Soltar grunhidos durante o exercício pode trazer alguma vantagem? Veja o que especialistas dizem


Algumas pessoas não conseguem deixar de fazer um pouco de barulho durante um treino intenso. Talvez haja um motivo

Por Erik Vance

Semanas atrás, fui fazer uma escalada tranquila no Vedauwoo, parque no sul do Wyoming. A paisagem estava tranquila no início da manhã, com uma brisa que soprava suavemente entre as árvores. Mas essa tranquilidade não durou muito.

Por cerca de uma hora, rosnei, rugi, xinguei e choraminguei naquela fenda que parecia decidida a acabar comigo. Em determinado momento, encontrei um novo ruído em algum lugar entre o grunhido, o berro e o choro.

Ofegando sem parar, enquanto passantes curiosos me observavam, eu me perguntava se meus acessos vocais eram minimamente úteis. Todos nós já ouvimos aqueles caras – e geralmente são homens – que fazem barulho toda vez que levantam uma barra na academia. Será que esses ruídos contribuem para melhorar o desempenho? Ou é tudo coisa da nossa cabeça?

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A literatura científica sobre os efeitos de grunhir durante os exercícios é escassa, mas alguns poucos trabalhos sugerem vantagens, como melhor uso de oxigênio. Foto: María Medem/The New York Times

Os benefícios fisiológicos

Não é de surpreender que as pesquisas sobre grunhidos atléticos sejam escassas. Alguns estudos restritos sugeriram que esses grunhidos melhoram a força, o poder de ataque e o uso de oxigênio, mas os pesquisadores não sabem ao certo como isso funciona. A maioria dos benefícios tem menos a ver com o som em si e mais com a maneira como respiramos logo antes, diz Mary J. Sandage, professora de fala e linguagem na Universidade de Auburn que estuda atividades físicas extremas e fala.

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Mary conta que estudos descobriram que algumas pessoas que tiveram a laringe removida e, portanto, não conseguem mais reter o ar nos pulmões, têm dificuldade para levantar objetos pesados. Isso sugere que parte de nossa força pode vir de algo chamado manobra de Valsalva, na qual você pressiona os pulmões, mas fecha a garganta (pense no ato de empurrar durante um movimento intestinal).

“Fazemos isso para produzir força. Temos que prender o ar desse jeito para levantar e empurrar coisas pesadas”, comenta Mary.

Criar pressão interna no core dessa forma pode fortalecer sua coluna e permitir que você produza um pouco mais de força. O grunhido, então, é como uma válvula de escape para essa pressão. Mari observa que os benefícios do grunhido provavelmente se aplicam apenas a pequenos surtos de esforço, como levantar um peso ou bater uma bola de tênis.

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Os benefícios psicológicos

Existe, é claro, outra explicação para a possível utilidade do grunhido: talvez seja um benefício sobretudo mental.

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“Também vejo isso como um jeito de focar a atenção”, avalia Sarah Ullrich-French, psicóloga esportiva da Universidade Estadual de Washington. “Como uma liberação e canalização emocional”.

Grunhir não é a única maneira de fazer isso. Alguns preferem a respiração consciente, diz ela, outros podem focar os olhos em um ponto fixo – mas a ideia é encontrar uma zona mental que facilite o desempenho. Ela também afirma que as técnicas de foco podem fazer com que você se sinta mais em sintonia com seu corpo e aumentar os benefícios do exercício para a saúde mental.

Nas artes marciais japonesas, por exemplo, os atletas usam meditação e vogais curtas e gritadas, as ditas kiais, para concentrar a energia. Fazer barulho também pode ajudar você a estabelecer um ritmo, já que geralmente grunhimos no auge do esforço, explica Scott Sinnett, psicólogo cognitivo da Universidade do Havaí, em Manoa, que estudou a vocalização em esportes competitivos.

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Mary concorda que os benefícios eram tanto psicológicos quanto fisiológicos. E diferentes tipos de ruídos podem servir a propósitos diferentes.

Naquele parque do Wyoming, por exemplo, minha conversa interna e os gemidos que eu soltava enquanto estava pendurado na corda provavelmente eram mais psicológicos. Os gritos e os rosnados que eu proferia enquanto me segurava podem ter reforçado meu core e me ajudado a ter um pouco mais de força. As sequências de palavrões depois dos fracassos, no entanto, provavelmente foram um desperdício de fôlego.

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As questões sociais

Independentemente de melhorar ou não seu desempenho, os grunhidos definitivamente afetam as pessoas ao seu redor. Um bom grunhido pode até mudar a maneira como seu adversário no tênis avalia seu saque, mascarando o som da batida.

