Vai viajar com filhos? Veja dicas para planejar passeio em cada idade das crianças


Um bom programa com pais e filhos tem de ser relaxante, incluir surpresas e descobertas, criar memórias e até manter as boas rotinas

Por Nathalia Molina

Conhecer novos lugares ou revisitar antigos, no sentido real ou metafórico. Viagens em família tomam sempre esse rumo, independentemente do destino escolhido. São momentos para se deparar com aspectos da vida, aprofundar vínculos afetivos e construir memórias. Assim como ocorre em festas e passeios na própria cidade, essas situações prazerosas contribuem para que a vivência não se limite à repetição do cotidiano.

”Claramente, as viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem, e a família mais extensa também, entre primos, com os avós, entre irmãos que já têm filhos. Essa diversidade de pessoas com personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante. Pode até ser estressante e ter perrengues, mas em boa parte do tempo é uma experiência de diversão e descoberta”, afirma a psicóloga clínica Elizabeth Brandão.

De acordo com a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o distensionamento, sem modelos muito fixos de como as pessoas são e de como devem ser, favorece a compreensão. “A convivência familiar é a que melhor permite isso por conta dos vínculos afetivos já existentes entre as pessoas. (Os outros) são testemunhas da sua vida, sabem o que você passou, como era. Têm informações que não dependem do seu relato, mas ele pode ajudar e muito.”

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Milena Buosi e Ricardo Iamauti não abrem mão de viajar com o filho, Pedro, desde que ele tinha 2 anos. “A gente sempre tenta duas vezes por ano, nas férias da escola. Virou parte da rotina”, afirma a mãe do menino, de 11 anos. “É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria. É como se fosse um intensivão de conexão familiar, para construir memórias juntos”, diz Milena. “Quero muito que meu filho tenha, no futuro, lembranças felizes do que viveu com os pais, e a viagem é muito propícia para isso.”

Contemplação da natureza

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Em janeiro, eles conheceram o Jalapão, destino turístico no Tocantins. “Viajar, para mim, envolve uma contemplação da vida. Tem uma pegada filosófica, de respeito à natureza e às relações, de pensar que a gente é parte de algo muito maior. É uma mudança de ritmo. O Pedro adora”, afirma. “De alguma maneira, você sai da zona de conforto. Embora existam as nossas conexões, cada um vai viver ali sua experiência, num dia a dia diferente desde a hora em que acorda.”

A blogueira Fabiana e o marido Paulo, com as filhas Alice e Sofia, em Foz do Iguaçu: programas menos cansativos, para as meninas poderem curtir bem cada lugar Foto: Fabiana Lopes Silva

Atividades são parte de uma rotina de quem tem filho, mas durante as viagens há um novo ambiente para exploração. “Não são necessárias experiências fantásticas. Eu não preciso ir a Marte. São coisas simples”, diz Luciene Tognetta, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Por exemplo, provar a comida típica de um lugar ou explorar uma cidade a pé.

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Ela ressalta que os pais podem pensar numa rotina mais flexível e lembrar que imprevistos podem ocorrer. Também recomenda que as necessidades da faixa etária dos filhos sejam respeitadas. “Se eu sou uma criança de 3 anos, olhar um museu andando vai ser impossível, por causa da minha idade. Não é tédio, não é característica dessa geração. É uma característica humana”, explica.

Mãe atenta de duas pequeninas, Fabiana Lopes Silva logo percebeu que teria de alterar o ritmo dos roteiros. “Foi como um choque. Você entra nos lugares e não aprofunda tanto. Não é a mesma viagem.” Ela conta que, quando viajava só com o marido, Paulo, queria ver tudo por onde andava. Hoje procura não encher de programas os dias fora de casa com Alice, de 5 anos, e Sofia, de 3.

Sem rigidez

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”Vejo um passeio maior por dia e um lugar legal para almoçar. Nada rígido. No carnaval, fomos para Curitiba de carro. Escolhi três parques, restaurantes com espaço kids e bailinho de carnaval”, diz Fabiana, que começou a escrever o blog Bagagem de Colo, em outubro do ano passado, para dar vazão às dicas que vão surgindo.

A mãe conta que as irmãs já amam viajar. “Cada uma tem uma malinha. Elas participam de tudo. Gostam de arrumar mala, pegam as roupas”, diz. “Quero que sejam do mundo. Vou criar nelas essa vontade de conhecer além de onde a gente está.”

Com paradas ao longo do trajeto, Alice e Sofia topam viagens de carro sem aborrecimento. Algumas bem longas, como a ida de Praia Grande – onde a família mora, no litoral paulista – à catarinense Pomerode. Nesse caso, a tática da mãe é apostar em atividades e lanchinhos. “Indiretamente, elas percebem que é um momento nosso. O dia a dia acaba estressando. Fora da rotina, sou muito mais tolerante”,

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Milena, mãe do Pedro, conta que consegue descansar mais quando o roteiro é para lugares sem tanto movimento. Mas ela, o marido e o filho se mantêm abertos a estilos diversos – “pode ser que um goste mais, outro menos” – e curtem mesclar a imersão em paisagens com destinos histórico-culturais. Os três já estiveram em chapadas e praias brasileiras, na Patagônia, em Portugal e Espanha e na americana Orlando.

Mudanças da pandemia

O destino preferido dos brasileiros para viagens em família atende mesmo a todas as idades. Mas, como a pandemia acelerou o desejo de estar fora de casa com os mais próximos, o setor de turismo vem criando outras ofertas para esse público. “A Emerald Cruises lança saídas em família para julho, e a AmaWaterways já se posiciona como family friendly, com cabines conectadas e suítes triplas ou quádruplas”, diz Ricardo Alves, diretor executivo da Velle, que representa no Brasil as duas companhias de cruzeiros fluviais.

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'É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria', diz Milena Buosi  Foto: Felipe Rau/Estadão

Nas navegações de uma semana da Emerald pelos Rios Danúbio (15/7) e Reno (17/7), na Europa, haverá brincadeiras na piscina, tour pela cabine do capitão, demonstração de culinária com o chef, cinema e videogames. “O atendimento a bordo é bastante exclusivo, por termos poucas cabines. Por isso, viajar com crianças pode ser muito confortável, tanto pelo cuidado, como pela personalização da alimentação e das atividades. As crianças adoram histórias e nossos programas fluviais são repletos disso: reis, princesas, heróis e castelos”, afirma Alves.

