Summit Saúde: Obesidade não é preguiça, é doença; estigma atrapalha tratamento, dizem especialistas


Profissionais de saúde também apontam que a obesidade não pode ser vista como escolha individual: ‘A raiz do problema está nos determinantes sociais de saúde’

Por Leon Ferrari

Obesidade é uma doença complexa e não pode ser vista como uma escolha individual, defendem especialistas que participaram do painel sobre a importância da alimentação saudável do Summit de Saúde e Bem-Estar, realizado pelo Estadão, nesta quinta-feira, 5. Segundo eles, o estigma, que falsamente atribui o alto peso a desleixo ou preguiça, pode desestimular o paciente a buscar um médico ou, inclusive, induzi-lo ao radicalismo alimentar, com dietas restritas e não sustentáveis.

Mais da metade (56,8%) dos brasileiros está com sobrepeso, de acordo com estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies. Até 2030, a obesidade pode chegar até 30% da população adulta no País, segundo projeção da World Obesity Federation.

Para Nágila Raquel Teixeira Damasceno, professora-associada do departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo (FSP/USP), os números são preocupantes. “Hoje, a obesidade é a base inflamatória e oxidativa que leva a uma série de alterações metabólicas e contribui para desenvolvimento de algumas das doenças que mais matam a população brasileira e mundial, que são as cardiovasculares e o câncer.”

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Para evitar os desfechos dramáticos, é preciso que o paciente busque e faça o tratamento adequadamente. Por se tratar de uma doença complexa, a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, e deve-se buscar uma mudança de estilo de vida. Pode ser necessário o uso de medicações e também o tratamento cirúrgico.

O estigma que envolve a doença, porém, pode prejudicar a procura dos pacientes e o próprio sucesso do tratamento. “Dizer para uma pessoa com obesidade ‘ah, melhora a sua alimentação e vai fazer exercício’ é a mesma coisa que dizer para alguém sangrando para evitar facas. Não quer dizer que a (mudança na) alimentação não seja importante, mas não é suficiente na maioria das vezes”, afirma Bruno Halpern, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

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O médico frisa que há razões biológicas para a dificuldade de perder peso, além das comportamentais. “Existe um estudo que mostra que, para cada quilo de peso que a gente perde, há uma redução de 30 calorias do gasto energético, e um aumento de 100 calorias na fome. Então, quando se perde peso, a fome aumenta e o gasto energético diminui. É o corpo querendo voltar pra aquele peso máximo.”

“O peso que a sociedade exerce em cima do indivíduo que está com obesidade é muito grande. Existe uma pressão no sentido de que você é o culpado, que fez escolhas erradas, que não tem energia suficiente para mudar a sua vida, quando não é tão simples assim”, aponta Nágila. Quando o indivíduo tenta seguir esse conselho do senso comum - “mude a alimentação e se exercite mais” - e isso falha, ele pode cair no radicalismo.

“Todas as dietas da moda vão levar à perda de peso, mas o que nós buscamos é uma mudança no estilo de vida, levando a uma dieta hipocalórica sustentável. E isso é um grande desafio”, afirma a professora.

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Outra falácia que precisa ser combatida é a de que a obesidade é uma escolha individual. “A raiz do problema está nos determinantes sociais de saúde, e não nas escolhas individuais”, diz Halpern.

“Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada”, afirma a nutricionista Maria Alvim, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens). “Não tenho dúvida de que o consumo exagerado de ultraprocessados é a maior causa do aumento da obesidade no mundo todo e de todas as doenças crônicas associadas (a ela).”

“Não vemos propaganda de brócolis, de arroz, feijão, de frutas, alimentos in natura ou minimamente processados”, completa.

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'Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada', afirma a nutricionista Maria Alvim  Foto: MARCELO CHELLO/ESTADÃO

Como resolver esse problema?

Para além da conscientização de que estamos falando de uma doença, os especialistas listaram outras medidas que precisam ser tomadas para enfrentar o avanço do sobrepeso e da obesidade.

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Maria defende a taxação dos ultraprocessados. “Taxar igual a gente taxa o tabaco. Podemos beber muito da água que a gente bebeu quando pensamos na política pra diminuir tabagismo.” Ela também acha necessário a proibição da venda desses produtos em ambientes específicos, como escolas.

Halpern aponta ser necessário reduzir o imposto dos produtos naturais. Maria também vê a necessidade de subsidiar a agricultura familiar.

