TikTok: Testes online de depressão e ansiedade funcionam? Entenda o que especialistas falam


Jovens compartilham avaliação sobre saúde mental nas redes sociais; especialistas alertam que instrumento mede sintoma, mas não fornece diagnóstico, e orientam buscar ajuda profissional

Por Leon Ferrari
Atualização:

Além das dancinhas e memes, um assunto sério tem ganhado destaque na plataforma de vídeos curtos TikToksaúde mental. Com músicas dramáticas e tristes - algumas entoadas pela jovem cantora americana Billie Eilish -, usuários compartilham resultados de “testes” para ansiedade, depressão e estresse feitos na web. O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao acumula quase 4 milhões de visualizações.

Funciona assim: em sites fora do TikTok, a pessoa faz o “teste” em poucos minutos - por volta de dez. O internauta apenas avalia sentenças e manifesta seu grau de concordância. A página, então, gera os resultados que vão de "normal" até “severo” para cada um dos fenômenos (depressão, ansiedade e estresse). O usuário, por meio de vídeos ou fotos, compartilha sua “ficha” na plataforma de entretenimento. As publicações alcançam milhares de visualizações e estimulam outras pessoas a fazerem o mesmo.

Usuários compartilham "teste" de saúde mental no TikTik; especialistas alertam que instrumento mensura sintomas, mas não fornece diagnóstico Foto: TikTok/Reprodução
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Psiquiatras destacam que um checklist de sintomas não faz diagnóstico, que, obrigatoriamente, depende de avaliação médica. Os especialistas veem risco de automedicação por causa do autodiagnóstico e orientam que quem suspeite vivenciar um desses quadros busque um profissional de saúde.

A maioria dos testes divulgados no TikTok se baseia na versão reduzida da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (Dass-21, em inglês). Ela é um instrumento de autorrelato (a própria pessoa se avalia) projetado para medir estados emocionais que podem indicar as três condições. O questionário foi desenvolvido por pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália, na década de 1990.

@estadao Depressão é ideia, boy? O Leon falou com especialistas sobre os testes que andam circulando aqui pelo Tik Tok... e olha, lá no fundo você já sabe a resposta né? #depressao #ansiedade #psicologia #psiquiatra #saudemental #saude #tiktoknotícias ♬ som original - Estadão

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A escala é composta por um conjunto de frases, para as quais o paciente indica seu grau de concordância - “discordo totalmente” até “concordo totalmente”, por exemplo. Na versão traduzida para o português, algumas das sentenças são: “achei difícil me acalmar”, “senti minha boca seca” e “não consegui vivenciar nenhum sentimento positivo”.

Conforme site da universidade australiana, alimentado pelo co-desenvolvedor do método, Peter Lovibond, a aplicação do teste não exige “habilidades especiais”, mas a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Psiquiatras destacam que checklist de sintomas não configura diagnóstico Foto: REUTERS/Yuriko Nakao
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A função do teste, segundo Lovibond, é “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas. De maneira geral, todos, em diferente grau, vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Tanto o Dass-42 (versão completa) quanto o Dass-21 (reduzida) foram pensados para pessoas com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados por adolescentes de 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessa faixa etária.

O psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, destaca que esse tipo de escala não foi “desenhada para fazer diagnóstico”. Elas são usadas, explica, principalmente para pesquisa (triagem de casos) ou para analisar e aprimorar tratamentos aplicados em uma população já diagnosticada.

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Por mais que a escala Dass tenha alta sensibilidade, não é isenta de gerar falsos positivos e negativos. Além disso, por se tratar de um questionário de autodeclaração, outra falha é a possibilidade de viés na resposta. “A pessoa vai pontuar mais para aquilo que lhe incomoda mais. O que não necessariamente é uma verdade que você observa naquele momento”, diz Ricardo Alberto Moreno, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do IPq.

Outra limitação é que a escala também não consegue averiguar o tempo de permanência dos sintomas, que é um critério importante para o diagnóstico. Por isso, os especialistas frisam que a consulta médica é primordial, para que não se perca nenhum detalhe do quadro do paciente.

