SP aplica 17% das doses em moradores de outras cidades e decide restringir acesso


Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a Prefeitura decidiu nesta quinta-feira passar a exigir comprovante de residência; capital paulista tem 8% da população imunizada com duas doses

Por Mariana Hallal e João Ker

Pouco mais de 1 milhão de moradores da cidade de São Paulo foram vacinados com as duas doses contra a covid-19 até o início desta semana, quatro meses após o início da campanha nacional. O número representa 8,25% do total da população local, porcentagem que é menor do que a média do Estado (9,74%). Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a Prefeitura decidiu ontem passar a exigir comprovante de residência, restringindo a aplicação a moradores da capital.

Barreiras sanitárias no Aeroporto de Congonhas para evitar a entrada e disseminação da variante Delta da covid-19 no município de São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Um levantamento feito pelo Estadão com base nos dados do Ministério da Saúde mostra que 17% do total de doses aplicadas em São Paulo atenderam pessoas de fora da cidade. Foram 4 milhões de doses aplicadas (entre primeiras e segundas doses) e 686 mil acabaram no braço de pessoas que vivem em outros municípios que não a capital paulista. A Prefeitura não culpou esse "desvio" pela porcentagem atual de imunizados, mas ponderou que era a única cidade até hoje que não fazia a exigência do comprovante.

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"Daqui para a frente, os grupos prioritários que serão vacinados têm grande quantidade de pessoas. A partir de amanhã serão mais de 200 mil. A faixa etária está diminuindo progressivamente, são pessoas que, diferentemente de idosos, se deslocam com maior facilidade. Portanto, é natural que a cidade de São Paulo, que tem uma estrutura de vacinação muito grande, atraia pessoas que se desloquem para cá", disse em nota o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.

Novos grupos serão incluídos na lista de vacinação a partir de hoje. Estudantes do último ano de cursos da área da saúde e trabalhadores da saúde acima de 18 anos podem se vacinar na cidade. A vacinação de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) será ampliada e passará a abranger todos que têm mais de 40 anos. Caso o comprovante de residência exigido esteja no nome de algum parente, disse a Prefeitura, haverá a necessidade de demonstrar o grau de parentesco. Para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose, não haverá a exigência do documento para a segunda.

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Ranking

Entre as 645 cidades do Estado, a capital ocupa a 393ª posição no ranking da vacinação completa. As cidades do topo da lista são as com a menor população. Em Flora Rica, que tem 1.430 habitantes, metade dos moradores já recebeu as duas doses da vacina contra a covid. Entre as maiores cidades do Estado, com mais de 400 mil habitantes, São José dos Campos apresenta o melhor índice, com 24,42% dos moradores vacinados com a primeira dose. Santos lidera o ranking de aplicação da segunda dose, com 11,2% dos moradores imunizados.

Medida 'mais atrapalha que ajuda', avaliam especialistas

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A decisão da Prefeitura de São Paulo de passar a exigir comprovante de residência na capital para a vacinação contra o coronavírus pode trazer mais dores de cabeça que soluções, avaliam especialistas da saúde. Ao Estadão, eles apontam que a medida cria mais um empecilho para o acesso à vacina, é facilmente burlável e ainda pode desfavorecer uma parcela dos residentes na metrópole.

"Se a pessoa estiver dentro do grupo alvo, acho que não importa onde ela mora. Isso é um fator que vai desincentivar e dificultar a vacinação, principalmente para quem mora em outra cidade e passa o dia trabalhando em São Paulo", avalia Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). 

Além de dificultar o acesso dessas pessoas à vacina, ela comenta ainda sobre inúmeras situações possíveis de moradores da capital que não têm um comprovante no próprio nome ou vieram passar o período de quarentena aqui. "Vai provocar injustiça mais do que mudança efetiva. Na vida real, não vai facilitar o planejamento das doses. Tem que chamar a população para se vacinar, e não criar mais empecilhos", observa.

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Para o epidemiologista José Cassio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo e responsável por campanhas de vacinação desde 1975, o esforço seria melhor empregado na divulgação da imunização. O foco, aponta, deveria ser nas populações com comorbidades, onde ele avalia que está o maior ruído nas informações.