“Se você não consegue ouvir o som da bola e o giro dela, isso vai atrapalhar sua reação”, informa Marjorie Blackwood, tricampeã canadense de tênis que passou os últimos quarenta anos treinando e trabalhando no esporte.

Sinnett acrescenta que, para um jogador novato, ter alguém rosnando para você talvez seja só uma distração.

Mesmo que esses grunhidos possam distrair a pessoa ao seu lado na academia, você não deve se acanhar da próxima vez que quiser espremer um pouco mais de energia, diz Mary. Ela ressalta que há um estigma em relação às pessoas – especialmente as mulheres – que fazem barulhos altos enquanto se exercitam. Ela incentiva as pessoas a usarem quaisquer ferramentas que estiverem à disposição.

Mas, se você realmente não gosta disso, Sinnett comenta que uma expiração forte e rápida pode ser tão eficaz quanto o grunhido. Ele próprio é um grunhidor crônico, embora esteja trabalhando para evitar os ruídos na quadra de tênis. “Algumas pessoas já me disseram que dá para ouvir”, conta. “Aí eu fico meio, ‘caramba, não quero ser esse cara’”.

Marjorie comenta que tudo bem fazer um pouco de barulho, mas que é melhor não ir longe demais – seja na quadra, na academia ou numa pacífica floresta nacional. “Só uns barulhinhos”, diz. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Semanas atrás, fui fazer uma escalada tranquila no Vedauwoo, parque no sul do Wyoming. A paisagem estava tranquila no início da manhã, com uma brisa que soprava suavemente entre as árvores. Mas essa tranquilidade não durou muito.

Por cerca de uma hora, rosnei, rugi, xinguei e choraminguei naquela fenda que parecia decidida a acabar comigo. Em determinado momento, encontrei um novo ruído em algum lugar entre o grunhido, o berro e o choro.

Ofegando sem parar, enquanto passantes curiosos me observavam, eu me perguntava se meus acessos vocais eram minimamente úteis. Todos nós já ouvimos aqueles caras – e geralmente são homens – que fazem barulho toda vez que levantam uma barra na academia. Será que esses ruídos contribuem para melhorar o desempenho? Ou é tudo coisa da nossa cabeça?

A literatura científica sobre os efeitos de grunhir durante os exercícios é escassa, mas alguns poucos trabalhos sugerem vantagens, como melhor uso de oxigênio. Foto: María Medem/The New York Times

Os benefícios fisiológicos

Não é de surpreender que as pesquisas sobre grunhidos atléticos sejam escassas. Alguns estudos restritos sugeriram que esses grunhidos melhoram a força, o poder de ataque e o uso de oxigênio, mas os pesquisadores não sabem ao certo como isso funciona. A maioria dos benefícios tem menos a ver com o som em si e mais com a maneira como respiramos logo antes, diz Mary J. Sandage, professora de fala e linguagem na Universidade de Auburn que estuda atividades físicas extremas e fala.

Mary conta que estudos descobriram que algumas pessoas que tiveram a laringe removida e, portanto, não conseguem mais reter o ar nos pulmões, têm dificuldade para levantar objetos pesados. Isso sugere que parte de nossa força pode vir de algo chamado manobra de Valsalva, na qual você pressiona os pulmões, mas fecha a garganta (pense no ato de empurrar durante um movimento intestinal).

“Fazemos isso para produzir força. Temos que prender o ar desse jeito para levantar e empurrar coisas pesadas”, comenta Mary.

Criar pressão interna no core dessa forma pode fortalecer sua coluna e permitir que você produza um pouco mais de força. O grunhido, então, é como uma válvula de escape para essa pressão. Mari observa que os benefícios do grunhido provavelmente se aplicam apenas a pequenos surtos de esforço, como levantar um peso ou bater uma bola de tênis.

Os benefícios psicológicos

Existe, é claro, outra explicação para a possível utilidade do grunhido: talvez seja um benefício sobretudo mental.

“Também vejo isso como um jeito de focar a atenção”, avalia Sarah Ullrich-French, psicóloga esportiva da Universidade Estadual de Washington. “Como uma liberação e canalização emocional”.

Grunhir não é a única maneira de fazer isso. Alguns preferem a respiração consciente, diz ela, outros podem focar os olhos em um ponto fixo – mas a ideia é encontrar uma zona mental que facilite o desempenho. Ela também afirma que as técnicas de foco podem fazer com que você se sinta mais em sintonia com seu corpo e aumentar os benefícios do exercício para a saúde mental.

