Vacinação de crianças contra covid-19 tem início lento na cidade de SP e estratégia é criticada


Prefeitura segue recomendação do Ministério da Saúde e prioriza crianças com comorbidades. Apenas 699 doses foram aplicadas nesta quinta-feira

Por Giovanna Castro
Atualização:

A campanha de vacinação contra covid-19 de crianças de 6 meses a 3 anos começou devagar. O imunizante Pfizer Baby começou a ser aplicado na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 17, em crianças com comorbidade - imunossuprimidos e com deficiência permanente - ou indígenas, como foi recomendado pelo Ministério da Saúde, porém, nas quatro UBSs em que a reportagem do Estadão esteve presente - nos bairros Vila Mariana, Cambuci, Santa Cecília e Vila Madalena - poucas ou nenhuma criança foi vacinada.

Segundo balanço da Prefeitura de São Paulo, das 34.840 doses recebidas pelo município, só 699 foram aplicadas nesta quinta-feira, 17, nas 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.

Para funcionários das unidades de saúde e pediatras, o motivo da baixa vacinação é o público-alvo da campanha, já que, nesta faixa etária, muitas crianças ainda não receberam diagnóstico de doenças crônicas ou deficiência.

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A decisão pela priorização de grupos específicos de crianças, tomada pelo Ministério da Saúde, vai contra a recomendação da Câmara Técnica de Pediatria, que defendia que fossem compradas doses suficientes para imunizar todas as crianças dessa faixa etária.

Criança recebe vacina infantil contra a covid-19 em posto de saúde da cidade de São Paulo Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A lógica de priorização da imunização de pessoas com comorbidade fazia sentido no início da pandemia e para adultos, já que as doses de vacina estavam começando a ser produzidas, vinham por lotes, e era preciso conter o número de mortes, mas não hoje e nem para as crianças”, explica a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi.

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Segundo a especialista, o Ministério da Saúde não considerou as especificidades dessa faixa etária. “Eles pegaram uma tabela de comorbidades comuns em adultos e adolescentes e quiseram adotá-la para uma campanha infantil. Isso não funciona.”

Falta de comunicação

Nas unidades básicas de saúde, muitas pessoas não sabiam quais doenças e condições são consideradas comorbidade. Pais e mães entravam e saíam com seus bebês para aplicar as vacinas do Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas lamentavam que ainda não podiam vacinar seus filhos contra a covid-19.

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Apesar de as unidades de saúde estarem trabalhando com uma “fila da xepa” para vacinar crianças entre 6 meses e 2 anos, 11 meses e 29 dias que não têm comorbidade, nem são indígenas, muitos pais não sabem disso.

“Estou aguardando começar a vacinação para ele. Assim que liberarem, com certeza vou trazê-lo para vacinar, pois sei a importância da vacina”, disse Rosângela Silva, mãe de Bernardo, de 11 meses, que não sabia sobre a “fila da xepa” até então.

Para Mônica Levi, a desinformação dos pais é resultado da falta de uma campanha de comunicação vacinal eficiente. “É preciso chamar os pais para vacinar suas crianças. Se fizessem uma campanha como era feita antigamente, com Zé Gotinha, não ia faltar gente querendo vacinar”, diz.

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Neste mês, o Ministério da Saúde informou que a aplicação para as crianças que não têm comorbidades será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ainda sem data para ocorrer.

Perda de doses

Além do atraso na cobertura vacinal, com a baixa procura por vacinas infantis nos postos de saúde, há risco de perda de doses. Cada ampola da Pfizer Baby contém dez doses e, depois de aberta, tem validade de 12 horas. Por isso, se até o final do dia não forem aplicadas todas as doses da ampola, a vacina é perdida.

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A expectativa é de que, neste cenário, a “fila da xepa” corra rapidamente, porém, Mônica reforça que este não é o cenário ideal. “É um absurdo que a gente tenha perda de doses de vacina por uma questão logística. Faria sentido que a vacinação fosse faseada por faixa etária, mas não nesse esquema de comorbidade”, diz.

Além disso, mesmo com a medida de aplicação de doses remanescentes, o risco de desperdício continua alto, afinal, nem todos os postos de saúde conseguem formar uma “fila da xepa” robusta e nem sempre os pais conseguem comparecer ao local no tempo exigido.

