Conforme envelhecemos, nossas células sofrem alterações que prejudicam o seu funcionamento correto. Essas estruturas também podem ser danificadas por acidentes, o que exige bastante empenho na recuperação do indivíduo. A boa notícia é que já existem alternativas para ajudar na plena recuperação desses tecidos – elas são a base da chamada medicina regenerativa.
Essa área chamou muito a atenção na época em que o jogador Neymar sofreu uma lesão no pé direito. É que o problema foi tratado com a ajuda de elementos presentes no sangue do próprio atleta – prática baseada justamente na medicina regenerativa. A ideia era acelerar a cicatrização e a calcificação do osso.
Embora esse ramo da medicina seja relativamente novo, seus preceitos já estão sendo aplicados em muitas outras áreas, como oftalmologia, cardiologia, ginecologia, reprodução humana, urologia e até na dermatologia.
“A medicina regenerativa utiliza métodos para que as células do próprio paciente sejam ativadas ou se multipliquem, fazendo com que o tecido chegue mais perto da sua atividade normal”, resume a dermatologista Mônica Aribi, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e membro internacional da European Academy of Dermatology and Venerology e International Fellow da Academia Americana de Dermatologia.
Aplicação na dermatologia
As terapias regenerativas vêm ganhando cada vez mais espaço nessa área. “Elas são usadas há muitos anos fora do Brasil. Em alguns países da Ásia, por exemplo, se faz mais regeneração do que aplicação de toxina botulínica e preenchimento”, conta a dermatologista Denise Barcelos, do Rio de Janeiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
Ainda de acordo com a médica, as terapias regenerativas voltadas à dermatologia chegaram por aqui com mais força em meados de 2023. Algumas técnicas, porém, ainda não são liberadas em território brasileiro – só como parte de pesquisas.
Mas as expectativas são elevadas. Elas podem ser aplicadas tanto na área estética como no tratamento de doenças dermatológicas, a exemplo de alopecias (a popular calvície é um exemplo), psoríase e dermatites. Também mostram benefícios na cicatrização de feridas e de queimaduras.
Perspectivas na estética
“A diferença entre essas terapias e os tratamentos já existentes é que elas não só previnem e combatem os sinais do envelhecimento, como flacidez, manchas e rugas, mas também recuperam todas as funções e estruturas das células para que elas voltem a funcionar biologicamente da mesma forma que faziam quando eram jovens”, define Denise.
A dermatologia regenerativa engloba procedimentos que promovem o rejuvenescimento, a otimização da hidratação, o aumento da elasticidade, a melhora dos contornos faciais e corporais e a amenização de estrias e de cicatrizes, como as de acne.
“Os tratamentos envolvem técnicas conhecidas e consagradas há muitos anos, como lasers, toxina botulínica e bioestimuladores de colágeno, além de novidades, a exemplo do plasma rico em plaquetas”, descreve a dermatologista Joana D´Arc Diniz, diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética no Rio de Janeiro e membro da Union Internationale de Médecine Esthétique (UIME).
O plasma rico em plaquetas consiste em centrifugar o sangue do paciente para que ele fique com maior concentração de plaquetas. Depois, ele é injetado de volta, especificamente nos locais que precisam ser tratados.
As plaquetas exercem papel significativo em diversas fases de reparação tecidual, como incitação do crescimento de novos vasos sanguíneos, produção de colágeno, combate à oxidação e estimulação da reprodução e do crescimento celular. Mas, vale reforçar que, até o momento, essa prática só está liberada para pesquisas e o Conselho Federal de Medicina proíbe sua utilização em consultórios.
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O que já é realidade no Brasil
Outra substância que tem chamado a atenção nessa área é o PDRN. “Trata-se de um derivado do DNA do salmão purificado e esterilizado que chegou mais recentemente ao Brasil e é utilizado para facilitar a entrega de moléculas terapêuticas em locais específicos da pele”, conta Joana D´Arc. Segundo a médica, o intuito é regenerá-la e estimular a produção de colágeno.
A médica destaca ainda os exossomos, minúsculas bolhas secretadas pelas células que são ricas em proteínas, fatores de crescimento e carga de RNA. Elas penetram profundamente nos tecidos, facilitando a comunicação e o transporte de substâncias entre as células. “Os exossomos podem ser utilizados como veículos de administração de medicamentos, permitindo que atinjam alvos específicos sem danificar células saudáveis”, conta. “Também podem atuar na aceleração da cicatrização dos tecidos, no combate de processos inflamatórios, na diminuição da pigmentação da cútis, na prevenção e no tratamento do envelhecimento e na reparação cutânea”, acrescenta a especialista.
As terapias regenerativas englobam ainda a possibilidade de usar microenxertos de pele retirados do próprio paciente – a técnica é uma boa opção para o tratamento de calvície. “O médico colhe três pedaços de uma região do couro cabeludo onde os fios são mais fortes e menos propensos a cair. Na sequência, coloca-os em uma máquina que faz a maceração dos tecidos e mistura-os com soro fisiológico estéril, gerando uma solução rica em células-tronco dos cabelos. Essa solução é, então, injetada na área que está sofrendo com a queda”, detalha Mônica Aribi.
Como se vê, a medicina regenerativa abre um campo de possibilidades na dermatologia – inclusive, é considerada um divisor de águas no que diz respeito à melhora da saúde da pele e dos cabelos. Mas, como se trata de uma área muito nova, é especialmente importante buscar médicos com boa formação e credibilidade para realizar os procedimentos, que devem utilizar produtos aprovados pela Anvisa.