“Uma primeira consulta psiquiátrica bem realizada demora pelo menos 60 minutos”, diz Gallucci. Por vezes, a depender da complexidade do caso, pode demorar mais de um encontro para que um diagnóstico seja fechado. “A gente tem de tirar toda a história de vida do paciente, não só a história dos sintomas atuais.”

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Moreno acrescenta que a depressão, por exemplo, tem várias formas clínicas - ou seja, os sintomas não vão ser os mesmos sempre. “É uma síndrome que tem alguns sinais e sintomas que são compartilhados em comum, mas podem ter várias causas.”

A popularização dos autodiagnósticos feitos na internet preocupa os especialistas. Eles temem que pessoas deixem de buscar ajuda - em caso de falsos negativos - e também que pacientes comecem a se automedicar, o que é bastante perigoso, advertem.

Enfrentamento da psicofobia

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Apesar dos riscos e limitações, os "testes" podem ter um lado benefíco: o de reduzir o estigma em relação aos transtornos mentais. A avaliação é do psiquiatra e colunista do Estadão, Daniel Martins De Barros. Em um vídeo em seu canal no YouTube, Barros diz que é “bom” que as pessoas compartilhem os resultados porque, segundo ele, mesmo com diagnósticos de profissionais, um grande número de pessoas com depressão não se trata por causa do preconceito.

“Se as pessoas estão dizendo ‘olha, eu estou aqui, na rede social, (onde) sempre postei uma foto de festa, viajando, feliz com o meu namorado, e, agora, estou postando que estou com risco de ter depressão’, então a gente pode caminhar para uma diminuição do preconceito”, explicou.

O psiquiatra pondera, porém, que há possibilidade de vulgarização do diagnóstico. “Ainda que muitas pessoas deem ‘positivo’ para esses ‘testes das redes sociais’, temos de ter o entendimento de que a lógica é da varredura, para depois discriminar quem estava realmente doente.”

Gallucci avalia que popularizar a saúde mental sem instrução - ou seja, sem o que ele chama de psicoeducação - é “perigoso”. “A quebra do estigma da saúde mental não passa por uma popularização banal de diagnósticos e de instrumentos usados para mensuração dos sintomas.”

Moreno concorda. “A gente não pode cair no outro extremo tentar medicalizar ou psiquiatizar comportamentos normais”, alerta.

Posso confiar no teste de saúde mental que fiz na internet?

Os testes se baseiam em instrumentos que mensuram sintomas, mas não são usados para diagnóstico. Em caso de dúvida, a orientação é buscar um psiquiatra. 

Conforme site da universidade australiana, a aplicação do teste Dass-21 não exige “habilidades especiais”, porém, a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Qual a função do teste de saúde mental?

É “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas - o que significa que, de maneira geral, todos, em diferente grau, todos vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Quais sintomas de depressão o teste Dass-21 mede?

Segundo a dissertação de mestrado de Rose Claudia Batistelli Vignola, uma das responsáveis pela tradução do questionário ao português, as manifestações clínicas observadas são: “inércia; anedonia (incapacidade de sentir prazer em atividades cotidianas); disforia (mudança repentina do estado de ânimo); falta de interesse/participação; autodepreciação; desvalorização da vida, desânimo”.

Quais sintomas de ansiedade o Dass-21 mede?

As manifestações clínicas observadas são: “excitação do sistema nervoso autônomo; efeitos músculoesqueléticos; ansiedade situacional; experiências subjetivas de ansiedade”, segundo a dissertação de Rose. 

Quais sintomas de estresse o Dass-21 mede?

Conforme a dissertação de Rose, as manifestações clínicas observadas são: “dificuldade para relaxar; excitação nervosa; perturbação fácil; agitação; irritabilidade; reação exagerada; impaciência”.

Todos podem ser submetidos a um 'teste de saúde mental'?

Tanto o Dass-42 (versão completa), quanto o Dass-21 (reduzida), foram pensados para adolescentes e adultos - com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados com 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessas faixas etárias.

