O site do Ministério da Saúde foi invadido na madrugada desta sexta-feira, 10, e saiu do ar. Plataformas como o Painel Coronavírus, o e-SUS Notifica, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) e o Conecte SUS, que exibe dados de vacinação contra a covid-19, também foram atingidas. O Lapsus$ Group assumiu a autoria do ataque cibernético.
Em nota, a pasta informou que o DataSUS "está atuando com a máxima agilidade para o reestabelecimento das plataformas". Também disse que acionou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Polícia Federal para auxiliarem nas investigações.
Ao tentar acessar o portal da pasta, os usuários encontraram o recado: "Os dados internos dos sistemas foram copiados e excluídos. 50 TB (Terabyte) de dados está (sic) em nossas mãos." A mensagem, ainde de madrugada, ficou indisponível, mas as plataformas continuaram fora do ar.
No topo da página, há um aviso de "ransomware" (software intencionalmente feito para causar danos a um servidor). Ou seja, está tendo a restrição do acesso ao sistema, infectado com uma espécie de bloqueio. Além disso, os responsáveis pedem para que seja feito um contato através de uma conta do Telegram ou e-mail, "caso queiram o retorno dos dados".
Nas redes sociais, há diversos relatos de pessoas preocupadas com o desaparecimento de seus dados no Conecte SUS. Ao tentar logar no aplicativo, usuários se deparavam com uma mensagem de erro e não conseguiam acessar os dados de vacinação da covid-19, já que a plataforma é responsável por emitir o certificado de imunização.
Atualmente, o documento é exigido para ter acesso a diversos lugares pelo Brasil, como shows, jogos de futebol e restaurantes, além de ser obrigatória para viagens ao exterior.
O governo federal começa a solicitar neste sábado, 11, o comprovante de vacinação para entrada de viajantes internacionais no País. Ainda não se sabe como a pane atual pode afetar a cobrança. A gestão Jair Bolsonaro, no entanto, já havia aberto uma brecha para que aqueles que não tiverem o passaporte vacinal possam fazer uma quarentena de cinco dias em solo nacional.
referenceEnquanto o sistema nacional está fora do ar, aqueles vacinados na capital paulista podem recorrer à Plataforma da Saúde Paulistana (e-saúdeSP). Entre outras funcionalidades, a aplicação traz os dados de imunização do usuário.
O DataSUS, sigla para Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, fomenta e avalia ações de informatização do SUS. Além disso, é responsável por definir como são feitas a captação e a transferência de informações em saúde, com o objetivo de integrar bases de dados e sistemas implantados.
Segundo o site do departamento, em 25 anos de atuação, já desenvolveu mais de 200 sistemas para a pasta. Com os servidores instalados em duas salas-cofre, em Brasília e no Rio de Janeiro, aponta ser capaz de “armazenar informações sobre saúde de toda população brasileira”.
Já o Painel Coronavírus traz o mapeamento da doença no País. Com dados sobre casos e mortes, mostra a evolução do vírus no País.
Ataques passados
Só neste ano, os sistemas da pasta já sofreram outros dois ataques. Em ambos, os invasores criticaram a segurança dos dados do órgão.
No final de janeiro, um hacker invadiu sistemas do Ministério da Saúde, mas não houve vazamento de informações, apenas duras críticas à plataforma. “ESTE SITE ESTÁ UM LIXO!”, afirmava a mensagem, escrita em letras maiúsculas, que ficou visível no FormSUS - um serviço do DataSUS que reúne informações de pacientes da rede pública de saúde.
Poucas semanas depois, em fevereiro, uma invasão similar ocorreu no FormSUS. “Arrumem esse site porco ou na próxima vai vazar os dados dos responsáveis por essa porcaria”, dizia a mensagem deixada pelo invasor.
Ao final de 2020, junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pasta teve sistemas atacados pelo grupo hacker português CyberTeam. Na época, também houve prejuízo na a divulgação de dados sobre a covid.
Vazamentos
O ano de 2020 também foi marcado pela identificação de ao menos três vazamentos de informação da pasta. Nesses casos, foram indicadas falhas humanas e de governança, não ataques cibernéticos.
Em junho, a organização não governamental Open Knowledge Brasil (OKBR) identificou uma vulnerabilidade no acesso ao sistema de notificação de casos de covid que tornava possível o acesso aos dados de pacientes submetidos a testes da doença. Na denúncia, à qual o Estadão teve acesso, a entidade relatou que o problema estava na exposição indevida de login e senha para acesso a uma pasta compartilhada onde estavam relatórios com dados do sistema e-SUS Notifica, que recebe notificações de casos leves e moderados de covid.
Em novembro do ano passado, o problema se repetiu. Cerca de 16 milhões de brasileiros que tiveram diagnóstico suspeito ou confirmado ficaram com os dados pessoais e médicos expostos na internet durante quase um mês por causa de um vazamento de senhas de sistemas. Os dados ficaram abertos após um funcionário do Hospital Albert Einstein divulgar uma lista com usuários e senhas que davam acesso aos bancos de dados.
No mês seguinte, uma nova falha de segurança no sistema de notificações de covid foi constatada. Por pelo menos seis meses, dados pessoais de mais de 200 milhões de brasileiros ficaram expostos. Mais uma vez, o problema foi causado pela exposição indevida de login e senha de acesso ao sistema que armazena os dados cadastrais de todos os brasileiros no Ministério da Saúde.