THE WASHINGTON POST – O simples fato de colocar aparelhos auditivos pode salvar a vida de quem tem perda auditiva. Novas pesquisas revelam que adultos americanos com o problema e que usam regularmente esses aparelhos têm um risco significativamente menor de morrer mais cedo do que aqueles que nunca usam os dispositivos.
Cerca de 10 mil pessoas, com idade média de 48,6 anos, fizeram exames de audição e preencheram questionários sobre o uso de aparelhos auditivos entre 1999 e 2012 como parte da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Esses dados foram, então, vinculados aos registros do National Death Index, até 31 de dezembro de 2019, para determinar o risco de mortalidade.
As descobertas, publicadas recentemente na revista The Lancet Healthy Longevity, mostraram que pessoas com perda auditiva que usavam aparelhos auditivos regularmente tinham um risco de mortalidade 24% menor do que aquelas que nunca os usavam, independentemente de idade, sexo, status socioeconômico, raça, tipo de seguro, gravidade da perda auditiva e outras condições médicas. E quanto pior era a perda auditiva, maior era o risco de morte precoce.
“Estamos mostrando que os aparelhos auditivos podem desempenhar um papel protetor”, diz Janet Choi, otorrinolaringologista da Keck Medicine da University of Southern California e principal autora do estudo. “Os aparelhos auditivos não são apenas um dispositivo opcional, mas algo que pode realmente ajudar as pessoas em um nível mais elevado.”
Muitas pessoas não usam aparelhos auditivos
No estudo, 1.863 adultos tinham perda auditiva e foram colocados em categorias com base na frequência com que usavam seus aparelhos auditivos: regularmente, não regularmente ou nunca.
A redação das perguntas da pequisa mudou ligeiramente ao longo do tempo, mas as pessoas foram consideradas usuárias regulares de aparelhos auditivos se relataram usá-los pelo menos uma vez por semana, pelo menos cinco horas por semana ou pelo menos metade do tempo. Aqueles que usavam aparelhos auditivos pelo menos uma vez, mas não atendiam aos critérios de usuários regulares, eram considerados “usuários não regulares”.
Apenas 12,7% das pessoas com perda auditiva atenderam aos critérios de usuários regulares, enquanto outros 6,6% foram considerados usuários não regulares. A grande maioria dos participantes com perda auditiva nunca havia usado um aparelho auditivo.
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Não houve diferenças significativas nas taxas de mortalidade entre as pessoas que nunca usaram seus aparelhos auditivos e aquelas que os usavam de forma não regular. Os pesquisadores não conseguiram determinar se havia uma diferença significativa nas taxas de mortalidade entre usuários regulares de aparelhos auditivos e usuários não regulares devido ao pequeno número de amostras. Portanto, não está claro se o uso raro ou infrequente de aparelhos auditivos teria um efeito sobre os resultados de saúde, observa Choi.
As pessoas que usam aparelhos auditivos são mais propensas a serem mais ricas, com alto grau de instrução e com menos problemas de saúde adicionais. Mas, segundo os pesquisadores, o mais importante é que, mesmo após o ajuste desses fatores, as diferenças de risco de mortalidade entre os usuários regulares de aparelhos auditivos e aqueles que nunca os usaram foram significativas.
Os pesquisadores reconheceram que outros fatores que não puderam ser ajustados podem ter influenciado nos resultados de saúde. Por exemplo: um usuário regular de aparelho auditivo pode ser mais consciente em relação à saúde em geral.
Os aparelhos auditivos ajudam na comunicação e na conexão
Os resultados do estudo são consistentes com pesquisas anteriores que mostram que a perda auditiva não tratada está associada a uma vida útil mais curta e a um risco maior de distúrbios como depressão e demência.
Isso pode ser devido ao fato de que a perda auditiva aumenta o risco de as pessoas se tornarem mais isoladas socialmente, uma vez que o envolvimento em conversas se torna mais difícil, diz Frank Lin, coautor do estudo e diretor do Cochlear Center for Hearing and Public Health na Bloomberg School of Public Health da Johns Hopkins.
Pesquisas têm relacionado repetidamente o isolamento social a um risco maior de condições médicas graves e morte.
Os aparelhos auditivos podem ajudar a reverter esses riscos, pois permitem que as pessoas se comuniquem melhor e se mantenham socialmente conectadas, comenta Lin. Não ficou claro nesse estudo a frequência ou o grau de socialização dos participantes com outras pessoas.
Outro motivo pelo qual os aparelhos auditivos parecem melhorar a saúde é que eles ajudam a estimular o cérebro com mais som, explica Lin, o que ele acredita ser importante para garantir que o cérebro permaneça saudável.
“Quando não se ouve muito bem, o cérebro está recebendo um sinal auditivo muito mais distorcido, o que leva a efeitos estruturais”, disse Lin.
Em sua pesquisa, Lin descobriu que o uso de aparelhos auditivos está associado a uma redução de 48% no declínio cognitivo. E os exames de ressonância magnética dos participantes de sua pesquisa mostram que os usuários de aparelhos auditivos têm uma taxa mais lenta de perda de tecido cerebral, aponta ele.
Use aparelhos auditivos pelo menos uma vez por semana
Não se sabe exatamente com que frequência as pessoas precisam usar aparelhos auditivos para obter benefícios médicos, avisa Choi.
Com base nesse estudo, ela acredita que o uso de aparelhos auditivos pelo menos uma vez por semana pode ter um efeito positivo, mas, segundo a pesquisadora, as pessoas provavelmente terão os melhores resultados se usarem seus aparelhos auditivos todos os dias. Sua pesquisa sugere que mesmo as pessoas com perda auditiva leve podem se beneficiar do uso de aparelhos auditivos.
Em pesquisas futuras, ela espera responder a perguntas sobre quando as pessoas devem começar a usar aparelhos auditivos e com que frequência devem usá-los para melhorar sua saúde geral.
O estudo também não analisou quanto tempo uma pessoa pode esperar viver, em média, se usar aparelhos auditivos regularmente.
E, embora o uso de aparelhos auditivos pareça ser um fator de proteção contra a morte e outros resultados negativos, Lin e Choi disseram que o uso desses aparelhos não garante a prevenção de todos os riscos à saúde associados à perda auditiva.
“Não acho que 100% dos problemas possam ser evitados com o uso de aparelhos auditivos”, diz Choi. “Minha hipótese é que há um impacto protetor parcial.”
Os benefícios teóricos valem a pena, disse ela, porque o uso de aparelhos auditivos é considerado uma intervenção sem riscos.
Mas muitas pessoas ainda hesitam em usá-los, nota Choi, devido a barreiras como custo e estigma. Ela espera que sua pesquisa incentive mais prestadores de serviços de saúde a recomendar aparelhos auditivos para aqueles que precisam deles e leve a uma melhor cobertura de planos de saúde para aparelhos auditivos como uma intervenção médica.
“Há muitas opiniões no ambiente médico que dizem que a perda auditiva é apenas um processo normal de envelhecimento e que não há nada que possamos fazer a respeito”, comenta Choi. “Mas esse é o início de uma pesquisa que mostra que os aparelhos auditivos podem ajudar as pessoas e melhorar os resultados de saúde.”
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