Um blog sobre câncer de mama

Opinião|O que acontece com o corpo quando acabam as sessões de quimioterapia?


Passar pela quimioterapia em meio ao tratamento de câncer de mama é como encarar uma nova adolescência. O humor muda, o cabelo muda, e a gente parece não ter mais o controle de uma coisa que, até então, parecia tão conhecido: nosso corpo.

Por Adriana Moreira

Depois de 16 sessões de quimio (quatro vermelhas e 12 brancas), me despedi das aplicações no início de outubro. De abril, quando fiz a primeira sessão (aquela da ressaca de tequila), até outubro, meu corpo sofreu diversas modificações. Além da perda dos cabelos - o efeito mais visível e conhecido -, perdi também os cílios, sobrancelhas, pelos do corpo e hormônios. Mas o processo não foi só de perdas: também ganhei peso e uma cara de lua cheia graças ao inchaço causado pelos corticoides.

Claro, isso faz parte de um processo de cura que abraçamos com toda boa vontade, mas ufa! Que alegria é botar um fim em tudo isso. Mas e agora? Como o corpo vai reagir a mais essa mudança?

Para o Dr. Abraão Dornellas, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a primeira grande transformação que ocorre nas pacientes é psicológica. "Quando a paciente começa a quimio, parece que se prepara para uma guerra. Quando termina, ela se sente meio sem significado. É nesse momento que muitas mulheres percebem de fato o que está acontecendo e cai a ficha", explica ele.

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Micro cabelo dois meses depois do fim da quimioterapia. Foto Valéria Gonçalvez  

O corpo em recuperação "Do ponto de vista biológico, o corpo de fato está saindo de fato de uma guerra", diz ele. Assim, ele tende a se recuperar naturalmente, pouco a pouco, do bombardeio de medicações dos últimos meses. "Você não tem mais a fadiga, o cansaço que a quimio impõe em seu corpo. As pacientes estão com mais disposição para atividade física."

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No meu caso, não sei se o efeito foi psicológico ou não, mas o fato é que ao fim da semana em que encerrei minhas sessões já me sentia mais disposta. Voltei a andar de bicicleta, não no ritmo de antes do câncer, logicamente. Mas com uma segurança e disposição que há meses não faziam parte do meu dia a dia.

Segundo o Dr. Abraão, é nesse período que a paciente entende que tem uma doença crônica. "A ideia central do pós-quimio é encontrar o modelo que se adequa aos próximos cinco anos, o que aprendi e como vou levar minha vida daqui para frente", explica. "É um momento de readaptação a um novo normal, que vai acompanhar essas pacientes por pelo menos mais 5 anos."

A boa notícia é: no geral, o corpo tende a retornar ao estado anterior, ainda que lentamente. "Ele tem um mecanismo de fênix, vamos dizer assim. Ele vai voltar ao status basal. Claro que existem situações pontuais, tem mulheres que vão precisar de um acompanhamento de coração, por exemplo. Mas esse é um momento muito positivo", diz o oncologista.

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Cabelos e unhas Além dessas transformações psicológicas, as físicas, claro, são as mais esperadas. A começar pelo cabelo, que começa a dar as caras - mas, como eu disse aqui, no próprio ritmo, e não naquele que desejamos. Só agora, dois meses depois do fim da quimioterapia, tenho, digamos, um "semicabelo". Tem suas falhas, mas já uso até uma escovinha de bebê para organizar os fios.

Segundo o Dr. Franklin Pimentel, mastologista e oncologista e consultor da Libbs Farmacêutica, é muito comum que o cabelo retorne em uma textura diferente da original. "Entre um e dois meses ele volta a crescer, volta a ativar o folículo. Mas vai ter uma mudança. A quimio vermelha é muito tóxica para o cabelo", explica ele.

As unhas, que podem ficar fracas e quebradiças, se recuperam. Eu não tive problema algum durante o processo todo, mas na última semana uma das unhas da mão caiu (não dói não, pode desfazer a cara de aflição).

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Inchaço e ganho de peso O inchaço também começa a passar. Meu rosto de lua cheia murchou (a pança ainda não, mas não é culpa só de corticoide, vamos ser honestas). De acordo com o Dr. Abraão, ganhar peso durante a quimio é normal - há um fator psicológico, no qual nos permitimos alguns "agrados" a mais, e também do paladar, que fica alterado e muitas vezes restringe a ingestão de certos alimentos.

