Uso de hidroxicloroquina durante pandemia de covid causou 17 mil mortes em seis países, diz estudo


Brasil não está entre as nações estudadas, mas especialistas dizem acreditar que o País também tenha registrado um alto número de óbitos associados ao medicamento

Por Fabiana Cambricoli
Atualização: Correção:

O uso de hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes hospitalizados durante a primeira onda da pandemia de covid-19, em 2020, levou à morte de cerca de 17 mil pessoas em seis países que tiveram seus dados analisados, segundo estimativa de um estudo publicado no periódico Biomedicine & Pharmacotherapy nesta semana. O Brasil não está entre as nações estudadas, mas especialistas ouvidos pelo Estadão dizem acreditar que o País também tenha registrado um alto número de óbitos associados ao uso do medicamento (leia mais abaixo).

O remédio foi usado de forma indiscriminada por vários países no início da pandemia por uma suposta eficácia no combate ao coronavírus. Chegou a ser promovido por políticos como o ex-presidente americano Donald Trump e o então presidente Jair Bolsonaro. Mesmo após estudos clínicos demonstrarem a ineficácia da droga no tratamento da covid, Bolsonaro, outros políticos e até alguns médicos continuaram promovendo o medicamento, em postura contrária à ciência.

A pesquisa que buscou estimar o número de mortes associadas ao uso dessa medicação foi realizada por cientistas franceses e fez projeções com base em 44 estudos internacionais com dados da França, Bélgica, Espanha, Turquia, Itália e Estados Unidos. Foram considerados no cálculo indicadores como a taxa de mortalidade hospitalar por covid, a exposição à hidroxicloroquina, o número de pacientes hospitalizados e o aumento do risco relativo de morte com o uso da medicação.

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No caso desta última variável, foi considerado um dado já publicado em estudo de 2021 na revista científica Nature Communications que mostrou que a utilização do remédio em pacientes com covid aumentaria em 11% esse risco.

“Eles consideraram uma meta-análise (método estatístico para integrar resultados de pesquisas diferentes) que demonstrou aumento no risco de óbito de 11% nas pessoas que usaram os medicamentos. E então buscaram estudos que tinham estimativas simultâneas de taxa de mortalidade e taxa de expostos à hidroxicloroquina ou cloroquina. A partir daí, estimaram o excesso de óbitos atribuível a esses remédios”, explica Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do HCor, sobre a metodologia do estudo francês.

Uso de hidroxicloroquina foi associado a milhares de mortes nos EUA e países europeus, segundo estudo Foto: LQFEx/Ministério da Defesa
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Considerando o número mediano das projeções feitas pelos cientistas para o excesso de mortes atribuíveis às medicações, eles chegaram à estimativa de 16.990 óbitos somente durante a primeira onda de covid-19, que estariam distribuídos da seguinte forma entre os países analisados: 12.739 nos EUA, 1.895 na Espanha, 1.822 na Itália, 240 na Bélgica, 199 na França e 95 na Turquia.

Para a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, o estudo traz resultados robustos ao reunir dados de várias pesquisas independentes. “É crucial garantir que os estudos individuais incorporados tenham desenhos sólidos, metodologias claras e resultados confiáveis, o que foi o caso nessa meta-análise - a mesma foi conduzida usando excelentes artigos, o que fortalece a confiabilidade e a validade dos resultados”, diz ela, que aponta o resultado como “mais uma comprovação” dos efeitos negativos que o uso indiscriminado da hidroxicloroquina teve durante a pandemia.

Número é apenas ‘ponta do iceberg’

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No artigo científico, os pesquisadores ressaltam que o número estimado de quase 17 mil mortes pode ser apenas “a ponta do iceberg” devido à limitação dos dados e de eles serem de apenas seis países.

