Tem medo de palhaço? Pode ser coulrofobia, um tipo de transtorno de ansiedade


Período marcado por festas de Halloween pode ser particularmente difícil para quem apresenta essa fobia; veja como lidar com o quadro

Por Fernanda Bassette
Atualização:

Quando falamos em palhaço, várias figuras famosas podem vir à nossa mente: desde o Ronald McDonald, o famoso Bozo do programa de televisão e o Krusty do seriado Simpsons até versões mais assustadoras, como o Coringa (DC Comics) e o Pennywise (do filme It: A coisa). Apesar de todos eles serem personagens da ficção, há quem não consiga lidar com essas imagens, a ponto de ter crises de ansiedade, chorar de desespero e até ter dificuldade para dormir. O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia.

“A coulrofobia, ou fobia de palhaço, é classificada como uma fobia específica no DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, documento que é referência para a psiquiatria mundial]. A fobia específica pode ser subclassificada de acordo com o estímulo que desencadeia o medo. Existem diferentes tipos: medo de animais, ambientes naturais (como de altura e tempestade), sangue, injeção e ferimentos. A coulrofobia é o exemplo do medo de personagens vestidos com fantasias ou trajes”, explicou o psiquiatra Álvaro Cabral Araújo, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-USP).

O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia Foto: Ljupco Smokovski/Adobe Stock
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As fobias específicas – diagnóstico que inclui a fobia de palhaço – são o tipo de transtorno de ansiedade mais comum, mas, segundo Araújo, as pessoas afetadas raramente buscam tratamento. Isso porque tentam lidar com a situação sozinhas, evitando ao máximo se expor àquela situação que causa o sofrimento. E, muitas vezes, esse afastamento já é o suficiente para a pessoa ficar bem e não precisar de acompanhamento profissional.

“A presença do estímulo fóbico (no caso, o palhaço) quase que invariavelmente provoca respostas imediatas de medo ou ansiedade, como aceleração dos batimentos cardíacos, boca seca, falta de ar, sudorese, crise de choro, imobilidade”, descreve Araújo. Mas, ainda segundo ele, é mais comum que o indivíduo busque ajuda quando o objeto ou a situação está frequentemente presente em sua vida, como a fobia de avião para alguém que precisa viajar a trabalho.

Há poucos estudos sobre a coulrofobia e as estatísticas encontradas costumam incluir todas as manifestações listadas como fobias específicas. Estudos mais recentes apontam que em comunidades nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência em um ano para fobia específica é de 8% a 12%, sendo que atinge basicamente crianças (5%) e adolescentes (16%). As taxas são mais baixas em adultos (3% a 5%), evoluindo com uma redução no número de casos em pessoas mais velhas.

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Qualquer medo é fobia?

Mas não é qualquer medo de palhaço que é classificado como fobia – para chegar ao diagnóstico de coulrofobia, é preciso que a pessoa apresente um medo desproporcional e persistente daquela figura por pelo menos seis meses, com intenso sofrimento e prejuízo na qualidade de vida, sem melhorias diante das tentativas de aproximação. “Precisamos separar o medo comum do quadro fóbico ansioso”, reforça Araújo.

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“Entre crianças, é normal sentir medo em um primeiro contato, porque ela está diante de algo desconhecido”, comenta Caroline Nóbrega de Almeida, psicóloga da pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein. Passado um tempo, é possível estabelecer aproximação gradativa com o personagem – respeitando o tempo do pequeno, sem forçá-lo.

“Mas, a partir do momento que esse medo passa a gerar um padrão de comportamento muito exacerbado, com choro intenso, coração acelerado e, às vezes, até náusea, precisamos considerar outras questões”, alerta a especialista.

O diagnóstico correto de coulrofobia leva em consideração a história do paciente e os critérios estabelecidos pelo DSM-5, que incluem o medo intenso diante da apresentação do estímulo, comportamento de evitação e esforço para não entrar em contato com a imagem do palhaço.

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A intensidade dos sintomas pode variar de acordo com o caso: algumas pessoas apresentam sintomas apenas quando se encontram com alguém vestido de palhaço, mas há aqueles que manifestam sintomas ansiosos ao verem, por exemplo, um simples desenho ou fotografia.

Existe remédio?

Não existem medicamentos eficazes para o tratamento das fobias específicas, embora alguns fármacos possam ajudar no controle dos sintomas.