Nas artes marciais japonesas, por exemplo, os atletas usam meditação e vogais curtas e gritadas, as ditas kiais, para concentrar a energia. Fazer barulho também pode ajudar você a estabelecer um ritmo, já que geralmente grunhimos no auge do esforço, explica Scott Sinnett, psicólogo cognitivo da Universidade do Havaí, em Manoa, que estudou a vocalização em esportes competitivos.

Mary concorda que os benefícios eram tanto psicológicos quanto fisiológicos. E diferentes tipos de ruídos podem servir a propósitos diferentes.

Naquele parque do Wyoming, por exemplo, minha conversa interna e os gemidos que eu soltava enquanto estava pendurado na corda provavelmente eram mais psicológicos. Os gritos e os rosnados que eu proferia enquanto me segurava podem ter reforçado meu core e me ajudado a ter um pouco mais de força. As sequências de palavrões depois dos fracassos, no entanto, provavelmente foram um desperdício de fôlego.

As questões sociais

Independentemente de melhorar ou não seu desempenho, os grunhidos definitivamente afetam as pessoas ao seu redor. Um bom grunhido pode até mudar a maneira como seu adversário no tênis avalia seu saque, mascarando o som da batida.

“Se você não consegue ouvir o som da bola e o giro dela, isso vai atrapalhar sua reação”, informa Marjorie Blackwood, tricampeã canadense de tênis que passou os últimos quarenta anos treinando e trabalhando no esporte.

Sinnett acrescenta que, para um jogador novato, ter alguém rosnando para você talvez seja só uma distração.

Mesmo que esses grunhidos possam distrair a pessoa ao seu lado na academia, você não deve se acanhar da próxima vez que quiser espremer um pouco mais de energia, diz Mary. Ela ressalta que há um estigma em relação às pessoas – especialmente as mulheres – que fazem barulhos altos enquanto se exercitam. Ela incentiva as pessoas a usarem quaisquer ferramentas que estiverem à disposição.

Mas, se você realmente não gosta disso, Sinnett comenta que uma expiração forte e rápida pode ser tão eficaz quanto o grunhido. Ele próprio é um grunhidor crônico, embora esteja trabalhando para evitar os ruídos na quadra de tênis. “Algumas pessoas já me disseram que dá para ouvir”, conta. “Aí eu fico meio, ‘caramba, não quero ser esse cara’”.

Marjorie comenta que tudo bem fazer um pouco de barulho, mas que é melhor não ir longe demais – seja na quadra, na academia ou numa pacífica floresta nacional. “Só uns barulhinhos”, diz. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Semanas atrás, fui fazer uma escalada tranquila no Vedauwoo, parque no sul do Wyoming. A paisagem estava tranquila no início da manhã, com uma brisa que soprava suavemente entre as árvores. Mas essa tranquilidade não durou muito.

Por cerca de uma hora, rosnei, rugi, xinguei e choraminguei naquela fenda que parecia decidida a acabar comigo. Em determinado momento, encontrei um novo ruído em algum lugar entre o grunhido, o berro e o choro.

Ofegando sem parar, enquanto passantes curiosos me observavam, eu me perguntava se meus acessos vocais eram minimamente úteis. Todos nós já ouvimos aqueles caras – e geralmente são homens – que fazem barulho toda vez que levantam uma barra na academia. Será que esses ruídos contribuem para melhorar o desempenho? Ou é tudo coisa da nossa cabeça?

A literatura científica sobre os efeitos de grunhir durante os exercícios é escassa, mas alguns poucos trabalhos sugerem vantagens, como melhor uso de oxigênio. Foto: María Medem/The New York Times

Os benefícios fisiológicos

Não é de surpreender que as pesquisas sobre grunhidos atléticos sejam escassas. Alguns estudos restritos sugeriram que esses grunhidos melhoram a força, o poder de ataque e o uso de oxigênio, mas os pesquisadores não sabem ao certo como isso funciona. A maioria dos benefícios tem menos a ver com o som em si e mais com a maneira como respiramos logo antes, diz Mary J. Sandage, professora de fala e linguagem na Universidade de Auburn que estuda atividades físicas extremas e fala.

Mary conta que estudos descobriram que algumas pessoas que tiveram a laringe removida e, portanto, não conseguem mais reter o ar nos pulmões, têm dificuldade para levantar objetos pesados. Isso sugere que parte de nossa força pode vir de algo chamado manobra de Valsalva, na qual você pressiona os pulmões, mas fecha a garganta (pense no ato de empurrar durante um movimento intestinal).

“Fazemos isso para produzir força. Temos que prender o ar desse jeito para levantar e empurrar coisas pesadas”, comenta Mary.

