SP deve imunizar professor e policial antes de concluir vacinação de idosos? Especialistas divergem


No Estado de São Paulo, há ainda 4 milhões de idosos de 60 a 69 anos na fila; priorização de grupos mais expostos ao risco do vírus é opção permitida a gestores

Por João Ker e Julia Marques

A gestão João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira, 24, que vai iniciar a vacinação de profissionais da educação e da segurança pública em abril. Especialistas em saúde divergem sobre a estratégia de priorizar professores e policiais na fila da imunização. O Plano Nacional de Imunização (PNI) orienta que as categorias profissionais sejam vacinadas após a imunização de idosos e pessoas com comorbidades, como diabéticos e hipertensos. No Estado de São Paulo, há ainda 4 milhões de idosos de 60 a 69 anos de idade na fila da vacinação

Para a epidemiologista Carla Domingues, é difícil definir qual grupo não deve ser priorizado, em função da alta taxa de circulação do vírus no País. O plano nacional de vacinação contra a covid-19, segundo ela, definiu que Estados e municípios poderiam fazer a própria priorização. “Esse grupo (policiais e professores) realmente está muito exposto, temos de fazer uma escolha de Sofia. São essas pessoas que estão acometendo os pais e avós”, diz ela, que coordenou o PNI de 2011 a 2019.

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Segundo Carla, a vacinação dos policiais e professores deve ser feita de forma concomitante à dos idosos. O governo estadual prevê imunizar os mais velhos e as duas categorias profissionais - cerca de 530 mil trabalhadores - ao mesmo tempo no mês que vem. 

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), visita o Instituto Butantan para a liberação de novas doses de vacina Foto: Governo do Estado de São Paulo

 

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De acordo com Mérces da Silva Nunes, especialista em direito médico e sócia do Silva Nunes Advogados, a medida anunciada por João Doria (PSDB) encontra respaldo legal, uma vez que o Supremo Tribunal Federal deu autonomia a Estados para combater a pandemia. “A partir do momento que a União distribui vacinas para os governos municipais e estaduais, eles adquirem autonomia para determinar o que fazer dentro do Estado”, avalia. 

Já a infectologista Raquel Stucchi pondera que a priorização de categorias profissionais pode atrasar a imunização de idosos e adultos com comorbidades. “Se tenho número limitado de vacinas e vou reservar doses para essas categorias, estou tirando de alguém”, diz a especialista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). 

“É um privilégio que não se justifica. Quem está morrendo são as pessoas que estão sendo preteridas para a vacinação”, acrescenta Raquel. A infectologista destaca que a inclusão dessas categorias agora ocorre pela pressão política desses grupos.

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Para Marcio Bittencourt, médico e pesquisador da USP, pode ser dada a priorização para grupos profissionais mais expostos e que desempenham serviços essenciais, assim como houve a prioridade a profissionais de saúde.  “Não sei se esses (policiais e professores) são os únicos, mas não acho que está errado essas categorias entrarem (na priorização)." Para o especialista, é preciso que a vacinação seja agilizada e, por esse ponto de vista, a priorização dos adultos com comorbidades pode ser difícil de ser feita. “É uma lista ampla, que nem sempre é fácil de definir e documentar. Se uma pessoa diz que é diabética, qual o critério para aceitá-la como diabética? Vamos atrasar a vacinação de quem não tem atestado?”.

Professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, José Cássio de Moraes também diz que a antecipação das categorias é prerrogativa do governo estadual, mas frisa a necessidade de planejamento bem estruturado. “É preciso ser bem organizado, dada a ansiedade da população de ser vacinada”, defende. 

Ele aponta ainda que ambas as categorias também são consideradas prioritárias na campanha de vacinação para a influenza (gripe comum). “Se estivéssemos falando de vacinar adolescentes, time de futebol ou pessoas com 50 anos, aí seria um problema, porque os esses grupos não estão incluídos na lista (do PNI)”. Mas o ideal, defende, seria uma coordenação pelo governo federal.  

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O Estadão perguntou à Secretaria da Saúde se a vacinação de idosos e pessoas com comorbidades poderia atrasar em função da priorização de professores e policiais, mas não obteve resposta. Também não foi informado o cronograma de vacinação para idosos de idade inferior a 69 anos, mas em coletiva de imprensa nesta quarta Doria disse que novas datas de vacinação dos idosos seriam anunciadas na sexta-feira.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que trabalha "sem medir esforços" para que toda a população prioritária seja imunizada contra a covid-19 "o mais rápido possível", e frisou que ambos os grupos anunciados pelo governo de São Paulo estão previstos no PNI. A pasta também reforçou a orientação de que Estados e municípios sigam a ordem estipulada pelo documento.