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Segundo Araújo, o tratamento mais efetivo é a psicoterapia, e a técnica usada é a da terapia de exposição, em que a pessoa vai sendo exposta gradativamente a estímulos relacionados ao medo – o objetivo é que aprenda, aos poucos, a lidar com a situação. “É uma estratégia bastante usada para pessoas que têm medo de avião”.

Segundo Araújo, o uso de medicamentos é indicado para situações muito pontuais e específicas, como antes da exposição à situação. “Na maioria das vezes, como no caso do medo de palhaço, não existem medicamentos que eliminem o medo. Sem a psicoterapia, o mais comum é que a pessoa simplesmente tente não entrar em contato com aquilo que lhe causa pavor”, diz. Vale destacar que essa estratégia de evitação não resolve o problema.

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Não há uma sazonalidade na manifestação dos sintomas, mas os especialistas ressaltam que eles podem piorar em momentos de maior exposição, como neste mês de outubro, com as festas de Halloween.

“Se a pessoa tem a fobia de palhaço, ela provavelmente não vai ao circo e não entra em contrato com essas figuras de forma cotidiana. Mas ela pode ficar mais suscetível em determinadas épocas do ano, quando a chance de ser exposta ao estímulo aparecer. Então, é provavel que durante o Halloween possa acontecer uma ‘agudização’ dos sintomas, porque a figura do palhaço está mais presente”, analisa Caroline.

Quando buscar ajuda?

Segundo a psicóloga, o sinal de alerta deve acender quando algumas tentativas de aproximação com determinada figura ou situação forem frustradas e continuarem sendo altamente prejudiciais para a pessoa. É possível tentar evitar esse desenrolar na infância.

“Na primeira vez, dá para tentar uma aproximação para que, na segunda vez, a criança já tenha memória do evento e lide com aquela situação um pouco melhor”, recomenda Caroline. “Mas, se desde a primeira tentativa for percebida uma situação extremamente desgastante e muita resistência da criança, esse é um ponto de alerta e é preciso ajuda profissional”, acrescenta.

A coulrofobia pode ser controlada, mas os especialistas não falam em cura. “Com um tratamento adequado, a pessoa pode manter o seu quadro fóbico controlado, sem sintomas, por muito tempo. Mas, infelizmente, não podemos afirmar que a fobia com certeza nunca mais retornará”, finalizou Araújo.

Quando falamos em palhaço, várias figuras famosas podem vir à nossa mente: desde o Ronald McDonald, o famoso Bozo do programa de televisão e o Krusty do seriado Simpsons até versões mais assustadoras, como o Coringa (DC Comics) e o Pennywise (do filme It: A coisa). Apesar de todos eles serem personagens da ficção, há quem não consiga lidar com essas imagens, a ponto de ter crises de ansiedade, chorar de desespero e até ter dificuldade para dormir. O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia.

“A coulrofobia, ou fobia de palhaço, é classificada como uma fobia específica no DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, documento que é referência para a psiquiatria mundial]. A fobia específica pode ser subclassificada de acordo com o estímulo que desencadeia o medo. Existem diferentes tipos: medo de animais, ambientes naturais (como de altura e tempestade), sangue, injeção e ferimentos. A coulrofobia é o exemplo do medo de personagens vestidos com fantasias ou trajes”, explicou o psiquiatra Álvaro Cabral Araújo, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-USP).

O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia Foto: Ljupco Smokovski/Adobe Stock

As fobias específicas – diagnóstico que inclui a fobia de palhaço – são o tipo de transtorno de ansiedade mais comum, mas, segundo Araújo, as pessoas afetadas raramente buscam tratamento. Isso porque tentam lidar com a situação sozinhas, evitando ao máximo se expor àquela situação que causa o sofrimento. E, muitas vezes, esse afastamento já é o suficiente para a pessoa ficar bem e não precisar de acompanhamento profissional.

“A presença do estímulo fóbico (no caso, o palhaço) quase que invariavelmente provoca respostas imediatas de medo ou ansiedade, como aceleração dos batimentos cardíacos, boca seca, falta de ar, sudorese, crise de choro, imobilidade”, descreve Araújo. Mas, ainda segundo ele, é mais comum que o indivíduo busque ajuda quando o objeto ou a situação está frequentemente presente em sua vida, como a fobia de avião para alguém que precisa viajar a trabalho.