Criar pressão interna no core dessa forma pode fortalecer sua coluna e permitir que você produza um pouco mais de força. O grunhido, então, é como uma válvula de escape para essa pressão. Mari observa que os benefícios do grunhido provavelmente se aplicam apenas a pequenos surtos de esforço, como levantar um peso ou bater uma bola de tênis.

Os benefícios psicológicos

Existe, é claro, outra explicação para a possível utilidade do grunhido: talvez seja um benefício sobretudo mental.

“Também vejo isso como um jeito de focar a atenção”, avalia Sarah Ullrich-French, psicóloga esportiva da Universidade Estadual de Washington. “Como uma liberação e canalização emocional”.

Grunhir não é a única maneira de fazer isso. Alguns preferem a respiração consciente, diz ela, outros podem focar os olhos em um ponto fixo – mas a ideia é encontrar uma zona mental que facilite o desempenho. Ela também afirma que as técnicas de foco podem fazer com que você se sinta mais em sintonia com seu corpo e aumentar os benefícios do exercício para a saúde mental.

Nas artes marciais japonesas, por exemplo, os atletas usam meditação e vogais curtas e gritadas, as ditas kiais, para concentrar a energia. Fazer barulho também pode ajudar você a estabelecer um ritmo, já que geralmente grunhimos no auge do esforço, explica Scott Sinnett, psicólogo cognitivo da Universidade do Havaí, em Manoa, que estudou a vocalização em esportes competitivos.

Mary concorda que os benefícios eram tanto psicológicos quanto fisiológicos. E diferentes tipos de ruídos podem servir a propósitos diferentes.

Naquele parque do Wyoming, por exemplo, minha conversa interna e os gemidos que eu soltava enquanto estava pendurado na corda provavelmente eram mais psicológicos. Os gritos e os rosnados que eu proferia enquanto me segurava podem ter reforçado meu core e me ajudado a ter um pouco mais de força. As sequências de palavrões depois dos fracassos, no entanto, provavelmente foram um desperdício de fôlego.

As questões sociais

Independentemente de melhorar ou não seu desempenho, os grunhidos definitivamente afetam as pessoas ao seu redor. Um bom grunhido pode até mudar a maneira como seu adversário no tênis avalia seu saque, mascarando o som da batida.

“Se você não consegue ouvir o som da bola e o giro dela, isso vai atrapalhar sua reação”, informa Marjorie Blackwood, tricampeã canadense de tênis que passou os últimos quarenta anos treinando e trabalhando no esporte.

Sinnett acrescenta que, para um jogador novato, ter alguém rosnando para você talvez seja só uma distração.

Mesmo que esses grunhidos possam distrair a pessoa ao seu lado na academia, você não deve se acanhar da próxima vez que quiser espremer um pouco mais de energia, diz Mary. Ela ressalta que há um estigma em relação às pessoas – especialmente as mulheres – que fazem barulhos altos enquanto se exercitam. Ela incentiva as pessoas a usarem quaisquer ferramentas que estiverem à disposição.

Mas, se você realmente não gosta disso, Sinnett comenta que uma expiração forte e rápida pode ser tão eficaz quanto o grunhido. Ele próprio é um grunhidor crônico, embora esteja trabalhando para evitar os ruídos na quadra de tênis. “Algumas pessoas já me disseram que dá para ouvir”, conta. “Aí eu fico meio, ‘caramba, não quero ser esse cara’”.

Marjorie comenta que tudo bem fazer um pouco de barulho, mas que é melhor não ir longe demais – seja na quadra, na academia ou numa pacífica floresta nacional. “Só uns barulhinhos”, diz. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Semanas atrás, fui fazer uma escalada tranquila no Vedauwoo, parque no sul do Wyoming. A paisagem estava tranquila no início da manhã, com uma brisa que soprava suavemente entre as árvores. Mas essa tranquilidade não durou muito.

Por cerca de uma hora, rosnei, rugi, xinguei e choraminguei naquela fenda que parecia decidida a acabar comigo. Em determinado momento, encontrei um novo ruído em algum lugar entre o grunhido, o berro e o choro.

Ofegando sem parar, enquanto passantes curiosos me observavam, eu me perguntava se meus acessos vocais eram minimamente úteis. Todos nós já ouvimos aqueles caras – e geralmente são homens – que fazem barulho toda vez que levantam uma barra na academia. Será que esses ruídos contribuem para melhorar o desempenho? Ou é tudo coisa da nossa cabeça?