Uso de tecnologias

Uma das batalhas reais para quem tem filhos costuma ser a de limitar as horas de jogos eletrônicos – em viagem ou não. Os dias fora de casa, porém, podem servir de convite a uma nova dinâmica, permitindo aos integrantes da família desfrutar de tempo juntos.

Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória, recomenda que os pais aproveitem a folga com os filhos para, de fato, vivenciarem momentos com eles. “Não adianta você dizer ‘vai lá fazer e fico aqui sentado embaixo do guarda-sol’. Faça junto”, aconselha. “Tem uma frase que diz que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam.” O educador reforça que a vivência em família permite a troca efetiva e “marca o restante da vida de crianças, adolescentes e adultos também”.

Viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem também com primos e com avós. Essa diversidade de personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante

Elizabeth Brandão, psicóloga da PUC-SP

Experiência própria

Em dezembro de 2022, como repórter experimentei o mundo de Harry Potter na Universal Orlando com meu filho. Por intermédio do Joaquim, conheci o universo criado por J.K. Rowling: ele leu a coleção de livros, viu os filmes, decorou o quarto com quadrinhos dos personagens e se fantasiou em muitos Halloweens com óculos redondos, capa e raio na testa.

Hoje com 13 anos, meu filho gosta, mas não é mais um pottermaníaco. As atrações e a ambientação detalhada da área temática, dividida entre os parques Islands of Adventure e Universal Studios Florida, nos Estados Unidos, trouxeram tudo à tona de novo. Juntos, revivemos Potter e sua turma. E ele ainda arrastou o pai, Fernando, para passeios no Expresso de Hogwarts e na montanha-russa do Hagrid. Já fizemos viagens marcantes em família – cidades da Alemanha, Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS). Harry Potter na Universal Orlando certamente entrou para essa lista.

Interesses diferentes em cada fase da vida

Em qualquer idade, atividades que permitam interação social podem ser incluídas no roteiro, desde uma recreação infantil nos hotéis até passeios em parques urbanos. Mas existem particularidades em cada etapa do desenvolvimento. Veja o que os especialistas dizem sobre isso:

  • Infância até os 6 anos

Nessa fase, algo teórico pode ser muito complexo. Por isso, é importante que o roteiro priorize a prática. “Na primeira infância, eles gostam muito de psicomotricidade. A partir da brincadeira, da interação, a criança vai criando e se divertindo”, explica Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória.

A criança dessa faixa etária não aguenta viagens longas sem paradas durante o caminho. Por isso, inclua no roteiro pausas em parquinhos e espaços para correr. Experiências interativas e lúdicas também costumam fazer sucesso.

  • Dos 7 aos 11 anos

Aqui vale botar uma pitada de aventura e cultura, para alimentar a curiosidade. Considere ir a parques aquáticos e tomar trens. Parques de diversão na Flórida são interessantes em família para todas as idades, mas começam a ficar mais proveitosos nessa fase.

Visitas a museus, centros de ciências (como o Catavento, em São Paulo) e lugares históricos ajudam, de forma natural, a materializar e a ampliar o conhecimento adquirido no ensino fundamental.

  • Adolescência

A participação na definição do roteiro pode ser um incentivo para curtir os dias fora de casa. “Um adolescente não vai querer sair com os pais, então o legal é que, de alguma forma, a viagem tenha o envolvimento dele”, recomenda Luciene Tognetta, professora de Pedagogia na Unesp.

Doses de adrenalina na natureza, roteiros em biomas brasileiros e dias na neve com esqui e snowboard ajudam a despertar interesse. Se a viagem for a uma cidade, o adolescente pode pesquisar em sites sobre esse destino e contar quais atrações ele tem vontade de conhecer.

Conforme avança a adolescência, a companhia será mais rara, mas o programa pode incluir algo de vida noturna.

Conhecer novos lugares ou revisitar antigos, no sentido real ou metafórico. Viagens em família tomam sempre esse rumo, independentemente do destino escolhido. São momentos para se deparar com aspectos da vida, aprofundar vínculos afetivos e construir memórias. Assim como ocorre em festas e passeios na própria cidade, essas situações prazerosas contribuem para que a vivência não se limite à repetição do cotidiano.

”Claramente, as viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem, e a família mais extensa também, entre primos, com os avós, entre irmãos que já têm filhos. Essa diversidade de pessoas com personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante. Pode até ser estressante e ter perrengues, mas em boa parte do tempo é uma experiência de diversão e descoberta”, afirma a psicóloga clínica Elizabeth Brandão.

De acordo com a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o distensionamento, sem modelos muito fixos de como as pessoas são e de como devem ser, favorece a compreensão. “A convivência familiar é a que melhor permite isso por conta dos vínculos afetivos já existentes entre as pessoas. (Os outros) são testemunhas da sua vida, sabem o que você passou, como era. Têm informações que não dependem do seu relato, mas ele pode ajudar e muito.”

Milena Buosi e Ricardo Iamauti não abrem mão de viajar com o filho, Pedro, desde que ele tinha 2 anos. “A gente sempre tenta duas vezes por ano, nas férias da escola. Virou parte da rotina”, afirma a mãe do menino, de 11 anos. “É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria. É como se fosse um intensivão de conexão familiar, para construir memórias juntos”, diz Milena. “Quero muito que meu filho tenha, no futuro, lembranças felizes do que viveu com os pais, e a viagem é muito propícia para isso.”

Contemplação da natureza

Em janeiro, eles conheceram o Jalapão, destino turístico no Tocantins. “Viajar, para mim, envolve uma contemplação da vida. Tem uma pegada filosófica, de respeito à natureza e às relações, de pensar que a gente é parte de algo muito maior. É uma mudança de ritmo. O Pedro adora”, afirma. “De alguma maneira, você sai da zona de conforto. Embora existam as nossas conexões, cada um vai viver ali sua experiência, num dia a dia diferente desde a hora em que acorda.”