"Com a lógica tripartite do Sistema Único de Saúde, Estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas", diz o texto. O Ministério também frisa que eles têm a prerrogativa de ampliarem a imunização dos grupos prioritários, "desde que sigam a ordem prevista no Plano". 

A gestão João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira, 24, que vai iniciar a vacinação de profissionais da educação e da segurança pública em abril. Especialistas em saúde divergem sobre a estratégia de priorizar professores e policiais na fila da imunização. O Plano Nacional de Imunização (PNI) orienta que as categorias profissionais sejam vacinadas após a imunização de idosos e pessoas com comorbidades, como diabéticos e hipertensos. No Estado de São Paulo, há ainda 4 milhões de idosos de 60 a 69 anos de idade na fila da vacinação

Para a epidemiologista Carla Domingues, é difícil definir qual grupo não deve ser priorizado, em função da alta taxa de circulação do vírus no País. O plano nacional de vacinação contra a covid-19, segundo ela, definiu que Estados e municípios poderiam fazer a própria priorização. “Esse grupo (policiais e professores) realmente está muito exposto, temos de fazer uma escolha de Sofia. São essas pessoas que estão acometendo os pais e avós”, diz ela, que coordenou o PNI de 2011 a 2019.

Segundo Carla, a vacinação dos policiais e professores deve ser feita de forma concomitante à dos idosos. O governo estadual prevê imunizar os mais velhos e as duas categorias profissionais - cerca de 530 mil trabalhadores - ao mesmo tempo no mês que vem. 

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), visita o Instituto Butantan para a liberação de novas doses de vacina Foto: Governo do Estado de São Paulo

 

De acordo com Mérces da Silva Nunes, especialista em direito médico e sócia do Silva Nunes Advogados, a medida anunciada por João Doria (PSDB) encontra respaldo legal, uma vez que o Supremo Tribunal Federal deu autonomia a Estados para combater a pandemia. “A partir do momento que a União distribui vacinas para os governos municipais e estaduais, eles adquirem autonomia para determinar o que fazer dentro do Estado”, avalia. 

Já a infectologista Raquel Stucchi pondera que a priorização de categorias profissionais pode atrasar a imunização de idosos e adultos com comorbidades. “Se tenho número limitado de vacinas e vou reservar doses para essas categorias, estou tirando de alguém”, diz a especialista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). 

“É um privilégio que não se justifica. Quem está morrendo são as pessoas que estão sendo preteridas para a vacinação”, acrescenta Raquel. A infectologista destaca que a inclusão dessas categorias agora ocorre pela pressão política desses grupos.

Para Marcio Bittencourt, médico e pesquisador da USP, pode ser dada a priorização para grupos profissionais mais expostos e que desempenham serviços essenciais, assim como houve a prioridade a profissionais de saúde.  “Não sei se esses (policiais e professores) são os únicos, mas não acho que está errado essas categorias entrarem (na priorização)." Para o especialista, é preciso que a vacinação seja agilizada e, por esse ponto de vista, a priorização dos adultos com comorbidades pode ser difícil de ser feita. “É uma lista ampla, que nem sempre é fácil de definir e documentar. Se uma pessoa diz que é diabética, qual o critério para aceitá-la como diabética? Vamos atrasar a vacinação de quem não tem atestado?”.

Professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, José Cássio de Moraes também diz que a antecipação das categorias é prerrogativa do governo estadual, mas frisa a necessidade de planejamento bem estruturado. “É preciso ser bem organizado, dada a ansiedade da população de ser vacinada”, defende. 

Ele aponta ainda que ambas as categorias também são consideradas prioritárias na campanha de vacinação para a influenza (gripe comum). “Se estivéssemos falando de vacinar adolescentes, time de futebol ou pessoas com 50 anos, aí seria um problema, porque os esses grupos não estão incluídos na lista (do PNI)”. Mas o ideal, defende, seria uma coordenação pelo governo federal.  

O Estadão perguntou à Secretaria da Saúde se a vacinação de idosos e pessoas com comorbidades poderia atrasar em função da priorização de professores e policiais, mas não obteve resposta. Também não foi informado o cronograma de vacinação para idosos de idade inferior a 69 anos, mas em coletiva de imprensa nesta quarta Doria disse que novas datas de vacinação dos idosos seriam anunciadas na sexta-feira.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que trabalha "sem medir esforços" para que toda a população prioritária seja imunizada contra a covid-19 "o mais rápido possível", e frisou que ambos os grupos anunciados pelo governo de São Paulo estão previstos no PNI. A pasta também reforçou a orientação de que Estados e municípios sigam a ordem estipulada pelo documento.

"Com a lógica tripartite do Sistema Único de Saúde, Estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas", diz o texto. O Ministério também frisa que eles têm a prerrogativa de ampliarem a imunização dos grupos prioritários, "desde que sigam a ordem prevista no Plano". 

