Algas podem deixar a criação de gado menos perigosa para o clima? Até Bill Gates aposta nisso


Pesquisadores descobriram aditivos alimentares que reduzem a produção de metano no estômago da vaca; emissões da pecuária contribuem para o aquecimento global

Por Juliana Domingos de Lima
Atualização:

Não é novidade que a poluição atmosférica com origem na pecuária contribui para as mudanças climáticas - nessa atividade econômica, um dos principais problemas é o metano, que resulta principalmente da digestão dos bovinos. No Brasil, segundo dados do Observatório do Clima, a produção de carne de boi despejou, em metano, o equivalente a 339,9 milhões de toneladas de gás estufa em 2021.

Por essa razão, cientistas em vários países têm investigado formas de reduzir o volume desse poluente lançado pelo gado na atmosfera: essas soluções vão de máscaras feitas para “filtrar” o metano do arroto das vacas a bolsas plásticas que capturam seus gases.

Elas têm ganhado força nos últimos dois anos, depois de mais de 100 nações assinarem na Cúpula do Clima (COP-26), de 2021, compromisso específico de cortar em 30% as emissões de metano até 2030.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases estufa emitidos em 2021 pelo Brasil, 78% foi gerado pela produção de carne. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as descobertas recentes, uma das mais promissoras são aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Um tipo de alga marinha vermelha, rica em bromofórmio, pode criar esse efeito quando acrescentada à alimentação do gado, descoberta feita por pesquisadores na Austrália em 2020.

Desde então, países como Suécia, Reino Unido e Irlanda têm feito avanços nessa área. Relatório divulgado este ano pela Agência de Proteção Ambiental Sueca recomendou aprofundar as investigações sobre esses aditivos, mencionando as algas vermelhas e também o químico 3-NOP.

Esse último foi aprovado em 2022 para uso pela União Europeia e, conforme o estudo sueco, pode reduzir as emissões de metano em até 30% para o gado de leite, e 45% para o gado de corte. A diferença entre os dois se deve ao maior consumo de capim pelo gado leiteiro, o que implica em maior emissão.

Fábrica de algas e Bill Gates

Na costa sueca, a startup Volta Greentech criou a maior fábrica de algas do mundo para produzir o Volta Seafeed, suplemento feito à base da alga vermelha Asparagopsis taxiformis. Segundo a empresa, uma dose diária de 100 gramas é capaz de reduzir as emissões em até 80%.

Outra empresa voltada à produção do aditivo à base de algas é a australiana Rumin8, que no início de 2023 recebeu investimento de US$ 12 milhões (cerca de US$ 60 milhões) do Breakthrough Energy Ventures, fundo de Bill Gates voltado a acelerar tecnologias que reduzem a poluição atmosférica.

Em vez de cultivar as algas, a estratégia da Rumin8 é sintetizar o ingrediente em laboratório, o que supostamente deve ajudar a reduzir o custo. Em outubro, o fundo de investimento Good Karma Partners também aplicou recursos na startup para apoiar a implementação de seu aditivo no Brasil.

Alga marinha no aditivo alimentar do boi pode reduzir a emissão do metano Foto: Volta Greentech

Testes no Brasil

Além dos que são à base de algas, outros suplementos desse tipo também têm sido experimentados no Brasil. Em 2021, a JBS testou o Bovaer, fabricado pela holandesa DSM, que tem potencial documentado de reduzir as emissões de metano do gado de corte em até 80%.

Apesar do êxito, o produto não está sendo usado em larga escala por conta dos custos. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, a empresa busca “influenciar positivamente” seus fornecedores, mas ainda faltam incentivos econômicos para adotar a tecnologia, seja sob o formato de créditos de carbono, determinação legal ou demanda de mercado por vacas com o selo de “amigas do clima”.

Países investigam formas de reduzir a quantidade do gás estufa lançado pelo gado na atmosfera. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ainda assim, Dias vê o cenário atual como promissor, com diferentes aditivos obtendo comprovação científica e tendo sua eficácia quantificada, um primeiro passo para se tornarem uma solução viável no mercado.

Além do aditivo holandês, a empresa firmou no mesmo ano parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a realização de um estudo. O experimento acompanhou por seis meses os animais em confinamento da JBS em Guaiçara (SP) e avaliou a eficácia dos taninos, moléculas vegetais que melhoram a saúde intestinal do gado, na redução das emissões de metano.