Os pais de crianças da “fila da xepa” são contatados minutos antes do fechamento dos postos de saúde e devem comparecer ao local rapidamente para que a vacina seja aplicada no bebê. Por isso, só são permitidas inscrições de pessoas que residem próximo à unidade de saúde, mediante apresentação do comprovante de residência.

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Impacto da covid-19 nas crianças

Entre as poucas crianças que se vacinaram nesta quinta-feira, está o filho de Maria Aparecida Souza, Pedro, de 2 anos. Ele tem encefalopatia e transtornos do desenvolvimento. “Eu fiquei sabendo que começaria a campanha de vacinação para os bebês hoje e fui incentivada na AACD a vacinar. Decidi ir hoje mesmo à UBS porque sei o quão importante é prevenir essa doença”, diz a mãe.

Segundo a Fiocruz, hoje, duas crianças menores de cinco anos morrem todos os dias por covid-19 no Brasil. Além disso, elas tendem a sofrer mais com doenças respiratórias em geral.

“Temos casos de covid longa nessas crianças e quadros de síndrome inflamatória pediátrica sistêmica, que tem uma taxa mortalidade alta, proporcional à de outras doenças que para as quais existem vacinas”, diz Mônica. “Não é uma doença negligenciável para criança”, reforça.

A campanha de vacinação contra covid-19 de crianças de 6 meses a 3 anos começou devagar. O imunizante Pfizer Baby começou a ser aplicado na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 17, em crianças com comorbidade - imunossuprimidos e com deficiência permanente - ou indígenas, como foi recomendado pelo Ministério da Saúde, porém, nas quatro UBSs em que a reportagem do Estadão esteve presente - nos bairros Vila Mariana, Cambuci, Santa Cecília e Vila Madalena - poucas ou nenhuma criança foi vacinada.

Segundo balanço da Prefeitura de São Paulo, das 34.840 doses recebidas pelo município, só 699 foram aplicadas nesta quinta-feira, 17, nas 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.

Para funcionários das unidades de saúde e pediatras, o motivo da baixa vacinação é o público-alvo da campanha, já que, nesta faixa etária, muitas crianças ainda não receberam diagnóstico de doenças crônicas ou deficiência.

A decisão pela priorização de grupos específicos de crianças, tomada pelo Ministério da Saúde, vai contra a recomendação da Câmara Técnica de Pediatria, que defendia que fossem compradas doses suficientes para imunizar todas as crianças dessa faixa etária.

Criança recebe vacina infantil contra a covid-19 em posto de saúde da cidade de São Paulo Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A lógica de priorização da imunização de pessoas com comorbidade fazia sentido no início da pandemia e para adultos, já que as doses de vacina estavam começando a ser produzidas, vinham por lotes, e era preciso conter o número de mortes, mas não hoje e nem para as crianças”, explica a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi.

Segundo a especialista, o Ministério da Saúde não considerou as especificidades dessa faixa etária. “Eles pegaram uma tabela de comorbidades comuns em adultos e adolescentes e quiseram adotá-la para uma campanha infantil. Isso não funciona.”

Falta de comunicação

Nas unidades básicas de saúde, muitas pessoas não sabiam quais doenças e condições são consideradas comorbidade. Pais e mães entravam e saíam com seus bebês para aplicar as vacinas do Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas lamentavam que ainda não podiam vacinar seus filhos contra a covid-19.

Apesar de as unidades de saúde estarem trabalhando com uma “fila da xepa” para vacinar crianças entre 6 meses e 2 anos, 11 meses e 29 dias que não têm comorbidade, nem são indígenas, muitos pais não sabem disso.

“Estou aguardando começar a vacinação para ele. Assim que liberarem, com certeza vou trazê-lo para vacinar, pois sei a importância da vacina”, disse Rosângela Silva, mãe de Bernardo, de 11 meses, que não sabia sobre a “fila da xepa” até então.

Para Mônica Levi, a desinformação dos pais é resultado da falta de uma campanha de comunicação vacinal eficiente. “É preciso chamar os pais para vacinar suas crianças. Se fizessem uma campanha como era feita antigamente, com Zé Gotinha, não ia faltar gente querendo vacinar”, diz.

Neste mês, o Ministério da Saúde informou que a aplicação para as crianças que não têm comorbidades será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ainda sem data para ocorrer.

Perda de doses

Além do atraso na cobertura vacinal, com a baixa procura por vacinas infantis nos postos de saúde, há risco de perda de doses. Cada ampola da Pfizer Baby contém dez doses e, depois de aberta, tem validade de 12 horas. Por isso, se até o final do dia não forem aplicadas todas as doses da ampola, a vacina é perdida.