Além das dancinhas e memes, um assunto sério tem ganhado destaque na plataforma de vídeos curtos TikToksaúde mental. Com músicas dramáticas e tristes - algumas entoadas pela jovem cantora americana Billie Eilish -, usuários compartilham resultados de “testes” para ansiedade, depressão e estresse feitos na web. O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao acumula quase 4 milhões de visualizações.

Funciona assim: em sites fora do TikTok, a pessoa faz o “teste” em poucos minutos - por volta de dez. O internauta apenas avalia sentenças e manifesta seu grau de concordância. A página, então, gera os resultados que vão de "normal" até “severo” para cada um dos fenômenos (depressão, ansiedade e estresse). O usuário, por meio de vídeos ou fotos, compartilha sua “ficha” na plataforma de entretenimento. As publicações alcançam milhares de visualizações e estimulam outras pessoas a fazerem o mesmo.

Usuários compartilham "teste" de saúde mental no TikTik; especialistas alertam que instrumento mensura sintomas, mas não fornece diagnóstico Foto: TikTok/Reprodução

Psiquiatras destacam que um checklist de sintomas não faz diagnóstico, que, obrigatoriamente, depende de avaliação médica. Os especialistas veem risco de automedicação por causa do autodiagnóstico e orientam que quem suspeite vivenciar um desses quadros busque um profissional de saúde.

A maioria dos testes divulgados no TikTok se baseia na versão reduzida da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (Dass-21, em inglês). Ela é um instrumento de autorrelato (a própria pessoa se avalia) projetado para medir estados emocionais que podem indicar as três condições. O questionário foi desenvolvido por pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália, na década de 1990.

@estadao Depressão é ideia, boy? O Leon falou com especialistas sobre os testes que andam circulando aqui pelo Tik Tok... e olha, lá no fundo você já sabe a resposta né? #depressao #ansiedade #psicologia #psiquiatra #saudemental #saude #tiktoknotícias ♬ som original - Estadão

A escala é composta por um conjunto de frases, para as quais o paciente indica seu grau de concordância - “discordo totalmente” até “concordo totalmente”, por exemplo. Na versão traduzida para o português, algumas das sentenças são: “achei difícil me acalmar”, “senti minha boca seca” e “não consegui vivenciar nenhum sentimento positivo”.

Conforme site da universidade australiana, alimentado pelo co-desenvolvedor do método, Peter Lovibond, a aplicação do teste não exige “habilidades especiais”, mas a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Psiquiatras destacam que checklist de sintomas não configura diagnóstico Foto: REUTERS/Yuriko Nakao

A função do teste, segundo Lovibond, é “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas. De maneira geral, todos, em diferente grau, vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Tanto o Dass-42 (versão completa) quanto o Dass-21 (reduzida) foram pensados para pessoas com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados por adolescentes de 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessa faixa etária.

O psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, destaca que esse tipo de escala não foi “desenhada para fazer diagnóstico”. Elas são usadas, explica, principalmente para pesquisa (triagem de casos) ou para analisar e aprimorar tratamentos aplicados em uma população já diagnosticada.

Por mais que a escala Dass tenha alta sensibilidade, não é isenta de gerar falsos positivos e negativos. Além disso, por se tratar de um questionário de autodeclaração, outra falha é a possibilidade de viés na resposta. “A pessoa vai pontuar mais para aquilo que lhe incomoda mais. O que não necessariamente é uma verdade que você observa naquele momento”, diz Ricardo Alberto Moreno, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do IPq.

Outra limitação é que a escala também não consegue averiguar o tempo de permanência dos sintomas, que é um critério importante para o diagnóstico. Por isso, os especialistas frisam que a consulta médica é primordial, para que não se perca nenhum detalhe do quadro do paciente.

“Uma primeira consulta psiquiátrica bem realizada demora pelo menos 60 minutos”, diz Gallucci. Por vezes, a depender da complexidade do caso, pode demorar mais de um encontro para que um diagnóstico seja fechado. “A gente tem de tirar toda a história de vida do paciente, não só a história dos sintomas atuais.”