A professora Nágila acrescenta que é preciso conscientizar a população sobre a quantidade adequada de alimentos para consumir. “Precisamos orientar as pessoas a comer um prato mais variado, um prato mais colorido e um prato menos calórico. Um prato menos calórico é fundamental.”

Obesidade é uma doença complexa e não pode ser vista como uma escolha individual, defendem especialistas que participaram do painel sobre a importância da alimentação saudável do Summit de Saúde e Bem-Estar, realizado pelo Estadão, nesta quinta-feira, 5. Segundo eles, o estigma, que falsamente atribui o alto peso a desleixo ou preguiça, pode desestimular o paciente a buscar um médico ou, inclusive, induzi-lo ao radicalismo alimentar, com dietas restritas e não sustentáveis.

Mais da metade (56,8%) dos brasileiros está com sobrepeso, de acordo com estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies. Até 2030, a obesidade pode chegar até 30% da população adulta no País, segundo projeção da World Obesity Federation.

Para Nágila Raquel Teixeira Damasceno, professora-associada do departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo (FSP/USP), os números são preocupantes. “Hoje, a obesidade é a base inflamatória e oxidativa que leva a uma série de alterações metabólicas e contribui para desenvolvimento de algumas das doenças que mais matam a população brasileira e mundial, que são as cardiovasculares e o câncer.”

Para evitar os desfechos dramáticos, é preciso que o paciente busque e faça o tratamento adequadamente. Por se tratar de uma doença complexa, a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, e deve-se buscar uma mudança de estilo de vida. Pode ser necessário o uso de medicações e também o tratamento cirúrgico.

O estigma que envolve a doença, porém, pode prejudicar a procura dos pacientes e o próprio sucesso do tratamento. “Dizer para uma pessoa com obesidade ‘ah, melhora a sua alimentação e vai fazer exercício’ é a mesma coisa que dizer para alguém sangrando para evitar facas. Não quer dizer que a (mudança na) alimentação não seja importante, mas não é suficiente na maioria das vezes”, afirma Bruno Halpern, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

O médico frisa que há razões biológicas para a dificuldade de perder peso, além das comportamentais. “Existe um estudo que mostra que, para cada quilo de peso que a gente perde, há uma redução de 30 calorias do gasto energético, e um aumento de 100 calorias na fome. Então, quando se perde peso, a fome aumenta e o gasto energético diminui. É o corpo querendo voltar pra aquele peso máximo.”

“O peso que a sociedade exerce em cima do indivíduo que está com obesidade é muito grande. Existe uma pressão no sentido de que você é o culpado, que fez escolhas erradas, que não tem energia suficiente para mudar a sua vida, quando não é tão simples assim”, aponta Nágila. Quando o indivíduo tenta seguir esse conselho do senso comum - “mude a alimentação e se exercite mais” - e isso falha, ele pode cair no radicalismo.

“Todas as dietas da moda vão levar à perda de peso, mas o que nós buscamos é uma mudança no estilo de vida, levando a uma dieta hipocalórica sustentável. E isso é um grande desafio”, afirma a professora.

Outra falácia que precisa ser combatida é a de que a obesidade é uma escolha individual. “A raiz do problema está nos determinantes sociais de saúde, e não nas escolhas individuais”, diz Halpern.

“Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada”, afirma a nutricionista Maria Alvim, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens). “Não tenho dúvida de que o consumo exagerado de ultraprocessados é a maior causa do aumento da obesidade no mundo todo e de todas as doenças crônicas associadas (a ela).”

“Não vemos propaganda de brócolis, de arroz, feijão, de frutas, alimentos in natura ou minimamente processados”, completa.

'Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada', afirma a nutricionista Maria Alvim  Foto: MARCELO CHELLO/ESTADÃO

Como resolver esse problema?

Para além da conscientização de que estamos falando de uma doença, os especialistas listaram outras medidas que precisam ser tomadas para enfrentar o avanço do sobrepeso e da obesidade.

Maria defende a taxação dos ultraprocessados. “Taxar igual a gente taxa o tabaco. Podemos beber muito da água que a gente bebeu quando pensamos na política pra diminuir tabagismo.” Ela também acha necessário a proibição da venda desses produtos em ambientes específicos, como escolas.

Halpern aponta ser necessário reduzir o imposto dos produtos naturais. Maria também vê a necessidade de subsidiar a agricultura familiar.

A professora Nágila acrescenta que é preciso conscientizar a população sobre a quantidade adequada de alimentos para consumir. “Precisamos orientar as pessoas a comer um prato mais variado, um prato mais colorido e um prato menos calórico. Um prato menos calórico é fundamental.”