A expectativa é de que, neste cenário, a “fila da xepa” corra rapidamente, porém, Mônica reforça que este não é o cenário ideal. “É um absurdo que a gente tenha perda de doses de vacina por uma questão logística. Faria sentido que a vacinação fosse faseada por faixa etária, mas não nesse esquema de comorbidade”, diz.

Além disso, mesmo com a medida de aplicação de doses remanescentes, o risco de desperdício continua alto, afinal, nem todos os postos de saúde conseguem formar uma “fila da xepa” robusta e nem sempre os pais conseguem comparecer ao local no tempo exigido.

Os pais de crianças da “fila da xepa” são contatados minutos antes do fechamento dos postos de saúde e devem comparecer ao local rapidamente para que a vacina seja aplicada no bebê. Por isso, só são permitidas inscrições de pessoas que residem próximo à unidade de saúde, mediante apresentação do comprovante de residência.

Impacto da covid-19 nas crianças

Entre as poucas crianças que se vacinaram nesta quinta-feira, está o filho de Maria Aparecida Souza, Pedro, de 2 anos. Ele tem encefalopatia e transtornos do desenvolvimento. “Eu fiquei sabendo que começaria a campanha de vacinação para os bebês hoje e fui incentivada na AACD a vacinar. Decidi ir hoje mesmo à UBS porque sei o quão importante é prevenir essa doença”, diz a mãe.

Segundo a Fiocruz, hoje, duas crianças menores de cinco anos morrem todos os dias por covid-19 no Brasil. Além disso, elas tendem a sofrer mais com doenças respiratórias em geral.

“Temos casos de covid longa nessas crianças e quadros de síndrome inflamatória pediátrica sistêmica, que tem uma taxa mortalidade alta, proporcional à de outras doenças que para as quais existem vacinas”, diz Mônica. “Não é uma doença negligenciável para criança”, reforça.

A campanha de vacinação contra covid-19 de crianças de 6 meses a 3 anos começou devagar. O imunizante Pfizer Baby começou a ser aplicado na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 17, em crianças com comorbidade - imunossuprimidos e com deficiência permanente - ou indígenas, como foi recomendado pelo Ministério da Saúde, porém, nas quatro UBSs em que a reportagem do Estadão esteve presente - nos bairros Vila Mariana, Cambuci, Santa Cecília e Vila Madalena - poucas ou nenhuma criança foi vacinada.

Segundo balanço da Prefeitura de São Paulo, das 34.840 doses recebidas pelo município, só 699 foram aplicadas nesta quinta-feira, 17, nas 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.

Para funcionários das unidades de saúde e pediatras, o motivo da baixa vacinação é o público-alvo da campanha, já que, nesta faixa etária, muitas crianças ainda não receberam diagnóstico de doenças crônicas ou deficiência.

A decisão pela priorização de grupos específicos de crianças, tomada pelo Ministério da Saúde, vai contra a recomendação da Câmara Técnica de Pediatria, que defendia que fossem compradas doses suficientes para imunizar todas as crianças dessa faixa etária.

Criança recebe vacina infantil contra a covid-19 em posto de saúde da cidade de São Paulo Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A lógica de priorização da imunização de pessoas com comorbidade fazia sentido no início da pandemia e para adultos, já que as doses de vacina estavam começando a ser produzidas, vinham por lotes, e era preciso conter o número de mortes, mas não hoje e nem para as crianças”, explica a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi.

Segundo a especialista, o Ministério da Saúde não considerou as especificidades dessa faixa etária. “Eles pegaram uma tabela de comorbidades comuns em adultos e adolescentes e quiseram adotá-la para uma campanha infantil. Isso não funciona.”

Falta de comunicação

Nas unidades básicas de saúde, muitas pessoas não sabiam quais doenças e condições são consideradas comorbidade. Pais e mães entravam e saíam com seus bebês para aplicar as vacinas do Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas lamentavam que ainda não podiam vacinar seus filhos contra a covid-19.

Apesar de as unidades de saúde estarem trabalhando com uma “fila da xepa” para vacinar crianças entre 6 meses e 2 anos, 11 meses e 29 dias que não têm comorbidade, nem são indígenas, muitos pais não sabem disso.

“Estou aguardando começar a vacinação para ele. Assim que liberarem, com certeza vou trazê-lo para vacinar, pois sei a importância da vacina”, disse Rosângela Silva, mãe de Bernardo, de 11 meses, que não sabia sobre a “fila da xepa” até então.