Moreno acrescenta que a depressão, por exemplo, tem várias formas clínicas - ou seja, os sintomas não vão ser os mesmos sempre. “É uma síndrome que tem alguns sinais e sintomas que são compartilhados em comum, mas podem ter várias causas.”

A popularização dos autodiagnósticos feitos na internet preocupa os especialistas. Eles temem que pessoas deixem de buscar ajuda - em caso de falsos negativos - e também que pacientes comecem a se automedicar, o que é bastante perigoso, advertem.

Enfrentamento da psicofobia

Apesar dos riscos e limitações, os "testes" podem ter um lado benefíco: o de reduzir o estigma em relação aos transtornos mentais. A avaliação é do psiquiatra e colunista do Estadão, Daniel Martins De Barros. Em um vídeo em seu canal no YouTube, Barros diz que é “bom” que as pessoas compartilhem os resultados porque, segundo ele, mesmo com diagnósticos de profissionais, um grande número de pessoas com depressão não se trata por causa do preconceito.

“Se as pessoas estão dizendo ‘olha, eu estou aqui, na rede social, (onde) sempre postei uma foto de festa, viajando, feliz com o meu namorado, e, agora, estou postando que estou com risco de ter depressão’, então a gente pode caminhar para uma diminuição do preconceito”, explicou.

O psiquiatra pondera, porém, que há possibilidade de vulgarização do diagnóstico. “Ainda que muitas pessoas deem ‘positivo’ para esses ‘testes das redes sociais’, temos de ter o entendimento de que a lógica é da varredura, para depois discriminar quem estava realmente doente.”

Gallucci avalia que popularizar a saúde mental sem instrução - ou seja, sem o que ele chama de psicoeducação - é “perigoso”. “A quebra do estigma da saúde mental não passa por uma popularização banal de diagnósticos e de instrumentos usados para mensuração dos sintomas.”

Moreno concorda. “A gente não pode cair no outro extremo tentar medicalizar ou psiquiatizar comportamentos normais”, alerta.

Posso confiar no teste de saúde mental que fiz na internet?

Os testes se baseiam em instrumentos que mensuram sintomas, mas não são usados para diagnóstico. Em caso de dúvida, a orientação é buscar um psiquiatra. 

Conforme site da universidade australiana, a aplicação do teste Dass-21 não exige “habilidades especiais”, porém, a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Qual a função do teste de saúde mental?

É “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas - o que significa que, de maneira geral, todos, em diferente grau, todos vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Quais sintomas de depressão o teste Dass-21 mede?

Segundo a dissertação de mestrado de Rose Claudia Batistelli Vignola, uma das responsáveis pela tradução do questionário ao português, as manifestações clínicas observadas são: “inércia; anedonia (incapacidade de sentir prazer em atividades cotidianas); disforia (mudança repentina do estado de ânimo); falta de interesse/participação; autodepreciação; desvalorização da vida, desânimo”.

Quais sintomas de ansiedade o Dass-21 mede?

As manifestações clínicas observadas são: “excitação do sistema nervoso autônomo; efeitos músculoesqueléticos; ansiedade situacional; experiências subjetivas de ansiedade”, segundo a dissertação de Rose. 

Quais sintomas de estresse o Dass-21 mede?

Conforme a dissertação de Rose, as manifestações clínicas observadas são: “dificuldade para relaxar; excitação nervosa; perturbação fácil; agitação; irritabilidade; reação exagerada; impaciência”.

Todos podem ser submetidos a um 'teste de saúde mental'?

Tanto o Dass-42 (versão completa), quanto o Dass-21 (reduzida), foram pensados para adolescentes e adultos - com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados com 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessas faixas etárias.

Além das dancinhas e memes, um assunto sério tem ganhado destaque na plataforma de vídeos curtos TikToksaúde mental. Com músicas dramáticas e tristes - algumas entoadas pela jovem cantora americana Billie Eilish -, usuários compartilham resultados de “testes” para ansiedade, depressão e estresse feitos na web. O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao acumula quase 4 milhões de visualizações.