A conclusão foi de que o uso do aditivo alimentar à base de uma mistura de taninos, fabricado pela empresa Silvateam, reduz em até 17% as emissões entéricas de metano pelo gado de corte confinado.

Fábio Dias, da Friboi, defende que a porcentagem é expressiva quando se considera a participação da agropecuária nas emissões do País e destaca a vantagem de esses aditivos já serem amplamente utilizados na pecuária.

Assim, a empresa calcula retroativamente a partir dos resultados do estudo que o uso dos taninos evitou, entre 2019 e o ano passado, a emissão de mais de 30 mil toneladas de gás carbônico equivalente (cálculo que considera o potenciais poluentes do dióxido de carbono, ozônio, metano, entre outros gases).

‘Não dá pra botar todas as fichas’

Por estarem ainda na etapa de investigação científica, os aditivos precisam ganhar escala. Isso implica superar desafios como o custo extra que representam para os fazendeiros e a incerteza sobre seus efeitos de longo prazo.

“Cada tecnologia tem o seu papel no enfrentamento às mudanças climáticas. Investir em aditivos é importante, mas não dá pra botar todas as fichas nisso”, pondera a gerente de clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Isabel Garcia Drigo.

Mesmo se houver a adoção dos aditivos em escala, Isabel destaca que a diminuição da pegada de carbono da pecuária passa por um conjunto de manejos, como reduzir a idade de abate dos animais, melhorar sua alimentação e integrar a criação de gado em sistemas sustentáveis, como os agroflorestais.

Segundo o pesquisador em nutrição animal e chefe de transferência em tecnologia da Embrapa Gado Corte, Luiz Orcírio, o Brasil “saiu na frente” em relação ao teste e criação de protocolos para diminuir as emissões de metano.

Pesquisadores da Austrália descobriram aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa pública tem trabalhado desde a melhoria da dieta com a adoção dos aditivos até o aprimoramento genético, para aumentar o número de bovinos que produzem menos metano. Desenvolveu também o selo de certificação carne carbono neutro, para o gado de corte produzido em sistemas em que as árvores neutralizam as emissões de metano dos bovinos.

“Temos essa preocupação desde o início de 2000, com diversos trabalhos validados”, diz Orcício. “Mas isso ainda não está sendo totalmente aplicado na pecuária brasileira. Temos feito força nesse sentido, de introduzir tecnologias melhoradoras para produzir um animal com baixa pegada de carbono, mas a adoção é de livre decisão do produtor. Ele realmente acaba tendo maiores custos, mas passa a receber benefícios com esses sistemas”.

Para Isabel Drigo, não se trata de fazer uma grande revolução na pecuária, mas de começar pelo básico. “É preciso acelerar as soluções que já são conhecidas. Cuidar da pastagem, do solo, do manejo da propriedade e intensificar a engorda para que o animal passe menos tempo ruminando. A carne tem de ser de melhor qualidade ambientalmente e socialmente para quem quer consumir”, afirma.

Não é novidade que a poluição atmosférica com origem na pecuária contribui para as mudanças climáticas - nessa atividade econômica, um dos principais problemas é o metano, que resulta principalmente da digestão dos bovinos. No Brasil, segundo dados do Observatório do Clima, a produção de carne de boi despejou, em metano, o equivalente a 339,9 milhões de toneladas de gás estufa em 2021.

Por essa razão, cientistas em vários países têm investigado formas de reduzir o volume desse poluente lançado pelo gado na atmosfera: essas soluções vão de máscaras feitas para “filtrar” o metano do arroto das vacas a bolsas plásticas que capturam seus gases.

Elas têm ganhado força nos últimos dois anos, depois de mais de 100 nações assinarem na Cúpula do Clima (COP-26), de 2021, compromisso específico de cortar em 30% as emissões de metano até 2030.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases estufa emitidos em 2021 pelo Brasil, 78% foi gerado pela produção de carne. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as descobertas recentes, uma das mais promissoras são aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Um tipo de alga marinha vermelha, rica em bromofórmio, pode criar esse efeito quando acrescentada à alimentação do gado, descoberta feita por pesquisadores na Austrália em 2020.

Desde então, países como Suécia, Reino Unido e Irlanda têm feito avanços nessa área. Relatório divulgado este ano pela Agência de Proteção Ambiental Sueca recomendou aprofundar as investigações sobre esses aditivos, mencionando as algas vermelhas e também o químico 3-NOP.