A blogueira Fabiana e o marido Paulo, com as filhas Alice e Sofia, em Foz do Iguaçu: programas menos cansativos, para as meninas poderem curtir bem cada lugar Foto: Fabiana Lopes Silva

Atividades são parte de uma rotina de quem tem filho, mas durante as viagens há um novo ambiente para exploração. “Não são necessárias experiências fantásticas. Eu não preciso ir a Marte. São coisas simples”, diz Luciene Tognetta, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Por exemplo, provar a comida típica de um lugar ou explorar uma cidade a pé.

Ela ressalta que os pais podem pensar numa rotina mais flexível e lembrar que imprevistos podem ocorrer. Também recomenda que as necessidades da faixa etária dos filhos sejam respeitadas. “Se eu sou uma criança de 3 anos, olhar um museu andando vai ser impossível, por causa da minha idade. Não é tédio, não é característica dessa geração. É uma característica humana”, explica.

Mãe atenta de duas pequeninas, Fabiana Lopes Silva logo percebeu que teria de alterar o ritmo dos roteiros. “Foi como um choque. Você entra nos lugares e não aprofunda tanto. Não é a mesma viagem.” Ela conta que, quando viajava só com o marido, Paulo, queria ver tudo por onde andava. Hoje procura não encher de programas os dias fora de casa com Alice, de 5 anos, e Sofia, de 3.

Sem rigidez

”Vejo um passeio maior por dia e um lugar legal para almoçar. Nada rígido. No carnaval, fomos para Curitiba de carro. Escolhi três parques, restaurantes com espaço kids e bailinho de carnaval”, diz Fabiana, que começou a escrever o blog Bagagem de Colo, em outubro do ano passado, para dar vazão às dicas que vão surgindo.

A mãe conta que as irmãs já amam viajar. “Cada uma tem uma malinha. Elas participam de tudo. Gostam de arrumar mala, pegam as roupas”, diz. “Quero que sejam do mundo. Vou criar nelas essa vontade de conhecer além de onde a gente está.”

Com paradas ao longo do trajeto, Alice e Sofia topam viagens de carro sem aborrecimento. Algumas bem longas, como a ida de Praia Grande – onde a família mora, no litoral paulista – à catarinense Pomerode. Nesse caso, a tática da mãe é apostar em atividades e lanchinhos. “Indiretamente, elas percebem que é um momento nosso. O dia a dia acaba estressando. Fora da rotina, sou muito mais tolerante”,

Milena, mãe do Pedro, conta que consegue descansar mais quando o roteiro é para lugares sem tanto movimento. Mas ela, o marido e o filho se mantêm abertos a estilos diversos – “pode ser que um goste mais, outro menos” – e curtem mesclar a imersão em paisagens com destinos histórico-culturais. Os três já estiveram em chapadas e praias brasileiras, na Patagônia, em Portugal e Espanha e na americana Orlando.

Mudanças da pandemia

O destino preferido dos brasileiros para viagens em família atende mesmo a todas as idades. Mas, como a pandemia acelerou o desejo de estar fora de casa com os mais próximos, o setor de turismo vem criando outras ofertas para esse público. “A Emerald Cruises lança saídas em família para julho, e a AmaWaterways já se posiciona como family friendly, com cabines conectadas e suítes triplas ou quádruplas”, diz Ricardo Alves, diretor executivo da Velle, que representa no Brasil as duas companhias de cruzeiros fluviais.

'É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria', diz Milena Buosi  Foto: Felipe Rau/Estadão

Nas navegações de uma semana da Emerald pelos Rios Danúbio (15/7) e Reno (17/7), na Europa, haverá brincadeiras na piscina, tour pela cabine do capitão, demonstração de culinária com o chef, cinema e videogames. “O atendimento a bordo é bastante exclusivo, por termos poucas cabines. Por isso, viajar com crianças pode ser muito confortável, tanto pelo cuidado, como pela personalização da alimentação e das atividades. As crianças adoram histórias e nossos programas fluviais são repletos disso: reis, princesas, heróis e castelos”, afirma Alves.

Uso de tecnologias

Uma das batalhas reais para quem tem filhos costuma ser a de limitar as horas de jogos eletrônicos – em viagem ou não. Os dias fora de casa, porém, podem servir de convite a uma nova dinâmica, permitindo aos integrantes da família desfrutar de tempo juntos.

Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória, recomenda que os pais aproveitem a folga com os filhos para, de fato, vivenciarem momentos com eles. “Não adianta você dizer ‘vai lá fazer e fico aqui sentado embaixo do guarda-sol’. Faça junto”, aconselha. “Tem uma frase que diz que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam.” O educador reforça que a vivência em família permite a troca efetiva e “marca o restante da vida de crianças, adolescentes e adultos também”.

Viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem também com primos e com avós. Essa diversidade de personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante

Elizabeth Brandão, psicóloga da PUC-SP

Experiência própria

Em dezembro de 2022, como repórter experimentei o mundo de Harry Potter na Universal Orlando com meu filho. Por intermédio do Joaquim, conheci o universo criado por J.K. Rowling: ele leu a coleção de livros, viu os filmes, decorou o quarto com quadrinhos dos personagens e se fantasiou em muitos Halloweens com óculos redondos, capa e raio na testa.

Hoje com 13 anos, meu filho gosta, mas não é mais um pottermaníaco. As atrações e a ambientação detalhada da área temática, dividida entre os parques Islands of Adventure e Universal Studios Florida, nos Estados Unidos, trouxeram tudo à tona de novo. Juntos, revivemos Potter e sua turma. E ele ainda arrastou o pai, Fernando, para passeios no Expresso de Hogwarts e na montanha-russa do Hagrid. Já fizemos viagens marcantes em família – cidades da Alemanha, Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS). Harry Potter na Universal Orlando certamente entrou para essa lista.

Interesses diferentes em cada fase da vida

Em qualquer idade, atividades que permitam interação social podem ser incluídas no roteiro, desde uma recreação infantil nos hotéis até passeios em parques urbanos. Mas existem particularidades em cada etapa do desenvolvimento. Veja o que os especialistas dizem sobre isso:

  • Infância até os 6 anos

Nessa fase, algo teórico pode ser muito complexo. Por isso, é importante que o roteiro priorize a prática. “Na primeira infância, eles gostam muito de psicomotricidade. A partir da brincadeira, da interação, a criança vai criando e se divertindo”, explica Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória.