Funciona assim: em sites fora do TikTok, a pessoa faz o “teste” em poucos minutos - por volta de dez. O internauta apenas avalia sentenças e manifesta seu grau de concordância. A página, então, gera os resultados que vão de "normal" até “severo” para cada um dos fenômenos (depressão, ansiedade e estresse). O usuário, por meio de vídeos ou fotos, compartilha sua “ficha” na plataforma de entretenimento. As publicações alcançam milhares de visualizações e estimulam outras pessoas a fazerem o mesmo.

Usuários compartilham "teste" de saúde mental no TikTik; especialistas alertam que instrumento mensura sintomas, mas não fornece diagnóstico Foto: TikTok/Reprodução

Psiquiatras destacam que um checklist de sintomas não faz diagnóstico, que, obrigatoriamente, depende de avaliação médica. Os especialistas veem risco de automedicação por causa do autodiagnóstico e orientam que quem suspeite vivenciar um desses quadros busque um profissional de saúde.

A maioria dos testes divulgados no TikTok se baseia na versão reduzida da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (Dass-21, em inglês). Ela é um instrumento de autorrelato (a própria pessoa se avalia) projetado para medir estados emocionais que podem indicar as três condições. O questionário foi desenvolvido por pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália, na década de 1990.

@estadao Depressão é ideia, boy? O Leon falou com especialistas sobre os testes que andam circulando aqui pelo Tik Tok... e olha, lá no fundo você já sabe a resposta né? #depressao #ansiedade #psicologia #psiquiatra #saudemental #saude #tiktoknotícias ♬ som original - Estadão

A escala é composta por um conjunto de frases, para as quais o paciente indica seu grau de concordância - “discordo totalmente” até “concordo totalmente”, por exemplo. Na versão traduzida para o português, algumas das sentenças são: “achei difícil me acalmar”, “senti minha boca seca” e “não consegui vivenciar nenhum sentimento positivo”.

Conforme site da universidade australiana, alimentado pelo co-desenvolvedor do método, Peter Lovibond, a aplicação do teste não exige “habilidades especiais”, mas a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Psiquiatras destacam que checklist de sintomas não configura diagnóstico Foto: REUTERS/Yuriko Nakao

A função do teste, segundo Lovibond, é “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas. De maneira geral, todos, em diferente grau, vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Tanto o Dass-42 (versão completa) quanto o Dass-21 (reduzida) foram pensados para pessoas com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados por adolescentes de 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessa faixa etária.

O psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, destaca que esse tipo de escala não foi “desenhada para fazer diagnóstico”. Elas são usadas, explica, principalmente para pesquisa (triagem de casos) ou para analisar e aprimorar tratamentos aplicados em uma população já diagnosticada.

Por mais que a escala Dass tenha alta sensibilidade, não é isenta de gerar falsos positivos e negativos. Além disso, por se tratar de um questionário de autodeclaração, outra falha é a possibilidade de viés na resposta. “A pessoa vai pontuar mais para aquilo que lhe incomoda mais. O que não necessariamente é uma verdade que você observa naquele momento”, diz Ricardo Alberto Moreno, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do IPq.

Outra limitação é que a escala também não consegue averiguar o tempo de permanência dos sintomas, que é um critério importante para o diagnóstico. Por isso, os especialistas frisam que a consulta médica é primordial, para que não se perca nenhum detalhe do quadro do paciente.

“Uma primeira consulta psiquiátrica bem realizada demora pelo menos 60 minutos”, diz Gallucci. Por vezes, a depender da complexidade do caso, pode demorar mais de um encontro para que um diagnóstico seja fechado. “A gente tem de tirar toda a história de vida do paciente, não só a história dos sintomas atuais.”