Para Mônica Levi, a desinformação dos pais é resultado da falta de uma campanha de comunicação vacinal eficiente. “É preciso chamar os pais para vacinar suas crianças. Se fizessem uma campanha como era feita antigamente, com Zé Gotinha, não ia faltar gente querendo vacinar”, diz.

Neste mês, o Ministério da Saúde informou que a aplicação para as crianças que não têm comorbidades será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ainda sem data para ocorrer.

Perda de doses

Além do atraso na cobertura vacinal, com a baixa procura por vacinas infantis nos postos de saúde, há risco de perda de doses. Cada ampola da Pfizer Baby contém dez doses e, depois de aberta, tem validade de 12 horas. Por isso, se até o final do dia não forem aplicadas todas as doses da ampola, a vacina é perdida.

A expectativa é de que, neste cenário, a “fila da xepa” corra rapidamente, porém, Mônica reforça que este não é o cenário ideal. “É um absurdo que a gente tenha perda de doses de vacina por uma questão logística. Faria sentido que a vacinação fosse faseada por faixa etária, mas não nesse esquema de comorbidade”, diz.

Além disso, mesmo com a medida de aplicação de doses remanescentes, o risco de desperdício continua alto, afinal, nem todos os postos de saúde conseguem formar uma “fila da xepa” robusta e nem sempre os pais conseguem comparecer ao local no tempo exigido.

Os pais de crianças da “fila da xepa” são contatados minutos antes do fechamento dos postos de saúde e devem comparecer ao local rapidamente para que a vacina seja aplicada no bebê. Por isso, só são permitidas inscrições de pessoas que residem próximo à unidade de saúde, mediante apresentação do comprovante de residência.

Impacto da covid-19 nas crianças

Entre as poucas crianças que se vacinaram nesta quinta-feira, está o filho de Maria Aparecida Souza, Pedro, de 2 anos. Ele tem encefalopatia e transtornos do desenvolvimento. “Eu fiquei sabendo que começaria a campanha de vacinação para os bebês hoje e fui incentivada na AACD a vacinar. Decidi ir hoje mesmo à UBS porque sei o quão importante é prevenir essa doença”, diz a mãe.

Segundo a Fiocruz, hoje, duas crianças menores de cinco anos morrem todos os dias por covid-19 no Brasil. Além disso, elas tendem a sofrer mais com doenças respiratórias em geral.

“Temos casos de covid longa nessas crianças e quadros de síndrome inflamatória pediátrica sistêmica, que tem uma taxa mortalidade alta, proporcional à de outras doenças que para as quais existem vacinas”, diz Mônica. “Não é uma doença negligenciável para criança”, reforça.

A campanha de vacinação contra covid-19 de crianças de 6 meses a 3 anos começou devagar. O imunizante Pfizer Baby começou a ser aplicado na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 17, em crianças com comorbidade - imunossuprimidos e com deficiência permanente - ou indígenas, como foi recomendado pelo Ministério da Saúde, porém, nas quatro UBSs em que a reportagem do Estadão esteve presente - nos bairros Vila Mariana, Cambuci, Santa Cecília e Vila Madalena - poucas ou nenhuma criança foi vacinada.

Segundo balanço da Prefeitura de São Paulo, das 34.840 doses recebidas pelo município, só 699 foram aplicadas nesta quinta-feira, 17, nas 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.

Para funcionários das unidades de saúde e pediatras, o motivo da baixa vacinação é o público-alvo da campanha, já que, nesta faixa etária, muitas crianças ainda não receberam diagnóstico de doenças crônicas ou deficiência.

A decisão pela priorização de grupos específicos de crianças, tomada pelo Ministério da Saúde, vai contra a recomendação da Câmara Técnica de Pediatria, que defendia que fossem compradas doses suficientes para imunizar todas as crianças dessa faixa etária.

Criança recebe vacina infantil contra a covid-19 em posto de saúde da cidade de São Paulo Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A lógica de priorização da imunização de pessoas com comorbidade fazia sentido no início da pandemia e para adultos, já que as doses de vacina estavam começando a ser produzidas, vinham por lotes, e era preciso conter o número de mortes, mas não hoje e nem para as crianças”, explica a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi.

