Teve sensação ruim ao meditar? Estado alterado de consciência pode ser desagradável, mostra estudo


Experiências mentais incomuns, como se desconectar do mundo real, podem ser desconfortáveis para algumas pessoas

Por Layla Shasta
Atualização:

Cientistas dos Estados Unidos suspeitavam de que experiências mentais ‘incomuns’, como ver luzes e se desconectar do mundo real (sem o uso de substâncias psicoativas), podiam estar mais frequentes na população em geral, já que práticas conhecidas como contemplativas – a exemplo de meditação, ioga e técnicas de respiração – são cada vez mais populares. Em uma pesquisa com mais de 3 mil pessoas, e publicada na revista científica Mindfulness, eles descobriram que 45% dos participantes relataram já ter vivenciado estados de alteração da consciência – mudanças na forma como os sujeitos sentem e veem a si e o mundo ao redor. Acontece que nem todos gostaram da experiência.

Mulher pratica ioga ao ar livre; vivenciar estados de alteração da consciência é comum Foto: sunti/Adobe Stock

Os cientistas chamaram essas experiências de “fenômenos emergentes”. Para a pesquisa, eles enviaram questionários a grupos distintos de pessoas, inclusive céticos, perguntando se já haviam tido experiências que pareciam ser milagrosas, mágicas ou psíquicas. As mais relatadas pelos entrevistados foram:

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  • Desrealização (impressão de irrealidade das coisas e pessoas presentes): 17%
  • Experiências unitivas (sentimentos de fusão com tudo ao redor, transcendendo a separação entre o eu e o mundo externo): 15%
  • Emoções extáticas (estado de êxtase): 15%
  • Percepções vívidas: 11%
  • Mudanças em tamanho percebido: 10%
  • Calor corporal ou eletricidade: 9%
  • Experiências fora do corpo: 8%
  • Percepção de luzes não físicas: 5%

Já é sabido que o estado padrão da consciência humana, chamado de “vigília”, pode ser afetado por diversos fatores. Meditação e ioga são alguns exemplos, mas ainda é possível citar sono, hipnose e até música. Da mesma forma, a lista de sensações vinculadas a essas experiências também é diversa. Se sentir invadido por uma profunda e repentina paz já é algo diferente da vigília. As alterações do estado da consciência englobam, ainda, desde a perda da noção de tempo à fuga da realidade e visões.

O objetivo do estudo foi entender justamente a prevalência e os efeitos dessas experiências entre a população em geral. Daí a hipótese dos pesquisadores de que, talvez, esses fenômenos estejam mais comuns atualmente, graças à popularidade das práticas que levam a estados de contemplação.

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Apesar disso, essa perspectiva ainda não foi confirmada. Como destaca Elisa Kozasa, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, não dá para tirar esse tipo de conclusão, pois o estudo não menciona se os casos são mais frequentes em meditadores ou não. “O que ele menciona no texto é que, atualmente, há mais pessoas praticando ioga e meditação. No entanto, o estudo não permite estabelecer uma causalidade entre essas práticas e os fenômenos emergentes. O trabalho sequer faz uma comparação entre praticantes e não praticantes”, explica.

Ainda segundo ela, “estados alterados de consciência podem acontecer enquanto a pessoa lê um livro, observa a natureza ou em outros contextos. Podem ocorrer também sob estresse intenso, capaz de causar despersonalização, uma sensação de irrealidade”.

Contudo, como práticas contemplativas de fato podem levar a alterações no estado da consciência, não estão isentas de provocar esse tipo de sensação. Por isso, não se sinta mal se você já enfrentou dificuldades (como ficar ansioso) ao experimentar uma dessas atividades.