Moreno acrescenta que a depressão, por exemplo, tem várias formas clínicas - ou seja, os sintomas não vão ser os mesmos sempre. “É uma síndrome que tem alguns sinais e sintomas que são compartilhados em comum, mas podem ter várias causas.”

A popularização dos autodiagnósticos feitos na internet preocupa os especialistas. Eles temem que pessoas deixem de buscar ajuda - em caso de falsos negativos - e também que pacientes comecem a se automedicar, o que é bastante perigoso, advertem.

Enfrentamento da psicofobia

Apesar dos riscos e limitações, os "testes" podem ter um lado benefíco: o de reduzir o estigma em relação aos transtornos mentais. A avaliação é do psiquiatra e colunista do Estadão, Daniel Martins De Barros. Em um vídeo em seu canal no YouTube, Barros diz que é “bom” que as pessoas compartilhem os resultados porque, segundo ele, mesmo com diagnósticos de profissionais, um grande número de pessoas com depressão não se trata por causa do preconceito.

“Se as pessoas estão dizendo ‘olha, eu estou aqui, na rede social, (onde) sempre postei uma foto de festa, viajando, feliz com o meu namorado, e, agora, estou postando que estou com risco de ter depressão’, então a gente pode caminhar para uma diminuição do preconceito”, explicou.

O psiquiatra pondera, porém, que há possibilidade de vulgarização do diagnóstico. “Ainda que muitas pessoas deem ‘positivo’ para esses ‘testes das redes sociais’, temos de ter o entendimento de que a lógica é da varredura, para depois discriminar quem estava realmente doente.”

Gallucci avalia que popularizar a saúde mental sem instrução - ou seja, sem o que ele chama de psicoeducação - é “perigoso”. “A quebra do estigma da saúde mental não passa por uma popularização banal de diagnósticos e de instrumentos usados para mensuração dos sintomas.”

Moreno concorda. “A gente não pode cair no outro extremo tentar medicalizar ou psiquiatizar comportamentos normais”, alerta.

Posso confiar no teste de saúde mental que fiz na internet?

Os testes se baseiam em instrumentos que mensuram sintomas, mas não são usados para diagnóstico. Em caso de dúvida, a orientação é buscar um psiquiatra. 

Conforme site da universidade australiana, a aplicação do teste Dass-21 não exige “habilidades especiais”, porém, a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Qual a função do teste de saúde mental?

É “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas - o que significa que, de maneira geral, todos, em diferente grau, todos vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Quais sintomas de depressão o teste Dass-21 mede?

Segundo a dissertação de mestrado de Rose Claudia Batistelli Vignola, uma das responsáveis pela tradução do questionário ao português, as manifestações clínicas observadas são: “inércia; anedonia (incapacidade de sentir prazer em atividades cotidianas); disforia (mudança repentina do estado de ânimo); falta de interesse/participação; autodepreciação; desvalorização da vida, desânimo”.

Quais sintomas de ansiedade o Dass-21 mede?

As manifestações clínicas observadas são: “excitação do sistema nervoso autônomo; efeitos músculoesqueléticos; ansiedade situacional; experiências subjetivas de ansiedade”, segundo a dissertação de Rose. 

Quais sintomas de estresse o Dass-21 mede?

Conforme a dissertação de Rose, as manifestações clínicas observadas são: “dificuldade para relaxar; excitação nervosa; perturbação fácil; agitação; irritabilidade; reação exagerada; impaciência”.

Todos podem ser submetidos a um 'teste de saúde mental'?

Tanto o Dass-42 (versão completa), quanto o Dass-21 (reduzida), foram pensados para adolescentes e adultos - com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados com 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessas faixas etárias.

Além das dancinhas e memes, um assunto sério tem ganhado destaque na plataforma de vídeos curtos TikToksaúde mental. Com músicas dramáticas e tristes - algumas entoadas pela jovem cantora americana Billie Eilish -, usuários compartilham resultados de “testes” para ansiedade, depressão e estresse feitos na web. O conteúdo é viral: só a tag #testedadepressao acumula quase 4 milhões de visualizações.