Há poucos estudos sobre a coulrofobia e as estatísticas encontradas costumam incluir todas as manifestações listadas como fobias específicas. Estudos mais recentes apontam que em comunidades nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência em um ano para fobia específica é de 8% a 12%, sendo que atinge basicamente crianças (5%) e adolescentes (16%). As taxas são mais baixas em adultos (3% a 5%), evoluindo com uma redução no número de casos em pessoas mais velhas.

Qualquer medo é fobia?

Mas não é qualquer medo de palhaço que é classificado como fobia – para chegar ao diagnóstico de coulrofobia, é preciso que a pessoa apresente um medo desproporcional e persistente daquela figura por pelo menos seis meses, com intenso sofrimento e prejuízo na qualidade de vida, sem melhorias diante das tentativas de aproximação. “Precisamos separar o medo comum do quadro fóbico ansioso”, reforça Araújo.

“Entre crianças, é normal sentir medo em um primeiro contato, porque ela está diante de algo desconhecido”, comenta Caroline Nóbrega de Almeida, psicóloga da pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein. Passado um tempo, é possível estabelecer aproximação gradativa com o personagem – respeitando o tempo do pequeno, sem forçá-lo.

“Mas, a partir do momento que esse medo passa a gerar um padrão de comportamento muito exacerbado, com choro intenso, coração acelerado e, às vezes, até náusea, precisamos considerar outras questões”, alerta a especialista.

O diagnóstico correto de coulrofobia leva em consideração a história do paciente e os critérios estabelecidos pelo DSM-5, que incluem o medo intenso diante da apresentação do estímulo, comportamento de evitação e esforço para não entrar em contato com a imagem do palhaço.

A intensidade dos sintomas pode variar de acordo com o caso: algumas pessoas apresentam sintomas apenas quando se encontram com alguém vestido de palhaço, mas há aqueles que manifestam sintomas ansiosos ao verem, por exemplo, um simples desenho ou fotografia.

Existe remédio?

Não existem medicamentos eficazes para o tratamento das fobias específicas, embora alguns fármacos possam ajudar no controle dos sintomas.

Segundo Araújo, o tratamento mais efetivo é a psicoterapia, e a técnica usada é a da terapia de exposição, em que a pessoa vai sendo exposta gradativamente a estímulos relacionados ao medo – o objetivo é que aprenda, aos poucos, a lidar com a situação. “É uma estratégia bastante usada para pessoas que têm medo de avião”.

Segundo Araújo, o uso de medicamentos é indicado para situações muito pontuais e específicas, como antes da exposição à situação. “Na maioria das vezes, como no caso do medo de palhaço, não existem medicamentos que eliminem o medo. Sem a psicoterapia, o mais comum é que a pessoa simplesmente tente não entrar em contato com aquilo que lhe causa pavor”, diz. Vale destacar que essa estratégia de evitação não resolve o problema.

Não há uma sazonalidade na manifestação dos sintomas, mas os especialistas ressaltam que eles podem piorar em momentos de maior exposição, como neste mês de outubro, com as festas de Halloween.

“Se a pessoa tem a fobia de palhaço, ela provavelmente não vai ao circo e não entra em contrato com essas figuras de forma cotidiana. Mas ela pode ficar mais suscetível em determinadas épocas do ano, quando a chance de ser exposta ao estímulo aparecer. Então, é provavel que durante o Halloween possa acontecer uma ‘agudização’ dos sintomas, porque a figura do palhaço está mais presente”, analisa Caroline.

Quando buscar ajuda?

Segundo a psicóloga, o sinal de alerta deve acender quando algumas tentativas de aproximação com determinada figura ou situação forem frustradas e continuarem sendo altamente prejudiciais para a pessoa. É possível tentar evitar esse desenrolar na infância.

“Na primeira vez, dá para tentar uma aproximação para que, na segunda vez, a criança já tenha memória do evento e lide com aquela situação um pouco melhor”, recomenda Caroline. “Mas, se desde a primeira tentativa for percebida uma situação extremamente desgastante e muita resistência da criança, esse é um ponto de alerta e é preciso ajuda profissional”, acrescenta.

A coulrofobia pode ser controlada, mas os especialistas não falam em cura. “Com um tratamento adequado, a pessoa pode manter o seu quadro fóbico controlado, sem sintomas, por muito tempo. Mas, infelizmente, não podemos afirmar que a fobia com certeza nunca mais retornará”, finalizou Araújo.