A criança dessa faixa etária não aguenta viagens longas sem paradas durante o caminho. Por isso, inclua no roteiro pausas em parquinhos e espaços para correr. Experiências interativas e lúdicas também costumam fazer sucesso.

  • Dos 7 aos 11 anos

Aqui vale botar uma pitada de aventura e cultura, para alimentar a curiosidade. Considere ir a parques aquáticos e tomar trens. Parques de diversão na Flórida são interessantes em família para todas as idades, mas começam a ficar mais proveitosos nessa fase.

Visitas a museus, centros de ciências (como o Catavento, em São Paulo) e lugares históricos ajudam, de forma natural, a materializar e a ampliar o conhecimento adquirido no ensino fundamental.

  • Adolescência

A participação na definição do roteiro pode ser um incentivo para curtir os dias fora de casa. “Um adolescente não vai querer sair com os pais, então o legal é que, de alguma forma, a viagem tenha o envolvimento dele”, recomenda Luciene Tognetta, professora de Pedagogia na Unesp.

Doses de adrenalina na natureza, roteiros em biomas brasileiros e dias na neve com esqui e snowboard ajudam a despertar interesse. Se a viagem for a uma cidade, o adolescente pode pesquisar em sites sobre esse destino e contar quais atrações ele tem vontade de conhecer.

Conforme avança a adolescência, a companhia será mais rara, mas o programa pode incluir algo de vida noturna.

Conhecer novos lugares ou revisitar antigos, no sentido real ou metafórico. Viagens em família tomam sempre esse rumo, independentemente do destino escolhido. São momentos para se deparar com aspectos da vida, aprofundar vínculos afetivos e construir memórias. Assim como ocorre em festas e passeios na própria cidade, essas situações prazerosas contribuem para que a vivência não se limite à repetição do cotidiano.

”Claramente, as viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem, e a família mais extensa também, entre primos, com os avós, entre irmãos que já têm filhos. Essa diversidade de pessoas com personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante. Pode até ser estressante e ter perrengues, mas em boa parte do tempo é uma experiência de diversão e descoberta”, afirma a psicóloga clínica Elizabeth Brandão.

De acordo com a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o distensionamento, sem modelos muito fixos de como as pessoas são e de como devem ser, favorece a compreensão. “A convivência familiar é a que melhor permite isso por conta dos vínculos afetivos já existentes entre as pessoas. (Os outros) são testemunhas da sua vida, sabem o que você passou, como era. Têm informações que não dependem do seu relato, mas ele pode ajudar e muito.”

Milena Buosi e Ricardo Iamauti não abrem mão de viajar com o filho, Pedro, desde que ele tinha 2 anos. “A gente sempre tenta duas vezes por ano, nas férias da escola. Virou parte da rotina”, afirma a mãe do menino, de 11 anos. “É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria. É como se fosse um intensivão de conexão familiar, para construir memórias juntos”, diz Milena. “Quero muito que meu filho tenha, no futuro, lembranças felizes do que viveu com os pais, e a viagem é muito propícia para isso.”

Contemplação da natureza

Em janeiro, eles conheceram o Jalapão, destino turístico no Tocantins. “Viajar, para mim, envolve uma contemplação da vida. Tem uma pegada filosófica, de respeito à natureza e às relações, de pensar que a gente é parte de algo muito maior. É uma mudança de ritmo. O Pedro adora”, afirma. “De alguma maneira, você sai da zona de conforto. Embora existam as nossas conexões, cada um vai viver ali sua experiência, num dia a dia diferente desde a hora em que acorda.”

A blogueira Fabiana e o marido Paulo, com as filhas Alice e Sofia, em Foz do Iguaçu: programas menos cansativos, para as meninas poderem curtir bem cada lugar Foto: Fabiana Lopes Silva

Atividades são parte de uma rotina de quem tem filho, mas durante as viagens há um novo ambiente para exploração. “Não são necessárias experiências fantásticas. Eu não preciso ir a Marte. São coisas simples”, diz Luciene Tognetta, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Por exemplo, provar a comida típica de um lugar ou explorar uma cidade a pé.

Ela ressalta que os pais podem pensar numa rotina mais flexível e lembrar que imprevistos podem ocorrer. Também recomenda que as necessidades da faixa etária dos filhos sejam respeitadas. “Se eu sou uma criança de 3 anos, olhar um museu andando vai ser impossível, por causa da minha idade. Não é tédio, não é característica dessa geração. É uma característica humana”, explica.

Mãe atenta de duas pequeninas, Fabiana Lopes Silva logo percebeu que teria de alterar o ritmo dos roteiros. “Foi como um choque. Você entra nos lugares e não aprofunda tanto. Não é a mesma viagem.” Ela conta que, quando viajava só com o marido, Paulo, queria ver tudo por onde andava. Hoje procura não encher de programas os dias fora de casa com Alice, de 5 anos, e Sofia, de 3.

Sem rigidez

”Vejo um passeio maior por dia e um lugar legal para almoçar. Nada rígido. No carnaval, fomos para Curitiba de carro. Escolhi três parques, restaurantes com espaço kids e bailinho de carnaval”, diz Fabiana, que começou a escrever o blog Bagagem de Colo, em outubro do ano passado, para dar vazão às dicas que vão surgindo.

A mãe conta que as irmãs já amam viajar. “Cada uma tem uma malinha. Elas participam de tudo. Gostam de arrumar mala, pegam as roupas”, diz. “Quero que sejam do mundo. Vou criar nelas essa vontade de conhecer além de onde a gente está.”

Com paradas ao longo do trajeto, Alice e Sofia topam viagens de carro sem aborrecimento. Algumas bem longas, como a ida de Praia Grande – onde a família mora, no litoral paulista – à catarinense Pomerode. Nesse caso, a tática da mãe é apostar em atividades e lanchinhos. “Indiretamente, elas percebem que é um momento nosso. O dia a dia acaba estressando. Fora da rotina, sou muito mais tolerante”,

Milena, mãe do Pedro, conta que consegue descansar mais quando o roteiro é para lugares sem tanto movimento. Mas ela, o marido e o filho se mantêm abertos a estilos diversos – “pode ser que um goste mais, outro menos” – e curtem mesclar a imersão em paisagens com destinos histórico-culturais. Os três já estiveram em chapadas e praias brasileiras, na Patagônia, em Portugal e Espanha e na americana Orlando.