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Por que experiências ruins podem acontecer

Embora a maioria das pessoas tenha relatado bons impactos após momentos de alteração no estado de consciência, como melhora do humor, tranquilidade profunda e redução do medo da morte, 13% delas alegaram ter sentido sofrimento moderado ou maior, como sensação de tristeza e repulsa pela vida ou ideia de que o mundo é apenas um sonho. Ainda, 1,1% chegou a alegar sofrimento com risco de vida.

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No caso das práticas contemplativas, Elisa explica que elas podem fazer com que uma pessoa reflita mais profundamente sobre sua vida, por exemplo. Segundo ela, esse processo de introspecção pode revelar aspectos negativos que precisam ser trabalhados, seja no cotidiano ou com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Ela destaca que todos nós passamos por momentos difíceis e que essas técnicas podem fazer com que sentimentos e as questões internas venham à tona, oferecendo uma chance de lidar com eles de forma consciente. É aí onde está a diferença positiva entre as alterações da consciência promovidas por essas práticas em relação aos outros fenômenos emergentes: com elas, você está deliberadamente buscando um estado alterado, ao contrário de experiências espontâneas.

Mas a pesquisadora observa que experiências negativas durante a meditação geralmente ocorrem em pessoas sem prática regular e que participam de retiros intensivos sem preparação adequada.

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Na pesquisa norte-americana, a associação entre diagnóstico de doença mental e maior sofrimento foi significativa. Para aqueles que experimentaram sofrimento moderadamente intenso, gravemente intenso ou com risco de vida intenso, 57% relataram diagnóstico de doença mental e 43%, não.

Para evitar experiências negativas em práticas de meditação, Elisa alerta que pessoas com sofrimento mental significativo ou diagnóstico de transtornos mentais devem buscar orientação de um profissional de saúde mental antes de iniciar as práticas contemplativas. Em protocolos de meditação para depressão, por exemplo, a atividade é utilizada para prevenir recaídas, e não durante episódios depressivos agudos.

Cientistas dos Estados Unidos suspeitavam de que experiências mentais ‘incomuns’, como ver luzes e se desconectar do mundo real (sem o uso de substâncias psicoativas), podiam estar mais frequentes na população em geral, já que práticas conhecidas como contemplativas – a exemplo de meditação, ioga e técnicas de respiração – são cada vez mais populares. Em uma pesquisa com mais de 3 mil pessoas, e publicada na revista científica Mindfulness, eles descobriram que 45% dos participantes relataram já ter vivenciado estados de alteração da consciência – mudanças na forma como os sujeitos sentem e veem a si e o mundo ao redor. Acontece que nem todos gostaram da experiência.

Mulher pratica ioga ao ar livre; vivenciar estados de alteração da consciência é comum Foto: sunti/Adobe Stock

Os cientistas chamaram essas experiências de “fenômenos emergentes”. Para a pesquisa, eles enviaram questionários a grupos distintos de pessoas, inclusive céticos, perguntando se já haviam tido experiências que pareciam ser milagrosas, mágicas ou psíquicas. As mais relatadas pelos entrevistados foram:

  • Desrealização (impressão de irrealidade das coisas e pessoas presentes): 17%
  • Experiências unitivas (sentimentos de fusão com tudo ao redor, transcendendo a separação entre o eu e o mundo externo): 15%
  • Emoções extáticas (estado de êxtase): 15%
  • Percepções vívidas: 11%
  • Mudanças em tamanho percebido: 10%
  • Calor corporal ou eletricidade: 9%
  • Experiências fora do corpo: 8%
  • Percepção de luzes não físicas: 5%

Já é sabido que o estado padrão da consciência humana, chamado de “vigília”, pode ser afetado por diversos fatores. Meditação e ioga são alguns exemplos, mas ainda é possível citar sono, hipnose e até música. Da mesma forma, a lista de sensações vinculadas a essas experiências também é diversa. Se sentir invadido por uma profunda e repentina paz já é algo diferente da vigília. As alterações do estado da consciência englobam, ainda, desde a perda da noção de tempo à fuga da realidade e visões.