"Que o ritmo está lento, não precisa nem dizer. Uma parte é porque não tem vacina, mas o problema é que quem divulga a vacinação é só a imprensa. Alguma parcela das redes sociais até divulga, mas a maioria cria fake news. Quem tem como fonte de informação as redes, não recebe uma posição governamental, e sim propagandas contra a vacina", avalia. 

“Planejamento correto não está tendo em lugar nenhum do País. Esta campanha está com grandes obstáculos. A parte de cada município e Estado fazer de um jeito diferente complica a cabeça de todo mundo", aponta Monica.

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Moraes também aponta que o comprovante de residência pode gerar um fator a mais de preocupação não só para os pacientes, mas igualmente para os agentes de saúde: "Já temos a experiência de que restringir a vacinação em uma cidade aberta e com fluxo grande como São Paulo é muito difícil. Você sempre teve a evasão, que se agravou agora porque os municípios não estão fazendo a mesma estratégia e não há comunicação entre um e outro."

Walter Cintra, sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defende que é preciso ter um controle de garantia para que a pessoa tome a segunda dose". "De um modo geral, o País está apanhando feio do coronavírus. São Paulo não está em situação melhor”, observa.

Cintra também defende mais investimento em divulgação e em uma estratégia multissetorial "como uma operação de guerra" em apoio às vacinas. "Isso está ligado diretamente ao governo federal e ao Ministério da Saúde, que foram terríveis na promoção da confusão e do descrédito às vacinas e das medidas de combate à pandemia."

Pouco mais de 1 milhão de moradores da cidade de São Paulo foram vacinados com as duas doses contra a covid-19 até o início desta semana, quatro meses após o início da campanha nacional. O número representa 8,25% do total da população local, porcentagem que é menor do que a média do Estado (9,74%). Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a Prefeitura decidiu ontem passar a exigir comprovante de residência, restringindo a aplicação a moradores da capital.

Barreiras sanitárias no Aeroporto de Congonhas para evitar a entrada e disseminação da variante Delta da covid-19 no município de São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Um levantamento feito pelo Estadão com base nos dados do Ministério da Saúde mostra que 17% do total de doses aplicadas em São Paulo atenderam pessoas de fora da cidade. Foram 4 milhões de doses aplicadas (entre primeiras e segundas doses) e 686 mil acabaram no braço de pessoas que vivem em outros municípios que não a capital paulista. A Prefeitura não culpou esse "desvio" pela porcentagem atual de imunizados, mas ponderou que era a única cidade até hoje que não fazia a exigência do comprovante.

"Daqui para a frente, os grupos prioritários que serão vacinados têm grande quantidade de pessoas. A partir de amanhã serão mais de 200 mil. A faixa etária está diminuindo progressivamente, são pessoas que, diferentemente de idosos, se deslocam com maior facilidade. Portanto, é natural que a cidade de São Paulo, que tem uma estrutura de vacinação muito grande, atraia pessoas que se desloquem para cá", disse em nota o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.

Novos grupos serão incluídos na lista de vacinação a partir de hoje. Estudantes do último ano de cursos da área da saúde e trabalhadores da saúde acima de 18 anos podem se vacinar na cidade. A vacinação de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) será ampliada e passará a abranger todos que têm mais de 40 anos. Caso o comprovante de residência exigido esteja no nome de algum parente, disse a Prefeitura, haverá a necessidade de demonstrar o grau de parentesco. Para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose, não haverá a exigência do documento para a segunda.

Ranking

Entre as 645 cidades do Estado, a capital ocupa a 393ª posição no ranking da vacinação completa. As cidades do topo da lista são as com a menor população. Em Flora Rica, que tem 1.430 habitantes, metade dos moradores já recebeu as duas doses da vacina contra a covid. Entre as maiores cidades do Estado, com mais de 400 mil habitantes, São José dos Campos apresenta o melhor índice, com 24,42% dos moradores vacinados com a primeira dose. Santos lidera o ranking de aplicação da segunda dose, com 11,2% dos moradores imunizados.