Quando as sessões acabam, o corpo começa a voltar ao normal - mas a um novo normal. Segundo o Dr. Franklin Pimentel, a quimioterapia modifica o corpo, razão pela qual cuidar da alimentação e fazer exercícios físicos se torna algo ainda mais importante no dia a dia. "Em algumas mulheres, a fraqueza fica residual. A gente nunca sabe quem vai ter. Por isso comportamentos como boa alimentação e atividade física são tão importantes", diz.

"Comer demais é muito ruim para o câncer de mama e aumenta o risco de recidivas", explica o Dr. Abraão. Segundo ele, a reeducação alimentar no pós-câncer é primordial nesse novo normal da paciente. "Tem de ser um normal mais saudável",explica.

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Sistema reprodutor A quimioterapia compromete os ovários, de maneira que a primeira coisa que o médico costuma perguntar antes do tratamento é: "Você pretender ter filhos?". Caso a resposta seja sim, o passo seguinte é fazer o congelamento dos óvulos.

Deixar de menstruar é uma consequência comum durante a quimioterapia. Mas nem sempre a menstruação volta no fim do tratamento. Segundo o Dr. Franklin, depois dos 40 anos, 90% das mulheres não volta a menstruar; antes dos 35, a maioria volta; entre 35 e 40, os índices são equilibrados.

Parei de menstruar no terceiro mês de quimios. E pior do que sangrar todo mês, acredite se quiser, é não sangrar. A menopausa forçada pelo tratamento traz calores insuportáveis, os chamados fogachos. Inclusive, escrevo este texto ardendo em brasa (mas esse é assunto para outro post).

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Acabou tudo? Nada disso: na verdade, é só o começo. Para cada mulher, o fim da quimio pode representar uma fase diferente do tratamento. No meu caso, que já tinha feito cirurgia para retirar o nódulo antes, o fim da quimio representou o início da radioterapia. Para outras mulheres, pode ser a hora de encarar a cirurgia, por exemplo. Ou começar a tomar um remédio de uso contínuo. Como sempre repito aqui: cada caso é um caso.

A quimio pode afetar cada corpo de uma maneira. Uma delas é o comprometimento cardíaco, segundo explica o Dr. Franklin. Muitas vezes, ele não aparece imediatamente ao final da quimio, razão pela qual é preciso ficar atenta a qualquer alteração física e, se for o caso,  procurar seu médico.

Um novo corpo Neste momento, estou tentando a me adaptar ao meu novo corpo. Não apenas na aparência, mas nas sensações. Sentar no chão é certeza de precisar de ajuda pra levantar: me sinto enferrujada. A disposição não é a mesma de antes - sinto mais sono, as ladeiras parecem maiores, as escadas também.

Fruto dos meses de quimio ou dos meses sem atividade física? (afinal, mesmo com a recomendação dos médicos, eu não conseguia fazer muito mais do que uma caminhada leve nos meses de tratamento.) Talvez seja uma combinação de ambos.

Muita coisa aconteceu nesses meses. Se você não é a mesma por dentro, é natural que seu corpo também não seja o mesmo por fora. Uma coisa, porém, é certa: a gente se adapta.

Depois de 16 sessões de quimio (quatro vermelhas e 12 brancas), me despedi das aplicações no início de outubro. De abril, quando fiz a primeira sessão (aquela da ressaca de tequila), até outubro, meu corpo sofreu diversas modificações. Além da perda dos cabelos - o efeito mais visível e conhecido -, perdi também os cílios, sobrancelhas, pelos do corpo e hormônios. Mas o processo não foi só de perdas: também ganhei peso e uma cara de lua cheia graças ao inchaço causado pelos corticoides.

Claro, isso faz parte de um processo de cura que abraçamos com toda boa vontade, mas ufa! Que alegria é botar um fim em tudo isso. Mas e agora? Como o corpo vai reagir a mais essa mudança?

Para o Dr. Abraão Dornellas, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a primeira grande transformação que ocorre nas pacientes é psicológica. "Quando a paciente começa a quimio, parece que se prepara para uma guerra. Quando termina, ela se sente meio sem significado. É nesse momento que muitas mulheres percebem de fato o que está acontecendo e cai a ficha", explica ele.