Esse último foi aprovado em 2022 para uso pela União Europeia e, conforme o estudo sueco, pode reduzir as emissões de metano em até 30% para o gado de leite, e 45% para o gado de corte. A diferença entre os dois se deve ao maior consumo de capim pelo gado leiteiro, o que implica em maior emissão.

Fábrica de algas e Bill Gates

Na costa sueca, a startup Volta Greentech criou a maior fábrica de algas do mundo para produzir o Volta Seafeed, suplemento feito à base da alga vermelha Asparagopsis taxiformis. Segundo a empresa, uma dose diária de 100 gramas é capaz de reduzir as emissões em até 80%.

Outra empresa voltada à produção do aditivo à base de algas é a australiana Rumin8, que no início de 2023 recebeu investimento de US$ 12 milhões (cerca de US$ 60 milhões) do Breakthrough Energy Ventures, fundo de Bill Gates voltado a acelerar tecnologias que reduzem a poluição atmosférica.

Em vez de cultivar as algas, a estratégia da Rumin8 é sintetizar o ingrediente em laboratório, o que supostamente deve ajudar a reduzir o custo. Em outubro, o fundo de investimento Good Karma Partners também aplicou recursos na startup para apoiar a implementação de seu aditivo no Brasil.

Alga marinha no aditivo alimentar do boi pode reduzir a emissão do metano Foto: Volta Greentech

Testes no Brasil

Além dos que são à base de algas, outros suplementos desse tipo também têm sido experimentados no Brasil. Em 2021, a JBS testou o Bovaer, fabricado pela holandesa DSM, que tem potencial documentado de reduzir as emissões de metano do gado de corte em até 80%.

Apesar do êxito, o produto não está sendo usado em larga escala por conta dos custos. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, a empresa busca “influenciar positivamente” seus fornecedores, mas ainda faltam incentivos econômicos para adotar a tecnologia, seja sob o formato de créditos de carbono, determinação legal ou demanda de mercado por vacas com o selo de “amigas do clima”.

Países investigam formas de reduzir a quantidade do gás estufa lançado pelo gado na atmosfera. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ainda assim, Dias vê o cenário atual como promissor, com diferentes aditivos obtendo comprovação científica e tendo sua eficácia quantificada, um primeiro passo para se tornarem uma solução viável no mercado.

Além do aditivo holandês, a empresa firmou no mesmo ano parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a realização de um estudo. O experimento acompanhou por seis meses os animais em confinamento da JBS em Guaiçara (SP) e avaliou a eficácia dos taninos, moléculas vegetais que melhoram a saúde intestinal do gado, na redução das emissões de metano.

A conclusão foi de que o uso do aditivo alimentar à base de uma mistura de taninos, fabricado pela empresa Silvateam, reduz em até 17% as emissões entéricas de metano pelo gado de corte confinado.

Fábio Dias, da Friboi, defende que a porcentagem é expressiva quando se considera a participação da agropecuária nas emissões do País e destaca a vantagem de esses aditivos já serem amplamente utilizados na pecuária.

Assim, a empresa calcula retroativamente a partir dos resultados do estudo que o uso dos taninos evitou, entre 2019 e o ano passado, a emissão de mais de 30 mil toneladas de gás carbônico equivalente (cálculo que considera o potenciais poluentes do dióxido de carbono, ozônio, metano, entre outros gases).

‘Não dá pra botar todas as fichas’

Por estarem ainda na etapa de investigação científica, os aditivos precisam ganhar escala. Isso implica superar desafios como o custo extra que representam para os fazendeiros e a incerteza sobre seus efeitos de longo prazo.

“Cada tecnologia tem o seu papel no enfrentamento às mudanças climáticas. Investir em aditivos é importante, mas não dá pra botar todas as fichas nisso”, pondera a gerente de clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Isabel Garcia Drigo.

Mesmo se houver a adoção dos aditivos em escala, Isabel destaca que a diminuição da pegada de carbono da pecuária passa por um conjunto de manejos, como reduzir a idade de abate dos animais, melhorar sua alimentação e integrar a criação de gado em sistemas sustentáveis, como os agroflorestais.

Segundo o pesquisador em nutrição animal e chefe de transferência em tecnologia da Embrapa Gado Corte, Luiz Orcírio, o Brasil “saiu na frente” em relação ao teste e criação de protocolos para diminuir as emissões de metano.

Pesquisadores da Austrália descobriram aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa pública tem trabalhado desde a melhoria da dieta com a adoção dos aditivos até o aprimoramento genético, para aumentar o número de bovinos que produzem menos metano. Desenvolveu também o selo de certificação carne carbono neutro, para o gado de corte produzido em sistemas em que as árvores neutralizam as emissões de metano dos bovinos.

