A tireoide é uma glândula localizada na região do pescoço, logo abaixo do Pomo de Adão – o popular “gogó” –, e que tem formato de borboleta. Sua principal função é produzir dois hormônios: o T3 (tri-iodotironina) e o T4 (tiroxina). Parece pouco, mas ambos são responsáveis por regular diversos sistemas do organismo. Por isso, quando o funcionamento dessa glândula fica alterado, podem surgir os mais variados tipos de problema: desde desregulação na queima de calorias até descompassos na frequência cardíaca e no humor, para citar alguns exemplos.
Tanto a falta como o excesso desses hormônios disparam sintomas. No primeiro caso, o quadro é definido como hipotireoidismo e, no segundo, ganha o nome de hipertireoidismo.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), estima-se que o hipotireoidismo acomete em torno de 4% a 10% da população brasileira. Já o hipertireoidismo é menos frequente. Conforme aponta Danilo Villagelin, endocrinologista e presidente do Departamento de Tireoide da SBEM, o excesso de T3 e T4 no organismo é uma alteração presente em menos de 1% dos brasileiros.
Acontece que muitos sintomas podem passar despercebidos. A seguir, confira algumas pistas que podem indicar que a glândula está acelerada ou lenta demais.
1. Cansaço excessivo
Se você sente um cansaço constante e pouca disposição para as atividades do dia a dia, mesmo após uma boa noite de sono, trata-se de um sinal de alerta importante.
O cansaço extremo é um sintoma comum ligado ao hipotireoidismo, ou seja, a baixa produção de T3 e T4, que, como explicamos, rege o funcionamento do corpo inteiro.
Quando essa produção está deficitária, todo o organismo tende a ficar mais devagar, levando à fadiga, sonolência e falta de ânimo.
2. Aumento ou perda de peso
O desequilíbrio na tireoide também pode afetar o peso corporal.
No caso do hipertireoidismo, como o T3 e o T4 estão em alta, o metabolismo fica acelerado, queimando mais energia – o que pode levar ao emagrecimento. Mas esse tipo de perda de peso não é nada saudável. Os médicos Antonio Bertelli e Carolina Ferraz, do Centro de Nódulos de Tireoide do Hospital Samaritano Higienópolis, advertem que há uma redução não só de gorduras, mas também das massas magra (isto é, os músculos) e óssea do corpo.
Por outro lado, o hipotireoidismo faz o oposto: pode ocasionar um aumento de peso, em decorrência da lentidão que provoca no funcionamento do organismo, com menor gasto energético.
3. Alterações nos batimentos cardíacos
A tireoide também influencia na frequência cardíaca. Como explica Villagelin, o hipertireoidismo pode fazer o coração bater mais rápido e forte, causando taquicardia, palpitações ou até mesmo problemas cardíacos mais graves.
Enquanto isso, no hipotireoidismo a frequência cardíaca tende a ser mais lenta e fraca do que o esperado – uma condição chamada de bradicardia.
4. Mudanças de humor
Desânimo, tristeza, desmotivação e depressão podem ser consequências de uma queda na produção dos hormônios da tireoide. Por outro lado, em casos de irritabilidade, insônia, ansiedade, nervosismo, dificuldade de concentração e perda de memória, é possível desconfiar que eles estejam elevados.
Os médicos do Centro de Nódulos da Tireoide do Samaritano indicam que pacientes com alterações dos hormônios tireoidianos podem, inclusive, ter a sua capacidade de julgamento prejudicada, levando-os a tomar decisões precipitadas.
5. Alterações no funcionamento do intestino
Prisão de ventre é um sintoma comum do hipotireoidismo, já que o quadro pode levar à diminuição dos movimentos do intestino, provocando constipação.
O hipertireoidismo, por sua vez, pode acelerar o trânsito intestinal, resultando em um quadro de diarreia frequente.
6. Cabelos e unhas frágeis
Os médicos alertam, ainda, para os seguintes sinais: cabelos quebradiços e que caem em excesso, além de unhas enfraquecidas. É que o hormônio da tireoide interfere no crescimento dessas estruturas.