Micro cabelo dois meses depois do fim da quimioterapia. Foto Valéria Gonçalvez  

O corpo em recuperação "Do ponto de vista biológico, o corpo de fato está saindo de fato de uma guerra", diz ele. Assim, ele tende a se recuperar naturalmente, pouco a pouco, do bombardeio de medicações dos últimos meses. "Você não tem mais a fadiga, o cansaço que a quimio impõe em seu corpo. As pacientes estão com mais disposição para atividade física."

No meu caso, não sei se o efeito foi psicológico ou não, mas o fato é que ao fim da semana em que encerrei minhas sessões já me sentia mais disposta. Voltei a andar de bicicleta, não no ritmo de antes do câncer, logicamente. Mas com uma segurança e disposição que há meses não faziam parte do meu dia a dia.

Segundo o Dr. Abraão, é nesse período que a paciente entende que tem uma doença crônica. "A ideia central do pós-quimio é encontrar o modelo que se adequa aos próximos cinco anos, o que aprendi e como vou levar minha vida daqui para frente", explica. "É um momento de readaptação a um novo normal, que vai acompanhar essas pacientes por pelo menos mais 5 anos."

A boa notícia é: no geral, o corpo tende a retornar ao estado anterior, ainda que lentamente. "Ele tem um mecanismo de fênix, vamos dizer assim. Ele vai voltar ao status basal. Claro que existem situações pontuais, tem mulheres que vão precisar de um acompanhamento de coração, por exemplo. Mas esse é um momento muito positivo", diz o oncologista.

Cabelos e unhas Além dessas transformações psicológicas, as físicas, claro, são as mais esperadas. A começar pelo cabelo, que começa a dar as caras - mas, como eu disse aqui, no próprio ritmo, e não naquele que desejamos. Só agora, dois meses depois do fim da quimioterapia, tenho, digamos, um "semicabelo". Tem suas falhas, mas já uso até uma escovinha de bebê para organizar os fios.

Segundo o Dr. Franklin Pimentel, mastologista e oncologista e consultor da Libbs Farmacêutica, é muito comum que o cabelo retorne em uma textura diferente da original. "Entre um e dois meses ele volta a crescer, volta a ativar o folículo. Mas vai ter uma mudança. A quimio vermelha é muito tóxica para o cabelo", explica ele.

As unhas, que podem ficar fracas e quebradiças, se recuperam. Eu não tive problema algum durante o processo todo, mas na última semana uma das unhas da mão caiu (não dói não, pode desfazer a cara de aflição).

Inchaço e ganho de peso O inchaço também começa a passar. Meu rosto de lua cheia murchou (a pança ainda não, mas não é culpa só de corticoide, vamos ser honestas). De acordo com o Dr. Abraão, ganhar peso durante a quimio é normal - há um fator psicológico, no qual nos permitimos alguns "agrados" a mais, e também do paladar, que fica alterado e muitas vezes restringe a ingestão de certos alimentos.

Quando as sessões acabam, o corpo começa a voltar ao normal - mas a um novo normal. Segundo o Dr. Franklin Pimentel, a quimioterapia modifica o corpo, razão pela qual cuidar da alimentação e fazer exercícios físicos se torna algo ainda mais importante no dia a dia. "Em algumas mulheres, a fraqueza fica residual. A gente nunca sabe quem vai ter. Por isso comportamentos como boa alimentação e atividade física são tão importantes", diz.

"Comer demais é muito ruim para o câncer de mama e aumenta o risco de recidivas", explica o Dr. Abraão. Segundo ele, a reeducação alimentar no pós-câncer é primordial nesse novo normal da paciente. "Tem de ser um normal mais saudável",explica.

Sistema reprodutor A quimioterapia compromete os ovários, de maneira que a primeira coisa que o médico costuma perguntar antes do tratamento é: "Você pretender ter filhos?". Caso a resposta seja sim, o passo seguinte é fazer o congelamento dos óvulos.

Deixar de menstruar é uma consequência comum durante a quimioterapia. Mas nem sempre a menstruação volta no fim do tratamento. Segundo o Dr. Franklin, depois dos 40 anos, 90% das mulheres não volta a menstruar; antes dos 35, a maioria volta; entre 35 e 40, os índices são equilibrados.

Parei de menstruar no terceiro mês de quimios. E pior do que sangrar todo mês, acredite se quiser, é não sangrar. A menopausa forçada pelo tratamento traz calores insuportáveis, os chamados fogachos. Inclusive, escrevo este texto ardendo em brasa (mas esse é assunto para outro post).

