Neste mês, os Estados Unidos confirmaram mais um caso de gripe aviária H5N1 em humanos. Este é o quarto registro da infecção em pessoas no País. A doença foi contraída por um trabalhador rural em contato com vacas leiteiras e reforça a preocupação com a crescente disseminação do vírus entre diferentes espécies de animais, bem como o risco para humanos.
No total, desde 2022, os EUA registraram nove casos da doença em humanos. Destes, quatro ocorreram em pessoas que tiveram contato com vacas leiteiras contaminadas (todos neste ano), enquanto os outros cinco tiveram relação com a exposição dos pacientes a aves infectadas. O país já possui 48 Estados com surtos em aves e 13 com surtos em vacas.
O dado chama a atenção, pois o H5N1 circulava apenas entre aves. No entanto, nos últimos anos, o vírus tem causado surtos entre mamíferos e animais marinhos em todo o mundo. Até segunda-feira, 15, os EUA registravam, além de mais de 99 milhões de aves afetadas, também 156 rebanhos leiteiros infectados. Já no Chile, por exemplo, mais três mil leões marinhos morreram pela doença no ano passado.
Apesar disso, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) consideram baixo o risco da gripe aviária H5N1 para a saúde humana do público americano em geral.
No Brasil, não houve ainda registro de nenhum caso entre humanos, mas o País está em estado de emergência zoossanitária desde maio de 2023, em todo território nacional, em função da detecção da infecção em aves silvestres.
Para a infectologista Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a chance de a transmissão chegar aos humanos no País é baixa. “Pode ocorrer se as medidas preventivas, como o manejo correto de aves mortas infectadas, não forem tomadas. No entanto, houve treinamento intensivo e orientação para o pessoal que trabalha próximo a essas áreas [com animais silvestres infectados] no Brasil”, explica.
A principal preocupação é que o vírus possa apresentar adaptabilidade a diferentes espécies, especialmente mamíferos que podem ser biologicamente mais próximos dos seres humanos, como é o caso das vacas. “Isso é preocupante. Merece atenção, porque é assim que as pandemias começam. O vírus está se adaptando”, afirma Nancy.
Os casos em pessoas ainda são raros. No entanto, apresentam alta porcentagem de letalidade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 1º de janeiro de 2003 até maio deste ano, 889 casos de infecção humana pela gripe aviária foram relatados no mundo, em 23 países. Destes, 463 foram fatais, o que corresponde a 52%, isto é, mais da metade.
Apesar disso, ainda não há transmissão entre humanos documentada. Ou seja, os infectados contraíram diretamente dos animais e não transmitiram a doença para outras pessoas. Como informa a OMS, uma pandemia só ocorrerá quando um vírus surgir com a capacidade de causar transmissão sustentada de humano para humano, e a população humana tiver pouca ou nenhuma imunidade contra o vírus.
No entanto, isso pode não ser tão difícil para o H5N1 quanto gostaríamos. Nancy explica que, a partir do momento em que se percebeu a expansão e modificação do vírus para infectar gado leiteiro, além de mamíferos aquáticos, ficou claro que havia a possibilidade de o vírus estabelecer uma ligação com receptores que os humanos possuem.
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Além disso, os primeiros surtos da gripe aviária que despertaram atenção global ocorreram em 2003, quando o temor de uma pandemia se instalou. A expectativa, por sua vez, não se concretizou. No entanto, o cenário atual pode ser ainda mais preocupante. “Agora, a situação é diferente: o vírus está se espalhando por diferentes tipos de aves em diversos continentes e avançando para mamíferos e gado leiteiro”, explica Nancy.
Por ora, segundo a OMS, é possível dizer que haverá pandemias de influenza no futuro, mas quando, onde e como elas se espalharão é difícil de prever.
Como acontece a transmissão para humanos
Nancy explica que a transmissão do vírus H5N1 em humanos pode ocorrer de várias maneiras. As pessoas que tiveram contato com o vírus ou manipularam aves mortas, sem seguir protocolos de biossegurança, ou inalaram partículas (aerossóis) das fezes das aves, que formam uma espécie de poeira, na qual o vírus pode estar presente e ser inalado.
Já em relação às infecções a partir do contato com o gado infectado, já é sabido que o vírus pode estar presente no leite, segundo Nancy. “O leite não pasteurizado, não tratado, ou não fervido pode conter o vírus, levando a uma possível contaminação”, explica.
Outra via de transmissão é a manipulação de secreções desses animais, como sangue, fezes e secreção respiratória.
O que é a gripe aviária
A gripe aviária, também conhecida como influenza aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta principalmente aves domésticas e silvestres. Causada por cepas específicas do vírus Influenza A (IAV), ela possui forte capacidade de causar doenças.
Embora a maioria dos vírus da gripe aviária não infecte humanos, algumas cepas, como o H5N1 e o H7N9, podem ser transmitidas para pessoas através do contato direto com aves infectadas ou com seus fluidos corporais, como visto.
Os sintomas em humanos costumam ser leves e são semelhantes ao de outras infecções respiratórias. Incluem febre alta, tosse, dor de garganta, dor muscular e, em casos graves, dificuldade para respirar e pneumonia.
Além do grupo A, ao qual pertence a gripe aviária, existem outros três tipos de vírus influenza: os tipos B, C e D. Como explica a OMS, apenas os vírus influenza A e B circulam e causam epidemias sazonais de doenças em humanos, embora apenas os vírus do tipo A possam causar pandemias globais com base no conhecimento e compreensão atuais.