Mudanças da pandemia

O destino preferido dos brasileiros para viagens em família atende mesmo a todas as idades. Mas, como a pandemia acelerou o desejo de estar fora de casa com os mais próximos, o setor de turismo vem criando outras ofertas para esse público. “A Emerald Cruises lança saídas em família para julho, e a AmaWaterways já se posiciona como family friendly, com cabines conectadas e suítes triplas ou quádruplas”, diz Ricardo Alves, diretor executivo da Velle, que representa no Brasil as duas companhias de cruzeiros fluviais.

'É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria', diz Milena Buosi  Foto: Felipe Rau/Estadão

Nas navegações de uma semana da Emerald pelos Rios Danúbio (15/7) e Reno (17/7), na Europa, haverá brincadeiras na piscina, tour pela cabine do capitão, demonstração de culinária com o chef, cinema e videogames. “O atendimento a bordo é bastante exclusivo, por termos poucas cabines. Por isso, viajar com crianças pode ser muito confortável, tanto pelo cuidado, como pela personalização da alimentação e das atividades. As crianças adoram histórias e nossos programas fluviais são repletos disso: reis, princesas, heróis e castelos”, afirma Alves.

Uso de tecnologias

Uma das batalhas reais para quem tem filhos costuma ser a de limitar as horas de jogos eletrônicos – em viagem ou não. Os dias fora de casa, porém, podem servir de convite a uma nova dinâmica, permitindo aos integrantes da família desfrutar de tempo juntos.

Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória, recomenda que os pais aproveitem a folga com os filhos para, de fato, vivenciarem momentos com eles. “Não adianta você dizer ‘vai lá fazer e fico aqui sentado embaixo do guarda-sol’. Faça junto”, aconselha. “Tem uma frase que diz que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam.” O educador reforça que a vivência em família permite a troca efetiva e “marca o restante da vida de crianças, adolescentes e adultos também”.

Viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem também com primos e com avós. Essa diversidade de personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante

Elizabeth Brandão, psicóloga da PUC-SP

Experiência própria

Em dezembro de 2022, como repórter experimentei o mundo de Harry Potter na Universal Orlando com meu filho. Por intermédio do Joaquim, conheci o universo criado por J.K. Rowling: ele leu a coleção de livros, viu os filmes, decorou o quarto com quadrinhos dos personagens e se fantasiou em muitos Halloweens com óculos redondos, capa e raio na testa.

Hoje com 13 anos, meu filho gosta, mas não é mais um pottermaníaco. As atrações e a ambientação detalhada da área temática, dividida entre os parques Islands of Adventure e Universal Studios Florida, nos Estados Unidos, trouxeram tudo à tona de novo. Juntos, revivemos Potter e sua turma. E ele ainda arrastou o pai, Fernando, para passeios no Expresso de Hogwarts e na montanha-russa do Hagrid. Já fizemos viagens marcantes em família – cidades da Alemanha, Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS). Harry Potter na Universal Orlando certamente entrou para essa lista.

Interesses diferentes em cada fase da vida

Em qualquer idade, atividades que permitam interação social podem ser incluídas no roteiro, desde uma recreação infantil nos hotéis até passeios em parques urbanos. Mas existem particularidades em cada etapa do desenvolvimento. Veja o que os especialistas dizem sobre isso:

  • Infância até os 6 anos

Nessa fase, algo teórico pode ser muito complexo. Por isso, é importante que o roteiro priorize a prática. “Na primeira infância, eles gostam muito de psicomotricidade. A partir da brincadeira, da interação, a criança vai criando e se divertindo”, explica Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória.

A criança dessa faixa etária não aguenta viagens longas sem paradas durante o caminho. Por isso, inclua no roteiro pausas em parquinhos e espaços para correr. Experiências interativas e lúdicas também costumam fazer sucesso.

  • Dos 7 aos 11 anos

Aqui vale botar uma pitada de aventura e cultura, para alimentar a curiosidade. Considere ir a parques aquáticos e tomar trens. Parques de diversão na Flórida são interessantes em família para todas as idades, mas começam a ficar mais proveitosos nessa fase.

Visitas a museus, centros de ciências (como o Catavento, em São Paulo) e lugares históricos ajudam, de forma natural, a materializar e a ampliar o conhecimento adquirido no ensino fundamental.

  • Adolescência

A participação na definição do roteiro pode ser um incentivo para curtir os dias fora de casa. “Um adolescente não vai querer sair com os pais, então o legal é que, de alguma forma, a viagem tenha o envolvimento dele”, recomenda Luciene Tognetta, professora de Pedagogia na Unesp.

Doses de adrenalina na natureza, roteiros em biomas brasileiros e dias na neve com esqui e snowboard ajudam a despertar interesse. Se a viagem for a uma cidade, o adolescente pode pesquisar em sites sobre esse destino e contar quais atrações ele tem vontade de conhecer.

Conforme avança a adolescência, a companhia será mais rara, mas o programa pode incluir algo de vida noturna.

Conhecer novos lugares ou revisitar antigos, no sentido real ou metafórico. Viagens em família tomam sempre esse rumo, independentemente do destino escolhido. São momentos para se deparar com aspectos da vida, aprofundar vínculos afetivos e construir memórias. Assim como ocorre em festas e passeios na própria cidade, essas situações prazerosas contribuem para que a vivência não se limite à repetição do cotidiano.

”Claramente, as viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem, e a família mais extensa também, entre primos, com os avós, entre irmãos que já têm filhos. Essa diversidade de pessoas com personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante. Pode até ser estressante e ter perrengues, mas em boa parte do tempo é uma experiência de diversão e descoberta”, afirma a psicóloga clínica Elizabeth Brandão.

De acordo com a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o distensionamento, sem modelos muito fixos de como as pessoas são e de como devem ser, favorece a compreensão. “A convivência familiar é a que melhor permite isso por conta dos vínculos afetivos já existentes entre as pessoas. (Os outros) são testemunhas da sua vida, sabem o que você passou, como era. Têm informações que não dependem do seu relato, mas ele pode ajudar e muito.”