A gestão João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira, 24, que vai iniciar a vacinação de profissionais da educação e da segurança pública em abril. Especialistas em saúde divergem sobre a estratégia de priorizar professores e policiais na fila da imunização. O Plano Nacional de Imunização (PNI) orienta que as categorias profissionais sejam vacinadas após a imunização de idosos e pessoas com comorbidades, como diabéticos e hipertensos. No Estado de São Paulo, há ainda 4 milhões de idosos de 60 a 69 anos de idade na fila da vacinação

Para a epidemiologista Carla Domingues, é difícil definir qual grupo não deve ser priorizado, em função da alta taxa de circulação do vírus no País. O plano nacional de vacinação contra a covid-19, segundo ela, definiu que Estados e municípios poderiam fazer a própria priorização. “Esse grupo (policiais e professores) realmente está muito exposto, temos de fazer uma escolha de Sofia. São essas pessoas que estão acometendo os pais e avós”, diz ela, que coordenou o PNI de 2011 a 2019.

Segundo Carla, a vacinação dos policiais e professores deve ser feita de forma concomitante à dos idosos. O governo estadual prevê imunizar os mais velhos e as duas categorias profissionais - cerca de 530 mil trabalhadores - ao mesmo tempo no mês que vem. 

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), visita o Instituto Butantan para a liberação de novas doses de vacina Foto: Governo do Estado de São Paulo

 

De acordo com Mérces da Silva Nunes, especialista em direito médico e sócia do Silva Nunes Advogados, a medida anunciada por João Doria (PSDB) encontra respaldo legal, uma vez que o Supremo Tribunal Federal deu autonomia a Estados para combater a pandemia. “A partir do momento que a União distribui vacinas para os governos municipais e estaduais, eles adquirem autonomia para determinar o que fazer dentro do Estado”, avalia. 

Já a infectologista Raquel Stucchi pondera que a priorização de categorias profissionais pode atrasar a imunização de idosos e adultos com comorbidades. “Se tenho número limitado de vacinas e vou reservar doses para essas categorias, estou tirando de alguém”, diz a especialista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). 

“É um privilégio que não se justifica. Quem está morrendo são as pessoas que estão sendo preteridas para a vacinação”, acrescenta Raquel. A infectologista destaca que a inclusão dessas categorias agora ocorre pela pressão política desses grupos.

Para Marcio Bittencourt, médico e pesquisador da USP, pode ser dada a priorização para grupos profissionais mais expostos e que desempenham serviços essenciais, assim como houve a prioridade a profissionais de saúde.  “Não sei se esses (policiais e professores) são os únicos, mas não acho que está errado essas categorias entrarem (na priorização)." Para o especialista, é preciso que a vacinação seja agilizada e, por esse ponto de vista, a priorização dos adultos com comorbidades pode ser difícil de ser feita. “É uma lista ampla, que nem sempre é fácil de definir e documentar. Se uma pessoa diz que é diabética, qual o critério para aceitá-la como diabética? Vamos atrasar a vacinação de quem não tem atestado?”.

Professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, José Cássio de Moraes também diz que a antecipação das categorias é prerrogativa do governo estadual, mas frisa a necessidade de planejamento bem estruturado. “É preciso ser bem organizado, dada a ansiedade da população de ser vacinada”, defende. 

Ele aponta ainda que ambas as categorias também são consideradas prioritárias na campanha de vacinação para a influenza (gripe comum). “Se estivéssemos falando de vacinar adolescentes, time de futebol ou pessoas com 50 anos, aí seria um problema, porque os esses grupos não estão incluídos na lista (do PNI)”. Mas o ideal, defende, seria uma coordenação pelo governo federal.  

O Estadão perguntou à Secretaria da Saúde se a vacinação de idosos e pessoas com comorbidades poderia atrasar em função da priorização de professores e policiais, mas não obteve resposta. Também não foi informado o cronograma de vacinação para idosos de idade inferior a 69 anos, mas em coletiva de imprensa nesta quarta Doria disse que novas datas de vacinação dos idosos seriam anunciadas na sexta-feira.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que trabalha "sem medir esforços" para que toda a população prioritária seja imunizada contra a covid-19 "o mais rápido possível", e frisou que ambos os grupos anunciados pelo governo de São Paulo estão previstos no PNI. A pasta também reforçou a orientação de que Estados e municípios sigam a ordem estipulada pelo documento.

"Com a lógica tripartite do Sistema Único de Saúde, Estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas", diz o texto. O Ministério também frisa que eles têm a prerrogativa de ampliarem a imunização dos grupos prioritários, "desde que sigam a ordem prevista no Plano". 

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