Segundo a especialista, o Ministério da Saúde não considerou as especificidades dessa faixa etária. “Eles pegaram uma tabela de comorbidades comuns em adultos e adolescentes e quiseram adotá-la para uma campanha infantil. Isso não funciona.”

Falta de comunicação

Nas unidades básicas de saúde, muitas pessoas não sabiam quais doenças e condições são consideradas comorbidade. Pais e mães entravam e saíam com seus bebês para aplicar as vacinas do Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas lamentavam que ainda não podiam vacinar seus filhos contra a covid-19.

Apesar de as unidades de saúde estarem trabalhando com uma “fila da xepa” para vacinar crianças entre 6 meses e 2 anos, 11 meses e 29 dias que não têm comorbidade, nem são indígenas, muitos pais não sabem disso.

“Estou aguardando começar a vacinação para ele. Assim que liberarem, com certeza vou trazê-lo para vacinar, pois sei a importância da vacina”, disse Rosângela Silva, mãe de Bernardo, de 11 meses, que não sabia sobre a “fila da xepa” até então.

Para Mônica Levi, a desinformação dos pais é resultado da falta de uma campanha de comunicação vacinal eficiente. “É preciso chamar os pais para vacinar suas crianças. Se fizessem uma campanha como era feita antigamente, com Zé Gotinha, não ia faltar gente querendo vacinar”, diz.

Neste mês, o Ministério da Saúde informou que a aplicação para as crianças que não têm comorbidades será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ainda sem data para ocorrer.

Perda de doses

Além do atraso na cobertura vacinal, com a baixa procura por vacinas infantis nos postos de saúde, há risco de perda de doses. Cada ampola da Pfizer Baby contém dez doses e, depois de aberta, tem validade de 12 horas. Por isso, se até o final do dia não forem aplicadas todas as doses da ampola, a vacina é perdida.

A expectativa é de que, neste cenário, a “fila da xepa” corra rapidamente, porém, Mônica reforça que este não é o cenário ideal. “É um absurdo que a gente tenha perda de doses de vacina por uma questão logística. Faria sentido que a vacinação fosse faseada por faixa etária, mas não nesse esquema de comorbidade”, diz.

Além disso, mesmo com a medida de aplicação de doses remanescentes, o risco de desperdício continua alto, afinal, nem todos os postos de saúde conseguem formar uma “fila da xepa” robusta e nem sempre os pais conseguem comparecer ao local no tempo exigido.

Os pais de crianças da “fila da xepa” são contatados minutos antes do fechamento dos postos de saúde e devem comparecer ao local rapidamente para que a vacina seja aplicada no bebê. Por isso, só são permitidas inscrições de pessoas que residem próximo à unidade de saúde, mediante apresentação do comprovante de residência.

Impacto da covid-19 nas crianças

Entre as poucas crianças que se vacinaram nesta quinta-feira, está o filho de Maria Aparecida Souza, Pedro, de 2 anos. Ele tem encefalopatia e transtornos do desenvolvimento. “Eu fiquei sabendo que começaria a campanha de vacinação para os bebês hoje e fui incentivada na AACD a vacinar. Decidi ir hoje mesmo à UBS porque sei o quão importante é prevenir essa doença”, diz a mãe.

Segundo a Fiocruz, hoje, duas crianças menores de cinco anos morrem todos os dias por covid-19 no Brasil. Além disso, elas tendem a sofrer mais com doenças respiratórias em geral.

“Temos casos de covid longa nessas crianças e quadros de síndrome inflamatória pediátrica sistêmica, que tem uma taxa mortalidade alta, proporcional à de outras doenças que para as quais existem vacinas”, diz Mônica. “Não é uma doença negligenciável para criança”, reforça.

A campanha de vacinação contra covid-19 de crianças de 6 meses a 3 anos começou devagar. O imunizante Pfizer Baby começou a ser aplicado na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 17, em crianças com comorbidade - imunossuprimidos e com deficiência permanente - ou indígenas, como foi recomendado pelo Ministério da Saúde, porém, nas quatro UBSs em que a reportagem do Estadão esteve presente - nos bairros Vila Mariana, Cambuci, Santa Cecília e Vila Madalena - poucas ou nenhuma criança foi vacinada.

Segundo balanço da Prefeitura de São Paulo, das 34.840 doses recebidas pelo município, só 699 foram aplicadas nesta quinta-feira, 17, nas 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.

Para funcionários das unidades de saúde e pediatras, o motivo da baixa vacinação é o público-alvo da campanha, já que, nesta faixa etária, muitas crianças ainda não receberam diagnóstico de doenças crônicas ou deficiência.