“Considerando que os dados confiáveis sobre hospitalizações, uso de HCQ e mortalidade hospitalar são limitados na maioria dos países, esses números provavelmente representam apenas a ponta do iceberg, subestimando em grande medida o número de mortes relacionadas ao HCQ no mundo. A prescrição off label (indicação fora da indicada na bula, como foi o caso da hidroxicloroquina para covid) pode ser apropriada quando os médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir benefícios do medicamento. No entanto, as primeiras pesquisas relatando o efeito do HCQ mostravam eficácia limitada ou nenhuma na redução da mortalidade”, destacaram os pesquisadores.

De acordo com revisão feita pelos pesquisadores na literatura científica, o principal dano do medicamento em pacientes com covid está relacionado com efeitos colaterais cardíacos, mas alguns doentes também podem ter problemas no fígado e nos rins com o uso do remédio.

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Os cientistas defendem, diante dos resultados, “uma regulamentação rigorosa do acesso a prescrições off-label durante futuras pandemias” e dizem ainda que é fundamental que “representantes das autoridades públicas não promovam, com base nas suas convicções pessoais, a prescrição de medicamentos que não tenham sido formalmente avaliados, criando assim falsas esperanças quanto à existência de uma solução para uma crise sanitária complexa”.

‘Impacto para a saúde pública foi grande’, diz especialista

Cavalcanti afirma que, embora o aumento do risco de morte pelo uso do medicamento possa ser considerado “modesto” (11%), o fato de centenas de milhares de pessoas terem sido tratadas com esses remédios e de a taxa de mortalidade entre esses pacientes ser alta fez com que o impacto, do ponto de vista da saúde pública, tenha sido grande. “Termos mais de 16 mil mortes por causa desses medicamentos, considerando somente países da Europa e EUA, é terrível. São números de uma guerra. É a consequência não-intencional da decisão de tratar de forma precipitada com uma medicação que ainda não tinha prova de eficácia”, destaca o médico.

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Para os especialistas brasileiros, embora o estudo não tenha projeções do impacto no Brasil, o cenário por aqui pode ser similar ou pior ao observado nos Estados Unidos. Em ambos os países, os presidentes Trump e Bolsonaro pressionaram os órgãos sanitários a liberar o uso do medicamento. “Seria preciso pesquisar as taxas de óbito hospitalar por covid no Brasil e a proporção de uso da HCQ, mas acredito que ambas as variáveis foram iguais ou maiores aqui do que nos EUA”, diz Cavalcanti.

“O número de mortes associadas às medicações foi certamente semelhante ou pior no Brasil devido ao uso amplo dos remédios no País”, conclui Garrett.

Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) divulgado em 2021 mostrou alta de 857% na venda de remédios que formavam o chamado kit covid, conjunto de medicamentos sem eficácia contra a doença, mas que eram propagandeados por autoridades políticas e médicas com postura anticientífica. Como o Estadão revelou em 2021, pacientes que utilizaram tais medicamentos morreram ou foram parar na fila de transplante de fígado após desenvolverem hepatite medicamentosa.

O uso de hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes hospitalizados durante a primeira onda da pandemia de covid-19, em 2020, levou à morte de cerca de 17 mil pessoas em seis países que tiveram seus dados analisados, segundo estimativa de um estudo publicado no periódico Biomedicine & Pharmacotherapy nesta semana. O Brasil não está entre as nações estudadas, mas especialistas ouvidos pelo Estadão dizem acreditar que o País também tenha registrado um alto número de óbitos associados ao uso do medicamento (leia mais abaixo).

O remédio foi usado de forma indiscriminada por vários países no início da pandemia por uma suposta eficácia no combate ao coronavírus. Chegou a ser promovido por políticos como o ex-presidente americano Donald Trump e o então presidente Jair Bolsonaro. Mesmo após estudos clínicos demonstrarem a ineficácia da droga no tratamento da covid, Bolsonaro, outros políticos e até alguns médicos continuaram promovendo o medicamento, em postura contrária à ciência.