Acabou tudo? Nada disso: na verdade, é só o começo. Para cada mulher, o fim da quimio pode representar uma fase diferente do tratamento. No meu caso, que já tinha feito cirurgia para retirar o nódulo antes, o fim da quimio representou o início da radioterapia. Para outras mulheres, pode ser a hora de encarar a cirurgia, por exemplo. Ou começar a tomar um remédio de uso contínuo. Como sempre repito aqui: cada caso é um caso.

A quimio pode afetar cada corpo de uma maneira. Uma delas é o comprometimento cardíaco, segundo explica o Dr. Franklin. Muitas vezes, ele não aparece imediatamente ao final da quimio, razão pela qual é preciso ficar atenta a qualquer alteração física e, se for o caso,  procurar seu médico.

Um novo corpo Neste momento, estou tentando a me adaptar ao meu novo corpo. Não apenas na aparência, mas nas sensações. Sentar no chão é certeza de precisar de ajuda pra levantar: me sinto enferrujada. A disposição não é a mesma de antes - sinto mais sono, as ladeiras parecem maiores, as escadas também.

Fruto dos meses de quimio ou dos meses sem atividade física? (afinal, mesmo com a recomendação dos médicos, eu não conseguia fazer muito mais do que uma caminhada leve nos meses de tratamento.) Talvez seja uma combinação de ambos.

Muita coisa aconteceu nesses meses. Se você não é a mesma por dentro, é natural que seu corpo também não seja o mesmo por fora. Uma coisa, porém, é certa: a gente se adapta.

Depois de 16 sessões de quimio (quatro vermelhas e 12 brancas), me despedi das aplicações no início de outubro. De abril, quando fiz a primeira sessão (aquela da ressaca de tequila), até outubro, meu corpo sofreu diversas modificações. Além da perda dos cabelos - o efeito mais visível e conhecido -, perdi também os cílios, sobrancelhas, pelos do corpo e hormônios. Mas o processo não foi só de perdas: também ganhei peso e uma cara de lua cheia graças ao inchaço causado pelos corticoides.

Claro, isso faz parte de um processo de cura que abraçamos com toda boa vontade, mas ufa! Que alegria é botar um fim em tudo isso. Mas e agora? Como o corpo vai reagir a mais essa mudança?

Para o Dr. Abraão Dornellas, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a primeira grande transformação que ocorre nas pacientes é psicológica. "Quando a paciente começa a quimio, parece que se prepara para uma guerra. Quando termina, ela se sente meio sem significado. É nesse momento que muitas mulheres percebem de fato o que está acontecendo e cai a ficha", explica ele.

Micro cabelo dois meses depois do fim da quimioterapia. Foto Valéria Gonçalvez  

O corpo em recuperação "Do ponto de vista biológico, o corpo de fato está saindo de fato de uma guerra", diz ele. Assim, ele tende a se recuperar naturalmente, pouco a pouco, do bombardeio de medicações dos últimos meses. "Você não tem mais a fadiga, o cansaço que a quimio impõe em seu corpo. As pacientes estão com mais disposição para atividade física."

No meu caso, não sei se o efeito foi psicológico ou não, mas o fato é que ao fim da semana em que encerrei minhas sessões já me sentia mais disposta. Voltei a andar de bicicleta, não no ritmo de antes do câncer, logicamente. Mas com uma segurança e disposição que há meses não faziam parte do meu dia a dia.

Segundo o Dr. Abraão, é nesse período que a paciente entende que tem uma doença crônica. "A ideia central do pós-quimio é encontrar o modelo que se adequa aos próximos cinco anos, o que aprendi e como vou levar minha vida daqui para frente", explica. "É um momento de readaptação a um novo normal, que vai acompanhar essas pacientes por pelo menos mais 5 anos."

A boa notícia é: no geral, o corpo tende a retornar ao estado anterior, ainda que lentamente. "Ele tem um mecanismo de fênix, vamos dizer assim. Ele vai voltar ao status basal. Claro que existem situações pontuais, tem mulheres que vão precisar de um acompanhamento de coração, por exemplo. Mas esse é um momento muito positivo", diz o oncologista.

Cabelos e unhas Além dessas transformações psicológicas, as físicas, claro, são as mais esperadas. A começar pelo cabelo, que começa a dar as caras - mas, como eu disse aqui, no próprio ritmo, e não naquele que desejamos. Só agora, dois meses depois do fim da quimioterapia, tenho, digamos, um "semicabelo". Tem suas falhas, mas já uso até uma escovinha de bebê para organizar os fios.