Milena Buosi e Ricardo Iamauti não abrem mão de viajar com o filho, Pedro, desde que ele tinha 2 anos. “A gente sempre tenta duas vezes por ano, nas férias da escola. Virou parte da rotina”, afirma a mãe do menino, de 11 anos. “É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria. É como se fosse um intensivão de conexão familiar, para construir memórias juntos”, diz Milena. “Quero muito que meu filho tenha, no futuro, lembranças felizes do que viveu com os pais, e a viagem é muito propícia para isso.”

Contemplação da natureza

Em janeiro, eles conheceram o Jalapão, destino turístico no Tocantins. “Viajar, para mim, envolve uma contemplação da vida. Tem uma pegada filosófica, de respeito à natureza e às relações, de pensar que a gente é parte de algo muito maior. É uma mudança de ritmo. O Pedro adora”, afirma. “De alguma maneira, você sai da zona de conforto. Embora existam as nossas conexões, cada um vai viver ali sua experiência, num dia a dia diferente desde a hora em que acorda.”

A blogueira Fabiana e o marido Paulo, com as filhas Alice e Sofia, em Foz do Iguaçu: programas menos cansativos, para as meninas poderem curtir bem cada lugar Foto: Fabiana Lopes Silva

Atividades são parte de uma rotina de quem tem filho, mas durante as viagens há um novo ambiente para exploração. “Não são necessárias experiências fantásticas. Eu não preciso ir a Marte. São coisas simples”, diz Luciene Tognetta, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Por exemplo, provar a comida típica de um lugar ou explorar uma cidade a pé.

Ela ressalta que os pais podem pensar numa rotina mais flexível e lembrar que imprevistos podem ocorrer. Também recomenda que as necessidades da faixa etária dos filhos sejam respeitadas. “Se eu sou uma criança de 3 anos, olhar um museu andando vai ser impossível, por causa da minha idade. Não é tédio, não é característica dessa geração. É uma característica humana”, explica.

Mãe atenta de duas pequeninas, Fabiana Lopes Silva logo percebeu que teria de alterar o ritmo dos roteiros. “Foi como um choque. Você entra nos lugares e não aprofunda tanto. Não é a mesma viagem.” Ela conta que, quando viajava só com o marido, Paulo, queria ver tudo por onde andava. Hoje procura não encher de programas os dias fora de casa com Alice, de 5 anos, e Sofia, de 3.

Sem rigidez

”Vejo um passeio maior por dia e um lugar legal para almoçar. Nada rígido. No carnaval, fomos para Curitiba de carro. Escolhi três parques, restaurantes com espaço kids e bailinho de carnaval”, diz Fabiana, que começou a escrever o blog Bagagem de Colo, em outubro do ano passado, para dar vazão às dicas que vão surgindo.

A mãe conta que as irmãs já amam viajar. “Cada uma tem uma malinha. Elas participam de tudo. Gostam de arrumar mala, pegam as roupas”, diz. “Quero que sejam do mundo. Vou criar nelas essa vontade de conhecer além de onde a gente está.”

Com paradas ao longo do trajeto, Alice e Sofia topam viagens de carro sem aborrecimento. Algumas bem longas, como a ida de Praia Grande – onde a família mora, no litoral paulista – à catarinense Pomerode. Nesse caso, a tática da mãe é apostar em atividades e lanchinhos. “Indiretamente, elas percebem que é um momento nosso. O dia a dia acaba estressando. Fora da rotina, sou muito mais tolerante”,

Milena, mãe do Pedro, conta que consegue descansar mais quando o roteiro é para lugares sem tanto movimento. Mas ela, o marido e o filho se mantêm abertos a estilos diversos – “pode ser que um goste mais, outro menos” – e curtem mesclar a imersão em paisagens com destinos histórico-culturais. Os três já estiveram em chapadas e praias brasileiras, na Patagônia, em Portugal e Espanha e na americana Orlando.

Mudanças da pandemia

O destino preferido dos brasileiros para viagens em família atende mesmo a todas as idades. Mas, como a pandemia acelerou o desejo de estar fora de casa com os mais próximos, o setor de turismo vem criando outras ofertas para esse público. “A Emerald Cruises lança saídas em família para julho, e a AmaWaterways já se posiciona como family friendly, com cabines conectadas e suítes triplas ou quádruplas”, diz Ricardo Alves, diretor executivo da Velle, que representa no Brasil as duas companhias de cruzeiros fluviais.

'É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria', diz Milena Buosi  Foto: Felipe Rau/Estadão

Nas navegações de uma semana da Emerald pelos Rios Danúbio (15/7) e Reno (17/7), na Europa, haverá brincadeiras na piscina, tour pela cabine do capitão, demonstração de culinária com o chef, cinema e videogames. “O atendimento a bordo é bastante exclusivo, por termos poucas cabines. Por isso, viajar com crianças pode ser muito confortável, tanto pelo cuidado, como pela personalização da alimentação e das atividades. As crianças adoram histórias e nossos programas fluviais são repletos disso: reis, princesas, heróis e castelos”, afirma Alves.

Uso de tecnologias

Uma das batalhas reais para quem tem filhos costuma ser a de limitar as horas de jogos eletrônicos – em viagem ou não. Os dias fora de casa, porém, podem servir de convite a uma nova dinâmica, permitindo aos integrantes da família desfrutar de tempo juntos.

Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória, recomenda que os pais aproveitem a folga com os filhos para, de fato, vivenciarem momentos com eles. “Não adianta você dizer ‘vai lá fazer e fico aqui sentado embaixo do guarda-sol’. Faça junto”, aconselha. “Tem uma frase que diz que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam.” O educador reforça que a vivência em família permite a troca efetiva e “marca o restante da vida de crianças, adolescentes e adultos também”.

Viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem também com primos e com avós. Essa diversidade de personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante

Elizabeth Brandão, psicóloga da PUC-SP

Experiência própria

Em dezembro de 2022, como repórter experimentei o mundo de Harry Potter na Universal Orlando com meu filho. Por intermédio do Joaquim, conheci o universo criado por J.K. Rowling: ele leu a coleção de livros, viu os filmes, decorou o quarto com quadrinhos dos personagens e se fantasiou em muitos Halloweens com óculos redondos, capa e raio na testa.