Funciona assim: em sites fora do TikTok, a pessoa faz o “teste” em poucos minutos - por volta de dez. O internauta apenas avalia sentenças e manifesta seu grau de concordância. A página, então, gera os resultados que vão de "normal" até “severo” para cada um dos fenômenos (depressão, ansiedade e estresse). O usuário, por meio de vídeos ou fotos, compartilha sua “ficha” na plataforma de entretenimento. As publicações alcançam milhares de visualizações e estimulam outras pessoas a fazerem o mesmo.

Usuários compartilham "teste" de saúde mental no TikTik; especialistas alertam que instrumento mensura sintomas, mas não fornece diagnóstico Foto: TikTok/Reprodução

Psiquiatras destacam que um checklist de sintomas não faz diagnóstico, que, obrigatoriamente, depende de avaliação médica. Os especialistas veem risco de automedicação por causa do autodiagnóstico e orientam que quem suspeite vivenciar um desses quadros busque um profissional de saúde.

A maioria dos testes divulgados no TikTok se baseia na versão reduzida da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (Dass-21, em inglês). Ela é um instrumento de autorrelato (a própria pessoa se avalia) projetado para medir estados emocionais que podem indicar as três condições. O questionário foi desenvolvido por pesquisadores da University of New South Wales, na Austrália, na década de 1990.

@estadao Depressão é ideia, boy? O Leon falou com especialistas sobre os testes que andam circulando aqui pelo Tik Tok... e olha, lá no fundo você já sabe a resposta né? #depressao #ansiedade #psicologia #psiquiatra #saudemental #saude #tiktoknotícias ♬ som original - Estadão

A escala é composta por um conjunto de frases, para as quais o paciente indica seu grau de concordância - “discordo totalmente” até “concordo totalmente”, por exemplo. Na versão traduzida para o português, algumas das sentenças são: “achei difícil me acalmar”, “senti minha boca seca” e “não consegui vivenciar nenhum sentimento positivo”.

Conforme site da universidade australiana, alimentado pelo co-desenvolvedor do método, Peter Lovibond, a aplicação do teste não exige “habilidades especiais”, mas a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Psiquiatras destacam que checklist de sintomas não configura diagnóstico Foto: REUTERS/Yuriko Nakao

A função do teste, segundo Lovibond, é “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas. De maneira geral, todos, em diferente grau, vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Tanto o Dass-42 (versão completa) quanto o Dass-21 (reduzida) foram pensados para pessoas com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados por adolescentes de 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessa faixa etária.

O psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, destaca que esse tipo de escala não foi “desenhada para fazer diagnóstico”. Elas são usadas, explica, principalmente para pesquisa (triagem de casos) ou para analisar e aprimorar tratamentos aplicados em uma população já diagnosticada.

Por mais que a escala Dass tenha alta sensibilidade, não é isenta de gerar falsos positivos e negativos. Além disso, por se tratar de um questionário de autodeclaração, outra falha é a possibilidade de viés na resposta. “A pessoa vai pontuar mais para aquilo que lhe incomoda mais. O que não necessariamente é uma verdade que você observa naquele momento”, diz Ricardo Alberto Moreno, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do IPq.

Outra limitação é que a escala também não consegue averiguar o tempo de permanência dos sintomas, que é um critério importante para o diagnóstico. Por isso, os especialistas frisam que a consulta médica é primordial, para que não se perca nenhum detalhe do quadro do paciente.

“Uma primeira consulta psiquiátrica bem realizada demora pelo menos 60 minutos”, diz Gallucci. Por vezes, a depender da complexidade do caso, pode demorar mais de um encontro para que um diagnóstico seja fechado. “A gente tem de tirar toda a história de vida do paciente, não só a história dos sintomas atuais.”

Moreno acrescenta que a depressão, por exemplo, tem várias formas clínicas - ou seja, os sintomas não vão ser os mesmos sempre. “É uma síndrome que tem alguns sinais e sintomas que são compartilhados em comum, mas podem ter várias causas.”