O objetivo do estudo foi entender justamente a prevalência e os efeitos dessas experiências entre a população em geral. Daí a hipótese dos pesquisadores de que, talvez, esses fenômenos estejam mais comuns atualmente, graças à popularidade das práticas que levam a estados de contemplação.

Apesar disso, essa perspectiva ainda não foi confirmada. Como destaca Elisa Kozasa, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, não dá para tirar esse tipo de conclusão, pois o estudo não menciona se os casos são mais frequentes em meditadores ou não. “O que ele menciona no texto é que, atualmente, há mais pessoas praticando ioga e meditação. No entanto, o estudo não permite estabelecer uma causalidade entre essas práticas e os fenômenos emergentes. O trabalho sequer faz uma comparação entre praticantes e não praticantes”, explica.

Ainda segundo ela, “estados alterados de consciência podem acontecer enquanto a pessoa lê um livro, observa a natureza ou em outros contextos. Podem ocorrer também sob estresse intenso, capaz de causar despersonalização, uma sensação de irrealidade”.

Contudo, como práticas contemplativas de fato podem levar a alterações no estado da consciência, não estão isentas de provocar esse tipo de sensação. Por isso, não se sinta mal se você já enfrentou dificuldades (como ficar ansioso) ao experimentar uma dessas atividades.

Por que experiências ruins podem acontecer

Embora a maioria das pessoas tenha relatado bons impactos após momentos de alteração no estado de consciência, como melhora do humor, tranquilidade profunda e redução do medo da morte, 13% delas alegaram ter sentido sofrimento moderado ou maior, como sensação de tristeza e repulsa pela vida ou ideia de que o mundo é apenas um sonho. Ainda, 1,1% chegou a alegar sofrimento com risco de vida.

No caso das práticas contemplativas, Elisa explica que elas podem fazer com que uma pessoa reflita mais profundamente sobre sua vida, por exemplo. Segundo ela, esse processo de introspecção pode revelar aspectos negativos que precisam ser trabalhados, seja no cotidiano ou com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Ela destaca que todos nós passamos por momentos difíceis e que essas técnicas podem fazer com que sentimentos e as questões internas venham à tona, oferecendo uma chance de lidar com eles de forma consciente. É aí onde está a diferença positiva entre as alterações da consciência promovidas por essas práticas em relação aos outros fenômenos emergentes: com elas, você está deliberadamente buscando um estado alterado, ao contrário de experiências espontâneas.

Mas a pesquisadora observa que experiências negativas durante a meditação geralmente ocorrem em pessoas sem prática regular e que participam de retiros intensivos sem preparação adequada.

Na pesquisa norte-americana, a associação entre diagnóstico de doença mental e maior sofrimento foi significativa. Para aqueles que experimentaram sofrimento moderadamente intenso, gravemente intenso ou com risco de vida intenso, 57% relataram diagnóstico de doença mental e 43%, não.

Para evitar experiências negativas em práticas de meditação, Elisa alerta que pessoas com sofrimento mental significativo ou diagnóstico de transtornos mentais devem buscar orientação de um profissional de saúde mental antes de iniciar as práticas contemplativas. Em protocolos de meditação para depressão, por exemplo, a atividade é utilizada para prevenir recaídas, e não durante episódios depressivos agudos.

Cientistas dos Estados Unidos suspeitavam de que experiências mentais ‘incomuns’, como ver luzes e se desconectar do mundo real (sem o uso de substâncias psicoativas), podiam estar mais frequentes na população em geral, já que práticas conhecidas como contemplativas – a exemplo de meditação, ioga e técnicas de respiração – são cada vez mais populares. Em uma pesquisa com mais de 3 mil pessoas, e publicada na revista científica Mindfulness, eles descobriram que 45% dos participantes relataram já ter vivenciado estados de alteração da consciência – mudanças na forma como os sujeitos sentem e veem a si e o mundo ao redor. Acontece que nem todos gostaram da experiência.