Medida 'mais atrapalha que ajuda', avaliam especialistas

A decisão da Prefeitura de São Paulo de passar a exigir comprovante de residência na capital para a vacinação contra o coronavírus pode trazer mais dores de cabeça que soluções, avaliam especialistas da saúde. Ao Estadão, eles apontam que a medida cria mais um empecilho para o acesso à vacina, é facilmente burlável e ainda pode desfavorecer uma parcela dos residentes na metrópole.

"Se a pessoa estiver dentro do grupo alvo, acho que não importa onde ela mora. Isso é um fator que vai desincentivar e dificultar a vacinação, principalmente para quem mora em outra cidade e passa o dia trabalhando em São Paulo", avalia Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). 

Além de dificultar o acesso dessas pessoas à vacina, ela comenta ainda sobre inúmeras situações possíveis de moradores da capital que não têm um comprovante no próprio nome ou vieram passar o período de quarentena aqui. "Vai provocar injustiça mais do que mudança efetiva. Na vida real, não vai facilitar o planejamento das doses. Tem que chamar a população para se vacinar, e não criar mais empecilhos", observa.

Para o epidemiologista José Cassio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo e responsável por campanhas de vacinação desde 1975, o esforço seria melhor empregado na divulgação da imunização. O foco, aponta, deveria ser nas populações com comorbidades, onde ele avalia que está o maior ruído nas informações.

"Que o ritmo está lento, não precisa nem dizer. Uma parte é porque não tem vacina, mas o problema é que quem divulga a vacinação é só a imprensa. Alguma parcela das redes sociais até divulga, mas a maioria cria fake news. Quem tem como fonte de informação as redes, não recebe uma posição governamental, e sim propagandas contra a vacina", avalia. 

“Planejamento correto não está tendo em lugar nenhum do País. Esta campanha está com grandes obstáculos. A parte de cada município e Estado fazer de um jeito diferente complica a cabeça de todo mundo", aponta Monica.

Moraes também aponta que o comprovante de residência pode gerar um fator a mais de preocupação não só para os pacientes, mas igualmente para os agentes de saúde: "Já temos a experiência de que restringir a vacinação em uma cidade aberta e com fluxo grande como São Paulo é muito difícil. Você sempre teve a evasão, que se agravou agora porque os municípios não estão fazendo a mesma estratégia e não há comunicação entre um e outro."

Walter Cintra, sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defende que é preciso ter um controle de garantia para que a pessoa tome a segunda dose". "De um modo geral, o País está apanhando feio do coronavírus. São Paulo não está em situação melhor”, observa.

Cintra também defende mais investimento em divulgação e em uma estratégia multissetorial "como uma operação de guerra" em apoio às vacinas. "Isso está ligado diretamente ao governo federal e ao Ministério da Saúde, que foram terríveis na promoção da confusão e do descrédito às vacinas e das medidas de combate à pandemia."

Pouco mais de 1 milhão de moradores da cidade de São Paulo foram vacinados com as duas doses contra a covid-19 até o início desta semana, quatro meses após o início da campanha nacional. O número representa 8,25% do total da população local, porcentagem que é menor do que a média do Estado (9,74%). Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a Prefeitura decidiu ontem passar a exigir comprovante de residência, restringindo a aplicação a moradores da capital.

Barreiras sanitárias no Aeroporto de Congonhas para evitar a entrada e disseminação da variante Delta da covid-19 no município de São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Um levantamento feito pelo Estadão com base nos dados do Ministério da Saúde mostra que 17% do total de doses aplicadas em São Paulo atenderam pessoas de fora da cidade. Foram 4 milhões de doses aplicadas (entre primeiras e segundas doses) e 686 mil acabaram no braço de pessoas que vivem em outros municípios que não a capital paulista. A Prefeitura não culpou esse "desvio" pela porcentagem atual de imunizados, mas ponderou que era a única cidade até hoje que não fazia a exigência do comprovante.

"Daqui para a frente, os grupos prioritários que serão vacinados têm grande quantidade de pessoas. A partir de amanhã serão mais de 200 mil. A faixa etária está diminuindo progressivamente, são pessoas que, diferentemente de idosos, se deslocam com maior facilidade. Portanto, é natural que a cidade de São Paulo, que tem uma estrutura de vacinação muito grande, atraia pessoas que se desloquem para cá", disse em nota o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.