A literatura científica sobre os efeitos de grunhir durante os exercícios é escassa, mas alguns poucos trabalhos sugerem vantagens, como melhor uso de oxigênio. Foto: María Medem/The New York Times

Os benefícios fisiológicos

Não é de surpreender que as pesquisas sobre grunhidos atléticos sejam escassas. Alguns estudos restritos sugeriram que esses grunhidos melhoram a força, o poder de ataque e o uso de oxigênio, mas os pesquisadores não sabem ao certo como isso funciona. A maioria dos benefícios tem menos a ver com o som em si e mais com a maneira como respiramos logo antes, diz Mary J. Sandage, professora de fala e linguagem na Universidade de Auburn que estuda atividades físicas extremas e fala.

Mary conta que estudos descobriram que algumas pessoas que tiveram a laringe removida e, portanto, não conseguem mais reter o ar nos pulmões, têm dificuldade para levantar objetos pesados. Isso sugere que parte de nossa força pode vir de algo chamado manobra de Valsalva, na qual você pressiona os pulmões, mas fecha a garganta (pense no ato de empurrar durante um movimento intestinal).

“Fazemos isso para produzir força. Temos que prender o ar desse jeito para levantar e empurrar coisas pesadas”, comenta Mary.

Criar pressão interna no core dessa forma pode fortalecer sua coluna e permitir que você produza um pouco mais de força. O grunhido, então, é como uma válvula de escape para essa pressão. Mari observa que os benefícios do grunhido provavelmente se aplicam apenas a pequenos surtos de esforço, como levantar um peso ou bater uma bola de tênis.

Os benefícios psicológicos

Existe, é claro, outra explicação para a possível utilidade do grunhido: talvez seja um benefício sobretudo mental.

“Também vejo isso como um jeito de focar a atenção”, avalia Sarah Ullrich-French, psicóloga esportiva da Universidade Estadual de Washington. “Como uma liberação e canalização emocional”.

Grunhir não é a única maneira de fazer isso. Alguns preferem a respiração consciente, diz ela, outros podem focar os olhos em um ponto fixo – mas a ideia é encontrar uma zona mental que facilite o desempenho. Ela também afirma que as técnicas de foco podem fazer com que você se sinta mais em sintonia com seu corpo e aumentar os benefícios do exercício para a saúde mental.

Nas artes marciais japonesas, por exemplo, os atletas usam meditação e vogais curtas e gritadas, as ditas kiais, para concentrar a energia. Fazer barulho também pode ajudar você a estabelecer um ritmo, já que geralmente grunhimos no auge do esforço, explica Scott Sinnett, psicólogo cognitivo da Universidade do Havaí, em Manoa, que estudou a vocalização em esportes competitivos.

Mary concorda que os benefícios eram tanto psicológicos quanto fisiológicos. E diferentes tipos de ruídos podem servir a propósitos diferentes.

Naquele parque do Wyoming, por exemplo, minha conversa interna e os gemidos que eu soltava enquanto estava pendurado na corda provavelmente eram mais psicológicos. Os gritos e os rosnados que eu proferia enquanto me segurava podem ter reforçado meu core e me ajudado a ter um pouco mais de força. As sequências de palavrões depois dos fracassos, no entanto, provavelmente foram um desperdício de fôlego.

As questões sociais

Independentemente de melhorar ou não seu desempenho, os grunhidos definitivamente afetam as pessoas ao seu redor. Um bom grunhido pode até mudar a maneira como seu adversário no tênis avalia seu saque, mascarando o som da batida.

“Se você não consegue ouvir o som da bola e o giro dela, isso vai atrapalhar sua reação”, informa Marjorie Blackwood, tricampeã canadense de tênis que passou os últimos quarenta anos treinando e trabalhando no esporte.

Sinnett acrescenta que, para um jogador novato, ter alguém rosnando para você talvez seja só uma distração.

Mesmo que esses grunhidos possam distrair a pessoa ao seu lado na academia, você não deve se acanhar da próxima vez que quiser espremer um pouco mais de energia, diz Mary. Ela ressalta que há um estigma em relação às pessoas – especialmente as mulheres – que fazem barulhos altos enquanto se exercitam. Ela incentiva as pessoas a usarem quaisquer ferramentas que estiverem à disposição.

Mas, se você realmente não gosta disso, Sinnett comenta que uma expiração forte e rápida pode ser tão eficaz quanto o grunhido. Ele próprio é um grunhidor crônico, embora esteja trabalhando para evitar os ruídos na quadra de tênis. “Algumas pessoas já me disseram que dá para ouvir”, conta. “Aí eu fico meio, ‘caramba, não quero ser esse cara’”.

Marjorie comenta que tudo bem fazer um pouco de barulho, mas que é melhor não ir longe demais – seja na quadra, na academia ou numa pacífica floresta nacional. “Só uns barulhinhos”, diz. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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