Segundo o Dr. Franklin Pimentel, mastologista e oncologista e consultor da Libbs Farmacêutica, é muito comum que o cabelo retorne em uma textura diferente da original. "Entre um e dois meses ele volta a crescer, volta a ativar o folículo. Mas vai ter uma mudança. A quimio vermelha é muito tóxica para o cabelo", explica ele.

As unhas, que podem ficar fracas e quebradiças, se recuperam. Eu não tive problema algum durante o processo todo, mas na última semana uma das unhas da mão caiu (não dói não, pode desfazer a cara de aflição).

Inchaço e ganho de peso O inchaço também começa a passar. Meu rosto de lua cheia murchou (a pança ainda não, mas não é culpa só de corticoide, vamos ser honestas). De acordo com o Dr. Abraão, ganhar peso durante a quimio é normal - há um fator psicológico, no qual nos permitimos alguns "agrados" a mais, e também do paladar, que fica alterado e muitas vezes restringe a ingestão de certos alimentos.

Quando as sessões acabam, o corpo começa a voltar ao normal - mas a um novo normal. Segundo o Dr. Franklin Pimentel, a quimioterapia modifica o corpo, razão pela qual cuidar da alimentação e fazer exercícios físicos se torna algo ainda mais importante no dia a dia. "Em algumas mulheres, a fraqueza fica residual. A gente nunca sabe quem vai ter. Por isso comportamentos como boa alimentação e atividade física são tão importantes", diz.

"Comer demais é muito ruim para o câncer de mama e aumenta o risco de recidivas", explica o Dr. Abraão. Segundo ele, a reeducação alimentar no pós-câncer é primordial nesse novo normal da paciente. "Tem de ser um normal mais saudável",explica.

Sistema reprodutor A quimioterapia compromete os ovários, de maneira que a primeira coisa que o médico costuma perguntar antes do tratamento é: "Você pretender ter filhos?". Caso a resposta seja sim, o passo seguinte é fazer o congelamento dos óvulos.

Deixar de menstruar é uma consequência comum durante a quimioterapia. Mas nem sempre a menstruação volta no fim do tratamento. Segundo o Dr. Franklin, depois dos 40 anos, 90% das mulheres não volta a menstruar; antes dos 35, a maioria volta; entre 35 e 40, os índices são equilibrados.

Parei de menstruar no terceiro mês de quimios. E pior do que sangrar todo mês, acredite se quiser, é não sangrar. A menopausa forçada pelo tratamento traz calores insuportáveis, os chamados fogachos. Inclusive, escrevo este texto ardendo em brasa (mas esse é assunto para outro post).

Acabou tudo? Nada disso: na verdade, é só o começo. Para cada mulher, o fim da quimio pode representar uma fase diferente do tratamento. No meu caso, que já tinha feito cirurgia para retirar o nódulo antes, o fim da quimio representou o início da radioterapia. Para outras mulheres, pode ser a hora de encarar a cirurgia, por exemplo. Ou começar a tomar um remédio de uso contínuo. Como sempre repito aqui: cada caso é um caso.

A quimio pode afetar cada corpo de uma maneira. Uma delas é o comprometimento cardíaco, segundo explica o Dr. Franklin. Muitas vezes, ele não aparece imediatamente ao final da quimio, razão pela qual é preciso ficar atenta a qualquer alteração física e, se for o caso,  procurar seu médico.

Um novo corpo Neste momento, estou tentando a me adaptar ao meu novo corpo. Não apenas na aparência, mas nas sensações. Sentar no chão é certeza de precisar de ajuda pra levantar: me sinto enferrujada. A disposição não é a mesma de antes - sinto mais sono, as ladeiras parecem maiores, as escadas também.

Fruto dos meses de quimio ou dos meses sem atividade física? (afinal, mesmo com a recomendação dos médicos, eu não conseguia fazer muito mais do que uma caminhada leve nos meses de tratamento.) Talvez seja uma combinação de ambos.

Muita coisa aconteceu nesses meses. Se você não é a mesma por dentro, é natural que seu corpo também não seja o mesmo por fora. Uma coisa, porém, é certa: a gente se adapta.

Opinião por Adriana Moreira

Jornalista especializada em Turismo e Bem-Estar. Colunista da Rádio Eldorado. Apaixonada por carnaval. Diagnosticada com câncer de mama em 2021, passou por quimio e radioterapia, e hoje segue se cuidando e fazendo exames regularmente

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