A popularização dos autodiagnósticos feitos na internet preocupa os especialistas. Eles temem que pessoas deixem de buscar ajuda - em caso de falsos negativos - e também que pacientes comecem a se automedicar, o que é bastante perigoso, advertem.

Enfrentamento da psicofobia

Apesar dos riscos e limitações, os "testes" podem ter um lado benefíco: o de reduzir o estigma em relação aos transtornos mentais. A avaliação é do psiquiatra e colunista do Estadão, Daniel Martins De Barros. Em um vídeo em seu canal no YouTube, Barros diz que é “bom” que as pessoas compartilhem os resultados porque, segundo ele, mesmo com diagnósticos de profissionais, um grande número de pessoas com depressão não se trata por causa do preconceito.

“Se as pessoas estão dizendo ‘olha, eu estou aqui, na rede social, (onde) sempre postei uma foto de festa, viajando, feliz com o meu namorado, e, agora, estou postando que estou com risco de ter depressão’, então a gente pode caminhar para uma diminuição do preconceito”, explicou.

O psiquiatra pondera, porém, que há possibilidade de vulgarização do diagnóstico. “Ainda que muitas pessoas deem ‘positivo’ para esses ‘testes das redes sociais’, temos de ter o entendimento de que a lógica é da varredura, para depois discriminar quem estava realmente doente.”

Gallucci avalia que popularizar a saúde mental sem instrução - ou seja, sem o que ele chama de psicoeducação - é “perigoso”. “A quebra do estigma da saúde mental não passa por uma popularização banal de diagnósticos e de instrumentos usados para mensuração dos sintomas.”

Moreno concorda. “A gente não pode cair no outro extremo tentar medicalizar ou psiquiatizar comportamentos normais”, alerta.

Posso confiar no teste de saúde mental que fiz na internet?

Os testes se baseiam em instrumentos que mensuram sintomas, mas não são usados para diagnóstico. Em caso de dúvida, a orientação é buscar um psiquiatra. 

Conforme site da universidade australiana, a aplicação do teste Dass-21 não exige “habilidades especiais”, porém, a leitura dos resultados deve ser feita por um “profissional de saúde devidamente qualificado”. A interpretação automatizada não é recomendada, pois pode ser “enganosa” e “potencialmente perigosa”.

Qual a função do teste de saúde mental?

É “avaliar a gravidade dos principais sintomas de depressão, ansiedade e estresse”. Isso porque a escala foi desenvolvida com base na suposição de que a diferença entre um indivíduo “saudável” e aqueles acometidos por uma das condições reside na intensidade dos sintomas - o que significa que, de maneira geral, todos, em diferente grau, todos vivenciam esses sintomas ao longo da vida.

Quais sintomas de depressão o teste Dass-21 mede?

Segundo a dissertação de mestrado de Rose Claudia Batistelli Vignola, uma das responsáveis pela tradução do questionário ao português, as manifestações clínicas observadas são: “inércia; anedonia (incapacidade de sentir prazer em atividades cotidianas); disforia (mudança repentina do estado de ânimo); falta de interesse/participação; autodepreciação; desvalorização da vida, desânimo”.

Quais sintomas de ansiedade o Dass-21 mede?

As manifestações clínicas observadas são: “excitação do sistema nervoso autônomo; efeitos músculoesqueléticos; ansiedade situacional; experiências subjetivas de ansiedade”, segundo a dissertação de Rose. 

Quais sintomas de estresse o Dass-21 mede?

Conforme a dissertação de Rose, as manifestações clínicas observadas são: “dificuldade para relaxar; excitação nervosa; perturbação fácil; agitação; irritabilidade; reação exagerada; impaciência”.

Todos podem ser submetidos a um 'teste de saúde mental'?

Tanto o Dass-42 (versão completa), quanto o Dass-21 (reduzida), foram pensados para adolescentes e adultos - com 17 anos ou mais. Contudo, conforme site da universidade australiana, eles têm sido utilizados com 14 anos ou mais, embora haja poucos dados para validar as escalas nessas faixas etárias.

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