Hoje com 13 anos, meu filho gosta, mas não é mais um pottermaníaco. As atrações e a ambientação detalhada da área temática, dividida entre os parques Islands of Adventure e Universal Studios Florida, nos Estados Unidos, trouxeram tudo à tona de novo. Juntos, revivemos Potter e sua turma. E ele ainda arrastou o pai, Fernando, para passeios no Expresso de Hogwarts e na montanha-russa do Hagrid. Já fizemos viagens marcantes em família – cidades da Alemanha, Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS). Harry Potter na Universal Orlando certamente entrou para essa lista.

Interesses diferentes em cada fase da vida

Em qualquer idade, atividades que permitam interação social podem ser incluídas no roteiro, desde uma recreação infantil nos hotéis até passeios em parques urbanos. Mas existem particularidades em cada etapa do desenvolvimento. Veja o que os especialistas dizem sobre isso:

  • Infância até os 6 anos

Nessa fase, algo teórico pode ser muito complexo. Por isso, é importante que o roteiro priorize a prática. “Na primeira infância, eles gostam muito de psicomotricidade. A partir da brincadeira, da interação, a criança vai criando e se divertindo”, explica Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória.

A criança dessa faixa etária não aguenta viagens longas sem paradas durante o caminho. Por isso, inclua no roteiro pausas em parquinhos e espaços para correr. Experiências interativas e lúdicas também costumam fazer sucesso.

  • Dos 7 aos 11 anos

Aqui vale botar uma pitada de aventura e cultura, para alimentar a curiosidade. Considere ir a parques aquáticos e tomar trens. Parques de diversão na Flórida são interessantes em família para todas as idades, mas começam a ficar mais proveitosos nessa fase.

Visitas a museus, centros de ciências (como o Catavento, em São Paulo) e lugares históricos ajudam, de forma natural, a materializar e a ampliar o conhecimento adquirido no ensino fundamental.

  • Adolescência

A participação na definição do roteiro pode ser um incentivo para curtir os dias fora de casa. “Um adolescente não vai querer sair com os pais, então o legal é que, de alguma forma, a viagem tenha o envolvimento dele”, recomenda Luciene Tognetta, professora de Pedagogia na Unesp.

Doses de adrenalina na natureza, roteiros em biomas brasileiros e dias na neve com esqui e snowboard ajudam a despertar interesse. Se a viagem for a uma cidade, o adolescente pode pesquisar em sites sobre esse destino e contar quais atrações ele tem vontade de conhecer.

Conforme avança a adolescência, a companhia será mais rara, mas o programa pode incluir algo de vida noturna.

Conhecer novos lugares ou revisitar antigos, no sentido real ou metafórico. Viagens em família tomam sempre esse rumo, independentemente do destino escolhido. São momentos para se deparar com aspectos da vida, aprofundar vínculos afetivos e construir memórias. Assim como ocorre em festas e passeios na própria cidade, essas situações prazerosas contribuem para que a vivência não se limite à repetição do cotidiano.

”Claramente, as viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem, e a família mais extensa também, entre primos, com os avós, entre irmãos que já têm filhos. Essa diversidade de pessoas com personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante. Pode até ser estressante e ter perrengues, mas em boa parte do tempo é uma experiência de diversão e descoberta”, afirma a psicóloga clínica Elizabeth Brandão.

De acordo com a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o distensionamento, sem modelos muito fixos de como as pessoas são e de como devem ser, favorece a compreensão. “A convivência familiar é a que melhor permite isso por conta dos vínculos afetivos já existentes entre as pessoas. (Os outros) são testemunhas da sua vida, sabem o que você passou, como era. Têm informações que não dependem do seu relato, mas ele pode ajudar e muito.”

Milena Buosi e Ricardo Iamauti não abrem mão de viajar com o filho, Pedro, desde que ele tinha 2 anos. “A gente sempre tenta duas vezes por ano, nas férias da escola. Virou parte da rotina”, afirma a mãe do menino, de 11 anos. “É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria. É como se fosse um intensivão de conexão familiar, para construir memórias juntos”, diz Milena. “Quero muito que meu filho tenha, no futuro, lembranças felizes do que viveu com os pais, e a viagem é muito propícia para isso.”

Contemplação da natureza

Em janeiro, eles conheceram o Jalapão, destino turístico no Tocantins. “Viajar, para mim, envolve uma contemplação da vida. Tem uma pegada filosófica, de respeito à natureza e às relações, de pensar que a gente é parte de algo muito maior. É uma mudança de ritmo. O Pedro adora”, afirma. “De alguma maneira, você sai da zona de conforto. Embora existam as nossas conexões, cada um vai viver ali sua experiência, num dia a dia diferente desde a hora em que acorda.”

A blogueira Fabiana e o marido Paulo, com as filhas Alice e Sofia, em Foz do Iguaçu: programas menos cansativos, para as meninas poderem curtir bem cada lugar Foto: Fabiana Lopes Silva

Atividades são parte de uma rotina de quem tem filho, mas durante as viagens há um novo ambiente para exploração. “Não são necessárias experiências fantásticas. Eu não preciso ir a Marte. São coisas simples”, diz Luciene Tognetta, professora de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Por exemplo, provar a comida típica de um lugar ou explorar uma cidade a pé.

Ela ressalta que os pais podem pensar numa rotina mais flexível e lembrar que imprevistos podem ocorrer. Também recomenda que as necessidades da faixa etária dos filhos sejam respeitadas. “Se eu sou uma criança de 3 anos, olhar um museu andando vai ser impossível, por causa da minha idade. Não é tédio, não é característica dessa geração. É uma característica humana”, explica.

Mãe atenta de duas pequeninas, Fabiana Lopes Silva logo percebeu que teria de alterar o ritmo dos roteiros. “Foi como um choque. Você entra nos lugares e não aprofunda tanto. Não é a mesma viagem.” Ela conta que, quando viajava só com o marido, Paulo, queria ver tudo por onde andava. Hoje procura não encher de programas os dias fora de casa com Alice, de 5 anos, e Sofia, de 3.

Sem rigidez

”Vejo um passeio maior por dia e um lugar legal para almoçar. Nada rígido. No carnaval, fomos para Curitiba de carro. Escolhi três parques, restaurantes com espaço kids e bailinho de carnaval”, diz Fabiana, que começou a escrever o blog Bagagem de Colo, em outubro do ano passado, para dar vazão às dicas que vão surgindo.