Quando falamos em palhaço, várias figuras famosas podem vir à nossa mente: desde o Ronald McDonald, o famoso Bozo do programa de televisão e o Krusty do seriado Simpsons até versões mais assustadoras, como o Coringa (DC Comics) e o Pennywise (do filme It: A coisa). Apesar de todos eles serem personagens da ficção, há quem não consiga lidar com essas imagens, a ponto de ter crises de ansiedade, chorar de desespero e até ter dificuldade para dormir. O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia.

“A coulrofobia, ou fobia de palhaço, é classificada como uma fobia específica no DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, documento que é referência para a psiquiatria mundial]. A fobia específica pode ser subclassificada de acordo com o estímulo que desencadeia o medo. Existem diferentes tipos: medo de animais, ambientes naturais (como de altura e tempestade), sangue, injeção e ferimentos. A coulrofobia é o exemplo do medo de personagens vestidos com fantasias ou trajes”, explicou o psiquiatra Álvaro Cabral Araújo, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-USP).

O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia Foto: Ljupco Smokovski/Adobe Stock

As fobias específicas – diagnóstico que inclui a fobia de palhaço – são o tipo de transtorno de ansiedade mais comum, mas, segundo Araújo, as pessoas afetadas raramente buscam tratamento. Isso porque tentam lidar com a situação sozinhas, evitando ao máximo se expor àquela situação que causa o sofrimento. E, muitas vezes, esse afastamento já é o suficiente para a pessoa ficar bem e não precisar de acompanhamento profissional.

“A presença do estímulo fóbico (no caso, o palhaço) quase que invariavelmente provoca respostas imediatas de medo ou ansiedade, como aceleração dos batimentos cardíacos, boca seca, falta de ar, sudorese, crise de choro, imobilidade”, descreve Araújo. Mas, ainda segundo ele, é mais comum que o indivíduo busque ajuda quando o objeto ou a situação está frequentemente presente em sua vida, como a fobia de avião para alguém que precisa viajar a trabalho.

Há poucos estudos sobre a coulrofobia e as estatísticas encontradas costumam incluir todas as manifestações listadas como fobias específicas. Estudos mais recentes apontam que em comunidades nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência em um ano para fobia específica é de 8% a 12%, sendo que atinge basicamente crianças (5%) e adolescentes (16%). As taxas são mais baixas em adultos (3% a 5%), evoluindo com uma redução no número de casos em pessoas mais velhas.

Qualquer medo é fobia?

Mas não é qualquer medo de palhaço que é classificado como fobia – para chegar ao diagnóstico de coulrofobia, é preciso que a pessoa apresente um medo desproporcional e persistente daquela figura por pelo menos seis meses, com intenso sofrimento e prejuízo na qualidade de vida, sem melhorias diante das tentativas de aproximação. “Precisamos separar o medo comum do quadro fóbico ansioso”, reforça Araújo.

“Entre crianças, é normal sentir medo em um primeiro contato, porque ela está diante de algo desconhecido”, comenta Caroline Nóbrega de Almeida, psicóloga da pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein. Passado um tempo, é possível estabelecer aproximação gradativa com o personagem – respeitando o tempo do pequeno, sem forçá-lo.

“Mas, a partir do momento que esse medo passa a gerar um padrão de comportamento muito exacerbado, com choro intenso, coração acelerado e, às vezes, até náusea, precisamos considerar outras questões”, alerta a especialista.

O diagnóstico correto de coulrofobia leva em consideração a história do paciente e os critérios estabelecidos pelo DSM-5, que incluem o medo intenso diante da apresentação do estímulo, comportamento de evitação e esforço para não entrar em contato com a imagem do palhaço.

A intensidade dos sintomas pode variar de acordo com o caso: algumas pessoas apresentam sintomas apenas quando se encontram com alguém vestido de palhaço, mas há aqueles que manifestam sintomas ansiosos ao verem, por exemplo, um simples desenho ou fotografia.

Existe remédio?

Não existem medicamentos eficazes para o tratamento das fobias específicas, embora alguns fármacos possam ajudar no controle dos sintomas.