“Temos essa preocupação desde o início de 2000, com diversos trabalhos validados”, diz Orcício. “Mas isso ainda não está sendo totalmente aplicado na pecuária brasileira. Temos feito força nesse sentido, de introduzir tecnologias melhoradoras para produzir um animal com baixa pegada de carbono, mas a adoção é de livre decisão do produtor. Ele realmente acaba tendo maiores custos, mas passa a receber benefícios com esses sistemas”.

Para Isabel Drigo, não se trata de fazer uma grande revolução na pecuária, mas de começar pelo básico. “É preciso acelerar as soluções que já são conhecidas. Cuidar da pastagem, do solo, do manejo da propriedade e intensificar a engorda para que o animal passe menos tempo ruminando. A carne tem de ser de melhor qualidade ambientalmente e socialmente para quem quer consumir”, afirma.

Não é novidade que a poluição atmosférica com origem na pecuária contribui para as mudanças climáticas - nessa atividade econômica, um dos principais problemas é o metano, que resulta principalmente da digestão dos bovinos. No Brasil, segundo dados do Observatório do Clima, a produção de carne de boi despejou, em metano, o equivalente a 339,9 milhões de toneladas de gás estufa em 2021.

Por essa razão, cientistas em vários países têm investigado formas de reduzir o volume desse poluente lançado pelo gado na atmosfera: essas soluções vão de máscaras feitas para “filtrar” o metano do arroto das vacas a bolsas plásticas que capturam seus gases.

Elas têm ganhado força nos últimos dois anos, depois de mais de 100 nações assinarem na Cúpula do Clima (COP-26), de 2021, compromisso específico de cortar em 30% as emissões de metano até 2030.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases estufa emitidos em 2021 pelo Brasil, 78% foi gerado pela produção de carne. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as descobertas recentes, uma das mais promissoras são aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Um tipo de alga marinha vermelha, rica em bromofórmio, pode criar esse efeito quando acrescentada à alimentação do gado, descoberta feita por pesquisadores na Austrália em 2020.

Desde então, países como Suécia, Reino Unido e Irlanda têm feito avanços nessa área. Relatório divulgado este ano pela Agência de Proteção Ambiental Sueca recomendou aprofundar as investigações sobre esses aditivos, mencionando as algas vermelhas e também o químico 3-NOP.

Esse último foi aprovado em 2022 para uso pela União Europeia e, conforme o estudo sueco, pode reduzir as emissões de metano em até 30% para o gado de leite, e 45% para o gado de corte. A diferença entre os dois se deve ao maior consumo de capim pelo gado leiteiro, o que implica em maior emissão.

Fábrica de algas e Bill Gates

Na costa sueca, a startup Volta Greentech criou a maior fábrica de algas do mundo para produzir o Volta Seafeed, suplemento feito à base da alga vermelha Asparagopsis taxiformis. Segundo a empresa, uma dose diária de 100 gramas é capaz de reduzir as emissões em até 80%.

Outra empresa voltada à produção do aditivo à base de algas é a australiana Rumin8, que no início de 2023 recebeu investimento de US$ 12 milhões (cerca de US$ 60 milhões) do Breakthrough Energy Ventures, fundo de Bill Gates voltado a acelerar tecnologias que reduzem a poluição atmosférica.

Em vez de cultivar as algas, a estratégia da Rumin8 é sintetizar o ingrediente em laboratório, o que supostamente deve ajudar a reduzir o custo. Em outubro, o fundo de investimento Good Karma Partners também aplicou recursos na startup para apoiar a implementação de seu aditivo no Brasil.

Alga marinha no aditivo alimentar do boi pode reduzir a emissão do metano Foto: Volta Greentech

Testes no Brasil

Além dos que são à base de algas, outros suplementos desse tipo também têm sido experimentados no Brasil. Em 2021, a JBS testou o Bovaer, fabricado pela holandesa DSM, que tem potencial documentado de reduzir as emissões de metano do gado de corte em até 80%.

Apesar do êxito, o produto não está sendo usado em larga escala por conta dos custos. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, a empresa busca “influenciar positivamente” seus fornecedores, mas ainda faltam incentivos econômicos para adotar a tecnologia, seja sob o formato de créditos de carbono, determinação legal ou demanda de mercado por vacas com o selo de “amigas do clima”.