A pesquisa que buscou estimar o número de mortes associadas ao uso dessa medicação foi realizada por cientistas franceses e fez projeções com base em 44 estudos internacionais com dados da França, Bélgica, Espanha, Turquia, Itália e Estados Unidos. Foram considerados no cálculo indicadores como a taxa de mortalidade hospitalar por covid, a exposição à hidroxicloroquina, o número de pacientes hospitalizados e o aumento do risco relativo de morte com o uso da medicação.

No caso desta última variável, foi considerado um dado já publicado em estudo de 2021 na revista científica Nature Communications que mostrou que a utilização do remédio em pacientes com covid aumentaria em 11% esse risco.

“Eles consideraram uma meta-análise (método estatístico para integrar resultados de pesquisas diferentes) que demonstrou aumento no risco de óbito de 11% nas pessoas que usaram os medicamentos. E então buscaram estudos que tinham estimativas simultâneas de taxa de mortalidade e taxa de expostos à hidroxicloroquina ou cloroquina. A partir daí, estimaram o excesso de óbitos atribuível a esses remédios”, explica Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do HCor, sobre a metodologia do estudo francês.

Uso de hidroxicloroquina foi associado a milhares de mortes nos EUA e países europeus, segundo estudo Foto: LQFEx/Ministério da Defesa

Considerando o número mediano das projeções feitas pelos cientistas para o excesso de mortes atribuíveis às medicações, eles chegaram à estimativa de 16.990 óbitos somente durante a primeira onda de covid-19, que estariam distribuídos da seguinte forma entre os países analisados: 12.739 nos EUA, 1.895 na Espanha, 1.822 na Itália, 240 na Bélgica, 199 na França e 95 na Turquia.

Para a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, o estudo traz resultados robustos ao reunir dados de várias pesquisas independentes. “É crucial garantir que os estudos individuais incorporados tenham desenhos sólidos, metodologias claras e resultados confiáveis, o que foi o caso nessa meta-análise - a mesma foi conduzida usando excelentes artigos, o que fortalece a confiabilidade e a validade dos resultados”, diz ela, que aponta o resultado como “mais uma comprovação” dos efeitos negativos que o uso indiscriminado da hidroxicloroquina teve durante a pandemia.

Número é apenas ‘ponta do iceberg’

No artigo científico, os pesquisadores ressaltam que o número estimado de quase 17 mil mortes pode ser apenas “a ponta do iceberg” devido à limitação dos dados e de eles serem de apenas seis países.

“Considerando que os dados confiáveis sobre hospitalizações, uso de HCQ e mortalidade hospitalar são limitados na maioria dos países, esses números provavelmente representam apenas a ponta do iceberg, subestimando em grande medida o número de mortes relacionadas ao HCQ no mundo. A prescrição off label (indicação fora da indicada na bula, como foi o caso da hidroxicloroquina para covid) pode ser apropriada quando os médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir benefícios do medicamento. No entanto, as primeiras pesquisas relatando o efeito do HCQ mostravam eficácia limitada ou nenhuma na redução da mortalidade”, destacaram os pesquisadores.

De acordo com revisão feita pelos pesquisadores na literatura científica, o principal dano do medicamento em pacientes com covid está relacionado com efeitos colaterais cardíacos, mas alguns doentes também podem ter problemas no fígado e nos rins com o uso do remédio.

Os cientistas defendem, diante dos resultados, “uma regulamentação rigorosa do acesso a prescrições off-label durante futuras pandemias” e dizem ainda que é fundamental que “representantes das autoridades públicas não promovam, com base nas suas convicções pessoais, a prescrição de medicamentos que não tenham sido formalmente avaliados, criando assim falsas esperanças quanto à existência de uma solução para uma crise sanitária complexa”.

‘Impacto para a saúde pública foi grande’, diz especialista

Cavalcanti afirma que, embora o aumento do risco de morte pelo uso do medicamento possa ser considerado “modesto” (11%), o fato de centenas de milhares de pessoas terem sido tratadas com esses remédios e de a taxa de mortalidade entre esses pacientes ser alta fez com que o impacto, do ponto de vista da saúde pública, tenha sido grande. “Termos mais de 16 mil mortes por causa desses medicamentos, considerando somente países da Europa e EUA, é terrível. São números de uma guerra. É a consequência não-intencional da decisão de tratar de forma precipitada com uma medicação que ainda não tinha prova de eficácia”, destaca o médico.

