Estudo liderado pelo Imperial College, de Londres, e publicado nesta quinta-feira, 8, na revista Science, mostra que 90% dos países com as maiores emissões de gases do efeito estufa têm metas climáticas para zerar suas emissões com baixa ou muita baixa probabilidade de serem cumpridas. O Brasil está entre eles.
As metas estabelecidas pelo Acordo de Paris incluem manter o aumento da temperatura abaixo de 2°C em relação à temperatura média antes da Revolução Industrial e, idealmente, abaixo de 1,5°C. Atingir o nível de “emissões líquidas zero”, em que além da diminuição de gases do efeito estufa lançados na atmosfera, as emissões remanescentes são compensadas, é a principal maneira de atingir esse objetivo.
Para isso, os países submetem à ONU, suas NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas), ou a meta de redução de emissões de gases do efeito estufa. O Brasil, por exemplo, formalizou a sua em abril de 2022 após reações negativas por ter apresentado meta para 2030 mais baixa do que a o próprio País havia previsto no compromisso firmado em Paris, em 2015.
O País tem o compromisso de zerar suas emissões líquidas até 2050, como a maioria das outras nações No entanto, a nova NDC brasileira continuou com as metas para 2030 abaixo da original. O documento foi apresentado durante o governo de Jair Bolsonaro, fortemente criticado no País pelo desmonte dos órgãos ambientais, e no exterior por adotar postura refratária aos compromissos climáticos.
O que a pesquisa publicada nesta quinta-feira na Science faz foi avaliar os compromissos de atingir as “emissões líquidas zero” dentro das NDCs de 34 países e o bloco da União Europeia. Foram analisados 35 planos de reduções de zero líquido abrangendo todos os países com mais de 0,1% das atuais emissões globais de gases de efeito estufa.
Entre os itens analisados estão o ano em que a meta deve ser atingida (a China, por exemplo, estabeleceu o limite de 2060), se esse compromisso traz consequências legais se for descumprido, o quão robusto cientificamente cada plano é e se o país está no “caminho correto” para seu cumprimento.
Confira a classificação a seguir:
Dez maiores emissores, contribuição para o total de emissões globais em 2019 e nível de confiança de seus planos de “emissões líquidas zero”, de acordo com a pesquisa:
- China (24,2%) - Baixa confiança
- Estados Unidos (11,6%) - Baixa confiança
- Índia (6,8%) - Muita baixa confiança
- União Europeia (6,3%) - Alta confiança
- Indonésia (3,9%) - Muito baixa confiança
- Rússia (3,9%) - Baixa confiança
- Brasil (2,9%) - Muito baixa confiança
- Japão (2,3%) - Baixa confiança
- Canadá (1,6%) - Baixa confiança
Além da União Europeia, apenas Reino Unido e Nova Zelândia, tiveram seus planos considerados de Alta Confiança.
Emissões crescem no Brasil
Apesar de seu compromisso, o Brasil, por exemplo, registrou a maior alta nas emissões de gases de efeito estufa em 19 anos, segundo levantamento do Observatório do Clima. A elevação, de 12,2%, ocorreu em 2021 em relação ao ano anterior, e tem como principal causa o desmatamento.
Dos 35 planos analisados, por exemplo, apenas 12 são juridicamente vinculativos (têm consequências legais). O Brasil não está entre eles. Os pesquisadores dizem que aumentar esse número ajudaria a garantir que as políticas sobrevivessem a longo prazo.
A partir da avaliação, os pesquisadores classificaram os planos nacionais de muito alta confiança em seu cumprimento à muito baixa confiança. Cinco cenários de futuras emissões de gases de efeito estufa e temperaturas também foram elaborados.
O mais conservador aponta para o aumento da temperatura em uma faixa de 1,7ºC a 3°C, e uma estimativa mediana de 2,6°C acima do nível anterior à industrialização. O cenário mais otimista tem um intervalo de 1,6ºC a 2,1ºC, com uma estimativa mediana de 1,7°C também em relação ao período anterior à Revolução Industrial.
O estudo, liderado pelo Imperial College, de Londres, tem a participação de pesquisadores do Reino Unido, Áustria, EUA, Holanda, Alemanha e Brasil.