Mulher pratica ioga ao ar livre; vivenciar estados de alteração da consciência é comum Foto: sunti/Adobe Stock

Os cientistas chamaram essas experiências de “fenômenos emergentes”. Para a pesquisa, eles enviaram questionários a grupos distintos de pessoas, inclusive céticos, perguntando se já haviam tido experiências que pareciam ser milagrosas, mágicas ou psíquicas. As mais relatadas pelos entrevistados foram:

  • Desrealização (impressão de irrealidade das coisas e pessoas presentes): 17%
  • Experiências unitivas (sentimentos de fusão com tudo ao redor, transcendendo a separação entre o eu e o mundo externo): 15%
  • Emoções extáticas (estado de êxtase): 15%
  • Percepções vívidas: 11%
  • Mudanças em tamanho percebido: 10%
  • Calor corporal ou eletricidade: 9%
  • Experiências fora do corpo: 8%
  • Percepção de luzes não físicas: 5%

Já é sabido que o estado padrão da consciência humana, chamado de “vigília”, pode ser afetado por diversos fatores. Meditação e ioga são alguns exemplos, mas ainda é possível citar sono, hipnose e até música. Da mesma forma, a lista de sensações vinculadas a essas experiências também é diversa. Se sentir invadido por uma profunda e repentina paz já é algo diferente da vigília. As alterações do estado da consciência englobam, ainda, desde a perda da noção de tempo à fuga da realidade e visões.

O objetivo do estudo foi entender justamente a prevalência e os efeitos dessas experiências entre a população em geral. Daí a hipótese dos pesquisadores de que, talvez, esses fenômenos estejam mais comuns atualmente, graças à popularidade das práticas que levam a estados de contemplação.

Apesar disso, essa perspectiva ainda não foi confirmada. Como destaca Elisa Kozasa, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, não dá para tirar esse tipo de conclusão, pois o estudo não menciona se os casos são mais frequentes em meditadores ou não. “O que ele menciona no texto é que, atualmente, há mais pessoas praticando ioga e meditação. No entanto, o estudo não permite estabelecer uma causalidade entre essas práticas e os fenômenos emergentes. O trabalho sequer faz uma comparação entre praticantes e não praticantes”, explica.

Ainda segundo ela, “estados alterados de consciência podem acontecer enquanto a pessoa lê um livro, observa a natureza ou em outros contextos. Podem ocorrer também sob estresse intenso, capaz de causar despersonalização, uma sensação de irrealidade”.

Contudo, como práticas contemplativas de fato podem levar a alterações no estado da consciência, não estão isentas de provocar esse tipo de sensação. Por isso, não se sinta mal se você já enfrentou dificuldades (como ficar ansioso) ao experimentar uma dessas atividades.

Por que experiências ruins podem acontecer

Embora a maioria das pessoas tenha relatado bons impactos após momentos de alteração no estado de consciência, como melhora do humor, tranquilidade profunda e redução do medo da morte, 13% delas alegaram ter sentido sofrimento moderado ou maior, como sensação de tristeza e repulsa pela vida ou ideia de que o mundo é apenas um sonho. Ainda, 1,1% chegou a alegar sofrimento com risco de vida.

No caso das práticas contemplativas, Elisa explica que elas podem fazer com que uma pessoa reflita mais profundamente sobre sua vida, por exemplo. Segundo ela, esse processo de introspecção pode revelar aspectos negativos que precisam ser trabalhados, seja no cotidiano ou com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Ela destaca que todos nós passamos por momentos difíceis e que essas técnicas podem fazer com que sentimentos e as questões internas venham à tona, oferecendo uma chance de lidar com eles de forma consciente. É aí onde está a diferença positiva entre as alterações da consciência promovidas por essas práticas em relação aos outros fenômenos emergentes: com elas, você está deliberadamente buscando um estado alterado, ao contrário de experiências espontâneas.