Novos grupos serão incluídos na lista de vacinação a partir de hoje. Estudantes do último ano de cursos da área da saúde e trabalhadores da saúde acima de 18 anos podem se vacinar na cidade. A vacinação de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) será ampliada e passará a abranger todos que têm mais de 40 anos. Caso o comprovante de residência exigido esteja no nome de algum parente, disse a Prefeitura, haverá a necessidade de demonstrar o grau de parentesco. Para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose, não haverá a exigência do documento para a segunda.

Ranking

Entre as 645 cidades do Estado, a capital ocupa a 393ª posição no ranking da vacinação completa. As cidades do topo da lista são as com a menor população. Em Flora Rica, que tem 1.430 habitantes, metade dos moradores já recebeu as duas doses da vacina contra a covid. Entre as maiores cidades do Estado, com mais de 400 mil habitantes, São José dos Campos apresenta o melhor índice, com 24,42% dos moradores vacinados com a primeira dose. Santos lidera o ranking de aplicação da segunda dose, com 11,2% dos moradores imunizados.

Medida 'mais atrapalha que ajuda', avaliam especialistas

A decisão da Prefeitura de São Paulo de passar a exigir comprovante de residência na capital para a vacinação contra o coronavírus pode trazer mais dores de cabeça que soluções, avaliam especialistas da saúde. Ao Estadão, eles apontam que a medida cria mais um empecilho para o acesso à vacina, é facilmente burlável e ainda pode desfavorecer uma parcela dos residentes na metrópole.

"Se a pessoa estiver dentro do grupo alvo, acho que não importa onde ela mora. Isso é um fator que vai desincentivar e dificultar a vacinação, principalmente para quem mora em outra cidade e passa o dia trabalhando em São Paulo", avalia Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). 

Além de dificultar o acesso dessas pessoas à vacina, ela comenta ainda sobre inúmeras situações possíveis de moradores da capital que não têm um comprovante no próprio nome ou vieram passar o período de quarentena aqui. "Vai provocar injustiça mais do que mudança efetiva. Na vida real, não vai facilitar o planejamento das doses. Tem que chamar a população para se vacinar, e não criar mais empecilhos", observa.

Para o epidemiologista José Cassio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo e responsável por campanhas de vacinação desde 1975, o esforço seria melhor empregado na divulgação da imunização. O foco, aponta, deveria ser nas populações com comorbidades, onde ele avalia que está o maior ruído nas informações.

"Que o ritmo está lento, não precisa nem dizer. Uma parte é porque não tem vacina, mas o problema é que quem divulga a vacinação é só a imprensa. Alguma parcela das redes sociais até divulga, mas a maioria cria fake news. Quem tem como fonte de informação as redes, não recebe uma posição governamental, e sim propagandas contra a vacina", avalia. 

“Planejamento correto não está tendo em lugar nenhum do País. Esta campanha está com grandes obstáculos. A parte de cada município e Estado fazer de um jeito diferente complica a cabeça de todo mundo", aponta Monica.

Moraes também aponta que o comprovante de residência pode gerar um fator a mais de preocupação não só para os pacientes, mas igualmente para os agentes de saúde: "Já temos a experiência de que restringir a vacinação em uma cidade aberta e com fluxo grande como São Paulo é muito difícil. Você sempre teve a evasão, que se agravou agora porque os municípios não estão fazendo a mesma estratégia e não há comunicação entre um e outro."

Walter Cintra, sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defende que é preciso ter um controle de garantia para que a pessoa tome a segunda dose". "De um modo geral, o País está apanhando feio do coronavírus. São Paulo não está em situação melhor”, observa.

Cintra também defende mais investimento em divulgação e em uma estratégia multissetorial "como uma operação de guerra" em apoio às vacinas. "Isso está ligado diretamente ao governo federal e ao Ministério da Saúde, que foram terríveis na promoção da confusão e do descrédito às vacinas e das medidas de combate à pandemia."

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