Países investigam formas de reduzir a quantidade do gás estufa lançado pelo gado na atmosfera. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ainda assim, Dias vê o cenário atual como promissor, com diferentes aditivos obtendo comprovação científica e tendo sua eficácia quantificada, um primeiro passo para se tornarem uma solução viável no mercado.

Além do aditivo holandês, a empresa firmou no mesmo ano parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a realização de um estudo. O experimento acompanhou por seis meses os animais em confinamento da JBS em Guaiçara (SP) e avaliou a eficácia dos taninos, moléculas vegetais que melhoram a saúde intestinal do gado, na redução das emissões de metano.

A conclusão foi de que o uso do aditivo alimentar à base de uma mistura de taninos, fabricado pela empresa Silvateam, reduz em até 17% as emissões entéricas de metano pelo gado de corte confinado.

Fábio Dias, da Friboi, defende que a porcentagem é expressiva quando se considera a participação da agropecuária nas emissões do País e destaca a vantagem de esses aditivos já serem amplamente utilizados na pecuária.

Assim, a empresa calcula retroativamente a partir dos resultados do estudo que o uso dos taninos evitou, entre 2019 e o ano passado, a emissão de mais de 30 mil toneladas de gás carbônico equivalente (cálculo que considera o potenciais poluentes do dióxido de carbono, ozônio, metano, entre outros gases).

‘Não dá pra botar todas as fichas’

Por estarem ainda na etapa de investigação científica, os aditivos precisam ganhar escala. Isso implica superar desafios como o custo extra que representam para os fazendeiros e a incerteza sobre seus efeitos de longo prazo.

“Cada tecnologia tem o seu papel no enfrentamento às mudanças climáticas. Investir em aditivos é importante, mas não dá pra botar todas as fichas nisso”, pondera a gerente de clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Isabel Garcia Drigo.

Mesmo se houver a adoção dos aditivos em escala, Isabel destaca que a diminuição da pegada de carbono da pecuária passa por um conjunto de manejos, como reduzir a idade de abate dos animais, melhorar sua alimentação e integrar a criação de gado em sistemas sustentáveis, como os agroflorestais.

Segundo o pesquisador em nutrição animal e chefe de transferência em tecnologia da Embrapa Gado Corte, Luiz Orcírio, o Brasil “saiu na frente” em relação ao teste e criação de protocolos para diminuir as emissões de metano.

Pesquisadores da Austrália descobriram aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa pública tem trabalhado desde a melhoria da dieta com a adoção dos aditivos até o aprimoramento genético, para aumentar o número de bovinos que produzem menos metano. Desenvolveu também o selo de certificação carne carbono neutro, para o gado de corte produzido em sistemas em que as árvores neutralizam as emissões de metano dos bovinos.

“Temos essa preocupação desde o início de 2000, com diversos trabalhos validados”, diz Orcício. “Mas isso ainda não está sendo totalmente aplicado na pecuária brasileira. Temos feito força nesse sentido, de introduzir tecnologias melhoradoras para produzir um animal com baixa pegada de carbono, mas a adoção é de livre decisão do produtor. Ele realmente acaba tendo maiores custos, mas passa a receber benefícios com esses sistemas”.

Para Isabel Drigo, não se trata de fazer uma grande revolução na pecuária, mas de começar pelo básico. “É preciso acelerar as soluções que já são conhecidas. Cuidar da pastagem, do solo, do manejo da propriedade e intensificar a engorda para que o animal passe menos tempo ruminando. A carne tem de ser de melhor qualidade ambientalmente e socialmente para quem quer consumir”, afirma.

Não é novidade que a poluição atmosférica com origem na pecuária contribui para as mudanças climáticas - nessa atividade econômica, um dos principais problemas é o metano, que resulta principalmente da digestão dos bovinos. No Brasil, segundo dados do Observatório do Clima, a produção de carne de boi despejou, em metano, o equivalente a 339,9 milhões de toneladas de gás estufa em 2021.

Por essa razão, cientistas em vários países têm investigado formas de reduzir o volume desse poluente lançado pelo gado na atmosfera: essas soluções vão de máscaras feitas para “filtrar” o metano do arroto das vacas a bolsas plásticas que capturam seus gases.