Segundo Araújo, o tratamento mais efetivo é a psicoterapia, e a técnica usada é a da terapia de exposição, em que a pessoa vai sendo exposta gradativamente a estímulos relacionados ao medo – o objetivo é que aprenda, aos poucos, a lidar com a situação. “É uma estratégia bastante usada para pessoas que têm medo de avião”.

Segundo Araújo, o uso de medicamentos é indicado para situações muito pontuais e específicas, como antes da exposição à situação. “Na maioria das vezes, como no caso do medo de palhaço, não existem medicamentos que eliminem o medo. Sem a psicoterapia, o mais comum é que a pessoa simplesmente tente não entrar em contato com aquilo que lhe causa pavor”, diz. Vale destacar que essa estratégia de evitação não resolve o problema.

Não há uma sazonalidade na manifestação dos sintomas, mas os especialistas ressaltam que eles podem piorar em momentos de maior exposição, como neste mês de outubro, com as festas de Halloween.

“Se a pessoa tem a fobia de palhaço, ela provavelmente não vai ao circo e não entra em contrato com essas figuras de forma cotidiana. Mas ela pode ficar mais suscetível em determinadas épocas do ano, quando a chance de ser exposta ao estímulo aparecer. Então, é provavel que durante o Halloween possa acontecer uma ‘agudização’ dos sintomas, porque a figura do palhaço está mais presente”, analisa Caroline.

Quando buscar ajuda?

Segundo a psicóloga, o sinal de alerta deve acender quando algumas tentativas de aproximação com determinada figura ou situação forem frustradas e continuarem sendo altamente prejudiciais para a pessoa. É possível tentar evitar esse desenrolar na infância.

“Na primeira vez, dá para tentar uma aproximação para que, na segunda vez, a criança já tenha memória do evento e lide com aquela situação um pouco melhor”, recomenda Caroline. “Mas, se desde a primeira tentativa for percebida uma situação extremamente desgastante e muita resistência da criança, esse é um ponto de alerta e é preciso ajuda profissional”, acrescenta.

A coulrofobia pode ser controlada, mas os especialistas não falam em cura. “Com um tratamento adequado, a pessoa pode manter o seu quadro fóbico controlado, sem sintomas, por muito tempo. Mas, infelizmente, não podemos afirmar que a fobia com certeza nunca mais retornará”, finalizou Araújo.

Quando falamos em palhaço, várias figuras famosas podem vir à nossa mente: desde o Ronald McDonald, o famoso Bozo do programa de televisão e o Krusty do seriado Simpsons até versões mais assustadoras, como o Coringa (DC Comics) e o Pennywise (do filme It: A coisa). Apesar de todos eles serem personagens da ficção, há quem não consiga lidar com essas imagens, a ponto de ter crises de ansiedade, chorar de desespero e até ter dificuldade para dormir. O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia.

“A coulrofobia, ou fobia de palhaço, é classificada como uma fobia específica no DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, documento que é referência para a psiquiatria mundial]. A fobia específica pode ser subclassificada de acordo com o estímulo que desencadeia o medo. Existem diferentes tipos: medo de animais, ambientes naturais (como de altura e tempestade), sangue, injeção e ferimentos. A coulrofobia é o exemplo do medo de personagens vestidos com fantasias ou trajes”, explicou o psiquiatra Álvaro Cabral Araújo, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-USP).

O medo excessivo de palhaços é um transtorno mental chamado coulrofobia Foto: Ljupco Smokovski/Adobe Stock

As fobias específicas – diagnóstico que inclui a fobia de palhaço – são o tipo de transtorno de ansiedade mais comum, mas, segundo Araújo, as pessoas afetadas raramente buscam tratamento. Isso porque tentam lidar com a situação sozinhas, evitando ao máximo se expor àquela situação que causa o sofrimento. E, muitas vezes, esse afastamento já é o suficiente para a pessoa ficar bem e não precisar de acompanhamento profissional.

“A presença do estímulo fóbico (no caso, o palhaço) quase que invariavelmente provoca respostas imediatas de medo ou ansiedade, como aceleração dos batimentos cardíacos, boca seca, falta de ar, sudorese, crise de choro, imobilidade”, descreve Araújo. Mas, ainda segundo ele, é mais comum que o indivíduo busque ajuda quando o objeto ou a situação está frequentemente presente em sua vida, como a fobia de avião para alguém que precisa viajar a trabalho.

