As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios dos nossos tempos. Diante desse cenário, há um esforço mundial para reduzir o aquecimento global e suas consequências, como os eventos climáticos extremos.No ano passado, mais de cem países, entre eles o Brasil, participaram da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP-26. O evento ocorreu em Glasgow, na Escócia, e lá foram assinados compromissos para proteção ao meio ambiente de forma ampla e em diversas frentes. Um dos acordos tem como foco a preservação de florestas, com a meta de zerar o desmatamento no mundo até 2030. As nações também se comprometeram a reduzir em 30% as emissões de metano até essa data.
As emissões na atividade pecuária vêm do processo digestivo de bovinos, com gases liberados na atmosfera pelo arroto e pelo estrume dos animais. "O metano emitido pelo bovino tem origem na ação dos microrganismos que habitam seu rúmen. Ao fermentarem a ingesta ruminal, o produto final da fermentação (sem o qual, ela não ocorreria) é o metano. Junto com ele são produzidos ácidos graxos de cadeia curta que são absorvidos pelo bovino, sendo, em geral, sua principal fonte de energia", explica Sérgio Raposo de Medeiros, pesquisador em Nutrição Animal da Embrapa Pecuária Sudeste.
Como o metano tem vida mais curta que o gás carbônico (CO2) na atmosfera, a redução das emissões desse gás é uma forma mais rápida e eficiente de frear as mudanças climáticas. Além disso, pesquisas feitas na Universidade da Califórnia, em Davis, mostram que a diferença no ciclo de emissão de metano pelos animais pode fazer com que ações do setor agropecuário tenham impacto positivo no meio ambiente.
Diferentemente dos gases de efeito estufa emitidos na produção de combustíveis fósseis, que são extraídos da terra e lançados no meio ambiente com a queima, o metano gerado pelos animais faz parte de um ciclo natural (veja infográfico acima). Esse metano fica por aproximadamente dez anos na atmosfera e, depois disso, é convertido em CO2, a ser absorvido pelas plantas, que alimentarão os animais.
O setor agropecuário vem implementando uma série de ações não só para reduzir essa emissão, como para transformá-la em uma fonte de combate ao aquecimento no mundo.
Líder global no setor de alimentos à base de proteína, a JBS fechou parcerias com o objetivo de reduzir o metano emitido pela cadeia bovina em escala mundial. Um dos acordos foi anunciado na COP-26, com a Royal DSM, empresa global das áreas de saúde, nutrição e biociência. "Estamos desenvolvendo um plano de ação para a redução da pegada de carbono da companhia, e essa parceria com a DSM vai contribuir não só com nossos planos, mas com todo o setor nessa questão das emissões de metano", diz Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.
A ideia da parceria é utilizar um suplemento nutricional, o Bovaer, que tem potencial de reduzir em até 55% as emissões de metano provenientes do processo digestivo dos animais. "Como o sistema alimentar e a crise climática estão intrinsecamente ligados, é fundamental enfrentar o desafio da pecuária sustentável para um planeta saudável", diz Dimitri de Vreeze, coCEO e membro do Conselho de Administração da Royal DSM.
A boa notícia é que, ao introduzir suplementos ou aditivos alimentares na dieta dos bovinos, é possível reduzir as emissões do metano e criar até mesmo um processo de "resfriamento", com emissão negativa do gás. Essa mudança já teria impacto a curto prazo, ajudando a limitar o aumento da temperatura global a 1,5?C, conforme meta estabelecida no Acordo de Paris, assinado por 195 países com o objetivo de conter a elevação do aquecimento global.
Além da parceria para adoção do Bovaer, a JBS fechou acordo com o Instituto de Zootecnia (IZ) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A pesquisa conta com o investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e apoio da empresa Silvateam, fornecedora de aditivos alimentares.