Mas a pesquisadora observa que experiências negativas durante a meditação geralmente ocorrem em pessoas sem prática regular e que participam de retiros intensivos sem preparação adequada.

Na pesquisa norte-americana, a associação entre diagnóstico de doença mental e maior sofrimento foi significativa. Para aqueles que experimentaram sofrimento moderadamente intenso, gravemente intenso ou com risco de vida intenso, 57% relataram diagnóstico de doença mental e 43%, não.

Para evitar experiências negativas em práticas de meditação, Elisa alerta que pessoas com sofrimento mental significativo ou diagnóstico de transtornos mentais devem buscar orientação de um profissional de saúde mental antes de iniciar as práticas contemplativas. Em protocolos de meditação para depressão, por exemplo, a atividade é utilizada para prevenir recaídas, e não durante episódios depressivos agudos.

Cientistas dos Estados Unidos suspeitavam de que experiências mentais ‘incomuns’, como ver luzes e se desconectar do mundo real (sem o uso de substâncias psicoativas), podiam estar mais frequentes na população em geral, já que práticas conhecidas como contemplativas – a exemplo de meditação, ioga e técnicas de respiração – são cada vez mais populares. Em uma pesquisa com mais de 3 mil pessoas, e publicada na revista científica Mindfulness, eles descobriram que 45% dos participantes relataram já ter vivenciado estados de alteração da consciência – mudanças na forma como os sujeitos sentem e veem a si e o mundo ao redor. Acontece que nem todos gostaram da experiência.

Mulher pratica ioga ao ar livre; vivenciar estados de alteração da consciência é comum Foto: sunti/Adobe Stock

Os cientistas chamaram essas experiências de “fenômenos emergentes”. Para a pesquisa, eles enviaram questionários a grupos distintos de pessoas, inclusive céticos, perguntando se já haviam tido experiências que pareciam ser milagrosas, mágicas ou psíquicas. As mais relatadas pelos entrevistados foram:

  • Desrealização (impressão de irrealidade das coisas e pessoas presentes): 17%
  • Experiências unitivas (sentimentos de fusão com tudo ao redor, transcendendo a separação entre o eu e o mundo externo): 15%
  • Emoções extáticas (estado de êxtase): 15%
  • Percepções vívidas: 11%
  • Mudanças em tamanho percebido: 10%
  • Calor corporal ou eletricidade: 9%
  • Experiências fora do corpo: 8%
  • Percepção de luzes não físicas: 5%

Já é sabido que o estado padrão da consciência humana, chamado de “vigília”, pode ser afetado por diversos fatores. Meditação e ioga são alguns exemplos, mas ainda é possível citar sono, hipnose e até música. Da mesma forma, a lista de sensações vinculadas a essas experiências também é diversa. Se sentir invadido por uma profunda e repentina paz já é algo diferente da vigília. As alterações do estado da consciência englobam, ainda, desde a perda da noção de tempo à fuga da realidade e visões.

O objetivo do estudo foi entender justamente a prevalência e os efeitos dessas experiências entre a população em geral. Daí a hipótese dos pesquisadores de que, talvez, esses fenômenos estejam mais comuns atualmente, graças à popularidade das práticas que levam a estados de contemplação.

Apesar disso, essa perspectiva ainda não foi confirmada. Como destaca Elisa Kozasa, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, não dá para tirar esse tipo de conclusão, pois o estudo não menciona se os casos são mais frequentes em meditadores ou não. “O que ele menciona no texto é que, atualmente, há mais pessoas praticando ioga e meditação. No entanto, o estudo não permite estabelecer uma causalidade entre essas práticas e os fenômenos emergentes. O trabalho sequer faz uma comparação entre praticantes e não praticantes”, explica.