Há poucos estudos sobre a coulrofobia e as estatísticas encontradas costumam incluir todas as manifestações listadas como fobias específicas. Estudos mais recentes apontam que em comunidades nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência em um ano para fobia específica é de 8% a 12%, sendo que atinge basicamente crianças (5%) e adolescentes (16%). As taxas são mais baixas em adultos (3% a 5%), evoluindo com uma redução no número de casos em pessoas mais velhas.

Qualquer medo é fobia?

Mas não é qualquer medo de palhaço que é classificado como fobia – para chegar ao diagnóstico de coulrofobia, é preciso que a pessoa apresente um medo desproporcional e persistente daquela figura por pelo menos seis meses, com intenso sofrimento e prejuízo na qualidade de vida, sem melhorias diante das tentativas de aproximação. “Precisamos separar o medo comum do quadro fóbico ansioso”, reforça Araújo.

“Entre crianças, é normal sentir medo em um primeiro contato, porque ela está diante de algo desconhecido”, comenta Caroline Nóbrega de Almeida, psicóloga da pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein. Passado um tempo, é possível estabelecer aproximação gradativa com o personagem – respeitando o tempo do pequeno, sem forçá-lo.

“Mas, a partir do momento que esse medo passa a gerar um padrão de comportamento muito exacerbado, com choro intenso, coração acelerado e, às vezes, até náusea, precisamos considerar outras questões”, alerta a especialista.

O diagnóstico correto de coulrofobia leva em consideração a história do paciente e os critérios estabelecidos pelo DSM-5, que incluem o medo intenso diante da apresentação do estímulo, comportamento de evitação e esforço para não entrar em contato com a imagem do palhaço.

A intensidade dos sintomas pode variar de acordo com o caso: algumas pessoas apresentam sintomas apenas quando se encontram com alguém vestido de palhaço, mas há aqueles que manifestam sintomas ansiosos ao verem, por exemplo, um simples desenho ou fotografia.

Existe remédio?

Não existem medicamentos eficazes para o tratamento das fobias específicas, embora alguns fármacos possam ajudar no controle dos sintomas.

Segundo Araújo, o tratamento mais efetivo é a psicoterapia, e a técnica usada é a da terapia de exposição, em que a pessoa vai sendo exposta gradativamente a estímulos relacionados ao medo – o objetivo é que aprenda, aos poucos, a lidar com a situação. “É uma estratégia bastante usada para pessoas que têm medo de avião”.

Segundo Araújo, o uso de medicamentos é indicado para situações muito pontuais e específicas, como antes da exposição à situação. “Na maioria das vezes, como no caso do medo de palhaço, não existem medicamentos que eliminem o medo. Sem a psicoterapia, o mais comum é que a pessoa simplesmente tente não entrar em contato com aquilo que lhe causa pavor”, diz. Vale destacar que essa estratégia de evitação não resolve o problema.

Não há uma sazonalidade na manifestação dos sintomas, mas os especialistas ressaltam que eles podem piorar em momentos de maior exposição, como neste mês de outubro, com as festas de Halloween.

“Se a pessoa tem a fobia de palhaço, ela provavelmente não vai ao circo e não entra em contrato com essas figuras de forma cotidiana. Mas ela pode ficar mais suscetível em determinadas épocas do ano, quando a chance de ser exposta ao estímulo aparecer. Então, é provavel que durante o Halloween possa acontecer uma ‘agudização’ dos sintomas, porque a figura do palhaço está mais presente”, analisa Caroline.

Quando buscar ajuda?

Segundo a psicóloga, o sinal de alerta deve acender quando algumas tentativas de aproximação com determinada figura ou situação forem frustradas e continuarem sendo altamente prejudiciais para a pessoa. É possível tentar evitar esse desenrolar na infância.

“Na primeira vez, dá para tentar uma aproximação para que, na segunda vez, a criança já tenha memória do evento e lide com aquela situação um pouco melhor”, recomenda Caroline. “Mas, se desde a primeira tentativa for percebida uma situação extremamente desgastante e muita resistência da criança, esse é um ponto de alerta e é preciso ajuda profissional”, acrescenta.

A coulrofobia pode ser controlada, mas os especialistas não falam em cura. “Com um tratamento adequado, a pessoa pode manter o seu quadro fóbico controlado, sem sintomas, por muito tempo. Mas, infelizmente, não podemos afirmar que a fobia com certeza nunca mais retornará”, finalizou Araújo.

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