doença aos quimioterápicos. “Além disso, drogas quimioterápicas atacam todas as células que se dividem muito rapidamente, incluindo as saudáveis, resultando nos efeitos colaterais que conhecemos”, explica Matheus.
Os avanços da ciência contra o câncer se estendem também ao diagnóstico. É o caso da biópsia líquida, técnica inovadora que detecta frações de DNA tumoral na corrente sanguínea, por meio de um exame simples de sangue, urina ou saliva – ou seja, de forma bem menos invasiva do que a biópsia convencional, realizada a partir da remoção de um pedaço de tecido. Caso o código genético do tumor seja identificado na biópsia líquida, é possível conhecer características do câncer, da mesma forma que ocorre na biópsia tradicional.
Prevenção é missão de todos
Os avanços científicos são fundamentais para o combate do câncer, mas cada um de nós pode agir no sentido de prevenir o surgimento da doença. Quatro em cada dez casos de câncer no mundo se originam de causas conhecidas, que poderiam ser evitadas. Alimentação saudável, prática regular de atividades físicas, redução do consumo de bebidas alcoólicas e açucaradas, além da não utilização do tabaco e da proteção contra os raios solares, são atitudes cruciais.
Sabe-se, por exemplo, que o excesso de gordura corporal, condição que envolve 55,4% da população brasileira, contribui para o surgimento de quase todos os tipos de câncer. De acordo com o Inca, o ideal é alcançar pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada, embora qualquer tempo dedicado a movimentar o corpo já ajude.
Dois estudos recentes reforçam o quanto a atividade física ajuda a proteger contra o câncer. Um estudo sueco, publicado no British Journal of Sports Medicine, constatou que homens com maior capacidade cardiorrespiratória apresentam 35% menos risco de terem câncer de próstata quando comparados com homens cuja aptidão cardiorrespiratória é reduzida. Os pesquisadores avaliaram cerca de 58 mil homens, com idade média de 41,4 anos.
Em relação ao câncer de mama, um estudo britânico publicado no Journal of Clinical Oncology analisou dados de 547 mil mulheres na pré-menopausa e identificou que níveis mais altos de atividade física estavam associados à redução de 10% no risco de desenvolvimento da doença.