Ainda segundo ela, “estados alterados de consciência podem acontecer enquanto a pessoa lê um livro, observa a natureza ou em outros contextos. Podem ocorrer também sob estresse intenso, capaz de causar despersonalização, uma sensação de irrealidade”.

Contudo, como práticas contemplativas de fato podem levar a alterações no estado da consciência, não estão isentas de provocar esse tipo de sensação. Por isso, não se sinta mal se você já enfrentou dificuldades (como ficar ansioso) ao experimentar uma dessas atividades.

Por que experiências ruins podem acontecer

Embora a maioria das pessoas tenha relatado bons impactos após momentos de alteração no estado de consciência, como melhora do humor, tranquilidade profunda e redução do medo da morte, 13% delas alegaram ter sentido sofrimento moderado ou maior, como sensação de tristeza e repulsa pela vida ou ideia de que o mundo é apenas um sonho. Ainda, 1,1% chegou a alegar sofrimento com risco de vida.

No caso das práticas contemplativas, Elisa explica que elas podem fazer com que uma pessoa reflita mais profundamente sobre sua vida, por exemplo. Segundo ela, esse processo de introspecção pode revelar aspectos negativos que precisam ser trabalhados, seja no cotidiano ou com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Ela destaca que todos nós passamos por momentos difíceis e que essas técnicas podem fazer com que sentimentos e as questões internas venham à tona, oferecendo uma chance de lidar com eles de forma consciente. É aí onde está a diferença positiva entre as alterações da consciência promovidas por essas práticas em relação aos outros fenômenos emergentes: com elas, você está deliberadamente buscando um estado alterado, ao contrário de experiências espontâneas.

Mas a pesquisadora observa que experiências negativas durante a meditação geralmente ocorrem em pessoas sem prática regular e que participam de retiros intensivos sem preparação adequada.

Na pesquisa norte-americana, a associação entre diagnóstico de doença mental e maior sofrimento foi significativa. Para aqueles que experimentaram sofrimento moderadamente intenso, gravemente intenso ou com risco de vida intenso, 57% relataram diagnóstico de doença mental e 43%, não.

Para evitar experiências negativas em práticas de meditação, Elisa alerta que pessoas com sofrimento mental significativo ou diagnóstico de transtornos mentais devem buscar orientação de um profissional de saúde mental antes de iniciar as práticas contemplativas. Em protocolos de meditação para depressão, por exemplo, a atividade é utilizada para prevenir recaídas, e não durante episódios depressivos agudos.

Cientistas dos Estados Unidos suspeitavam de que experiências mentais ‘incomuns’, como ver luzes e se desconectar do mundo real (sem o uso de substâncias psicoativas), podiam estar mais frequentes na população em geral, já que práticas conhecidas como contemplativas – a exemplo de meditação, ioga e técnicas de respiração – são cada vez mais populares. Em uma pesquisa com mais de 3 mil pessoas, e publicada na revista científica Mindfulness, eles descobriram que 45% dos participantes relataram já ter vivenciado estados de alteração da consciência – mudanças na forma como os sujeitos sentem e veem a si e o mundo ao redor. Acontece que nem todos gostaram da experiência.

Mulher pratica ioga ao ar livre; vivenciar estados de alteração da consciência é comum Foto: sunti/Adobe Stock

Os cientistas chamaram essas experiências de “fenômenos emergentes”. Para a pesquisa, eles enviaram questionários a grupos distintos de pessoas, inclusive céticos, perguntando se já haviam tido experiências que pareciam ser milagrosas, mágicas ou psíquicas. As mais relatadas pelos entrevistados foram:

  • Desrealização (impressão de irrealidade das coisas e pessoas presentes): 17%
  • Experiências unitivas (sentimentos de fusão com tudo ao redor, transcendendo a separação entre o eu e o mundo externo): 15%
  • Emoções extáticas (estado de êxtase): 15%
  • Percepções vívidas: 11%
  • Mudanças em tamanho percebido: 10%
  • Calor corporal ou eletricidade: 9%
  • Experiências fora do corpo: 8%
  • Percepção de luzes não físicas: 5%