Elas têm ganhado força nos últimos dois anos, depois de mais de 100 nações assinarem na Cúpula do Clima (COP-26), de 2021, compromisso específico de cortar em 30% as emissões de metano até 2030.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases estufa emitidos em 2021 pelo Brasil, 78% foi gerado pela produção de carne. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as descobertas recentes, uma das mais promissoras são aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Um tipo de alga marinha vermelha, rica em bromofórmio, pode criar esse efeito quando acrescentada à alimentação do gado, descoberta feita por pesquisadores na Austrália em 2020.

Desde então, países como Suécia, Reino Unido e Irlanda têm feito avanços nessa área. Relatório divulgado este ano pela Agência de Proteção Ambiental Sueca recomendou aprofundar as investigações sobre esses aditivos, mencionando as algas vermelhas e também o químico 3-NOP.

Esse último foi aprovado em 2022 para uso pela União Europeia e, conforme o estudo sueco, pode reduzir as emissões de metano em até 30% para o gado de leite, e 45% para o gado de corte. A diferença entre os dois se deve ao maior consumo de capim pelo gado leiteiro, o que implica em maior emissão.

Fábrica de algas e Bill Gates

Na costa sueca, a startup Volta Greentech criou a maior fábrica de algas do mundo para produzir o Volta Seafeed, suplemento feito à base da alga vermelha Asparagopsis taxiformis. Segundo a empresa, uma dose diária de 100 gramas é capaz de reduzir as emissões em até 80%.

Outra empresa voltada à produção do aditivo à base de algas é a australiana Rumin8, que no início de 2023 recebeu investimento de US$ 12 milhões (cerca de US$ 60 milhões) do Breakthrough Energy Ventures, fundo de Bill Gates voltado a acelerar tecnologias que reduzem a poluição atmosférica.

Em vez de cultivar as algas, a estratégia da Rumin8 é sintetizar o ingrediente em laboratório, o que supostamente deve ajudar a reduzir o custo. Em outubro, o fundo de investimento Good Karma Partners também aplicou recursos na startup para apoiar a implementação de seu aditivo no Brasil.

Alga marinha no aditivo alimentar do boi pode reduzir a emissão do metano Foto: Volta Greentech

Testes no Brasil

Além dos que são à base de algas, outros suplementos desse tipo também têm sido experimentados no Brasil. Em 2021, a JBS testou o Bovaer, fabricado pela holandesa DSM, que tem potencial documentado de reduzir as emissões de metano do gado de corte em até 80%.

Apesar do êxito, o produto não está sendo usado em larga escala por conta dos custos. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, a empresa busca “influenciar positivamente” seus fornecedores, mas ainda faltam incentivos econômicos para adotar a tecnologia, seja sob o formato de créditos de carbono, determinação legal ou demanda de mercado por vacas com o selo de “amigas do clima”.

Países investigam formas de reduzir a quantidade do gás estufa lançado pelo gado na atmosfera. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ainda assim, Dias vê o cenário atual como promissor, com diferentes aditivos obtendo comprovação científica e tendo sua eficácia quantificada, um primeiro passo para se tornarem uma solução viável no mercado.

Além do aditivo holandês, a empresa firmou no mesmo ano parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a realização de um estudo. O experimento acompanhou por seis meses os animais em confinamento da JBS em Guaiçara (SP) e avaliou a eficácia dos taninos, moléculas vegetais que melhoram a saúde intestinal do gado, na redução das emissões de metano.

A conclusão foi de que o uso do aditivo alimentar à base de uma mistura de taninos, fabricado pela empresa Silvateam, reduz em até 17% as emissões entéricas de metano pelo gado de corte confinado.

Fábio Dias, da Friboi, defende que a porcentagem é expressiva quando se considera a participação da agropecuária nas emissões do País e destaca a vantagem de esses aditivos já serem amplamente utilizados na pecuária.

Assim, a empresa calcula retroativamente a partir dos resultados do estudo que o uso dos taninos evitou, entre 2019 e o ano passado, a emissão de mais de 30 mil toneladas de gás carbônico equivalente (cálculo que considera o potenciais poluentes do dióxido de carbono, ozônio, metano, entre outros gases).

‘Não dá pra botar todas as fichas’

Por estarem ainda na etapa de investigação científica, os aditivos precisam ganhar escala. Isso implica superar desafios como o custo extra que representam para os fazendeiros e a incerteza sobre seus efeitos de longo prazo.

“Cada tecnologia tem o seu papel no enfrentamento às mudanças climáticas. Investir em aditivos é importante, mas não dá pra botar todas as fichas nisso”, pondera a gerente de clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Isabel Garcia Drigo.