A decisão pela priorização de grupos específicos de crianças, tomada pelo Ministério da Saúde, vai contra a recomendação da Câmara Técnica de Pediatria, que defendia que fossem compradas doses suficientes para imunizar todas as crianças dessa faixa etária.

Criança recebe vacina infantil contra a covid-19 em posto de saúde da cidade de São Paulo Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A lógica de priorização da imunização de pessoas com comorbidade fazia sentido no início da pandemia e para adultos, já que as doses de vacina estavam começando a ser produzidas, vinham por lotes, e era preciso conter o número de mortes, mas não hoje e nem para as crianças”, explica a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi.

Segundo a especialista, o Ministério da Saúde não considerou as especificidades dessa faixa etária. “Eles pegaram uma tabela de comorbidades comuns em adultos e adolescentes e quiseram adotá-la para uma campanha infantil. Isso não funciona.”

Falta de comunicação

Nas unidades básicas de saúde, muitas pessoas não sabiam quais doenças e condições são consideradas comorbidade. Pais e mães entravam e saíam com seus bebês para aplicar as vacinas do Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas lamentavam que ainda não podiam vacinar seus filhos contra a covid-19.

Apesar de as unidades de saúde estarem trabalhando com uma “fila da xepa” para vacinar crianças entre 6 meses e 2 anos, 11 meses e 29 dias que não têm comorbidade, nem são indígenas, muitos pais não sabem disso.

“Estou aguardando começar a vacinação para ele. Assim que liberarem, com certeza vou trazê-lo para vacinar, pois sei a importância da vacina”, disse Rosângela Silva, mãe de Bernardo, de 11 meses, que não sabia sobre a “fila da xepa” até então.

Para Mônica Levi, a desinformação dos pais é resultado da falta de uma campanha de comunicação vacinal eficiente. “É preciso chamar os pais para vacinar suas crianças. Se fizessem uma campanha como era feita antigamente, com Zé Gotinha, não ia faltar gente querendo vacinar”, diz.

Neste mês, o Ministério da Saúde informou que a aplicação para as crianças que não têm comorbidades será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ainda sem data para ocorrer.

Perda de doses

Além do atraso na cobertura vacinal, com a baixa procura por vacinas infantis nos postos de saúde, há risco de perda de doses. Cada ampola da Pfizer Baby contém dez doses e, depois de aberta, tem validade de 12 horas. Por isso, se até o final do dia não forem aplicadas todas as doses da ampola, a vacina é perdida.

A expectativa é de que, neste cenário, a “fila da xepa” corra rapidamente, porém, Mônica reforça que este não é o cenário ideal. “É um absurdo que a gente tenha perda de doses de vacina por uma questão logística. Faria sentido que a vacinação fosse faseada por faixa etária, mas não nesse esquema de comorbidade”, diz.

Além disso, mesmo com a medida de aplicação de doses remanescentes, o risco de desperdício continua alto, afinal, nem todos os postos de saúde conseguem formar uma “fila da xepa” robusta e nem sempre os pais conseguem comparecer ao local no tempo exigido.

Os pais de crianças da “fila da xepa” são contatados minutos antes do fechamento dos postos de saúde e devem comparecer ao local rapidamente para que a vacina seja aplicada no bebê. Por isso, só são permitidas inscrições de pessoas que residem próximo à unidade de saúde, mediante apresentação do comprovante de residência.

Impacto da covid-19 nas crianças

Entre as poucas crianças que se vacinaram nesta quinta-feira, está o filho de Maria Aparecida Souza, Pedro, de 2 anos. Ele tem encefalopatia e transtornos do desenvolvimento. “Eu fiquei sabendo que começaria a campanha de vacinação para os bebês hoje e fui incentivada na AACD a vacinar. Decidi ir hoje mesmo à UBS porque sei o quão importante é prevenir essa doença”, diz a mãe.

Segundo a Fiocruz, hoje, duas crianças menores de cinco anos morrem todos os dias por covid-19 no Brasil. Além disso, elas tendem a sofrer mais com doenças respiratórias em geral.

“Temos casos de covid longa nessas crianças e quadros de síndrome inflamatória pediátrica sistêmica, que tem uma taxa mortalidade alta, proporcional à de outras doenças que para as quais existem vacinas”, diz Mônica. “Não é uma doença negligenciável para criança”, reforça.

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