A mãe conta que as irmãs já amam viajar. “Cada uma tem uma malinha. Elas participam de tudo. Gostam de arrumar mala, pegam as roupas”, diz. “Quero que sejam do mundo. Vou criar nelas essa vontade de conhecer além de onde a gente está.”

Com paradas ao longo do trajeto, Alice e Sofia topam viagens de carro sem aborrecimento. Algumas bem longas, como a ida de Praia Grande – onde a família mora, no litoral paulista – à catarinense Pomerode. Nesse caso, a tática da mãe é apostar em atividades e lanchinhos. “Indiretamente, elas percebem que é um momento nosso. O dia a dia acaba estressando. Fora da rotina, sou muito mais tolerante”,

Milena, mãe do Pedro, conta que consegue descansar mais quando o roteiro é para lugares sem tanto movimento. Mas ela, o marido e o filho se mantêm abertos a estilos diversos – “pode ser que um goste mais, outro menos” – e curtem mesclar a imersão em paisagens com destinos histórico-culturais. Os três já estiveram em chapadas e praias brasileiras, na Patagônia, em Portugal e Espanha e na americana Orlando.

Mudanças da pandemia

O destino preferido dos brasileiros para viagens em família atende mesmo a todas as idades. Mas, como a pandemia acelerou o desejo de estar fora de casa com os mais próximos, o setor de turismo vem criando outras ofertas para esse público. “A Emerald Cruises lança saídas em família para julho, e a AmaWaterways já se posiciona como family friendly, com cabines conectadas e suítes triplas ou quádruplas”, diz Ricardo Alves, diretor executivo da Velle, que representa no Brasil as duas companhias de cruzeiros fluviais.

'É um tempo junto de verdade. A gente cria um vínculo que, ficando em casa, não conseguiria', diz Milena Buosi  Foto: Felipe Rau/Estadão

Nas navegações de uma semana da Emerald pelos Rios Danúbio (15/7) e Reno (17/7), na Europa, haverá brincadeiras na piscina, tour pela cabine do capitão, demonstração de culinária com o chef, cinema e videogames. “O atendimento a bordo é bastante exclusivo, por termos poucas cabines. Por isso, viajar com crianças pode ser muito confortável, tanto pelo cuidado, como pela personalização da alimentação e das atividades. As crianças adoram histórias e nossos programas fluviais são repletos disso: reis, princesas, heróis e castelos”, afirma Alves.

Uso de tecnologias

Uma das batalhas reais para quem tem filhos costuma ser a de limitar as horas de jogos eletrônicos – em viagem ou não. Os dias fora de casa, porém, podem servir de convite a uma nova dinâmica, permitindo aos integrantes da família desfrutar de tempo juntos.

Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória, recomenda que os pais aproveitem a folga com os filhos para, de fato, vivenciarem momentos com eles. “Não adianta você dizer ‘vai lá fazer e fico aqui sentado embaixo do guarda-sol’. Faça junto”, aconselha. “Tem uma frase que diz que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam.” O educador reforça que a vivência em família permite a troca efetiva e “marca o restante da vida de crianças, adolescentes e adultos também”.

Viagens são uma oportunidade para pais e filhos conviverem também com primos e com avós. Essa diversidade de personalidades diferentes precisa de uma situação relaxante

Elizabeth Brandão, psicóloga da PUC-SP

Experiência própria

Em dezembro de 2022, como repórter experimentei o mundo de Harry Potter na Universal Orlando com meu filho. Por intermédio do Joaquim, conheci o universo criado por J.K. Rowling: ele leu a coleção de livros, viu os filmes, decorou o quarto com quadrinhos dos personagens e se fantasiou em muitos Halloweens com óculos redondos, capa e raio na testa.

Hoje com 13 anos, meu filho gosta, mas não é mais um pottermaníaco. As atrações e a ambientação detalhada da área temática, dividida entre os parques Islands of Adventure e Universal Studios Florida, nos Estados Unidos, trouxeram tudo à tona de novo. Juntos, revivemos Potter e sua turma. E ele ainda arrastou o pai, Fernando, para passeios no Expresso de Hogwarts e na montanha-russa do Hagrid. Já fizemos viagens marcantes em família – cidades da Alemanha, Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS). Harry Potter na Universal Orlando certamente entrou para essa lista.

Interesses diferentes em cada fase da vida

Em qualquer idade, atividades que permitam interação social podem ser incluídas no roteiro, desde uma recreação infantil nos hotéis até passeios em parques urbanos. Mas existem particularidades em cada etapa do desenvolvimento. Veja o que os especialistas dizem sobre isso:

  • Infância até os 6 anos

Nessa fase, algo teórico pode ser muito complexo. Por isso, é importante que o roteiro priorize a prática. “Na primeira infância, eles gostam muito de psicomotricidade. A partir da brincadeira, da interação, a criança vai criando e se divertindo”, explica Wagner Botelho, orientador pedagógico do Colégio Marista Glória.

A criança dessa faixa etária não aguenta viagens longas sem paradas durante o caminho. Por isso, inclua no roteiro pausas em parquinhos e espaços para correr. Experiências interativas e lúdicas também costumam fazer sucesso.

  • Dos 7 aos 11 anos

Aqui vale botar uma pitada de aventura e cultura, para alimentar a curiosidade. Considere ir a parques aquáticos e tomar trens. Parques de diversão na Flórida são interessantes em família para todas as idades, mas começam a ficar mais proveitosos nessa fase.

Visitas a museus, centros de ciências (como o Catavento, em São Paulo) e lugares históricos ajudam, de forma natural, a materializar e a ampliar o conhecimento adquirido no ensino fundamental.

  • Adolescência

A participação na definição do roteiro pode ser um incentivo para curtir os dias fora de casa. “Um adolescente não vai querer sair com os pais, então o legal é que, de alguma forma, a viagem tenha o envolvimento dele”, recomenda Luciene Tognetta, professora de Pedagogia na Unesp.

Doses de adrenalina na natureza, roteiros em biomas brasileiros e dias na neve com esqui e snowboard ajudam a despertar interesse. Se a viagem for a uma cidade, o adolescente pode pesquisar em sites sobre esse destino e contar quais atrações ele tem vontade de conhecer.

Conforme avança a adolescência, a companhia será mais rara, mas o programa pode incluir algo de vida noturna.

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