Mesmo se houver a adoção dos aditivos em escala, Isabel destaca que a diminuição da pegada de carbono da pecuária passa por um conjunto de manejos, como reduzir a idade de abate dos animais, melhorar sua alimentação e integrar a criação de gado em sistemas sustentáveis, como os agroflorestais.

Segundo o pesquisador em nutrição animal e chefe de transferência em tecnologia da Embrapa Gado Corte, Luiz Orcírio, o Brasil “saiu na frente” em relação ao teste e criação de protocolos para diminuir as emissões de metano.

Pesquisadores da Austrália descobriram aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa pública tem trabalhado desde a melhoria da dieta com a adoção dos aditivos até o aprimoramento genético, para aumentar o número de bovinos que produzem menos metano. Desenvolveu também o selo de certificação carne carbono neutro, para o gado de corte produzido em sistemas em que as árvores neutralizam as emissões de metano dos bovinos.

“Temos essa preocupação desde o início de 2000, com diversos trabalhos validados”, diz Orcício. “Mas isso ainda não está sendo totalmente aplicado na pecuária brasileira. Temos feito força nesse sentido, de introduzir tecnologias melhoradoras para produzir um animal com baixa pegada de carbono, mas a adoção é de livre decisão do produtor. Ele realmente acaba tendo maiores custos, mas passa a receber benefícios com esses sistemas”.

Para Isabel Drigo, não se trata de fazer uma grande revolução na pecuária, mas de começar pelo básico. “É preciso acelerar as soluções que já são conhecidas. Cuidar da pastagem, do solo, do manejo da propriedade e intensificar a engorda para que o animal passe menos tempo ruminando. A carne tem de ser de melhor qualidade ambientalmente e socialmente para quem quer consumir”, afirma.

Não é novidade que a poluição atmosférica com origem na pecuária contribui para as mudanças climáticas - nessa atividade econômica, um dos principais problemas é o metano, que resulta principalmente da digestão dos bovinos. No Brasil, segundo dados do Observatório do Clima, a produção de carne de boi despejou, em metano, o equivalente a 339,9 milhões de toneladas de gás estufa em 2021.

Por essa razão, cientistas em vários países têm investigado formas de reduzir o volume desse poluente lançado pelo gado na atmosfera: essas soluções vão de máscaras feitas para “filtrar” o metano do arroto das vacas a bolsas plásticas que capturam seus gases.

Elas têm ganhado força nos últimos dois anos, depois de mais de 100 nações assinarem na Cúpula do Clima (COP-26), de 2021, compromisso específico de cortar em 30% as emissões de metano até 2030.

Do 1,8 bilhão de toneladas de gases estufa emitidos em 2021 pelo Brasil, 78% foi gerado pela produção de carne. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as descobertas recentes, uma das mais promissoras são aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Um tipo de alga marinha vermelha, rica em bromofórmio, pode criar esse efeito quando acrescentada à alimentação do gado, descoberta feita por pesquisadores na Austrália em 2020.

Desde então, países como Suécia, Reino Unido e Irlanda têm feito avanços nessa área. Relatório divulgado este ano pela Agência de Proteção Ambiental Sueca recomendou aprofundar as investigações sobre esses aditivos, mencionando as algas vermelhas e também o químico 3-NOP.

Esse último foi aprovado em 2022 para uso pela União Europeia e, conforme o estudo sueco, pode reduzir as emissões de metano em até 30% para o gado de leite, e 45% para o gado de corte. A diferença entre os dois se deve ao maior consumo de capim pelo gado leiteiro, o que implica em maior emissão.

Fábrica de algas e Bill Gates

Na costa sueca, a startup Volta Greentech criou a maior fábrica de algas do mundo para produzir o Volta Seafeed, suplemento feito à base da alga vermelha Asparagopsis taxiformis. Segundo a empresa, uma dose diária de 100 gramas é capaz de reduzir as emissões em até 80%.

Outra empresa voltada à produção do aditivo à base de algas é a australiana Rumin8, que no início de 2023 recebeu investimento de US$ 12 milhões (cerca de US$ 60 milhões) do Breakthrough Energy Ventures, fundo de Bill Gates voltado a acelerar tecnologias que reduzem a poluição atmosférica.

Em vez de cultivar as algas, a estratégia da Rumin8 é sintetizar o ingrediente em laboratório, o que supostamente deve ajudar a reduzir o custo. Em outubro, o fundo de investimento Good Karma Partners também aplicou recursos na startup para apoiar a implementação de seu aditivo no Brasil.