Para os especialistas brasileiros, embora o estudo não tenha projeções do impacto no Brasil, o cenário por aqui pode ser similar ou pior ao observado nos Estados Unidos. Em ambos os países, os presidentes Trump e Bolsonaro pressionaram os órgãos sanitários a liberar o uso do medicamento. “Seria preciso pesquisar as taxas de óbito hospitalar por covid no Brasil e a proporção de uso da HCQ, mas acredito que ambas as variáveis foram iguais ou maiores aqui do que nos EUA”, diz Cavalcanti.

“O número de mortes associadas às medicações foi certamente semelhante ou pior no Brasil devido ao uso amplo dos remédios no País”, conclui Garrett.

Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) divulgado em 2021 mostrou alta de 857% na venda de remédios que formavam o chamado kit covid, conjunto de medicamentos sem eficácia contra a doença, mas que eram propagandeados por autoridades políticas e médicas com postura anticientífica. Como o Estadão revelou em 2021, pacientes que utilizaram tais medicamentos morreram ou foram parar na fila de transplante de fígado após desenvolverem hepatite medicamentosa.

O uso de hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes hospitalizados durante a primeira onda da pandemia de covid-19, em 2020, levou à morte de cerca de 17 mil pessoas em seis países que tiveram seus dados analisados, segundo estimativa de um estudo publicado no periódico Biomedicine & Pharmacotherapy nesta semana. O Brasil não está entre as nações estudadas, mas especialistas ouvidos pelo Estadão dizem acreditar que o País também tenha registrado um alto número de óbitos associados ao uso do medicamento (leia mais abaixo).

O remédio foi usado de forma indiscriminada por vários países no início da pandemia por uma suposta eficácia no combate ao coronavírus. Chegou a ser promovido por políticos como o ex-presidente americano Donald Trump e o então presidente Jair Bolsonaro. Mesmo após estudos clínicos demonstrarem a ineficácia da droga no tratamento da covid, Bolsonaro, outros políticos e até alguns médicos continuaram promovendo o medicamento, em postura contrária à ciência.

A pesquisa que buscou estimar o número de mortes associadas ao uso dessa medicação foi realizada por cientistas franceses e fez projeções com base em 44 estudos internacionais com dados da França, Bélgica, Espanha, Turquia, Itália e Estados Unidos. Foram considerados no cálculo indicadores como a taxa de mortalidade hospitalar por covid, a exposição à hidroxicloroquina, o número de pacientes hospitalizados e o aumento do risco relativo de morte com o uso da medicação.

No caso desta última variável, foi considerado um dado já publicado em estudo de 2021 na revista científica Nature Communications que mostrou que a utilização do remédio em pacientes com covid aumentaria em 11% esse risco.

“Eles consideraram uma meta-análise (método estatístico para integrar resultados de pesquisas diferentes) que demonstrou aumento no risco de óbito de 11% nas pessoas que usaram os medicamentos. E então buscaram estudos que tinham estimativas simultâneas de taxa de mortalidade e taxa de expostos à hidroxicloroquina ou cloroquina. A partir daí, estimaram o excesso de óbitos atribuível a esses remédios”, explica Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de ensino e pesquisa do HCor, sobre a metodologia do estudo francês.

Uso de hidroxicloroquina foi associado a milhares de mortes nos EUA e países europeus, segundo estudo Foto: LQFEx/Ministério da Defesa

Considerando o número mediano das projeções feitas pelos cientistas para o excesso de mortes atribuíveis às medicações, eles chegaram à estimativa de 16.990 óbitos somente durante a primeira onda de covid-19, que estariam distribuídos da seguinte forma entre os países analisados: 12.739 nos EUA, 1.895 na Espanha, 1.822 na Itália, 240 na Bélgica, 199 na França e 95 na Turquia.