Já é sabido que o estado padrão da consciência humana, chamado de “vigília”, pode ser afetado por diversos fatores. Meditação e ioga são alguns exemplos, mas ainda é possível citar sono, hipnose e até música. Da mesma forma, a lista de sensações vinculadas a essas experiências também é diversa. Se sentir invadido por uma profunda e repentina paz já é algo diferente da vigília. As alterações do estado da consciência englobam, ainda, desde a perda da noção de tempo à fuga da realidade e visões.

O objetivo do estudo foi entender justamente a prevalência e os efeitos dessas experiências entre a população em geral. Daí a hipótese dos pesquisadores de que, talvez, esses fenômenos estejam mais comuns atualmente, graças à popularidade das práticas que levam a estados de contemplação.

Apesar disso, essa perspectiva ainda não foi confirmada. Como destaca Elisa Kozasa, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, não dá para tirar esse tipo de conclusão, pois o estudo não menciona se os casos são mais frequentes em meditadores ou não. “O que ele menciona no texto é que, atualmente, há mais pessoas praticando ioga e meditação. No entanto, o estudo não permite estabelecer uma causalidade entre essas práticas e os fenômenos emergentes. O trabalho sequer faz uma comparação entre praticantes e não praticantes”, explica.

Ainda segundo ela, “estados alterados de consciência podem acontecer enquanto a pessoa lê um livro, observa a natureza ou em outros contextos. Podem ocorrer também sob estresse intenso, capaz de causar despersonalização, uma sensação de irrealidade”.

Contudo, como práticas contemplativas de fato podem levar a alterações no estado da consciência, não estão isentas de provocar esse tipo de sensação. Por isso, não se sinta mal se você já enfrentou dificuldades (como ficar ansioso) ao experimentar uma dessas atividades.

Por que experiências ruins podem acontecer

Embora a maioria das pessoas tenha relatado bons impactos após momentos de alteração no estado de consciência, como melhora do humor, tranquilidade profunda e redução do medo da morte, 13% delas alegaram ter sentido sofrimento moderado ou maior, como sensação de tristeza e repulsa pela vida ou ideia de que o mundo é apenas um sonho. Ainda, 1,1% chegou a alegar sofrimento com risco de vida.

No caso das práticas contemplativas, Elisa explica que elas podem fazer com que uma pessoa reflita mais profundamente sobre sua vida, por exemplo. Segundo ela, esse processo de introspecção pode revelar aspectos negativos que precisam ser trabalhados, seja no cotidiano ou com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Ela destaca que todos nós passamos por momentos difíceis e que essas técnicas podem fazer com que sentimentos e as questões internas venham à tona, oferecendo uma chance de lidar com eles de forma consciente. É aí onde está a diferença positiva entre as alterações da consciência promovidas por essas práticas em relação aos outros fenômenos emergentes: com elas, você está deliberadamente buscando um estado alterado, ao contrário de experiências espontâneas.

Mas a pesquisadora observa que experiências negativas durante a meditação geralmente ocorrem em pessoas sem prática regular e que participam de retiros intensivos sem preparação adequada.

Na pesquisa norte-americana, a associação entre diagnóstico de doença mental e maior sofrimento foi significativa. Para aqueles que experimentaram sofrimento moderadamente intenso, gravemente intenso ou com risco de vida intenso, 57% relataram diagnóstico de doença mental e 43%, não.

Para evitar experiências negativas em práticas de meditação, Elisa alerta que pessoas com sofrimento mental significativo ou diagnóstico de transtornos mentais devem buscar orientação de um profissional de saúde mental antes de iniciar as práticas contemplativas. Em protocolos de meditação para depressão, por exemplo, a atividade é utilizada para prevenir recaídas, e não durante episódios depressivos agudos.

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