Alga marinha no aditivo alimentar do boi pode reduzir a emissão do metano Foto: Volta Greentech

Testes no Brasil

Além dos que são à base de algas, outros suplementos desse tipo também têm sido experimentados no Brasil. Em 2021, a JBS testou o Bovaer, fabricado pela holandesa DSM, que tem potencial documentado de reduzir as emissões de metano do gado de corte em até 80%.

Apesar do êxito, o produto não está sendo usado em larga escala por conta dos custos. Segundo Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, a empresa busca “influenciar positivamente” seus fornecedores, mas ainda faltam incentivos econômicos para adotar a tecnologia, seja sob o formato de créditos de carbono, determinação legal ou demanda de mercado por vacas com o selo de “amigas do clima”.

Países investigam formas de reduzir a quantidade do gás estufa lançado pelo gado na atmosfera. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ainda assim, Dias vê o cenário atual como promissor, com diferentes aditivos obtendo comprovação científica e tendo sua eficácia quantificada, um primeiro passo para se tornarem uma solução viável no mercado.

Além do aditivo holandês, a empresa firmou no mesmo ano parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a realização de um estudo. O experimento acompanhou por seis meses os animais em confinamento da JBS em Guaiçara (SP) e avaliou a eficácia dos taninos, moléculas vegetais que melhoram a saúde intestinal do gado, na redução das emissões de metano.

A conclusão foi de que o uso do aditivo alimentar à base de uma mistura de taninos, fabricado pela empresa Silvateam, reduz em até 17% as emissões entéricas de metano pelo gado de corte confinado.

Fábio Dias, da Friboi, defende que a porcentagem é expressiva quando se considera a participação da agropecuária nas emissões do País e destaca a vantagem de esses aditivos já serem amplamente utilizados na pecuária.

Assim, a empresa calcula retroativamente a partir dos resultados do estudo que o uso dos taninos evitou, entre 2019 e o ano passado, a emissão de mais de 30 mil toneladas de gás carbônico equivalente (cálculo que considera o potenciais poluentes do dióxido de carbono, ozônio, metano, entre outros gases).

‘Não dá pra botar todas as fichas’

Por estarem ainda na etapa de investigação científica, os aditivos precisam ganhar escala. Isso implica superar desafios como o custo extra que representam para os fazendeiros e a incerteza sobre seus efeitos de longo prazo.

“Cada tecnologia tem o seu papel no enfrentamento às mudanças climáticas. Investir em aditivos é importante, mas não dá pra botar todas as fichas nisso”, pondera a gerente de clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Isabel Garcia Drigo.

Mesmo se houver a adoção dos aditivos em escala, Isabel destaca que a diminuição da pegada de carbono da pecuária passa por um conjunto de manejos, como reduzir a idade de abate dos animais, melhorar sua alimentação e integrar a criação de gado em sistemas sustentáveis, como os agroflorestais.

Segundo o pesquisador em nutrição animal e chefe de transferência em tecnologia da Embrapa Gado Corte, Luiz Orcírio, o Brasil “saiu na frente” em relação ao teste e criação de protocolos para diminuir as emissões de metano.

Pesquisadores da Austrália descobriram aditivos alimentares que impedem a produção de metano no primeiro estômago da vaca. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa pública tem trabalhado desde a melhoria da dieta com a adoção dos aditivos até o aprimoramento genético, para aumentar o número de bovinos que produzem menos metano. Desenvolveu também o selo de certificação carne carbono neutro, para o gado de corte produzido em sistemas em que as árvores neutralizam as emissões de metano dos bovinos.

“Temos essa preocupação desde o início de 2000, com diversos trabalhos validados”, diz Orcício. “Mas isso ainda não está sendo totalmente aplicado na pecuária brasileira. Temos feito força nesse sentido, de introduzir tecnologias melhoradoras para produzir um animal com baixa pegada de carbono, mas a adoção é de livre decisão do produtor. Ele realmente acaba tendo maiores custos, mas passa a receber benefícios com esses sistemas”.

Para Isabel Drigo, não se trata de fazer uma grande revolução na pecuária, mas de começar pelo básico. “É preciso acelerar as soluções que já são conhecidas. Cuidar da pastagem, do solo, do manejo da propriedade e intensificar a engorda para que o animal passe menos tempo ruminando. A carne tem de ser de melhor qualidade ambientalmente e socialmente para quem quer consumir”, afirma.

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