Graças ao alto volume de dados que relaciona padrões genéticos com doenças, diagnósticos e tratamentos, será possível oferecer, num futuro próximo, um atendimento de saúde cada vez mais personalizado, voltado não só para a prevenção como também para tratamentos mais precisos de doenças existentes.
Essa foi uma das principais conclusões do terceiro dia de debates do Summit Saúde e Bem-Estar 2022, que está sendo realizado de forma online e gratuita pelo Estadão até a próxima sexta-feira, dia 21.
“Eu acredito que em breve vamos substituir o atual modelo ‘one size fits all’, que quer dizer um tamanho único para todo tipo de doença, para um atendimento cada vez mais customizado, graças à genética combinada à inteligência artificial, que permite entender sequenciamento genético. Esse é o caminho que eu vejo para a saúde, e ele é inexorável”, disse Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Para Iomani Engelmann, diretor de marketing e comercial da plataforma de soluções hospitalares Pixeon, atualmente há uma sobrecarga de dados, no entanto, ainda sem integração suficiente para que eles sejam compartilhados e possam ser efetivamente revertidos em um novo modelo.
“O que existe hoje são ilhas de dados. Cada instituição tem os seus. Isso teria que ser partilhado, que o médico possa ver o histórico clínico completo e assim ter uma conduta clínica mais adequada, resultando numa maior qualidade terapêutica e de vida do paciente”, afirmou.
Ele defende ainda que sejam discutidas normativas junto aos órgãos competentes para tratamento dos dados de forma estrutural, sem gerar danos ao paciente e gerando valor para a cadeia de saúde. “É como foi feito no sistema financeiro, com o Open Banking”, compara.
Os especialistas também discutiram como as novas tecnologias têm impulsionado a telemedicina. Além das consultas online, Klajner, do Albert Einstein, destaca a os avanços em tele atendimento, como a monitorização remota de pacientes com doenças crônicas e o uso crescente de algoritmos para otimizar o serviço de saúde.
Mais sobre o Summit Saúde
No Einstein, por exemplo, médicos conseguem definir mais rapidamente, com base em análise de dados, se determinado paciente precisa ser internado. Imediatamente o sistema reserva o leito, reduzindo o tempo de permanência na unidade e melhorando a experiência do paciente.
Outro exemplo de aplicação prática ocorre nos centros cirúrgicos. Segundo Sidney Klajner, o agendamento online em uma plataforma permite que a inteligência artificial organize a utilização das vagas de acordo com o perfil do profissional e da cirurgia, de forma a ter cada vez menos ociosidade.
“Registramos um aumento de três a quatro agendamentos cirúrgicos por dia com a mesma infraestrutura”, diz ele. “É importante transformar dados em algo que é palpável, melhorando a assistência, o diagnóstico, o tratamento e a experiência do paciente. Se você monitora o paciente cardíaco com dados, você sabe, através de big data, se a situação está melhorando ou piorando e pode agir preventivamente.”
Genética
Os especialistas também discutiram no terceiro dia do Summit Saúde como a genética tem influenciado tratamentos de doenças como o câncer. Segundo Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), não existe mais falar em oncologia sem análise de alteração molecular de tumores. “O tratamento é definido com base nos dados dessa análise, se tem alteração molecular, se a mutação causou a doença ou pode predizer eventuais respostas ao tratamento. Hoje eu faço uma medicina de precisão baseada nessa alteração encontrada”, diz ela.
Com base nessa análise, descobre-se se o paciente teve uma mutação germinativa, que representa um risco maior de desenvolver neoplasia, ou nos casos de pessoas já doentes, como determinadas alterações somáticas aconteceram em uma célula e levaram ao desenvolvimento da neoplasia.
Acompanhe
Os desafios das rápidas transformações observadas na área da saúde, sobretudo impulsionadas pela pandemia da covid-19, são tema do Summit Saúde e Bem-Estar 2022, organizado pelo Estadão.
O evento ocorre online, entre 17 e 21 de outubro e contará com a participação de 30 palestrantes brasileiros e estrangeiros. O evento pode ser acompanhar pelas redes do Estadão e pela página oficial.