Para a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, o estudo traz resultados robustos ao reunir dados de várias pesquisas independentes. “É crucial garantir que os estudos individuais incorporados tenham desenhos sólidos, metodologias claras e resultados confiáveis, o que foi o caso nessa meta-análise - a mesma foi conduzida usando excelentes artigos, o que fortalece a confiabilidade e a validade dos resultados”, diz ela, que aponta o resultado como “mais uma comprovação” dos efeitos negativos que o uso indiscriminado da hidroxicloroquina teve durante a pandemia.

Número é apenas ‘ponta do iceberg’

No artigo científico, os pesquisadores ressaltam que o número estimado de quase 17 mil mortes pode ser apenas “a ponta do iceberg” devido à limitação dos dados e de eles serem de apenas seis países.

“Considerando que os dados confiáveis sobre hospitalizações, uso de HCQ e mortalidade hospitalar são limitados na maioria dos países, esses números provavelmente representam apenas a ponta do iceberg, subestimando em grande medida o número de mortes relacionadas ao HCQ no mundo. A prescrição off label (indicação fora da indicada na bula, como foi o caso da hidroxicloroquina para covid) pode ser apropriada quando os médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir benefícios do medicamento. No entanto, as primeiras pesquisas relatando o efeito do HCQ mostravam eficácia limitada ou nenhuma na redução da mortalidade”, destacaram os pesquisadores.

De acordo com revisão feita pelos pesquisadores na literatura científica, o principal dano do medicamento em pacientes com covid está relacionado com efeitos colaterais cardíacos, mas alguns doentes também podem ter problemas no fígado e nos rins com o uso do remédio.

Os cientistas defendem, diante dos resultados, “uma regulamentação rigorosa do acesso a prescrições off-label durante futuras pandemias” e dizem ainda que é fundamental que “representantes das autoridades públicas não promovam, com base nas suas convicções pessoais, a prescrição de medicamentos que não tenham sido formalmente avaliados, criando assim falsas esperanças quanto à existência de uma solução para uma crise sanitária complexa”.

‘Impacto para a saúde pública foi grande’, diz especialista

Cavalcanti afirma que, embora o aumento do risco de morte pelo uso do medicamento possa ser considerado “modesto” (11%), o fato de centenas de milhares de pessoas terem sido tratadas com esses remédios e de a taxa de mortalidade entre esses pacientes ser alta fez com que o impacto, do ponto de vista da saúde pública, tenha sido grande. “Termos mais de 16 mil mortes por causa desses medicamentos, considerando somente países da Europa e EUA, é terrível. São números de uma guerra. É a consequência não-intencional da decisão de tratar de forma precipitada com uma medicação que ainda não tinha prova de eficácia”, destaca o médico.

Para os especialistas brasileiros, embora o estudo não tenha projeções do impacto no Brasil, o cenário por aqui pode ser similar ou pior ao observado nos Estados Unidos. Em ambos os países, os presidentes Trump e Bolsonaro pressionaram os órgãos sanitários a liberar o uso do medicamento. “Seria preciso pesquisar as taxas de óbito hospitalar por covid no Brasil e a proporção de uso da HCQ, mas acredito que ambas as variáveis foram iguais ou maiores aqui do que nos EUA”, diz Cavalcanti.

“O número de mortes associadas às medicações foi certamente semelhante ou pior no Brasil devido ao uso amplo dos remédios no País”, conclui Garrett.

Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) divulgado em 2021 mostrou alta de 857% na venda de remédios que formavam o chamado kit covid, conjunto de medicamentos sem eficácia contra a doença, mas que eram propagandeados por autoridades políticas e médicas com postura anticientífica. Como o Estadão revelou em 2021, pacientes que utilizaram tais medicamentos morreram ou foram parar na fila de transplante de fígado após desenvolverem hepatite medicamentosa.

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