Por isso, quando o T3 e o T4 estão em falta – como é no caso do hipotireoidismo –, as células também se multiplicam mais devagar, aumentando o risco de quebra e fragilidade.
7. Olhos saltados
Entre as possíveis causas para o hipertireoidismo está a doença de Graves, que pode afetar os olhos. Essa é uma condição autoimune em que o próprio corpo fabrica anticorpos que atacam a tireoide, fazendo com que ela produza os hormônios em excesso. O quadro causa sintomas adicionais que não estão presente nas formas mais comuns do hipertireoidismo.
Os anticorpos também podem atacar a região atrás dos olhos, causando a chamada doença ocular da tireoide. Nesse quadro, a inflamação nos tecidos da região ocular resulta em olhos mais salientes (proptose), vermelhidão (hiperemia) e inchaço das pálpebras.
Segundo Villagelin, cerca de 40% dos pacientes com a doença de Graves desenvolvem esse problema ocular. A maioria apresenta sintomas brandos, como um leve inchaço e olhos mais saltados, mas aproximadamente 3 a 5% dos casos, segundo o endocrinologista, podem ser graves, causando cegueira se não houver tratamento adequado.
8. Aumento do volume do pescoço
Bertelli e Carolina alertam que outros sintomas podem estar relacionados ao aparecimento de nódulos na tireoide, como a presença de caroços ou aumento do volume do pescoço (bócio), rouquidão e dificuldade para engolir.
Segundo o Ministério da Saúde, em 95% das vezes a presença de um nódulo na tireoide é causada por uma doença benigna. De qualquer maneira, é muito importante procurar ajuda médica para determinar as causas das alterações e descartar a possibilidade de câncer de tireoide – o mais comum na região da cabeça e pescoço.
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Causas
O hipotireoidismo, caracterizado pela produção reduzida de hormônios tireoidianos, tem as seguintes causas mais comuns:
- Tireoidite de Hashimoto: uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tireoide, levando à sua progressiva destruição e à queda na produção hormonal. Essa é a principal causa de hipotireoidismo no mundo.
- Hipotireoidismo congênito: crianças podem nascer com a condição, causada pela incapacidade da glândula tireoide do recém-nascido em produzir quantidades adequadas de hormônios. Se não tratado, pode levar ao comprometimento ou redução no crescimento e desenvolvimento mental.
O hipertireoidismo também possui diversas causas, sendo as mais comuns:
- Doença de Graves: uma doença autoimune, assim como a tireoidite de Hashimoto, mas que ataca a tireoide de forma diferente, estimulando a produção excessiva de T3 e T4. Como vimos, essa é a principal causa de hipertireoidismo.
- Nódulos tireoidianos autônomos: crescimentos benignos na tireoide, que começa a produzir hormônios em excesso por conta própria.
Tratamentos
Villagelin informa que o tratamento do hipotireoidismo é simples e eficaz. Ele é baseado na reposição do hormônio que está em falta por meio de medicamentos.
Já o tratamento do hipertireoidismo visa reduzir a produção excessiva de hormônios tireoidianos, normalizando os níveis no sangue. Segundo o médico, as três principais opções terapêuticas são:
- Medicamentos antitireoidianos: remédios como metimazol e propiltiouracil bloqueiam a produção de hormônios pela tireoide. Essa opção é geralmente utilizada como tratamento inicial e pode ser eficaz em longo prazo em alguns casos.
- Raio de iodo: Um tratamento que destrói as células da tireoide, reduzindo a produção hormonal. O paciente deixa de ter hipertireoidismo e passa a ter hipotireoidismo. Essa opção é normalmente utilizada em casos graves ou quando os medicamentos antitireoidianos falham.
- Cirurgia: A remoção total ou parcial da tireoide é uma opção definitiva para o hipertireoidismo, mas geralmente é considerada apenas quando outras opções falham ou não são adequadas.