Obesidade é uma doença complexa e não pode ser vista como uma escolha individual, defendem especialistas que participaram do painel sobre a importância da alimentação saudável do Summit de Saúde e Bem-Estar, realizado pelo Estadão, nesta quinta-feira, 5. Segundo eles, o estigma, que falsamente atribui o alto peso a desleixo ou preguiça, pode desestimular o paciente a buscar um médico ou, inclusive, induzi-lo ao radicalismo alimentar, com dietas restritas e não sustentáveis.

Mais da metade (56,8%) dos brasileiros está com sobrepeso, de acordo com estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies. Até 2030, a obesidade pode chegar até 30% da população adulta no País, segundo projeção da World Obesity Federation.

Para Nágila Raquel Teixeira Damasceno, professora-associada do departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo (FSP/USP), os números são preocupantes. “Hoje, a obesidade é a base inflamatória e oxidativa que leva a uma série de alterações metabólicas e contribui para desenvolvimento de algumas das doenças que mais matam a população brasileira e mundial, que são as cardiovasculares e o câncer.”

Para evitar os desfechos dramáticos, é preciso que o paciente busque e faça o tratamento adequadamente. Por se tratar de uma doença complexa, a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, e deve-se buscar uma mudança de estilo de vida. Pode ser necessário o uso de medicações e também o tratamento cirúrgico.

O estigma que envolve a doença, porém, pode prejudicar a procura dos pacientes e o próprio sucesso do tratamento. “Dizer para uma pessoa com obesidade ‘ah, melhora a sua alimentação e vai fazer exercício’ é a mesma coisa que dizer para alguém sangrando para evitar facas. Não quer dizer que a (mudança na) alimentação não seja importante, mas não é suficiente na maioria das vezes”, afirma Bruno Halpern, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

O médico frisa que há razões biológicas para a dificuldade de perder peso, além das comportamentais. “Existe um estudo que mostra que, para cada quilo de peso que a gente perde, há uma redução de 30 calorias do gasto energético, e um aumento de 100 calorias na fome. Então, quando se perde peso, a fome aumenta e o gasto energético diminui. É o corpo querendo voltar pra aquele peso máximo.”

“O peso que a sociedade exerce em cima do indivíduo que está com obesidade é muito grande. Existe uma pressão no sentido de que você é o culpado, que fez escolhas erradas, que não tem energia suficiente para mudar a sua vida, quando não é tão simples assim”, aponta Nágila. Quando o indivíduo tenta seguir esse conselho do senso comum - “mude a alimentação e se exercite mais” - e isso falha, ele pode cair no radicalismo.

“Todas as dietas da moda vão levar à perda de peso, mas o que nós buscamos é uma mudança no estilo de vida, levando a uma dieta hipocalórica sustentável. E isso é um grande desafio”, afirma a professora.

Outra falácia que precisa ser combatida é a de que a obesidade é uma escolha individual. “A raiz do problema está nos determinantes sociais de saúde, e não nas escolhas individuais”, diz Halpern.

“Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada”, afirma a nutricionista Maria Alvim, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens). “Não tenho dúvida de que o consumo exagerado de ultraprocessados é a maior causa do aumento da obesidade no mundo todo e de todas as doenças crônicas associadas (a ela).”

“Não vemos propaganda de brócolis, de arroz, feijão, de frutas, alimentos in natura ou minimamente processados”, completa.

'Somos bombardeado por estímulos para que comamos comida ultraprocessada', afirma a nutricionista Maria Alvim  Foto: MARCELO CHELLO/ESTADÃO

Como resolver esse problema?

Para além da conscientização de que estamos falando de uma doença, os especialistas listaram outras medidas que precisam ser tomadas para enfrentar o avanço do sobrepeso e da obesidade.

Maria defende a taxação dos ultraprocessados. “Taxar igual a gente taxa o tabaco. Podemos beber muito da água que a gente bebeu quando pensamos na política pra diminuir tabagismo.” Ela também acha necessário a proibição da venda desses produtos em ambientes específicos, como escolas.

Halpern aponta ser necessário reduzir o imposto dos produtos naturais. Maria também vê a necessidade de subsidiar a agricultura familiar.

A professora Nágila acrescenta que é preciso conscientizar a população sobre a quantidade adequada de alimentos para consumir. “Precisamos orientar as pessoas a comer um prato mais variado, um prato mais colorido e um prato menos calórico. Um prato menos calórico é fundamental.”

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