Indivíduos que se sentem solitários podem ter maior propensão a sonhos ruins, de acordo com uma pesquisa realizada por cientistas dos Estados Unidos com mais de 1,6 mil pessoas de 18 a 81 anos de idade.
Os pesquisadores realizaram dois estudos. No primeiro, 827 participantes preencheram um questionário online com perguntas sobre solidão, experiência de pesadelos e estresse.
Os participantes responderam questões como “Com que frequência você sente que lhe falta companhia?” e “Com que frequência você se sente excluído?”, e indicaram o nível de concordância com afirmações como “tenho pesadelos com frequência” e “pesadelos intensos são um problema para mim”. Em relação ao estresse, indicaram, entre outros, a periodicidade com que ficavam chateados por um acontecimento inesperado.
No segundo estudo, com 782 pessoas, novamente foi usado um questionário online, porém com perguntas focadas na intensidade dos pesadelos, hiperexcitação e ruminação mental, ou seja, pensamentos negativos que se repetem e perpetuam por longo tempo.
A partir das respostas, os pesquisadores observaram uma associação entre a solidão e a frequência de pesadelos (ambos os estudos), bem como com a intensidade dos sonhos indesejados (estudo dois).
O estresse foi fundamental para a frequência, mas os piores cenários aconteceram nos sonhos de quem se sentia mais sozinho — e essa intensidade estava relacionada mais à hiperexcitação e aos pensamentos sobre a própria vida (uma pessoa que se sente sozinha pode passar mais tempo pensando sobre a própria vida, num estado de preocupação e ansiedade, assim como sofrer de hiperexcitação, permanecendo alerta).
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Segundo os cientistas, não é possível falar em uma relação causal. O que se observou foi uma associação entre a solidão e o estresse, que por sua vez parece afetar o sono e os pesadelos.
“É muito cedo para falarmos sobre intervenções específicas de uma forma concreta”, disse Colin Hesse, diretor da Escola de Comunicação da Universidade Estadual do Oregon, em comunicado sobre o estudo divulgado pela instituição. “Mas nossas descobertas são certamente consistentes com a possibilidade de que tratar a solidão ajudaria a diminuir as experiências de pesadelo de alguém.”
Além da Universidade Estadual do Oregon, o estudo reuniu cientistas da Universidade do Arizona, Universidade de Tampa e Universidade Whitworth, e foi publicado na revista científica The Journal of Psychology.
Teoria evolucionária da solidão
A pesquisa leva em consideração a “teoria evolucionária da solidão” (ETL, na sigla em inglês), que ganhou adeptos após a pandemia de covid-19, quando houve um crescimento de estudos na área.
Segundo essa tese, o pertencimento a grupos é essencial para a sobrevivência do ser humano e deixar de atender essa necessidade constitui uma ameaça à vida. Por exemplo, é mais fácil caçar predadores e conseguir comida em grupo. O mesmo vale para ultrapassar obstáculos e outros desafios.
“Quando a necessidade das pessoas por relacionamentos fortes não é atendida, elas sofrem física, mental e socialmente. Assim como fome ou fadiga significam que você não obteve calorias ou dormiu o suficiente, a solidão evoluiu para alertar os indivíduos quando suas necessidades de conexão interpessoal não estão sendo atendidas”, resumiu Hesse no comunicado.